Ele estava doente,
Senhor idoso,
Morava há 13 quilômetros
De distância do posto
De saúde.
Após consulta com o clínico geral,
Foi informado de que precisava
Fazer exames,
E que tais exames tinham custo.
O valor foi pago.
A gasolina no posto só aumentou,
Saiu o exame,
Com o exame em mãos,
Ele foi mostrar ao médico
Para olhar o resultado,
Contudo ao chegar lá
Soube que as consultas
Só ocorriam com hora marcada.
- como assim?
Vim de tão longe!
Ele falou.
- mesma distância de todos,
Tem que marcar hora com o doutor
Como os outros.
A recepcionista respondeu.
- mas estou doente,
Sinto muita dor.
O médico precisa ver os exames
Para me encaminhar no que precisar.
Ele continuou.
- não, Senhor.
O senhor precisa marcar hora.
O médico tem muitos pacientes.
Sua agenda está completa.
Ele ficou triste,
Mal conseguis ficar em pé
Devido as dores intensas.
- mas onde eu moro
Não passa linha telefônica,
Ninguém tem telefone próximo.
Ele disse, outra vez.
- então, o senhor vá até o seu
Vizinho mais próximo,
Alguém tem que ter telefone.
Ela respondeu decidida.
- mas ninguém tem.
Hoje em dia
Todos tem celular
E lá não pega rede,
Pega só quando quer.
E a internet é igual.
Ele disse, de volta.
- o senhor está sendo mal educado.
A lei do posto de saúde
Disse que está é a forma
Para consultar
E o senhor está querendo passar
Na frente dos outros...
- mas, veja lá o doutor?!
Ele está fora do consultório,
Está conversando animado,
Por favor, peça pra ele ver os exames!
Ele disse,
E fez menção de entrar
E ir até o médico.
A recepcionista se irritou.
- fique onde está,
O senhor está cometendo
Um crime.
Irá preso.
Não se mexa.
O analfabeto agricultor,
Ficou amedrontado,
Se escondeu atrás do vidro
Da porta de entrada,
Sem saber o que fazer.
- não me prenda,
Eu só estou doente,
Eu preciso apenas
Mostrar os exames.
Eu moro longe,
Não tenho dinheiro.
A recepcionista saiu
De trás do balcão,
Foi até ele,
Deferiu-lhe a mão espalmada
Contra seu rosto.
- seu pobre!
Analfabeto da roça!
Ele se encolheu,
Em seus oitenta anos,
E chorou,
Olhou suas mãos cheias de calos
Devido ao trabalho árduo
E chorou.
- você tem razão,
Eu não sei as coisas,
Eu só aprendi trabalha na roça!
Ele disse,
Como última alternativa.
Ela abriu a porta de vidro
E o chutou na canela.
- corra pra tua roça!
Ela gritou.
E chamou a polícia.
Ele se encolheu no chão,
Com os exames no envelope
Lacrado em mãos.
A polícia chegou com a cirene ligada,
As luzes azuis e vermelhas
Brilharam na parede do posto,
O velho continuava no chão,
A recepcionista
Que já estava atrás do balcão,
Viu a viatura através da janela de vidro,
E logo avistou o homem caído,
Então, se irritou,
Se posicionou no ódio
E saiu de lá
Com as chaves da porta,
A abriu.
- seu velho imundo,
Sais desse chão,
Se levante
Que a polícia chegou.
Maldito!
E lhe desferiu outro
Tapa em seu rosto
Envelhecido e enrugado.
O homem de levantou assustado,
Colou na parede e ficou.
A polícia entrou,
Estavam em dois fardados,
Deram um chute na porta
E abriram a primeira porta
Que dá para a sala onde
O velho estava.
Arma e algemas em punho,
Juntaram um spray de pimenta
E jogaram na cara do velho.
- parado roceiro.
Você está importunando
O posto de saúde.
É crime!
Criminoso.
Juntaram o velho pelos ombros,
Lhes deram uns empurrões,
E foram pedir a enfermeira o que houve.
Ela logo relatou a história.
- cala a boca, velho ignorante!
Você não tem vergonha na cara?
Incomodar no posto de saúde?
O policial gritou lá de dentro
Quando o velho quis explicar.
Imediatamente,
O velho foi algemado,
Seus exames foram tomados
E jogados na lixeira
E ele foi preso.
Saiu mediante fiança.
Vendeu o carro
Para pagar,
Voltou caminhando os
Treze quilômetros
Com calos nos pés,
E sem os exames,
Chorando e doente.
Foi marcada audiência,
Ele alegou que apenas
Tentou conversar com a recepcionista.
- então, você veio sem advogado
Porquê não tem com o quê
Pagar um?
A mediadora indagou.
- sim. Eu sou agricultor e...
Ela o olhou séria,
Tirando os olhos
Do computador.
- não importa em que o senhor trabalha,
Precisa de um advogado!
Ela respondeu.
Saiu da sala
Sem falar nada
E chamou um advogado dativo
Que passava.
- aqui está.
Agora este será seu advogado.
O Estado paga o serviço dele,
Este é seu direito.
Ela disse,
Ele sorriu,
Se levantou,
Cumprimentou com as duas
Mãos o advogado.
- obrigado, senhor.
Ele disse.
- é meu trabalho.
O advogado respondeu e sentou.
Havia uma mesa na sala,
Num lado estava o réu,
No outro o advogado,
No final da mesa retangular
Estava a mediadora atrás de uma
Mesa de escritório e computadores.
- então, você tentou invadir
O posto de saúde
E obrigar o médico a olhar seus exames?
Ela indagou seria.
- não senhora!
- então, por quê aqui diz isto?
Ela perguntou.
- foi um erro,
Eu só queria que o médico
Olhasse e dissesse
Que doença tenho.
- então, porquê invadiu?
Uma viatura policial
Teve que ser deslocada até lá
Porquê o senhor estava agressivo.
- não senhora.
Ele negou.
- como que não?
Há um relato escrito aqui
E assinado!
Ele olhava para ela
Amedrontado e choroso.
- não senhora,
Eu só estava doente.
- você tem testemunhas?
Ela perguntou.
- não, eu fui sozinho lá.
Eu só ia mostrar os exames.
- então, porquê invadiu?
É um local público,
Um local de saúde,
Com pessoas doentes...
- eu estava doente, senhora!
Ele respondeu com as mãos
Trêmulas e em prece.
- perdi meu carro,
Não posso trabalhar,
Estou doente,
A polícia tomou meus exames...
Ele dizia.
- a polícia?
Então, não foi você
Que invadiu
E na hora perdeu os exames?
- não, senhora.
- se eu pedir lá,
Eles não encontraram seus exames
Porquê você os deixou
Gritando e invadindo o lugar?
Ela perguntou seria.
- não, a recepcionista não gosta
De mim.
Ela me bateu.
- o quê?
Você está acusando
Uma funcionária pública
De um crime?
Ele ficou calado e espantado.
- doutor, o que eu faço?
A mediadora pediu ao advogado.
- senhora mediadora,
Por favor,
Peça o envio das imagens das
Câmeras de vigilância do local.
Ele pediu.
- ok.
Ela respondeu,
Colocou no termo e assinou.
Um mês havia passado
Do ocorrido.
A secretária do posto de saúde
Foi intimada a apresentar
As imagens,
Ela apresentou um termo
Assinado pelo advogado
Do município
Dizendo que não haviam imagens.
O delito tinha pena pequena,
O idoso possuía bons antecedentes criminais,
O processo crime foi arquivado.
O idoso recebeu o resultado
Através do oficial de justiça,
Não entendeu o que havia,
Mas precisou assinar,
Sentiu pavor desmedido,
Sofreu um infarto,
Foi conduzido ao hospital público.
O oficial o deixou
Sob os cuidados do guarda local,
E depois saiu.
O idoso foi deixado numa maçã
No meio do corredor,
O médico estava viajando,
Ele não foi atendido,
Inconsciente e deixado lá,
As portas do hospital
Se abriam e fechavam sem parar.
Havia muitos doentes
Nesta noite tumultuada,
Uma enfermeira passou,
Olhou para ele,
Ela estava com uma prancheta
Em suas mãos,
Lá estava escrito:
Um quadrado onde se marcava um x,
Ao lado Consultou.
Ela olhou e parou,
Pensou se colocava o x
Ou se esperava.
Então, se encaminhou
Para a sua sala
E decidiu não marcar nada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário