segunda-feira, 29 de abril de 2024

Destino

O carro rompia o frio de inverno,
Abria uma tênue luz no escuro noturno,
Rumava ao seu destino.
Dentro, tudo sombrio.
Eventualmente, errava o câmbio,
Reiniciava a marcha,
Galgava em velocidade controlada.

Ele olhava para íntimo,
Queria exercer controle sobre si mesmo,
Mas rumava a passado distante,
Num futuro próximo e latejante.
Dois rostos juntos,
Não soube porquê reencontrou a foto,
Rostos felizes e radiantes,
Despertou saudade.

Como nada o prendia,
Pegou as chaves e apertou o cinto,
Rumou a amada.
A amada.
Aquela que achava que era tão dona do tempo
Quanto podia controlar o destino.

Talvez, neste instante,
Ela esteja mais incerta,
Um tanto mais suscetível que antes,
E que seu olhar,
Seu lindo e perfeito olhar,
Continue a fita-lo com mesmo entusiasmo,
Com intenso sentimento.
Amor.
Tesão, ou isso.

Porém, para um deles
O tempo passou,
Os olhos cairam a obscuro e infeliz 
Desfecho de estar sozinho,
De não acreditar tanto em sonhos,
E fazer pouco ou nada por amor.
Mas estava indo.
Destino estabelecido.

O homem sentado no banco de um carro,
Que olhava sem ver o céu de escuro profundo,
Deixava o seguro quarto bem desenhado,
Pela insegurança de um quarto alugado,
Isso lhe causava uma punhalada 
Em suas ideias tão definidas,
Lhe trazia um quê de incerteza,
Mais profundo que a moça,
Que mesmo com o passar dos anos,
Não deixou de nutrir por ele mesmo afeto,
O esperava com camisola fina e perfumada,
Pernas a mostras,
Prazer desenhado no rosto,
Batom discreto para marcar a camisa,
Unhas definidas para contornar seu corpo.
Isso não porquê mulheres esperam,
Mas porquê ele é bom.
Tão ou melhor que antes.

Trocou marcha,
Já haviam ido todas,
Afundou o pé na velocidade,
Afrouxou o zíper da calça apertada,
Deixou o botão a meia casa.
Voltou o homem que disse que não voltaria,
Abriu quase todos os botões da camisa,
Pegou óculos escuros,
Não queria olhar exposto,
Apenas o corpo jogado na cara,
O peito apertado contra os lábios dela.
A vibração dele contra tecido fino,
Sua masculinidade envolvendo-a.

Deixou-a chorando na porta,
Sentia vontade de chegar invadindo,
A chutes ou mesmo uma invasão 
De carro a pouca velocidade
E o que houvesse de mais impiedoso,
Uma parede caída,
Uma porta estourada,
Moça desesperada e assustada,
Um sorriso dele ao ver prejuízo
De pouca monta no carro,
Sem danos e com sentimentos aflorados,
Sairia do carro e a chamaria...
Simplista e descomplicado 
Lhe ofertaria um abraço,
Sem explicações e falas prolongadas,
Apenas sexo quente e austero.

Comprar casa, terreno e o que fosse possível,
Não queria perde-la,
Queria-a para propriedade de seu prazer,
Ela era preciosa,
Foi marcante e pungente,
Dádiva que o fez retornar
Para tão distante 
E que tornaria a separação difícil.


terça-feira, 23 de abril de 2024

Nunca Mais Duas Horas

Contudo, mesmo nos inícios dos tempos,
Onde o fogo se confundia no gelo,
E o destino era incerto,
O mundo seguiu curso,
Simplesmente,
Firmou destino.
Acredite.

Eu solto meu celular no lençol 
Fresco e arredio,
Não quero escrever nenhuma outra linha,
Muito menos cuidar o passar das horas,
O homem que amo
Me espera na sala.
Ele me disse:”adeus”.
Chegamos ao final.

Eu corri para o quarto
Incapaz de vê-lo,
O destino que nos uniu,
Não tardou e veio busca-lo 
Não quero que me veja chorar,
Estou tentando passar o tempo,
Me amparar,
Buscar algo.

A porta está aberta,
Desta vez,
Apenas a recostei,
Desejo profundamente que ele venha,
A abra,
Note a diferença,
E simplesmente,
Queira ficar.
Não preciso de promessas,
Nem desculpas.
Apenas ele.

Ele não vêm,
Ela não faz barulho
E não se mostra aberta,
Eu não demonstro que o espero,
Fujo.
Fujo do temível final.
Destino implacável e cruel.
Levando-o.

Há um único caminho,
O caminho que leva ao amor,
Dizem os românticos,
Eu não sei mais de meus passos,
E nem saberei dos dele.
Talvez, ame a outra mulher.
Não lhe é impossível.

As horas passam em terrível agonia,
Nunca mais será de novo nove horas,
Não com ele lá fora,
E de mim nem saberia dizer,
Me movo de um lado ao outro,
Cuido números que não voltarão a repetir.
Dez horas,
Na sala nem ruídos.

Onze horas,
E talvez, ele já tenha ido embora.
Nunca mais tais onze horas.
Doze horas demoradas,
Não tenho forças para busca-lo,
Indagar se ainda está,
Pareço nem sentir outro cheiro,
Além de seus beijos
Que tão ardentes percorreram meu corpo,
E agora nunca mais irão me tocar.

O relógio muda destino,
Ao menos tenta.
Uma hora, 
Nada dele ainda.
A porta entreaberta e silenciosa.
Não chegarão novas dez horas,
Não ele não irá ficar muito.
Me falou de suas pressas,
Entre outras coisas,
Mal ouvi-as após o “preciso ir embora”.

Mas o relógio se esforça,
Tenta evitar, concertar e se apressar.
De repente queira mudar o percurso,
Repetir-se,
Até que sempre estejamos juntos.
Tudo anda tardio, vagaroso e apressado,
Duas horas.
Um barulho quebra o silêncio.
Movo o rosto e ele está a porta.
“Estou indo”.
“Ficou tarde”.

Fecha a porta com cuidado,
Parece temer deixar uma fresta,
Ou algo que me auxilie a ve-lo,
Ou mesmo busca-lo.
Ficou tarde no relógio 
Que tentou tão fragilmente
Apressar as horas.
Tarde.
Nunca mais uma hora.
Nunca mais duas horas.
Ele nem ao menos esperou as três horas.
Nem nenhuma outra.
Foi embora.
Ficou tarde,
Absolutamente tarde.
Tarde demais.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Belo Bigodinho

Tudo caiu ao vão,
Feito uma cratera que se abre,
Sem acelerar do coração,
Sem tropeço algum,
Simplesmente, 
Se abre,
E pum.
Você se vê dentro dela,
Sem ter o que fazer.

Braços esticados,
Feridos e cruzados,
Um corpo que não se move.
Firme como seus lábios,
É pior que a mulher
De pernas abertas no seu bigode.
Muito pior.
Lágrimas ou gritos são iguais.

Ela junta todo seu dinheiro,
Une ao do marido que desfaleceu,
Procura a família dele,
Quer estar próxima 
E poder ajudar,
Não é mais que estranha,
Mas vai munida de planos e sonhos.

Eis que se acha ali nesta enrascada,
Permanece recostada a terra fria,
E pedras pontiagudas,
Até que uma mão lhe aparece,
Se estende sem rosto e some,
Antes que ela possa se segurar,
Ou mesmo assegurar:
“Quem é”?
Não sente mais que dedos quentes,
De mãos macias e fortes.
Insuficiente.

Não ouve voz,
Não vê cara,
Até que um monte de terra
Lhe chega a face
Feito um açoite,
E um pé surge,
E fica ali a jogar terra,
Ela não se que esquiva,
Apenas mantém os braços fechados,
Indefesa.

Então, um lindo rosto se mostra,
Bonito, moreno e sorrindo,
Encantadoramente apaixonante,
Ele oferece a mão a ela,
Ela pega sem hesitar
E é retirada da vala de terra,
Cai no seu peito,
Amparada,
Colada ao cheiro de suor forte,
Sentindo cada vibração,
Os lábios aconchegados e desejantes.

Quando seus olhos 
Viram o homem no horizonte,
Acreditaram se tratar de um anjo,
Até o redor mudou sua forma,
E a vala lhe pareceu despretensiosa,
Nem pareceu que segundos
Fariam a terra desmoronar 
E a vala seria fechada 
Como se nunca tivesse existido.
Colada aquele peito másculo,
Tudo era de absurda perfeição.

De repente,
Num passo
Um barulho lhe envia alerta,
Pedras batem- se sobre outras
Com toda força, 
Ela escorrega e é puxada para frente,
Ao olhar para trás,
Tudo estava destruído,
Apenas sobrou um espasmo
Do que houve,
Do que a tragou e a manteve,
A terra fechou- se 
Como uma espécie de ferida 
Que se cicatriza.

Pareceu fantasia,
Devia sua vida a um estranho,
Não dispunha de dinheiro,
Com a morte de seu amor,
Tudo que tinha pertencia a família.
Como pagar?
Como retribuir aquele anjo
Que lhe salvou a vida?

Para bons corações não há obstáculos,
Algo se mostraria,
E tudo seria esclarecido,
Mas anjos que são anjos
Possuem asas
Aquele não as tinha,
A segurou e a carregou,
Ajudou, amparou
E certo dia houve, então, o beijo.
Tão sonhado, querido e evitado.
Ela viúva 
E ele o novo namorado?
Tudo tão rápido e desmedido,
Nada parecia certo,
E sua família 
Nem notícias tinha do filho querido.

Aquele que foi a muito tempo,
A teve,
E nunca mais voltou-se.
O homem continuou beijando-a,
Era feito uma cobrança,
Algo perturbador e intenso,
Então, no dia 10 de outubro
De um próximo ano,
Ela não saberia dizer,
Contudo imaginava estar certa
Sobre dia e mês,
Mas porém, 
“Anos, quantos passaram?”

Ele a teve,
A tomou outra vez,
O dinheiro foi insuficiente,
A beleza dela indiferente,
Ele a teve, teve e teve,
A família se perdeu distante,
Tudo se assemelha a plano depreciante,
Era com desprezo que lhe tocava a face,
Era com cobrança que se referia a ela.
Até que um dia teve a resposta:
“ Ora, o que esperar de um homem 
Que possui uma mulher
De pernas abertas desenhada no bigode?”
Ela sentiu um tapa na cara.
Depois uma dor que feria-a,
Feria-a e feria-a.


domingo, 21 de abril de 2024

Uma última linha

Eu, Aline, apaixonada desaventurada,
Natural de cidade próxima,
Mais tarde o amor me trouxe aqui,
Vi lindo rapaz e o segui.
Fui incapaz de ser feliz sozinha,
Não poderia pertencer a outra pessoa…

Escrevo este texto melancólico,
Em meu leito de morte,
Durante o último mês de 2015.
Escrevo com dificuldade,
Em momentos furtivos,
Minhas forças se esvaem,
Sou quase cinzas.

Talvez, uma mão piedosa
Saiba deste texto,
E lhe devote tempo para leitura,
Quem sabe nunca ninguém lhe tome conhecimento.
Estas palavras são escritas com dificuldade,
Entre tinta, sangue e lágrimas,
Não alimento esperanças.

Resta a este coração que sofre,
A lembrança e a escrita,
Minha boca está impedida de falar,
Sem forças para beijar,
Estou num obscuro,
As palavras saem por conta própria.
Talvez por isso,
Esta carta permaneça intacta.

Noite triste e nebulosa,
Início do mês de 2015,
Sim.
Amor dócil e perfeito,
Durou pouco.
Junto ao cais,
Respirei ar puro,
Ele me trouxe novo amor,
Porém, estava comprometida com outro.
Este outro não aceitou.
Repito exatamente como houve.

Minha mente está doente,
Porém intacta,
Lembro a tudo como se fosse hoje,
Como se ocorresse diante dos meus olhos,
Assim, o vi em linda noite.
Caminhando sozinho e livre.
Ficamos juntos.
Ignoramos a tudo.
Não tivemos permissão da família,
Fuji com meu amado a todo custo.

Refugiamo-nos em discreta casa,
Vivemos juntos,
Planejamos filhos,
Contudo,
Noite crucial e traiçoeira
Foi capaz de identificarmo-nos
A estranhos.

Um moço,
Jovem, forte e armado,
Invade a janela,
Fortemente convicto.
Desfere contra eu golpe traiçoeiro,
Me retraio e a custo me defendo,
O deixo caído a esvair-se em sangue.
O gosto da vitória se assemelha a fel,
Destrói minha vida,
Leva aquele a quem fui mais fiel.

Maldito e delicado amor,
A quem tão perfeita me entreguei,
E tão destruída encerrei,
Não há esperanças,
Desfaleço em leito de amor,
Com os trajes de amada,
Nenhum remédio é capaz de salvar-me,
Quanto ao caído no assoalho,
Nem quis ver o rosto,
Até triste amanhecer ameaçador 
E desgraçado.

Abracei meu esposo,
E esperei as horas contadas
Até o instante em que minha vida,
Finalmente permitiria que a última 
Gota de sangue se esvaisse
De minhas veias.
A morte vem depressa contra esta que ama.
Cruelmente depressa e opressora.

O amanhecer chega arredio
E sem gosto de felicidade,
Meu amado sorve da minha face,
Toda vida que um dia houve,
Diz que deseja juntar forças
Para representar meu último pedido
De que ele viva e seja feliz 
E mais que isso,
Procure minha família,
Pai e irmãos e se apóiem um ao outro.

Ele procura retirar a dor,
Absorver coragem,
Viver nossos últimos segundos,
O sol chega e traz a claridade,
Não há piedade
No olhar daquele que encontro,
Morto, caído por meu golpe,
Sofro, estremeço e morro
Antes da última palavra de reconhecimento.

Se pudesse escrever,
Teria encerrado a carta,
O rapaz de quem tirei a vida,
E que antecipou ainda,
Horas da minha,
É meu irmão e nenhum outro.

Neste instante,
O único amado que tive,
Busca meu pai e meus irmãos para conforto,
Não há de encontra-los juntos,
Não irei ver a nenhum deles.

Sem clemência.
Sem perdão.
Sem conforto.
Abandono a marido traiçoeiro,
Em busca de amparo
Naquele que amo,
Sou mal compreendida e morta,
Será que após fechar meus olhos,
Cair em vala escura e fria,
Ainda sou capaz de encerrar 
Com poucas e últimas palavras?
“Pai poupe a vida deste que amei tanto,
Infelizmente,
Fui para lugar distante,
Levei meu irmão comigo”.

Torrentes de Água

Choveu por toda parte, A chuva embaçou o para-brisa, Deixou cega a toda vista, E retirou-a de seus devaneios, Assim que lama...