domingo, 21 de abril de 2024

Uma última linha

Eu, Aline, apaixonada desaventurada,
Natural de cidade próxima,
Mais tarde o amor me trouxe aqui,
Vi lindo rapaz e o segui.
Fui incapaz de ser feliz sozinha,
Não poderia pertencer a outra pessoa…

Escrevo este texto melancólico,
Em meu leito de morte,
Durante o último mês de 2015.
Escrevo com dificuldade,
Em momentos furtivos,
Minhas forças se esvaem,
Sou quase cinzas.

Talvez, uma mão piedosa
Saiba deste texto,
E lhe devote tempo para leitura,
Quem sabe nunca ninguém lhe tome conhecimento.
Estas palavras são escritas com dificuldade,
Entre tinta, sangue e lágrimas,
Não alimento esperanças.

Resta a este coração que sofre,
A lembrança e a escrita,
Minha boca está impedida de falar,
Sem forças para beijar,
Estou num obscuro,
As palavras saem por conta própria.
Talvez por isso,
Esta carta permaneça intacta.

Noite triste e nebulosa,
Início do mês de 2015,
Sim.
Amor dócil e perfeito,
Durou pouco.
Junto ao cais,
Respirei ar puro,
Ele me trouxe novo amor,
Porém, estava comprometida com outro.
Este outro não aceitou.
Repito exatamente como houve.

Minha mente está doente,
Porém intacta,
Lembro a tudo como se fosse hoje,
Como se ocorresse diante dos meus olhos,
Assim, o vi em linda noite.
Caminhando sozinho e livre.
Ficamos juntos.
Ignoramos a tudo.
Não tivemos permissão da família,
Fuji com meu amado a todo custo.

Refugiamo-nos em discreta casa,
Vivemos juntos,
Planejamos filhos,
Contudo,
Noite crucial e traiçoeira
Foi capaz de identificarmo-nos
A estranhos.

Um moço,
Jovem, forte e armado,
Invade a janela,
Fortemente convicto.
Desfere contra eu golpe traiçoeiro,
Me retraio e a custo me defendo,
O deixo caído a esvair-se em sangue.
O gosto da vitória se assemelha a fel,
Destrói minha vida,
Leva aquele a quem fui mais fiel.

Maldito e delicado amor,
A quem tão perfeita me entreguei,
E tão destruída encerrei,
Não há esperanças,
Desfaleço em leito de amor,
Com os trajes de amada,
Nenhum remédio é capaz de salvar-me,
Quanto ao caído no assoalho,
Nem quis ver o rosto,
Até triste amanhecer ameaçador 
E desgraçado.

Abracei meu esposo,
E esperei as horas contadas
Até o instante em que minha vida,
Finalmente permitiria que a última 
Gota de sangue se esvaisse
De minhas veias.
A morte vem depressa contra esta que ama.
Cruelmente depressa e opressora.

O amanhecer chega arredio
E sem gosto de felicidade,
Meu amado sorve da minha face,
Toda vida que um dia houve,
Diz que deseja juntar forças
Para representar meu último pedido
De que ele viva e seja feliz 
E mais que isso,
Procure minha família,
Pai e irmãos e se apóiem um ao outro.

Ele procura retirar a dor,
Absorver coragem,
Viver nossos últimos segundos,
O sol chega e traz a claridade,
Não há piedade
No olhar daquele que encontro,
Morto, caído por meu golpe,
Sofro, estremeço e morro
Antes da última palavra de reconhecimento.

Se pudesse escrever,
Teria encerrado a carta,
O rapaz de quem tirei a vida,
E que antecipou ainda,
Horas da minha,
É meu irmão e nenhum outro.

Neste instante,
O único amado que tive,
Busca meu pai e meus irmãos para conforto,
Não há de encontra-los juntos,
Não irei ver a nenhum deles.

Sem clemência.
Sem perdão.
Sem conforto.
Abandono a marido traiçoeiro,
Em busca de amparo
Naquele que amo,
Sou mal compreendida e morta,
Será que após fechar meus olhos,
Cair em vala escura e fria,
Ainda sou capaz de encerrar 
Com poucas e últimas palavras?
“Pai poupe a vida deste que amei tanto,
Infelizmente,
Fui para lugar distante,
Levei meu irmão comigo”.

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