Ela não era notável,
Mas com certeza não passava despercebida,
Não gostava de agradar,
Esquiva, arredia e próxima,
Desejava a solidão como nunca,
Mas precisava desabafar,
Contar o que sentia,
Elucidar suas alternativas,
Saia-se dessa falando sozinha,
Se respondia e se bastava.
Falar em voz alta surte o efeito de tocar as estrelas,
E alcançar algo de intangível fora de si mesma,
Abre-se a oportunidade de ser ouvida,
E de não se importar com o quê de fora,
Ou importar-se tanto a ponto de não querer saber,
Ou quem sabe: pior,
Receber opinião em demasia,
Tantas críticas a alternativas a ponto de não saber o que fazer,
Quando muitas opiniões são de importância,
Costuma-se afastar-se muito de si própria,
O agradar...
Palavra simples e complicada.
“Aquele que ama nunca jura”
O que cumpre não precisa profetizar,
Nem ao rei é permitida toda a justiça,
A palavra do ser amado basta,
Ele diz: por minha honra,
E não precisa de outra coisa...
Contudo, a cada frase uma confidência
E nela um juramento,
Ao final contradições...
Entendo o querer ser ouvido,
Porém, não me adequo a desilusões.
Imagino a honra algo tipo tangível e próximo,
Suas vestes,
Aquelas as quais você se despe,
E se livra delas muito rapidamente,
Desculpe, lhe digo: imagino.
Já quanto a sua palavra,
É mais difícil precisar,
Recordo de virar a cara,
E não ouvir exatamente tudo conforme fala:
- Como é?
Desculpa não entendo a sua pronuncia,
Você disse me ama ou cama?
Me abraça ou quer um tapa?
Caramba, a forma como você se move,
Eu lhe vejo desmanchar,
Essas súplicas,
Ah, perdão falo demais, sei lá.
“Desfigurar é melhor que matar”,
Um estremecimento e um fio de medo,
Não sinto mais nada sobre o chão,
-Mas que grosseria,
Não entendi o que você disse por último.
Ele responde: - não disse nada.
Com aquela sua voz fina e com um toque afeminada.
Quase duvido daquele tanto de músculos,
Mas não, não oscilo.
Desfiro-lhe um tapa,
Não as costas mas sobre os ombros,
Assim mesmo no cara a cara...
Ele ri e o vejo se desmanchar na mesma hora,
-Anda lhe digo e faço um sinal.
Ele vai mas logo fica para trás,
Eu ainda tremo,
Sinto medo e tomo mais consciência.
Não se pode povoar um vazio de sonhos,
Muito menos com uma cara medonha,
Não se cobrem os sonhos com hematomas,
Não se esmaga-os através da força,
Estes percorrem as ruas despercebidos,
Não entendo como não se notam suas vítimas,
O hematoma não sagra e passa logo,
Eles guardam segredos, é certo,
E eu entendo cada vez mais sobre isso,
Embora seja bom e progressivo,
Eu não me sinto bem neste aspecto,
Confesso que queria estar sob outro polo,
Mas não posso pensar sobre isso,
Não agora,
Tempo perdido,
Beijos jogados pela janela,
Nada ridículo mas muito profundo,
Ele guarda um definhamento sólido nas mãos,
A de si mesmo,
E a de outrem,
“Cuidado” eu me digo,
Eu preferiria ter em mente a imagem do meu pai,
Mas, por ora, prefiro deixa-lo longe disso,
Os reflexos, os meus também,
Iluminam sua face,
É uma transfiguração assustadora,
Deslocadas e guiadas a um lenço de bolso...
As lágrimas.
- Cuidado – Há um assassino lá fora!