sábado, 15 de julho de 2023

O Cara dos Bolsos Furados

 

-Olá, estou crucialmente apaixonada.

Disse a amiga por suas costas.

-Que bom, sou feliz por você, amiga.

Respondeu a ela com um olhar sobre o ombro.


-Ah, não. Nada bom. Ele tem outra.

Ela fala em tom tristonho.

-Ah, refere-se a vagina?

Disse a ela com um sorriso.


-Ah, que é isso, vagina a outra?

Fala em tom espasmódico.

-Mas é claro. Seja você então, a mente.

Responde rápida.


-A mente eu?

Com minha cabeça linda e meu cabelo loiro,

Já estava prestes a pintá-lo de negro

E mostrar a ele que sou melhor que ela.


Fala a outra organizando agenda para o horário de salão.

-Pintar o cabelo?

Ser melhor que ela?

Ora amiga, você vê tudo errado,


Tenta desta vez, então, ver pelo avesso.

Agora ela responde e vira a cadeira,

A olha e demonstra sinceridade.

-Do avesso?


Como posso ver alguém desta forma?

Ela fala arrumando uma mecha de cabelo.

-Pensa numa calça e o imagina nela.

Ela fala enquanto a toca na perna.


-Hã. Como assim uma calça?

Existem tantos tipos de calça.

-Não, veja uma calça agora pelo avesso.

A outra vira o rosto para o lado e se esforça.


-Do avesso? E o que tem a ver com ele?

A outra a interroga,

Parece intrigada.

-Querida, numa calça pelo avesso só sobra os bolsos,


Aproveita e fica com eles.

Existem homens mais bons pagadores que amantes,

Acredita,

Se ele escolheu a vagina que queria,


Veja nele apenas o que o resta a oferecer.

A outra ri alto.

-Ah bom, pensei que você tinha interesse nele.

E retorna ao seu lugar da sala.


Ainda com o horário marcado,

Ela foge da aula e vai para o salão,

Troca cor do cabelo,

Inicia uma maquiagem.


Tudo isso por um cara que perde a carteira em qualquer lugar,

Um sujeito desleixado.

De bolsos furados e jeans resgados,

Não diz não para a que se esforça.


Também não deixa a anterior,

Ambas veem ameaça em todas que passam,

Não entendem que nem todas são cegas.

Algumas preferem não investir em caras que não valem a pena.


Me Envergonha

Pouco após uma pegada,

Há outra e depois outra;

Assim é com os beijos,

Nunca se quer um único,


Não os apaixonados,

Mesmo que solitários e vazios,

Observa-o,

Quer-se ver visível,


Estraga-se por amor,

Deseja ser correspondida,

Para a direita há a calçada,

A esquerda a rua trafegável,


Quando se está no abraço amado,

Não se vê muito mais que isso,

Uma mulher passa do lado,

Há nisto algo que os separa,


Ele para o beijo,

E se volta,

Arranja ou não desculpas- se afasta,

Ela segue sua direção,


Ainda recorda seus passos,

O tamanho, a forma –meticulosa,

Atenta põe-se a segui-los,

Logo há um grito,


Uma respiração entrecortada,

E olhos –os dela – fechados,

Lábios compressadamente silenciados,

A mão dela repousa rápida sobre a boca,


A cala, - fala indesejada.

Nem tenta um último suspiro,

Da vida de um beijo a agonia,

O que a segundos teve um fim,


Inicia-se logo adiante através das lágrimas,

-O que há em toda a história que precisa

Socorrer as bucetas,

Nota-se o enredo fechado,


Do início ao fim – as vaginas...

Uma fala atrás dela comenta.


Ela não olha para trás apenas ouve,

Retira alguns sentimentos sua própria mão da boca.

-Creio, que elas estejam mais difíceis...


Ela tenta rir mas não sabe se pode.

-De repente os pênis estão perdendo o valor...

Desta vez ela ousa olhar para trás.

-Pois é, existem tantas formas de encontrar prazer.


O grito que antes respirava,

Agora sufoca e paulatinamente cessa.

A mulher que antes gritava agora chora,

A moça ainda com a mão na boca vê o namorado em socorro.


-Deve ser o cheiro de menina nova,

Logo que baixa o olhar vê a criança com ela.

Buceta nova deve proporcionar orgasmo diferenciado.

A sombria súplica do invisível se cala,


Ela cansa de falar sozinha e sai de cena.

Existem pênis e pênis – diferencei-os.

Uma história não pode ser história se não houver vagina,

Querendo ou não,


Nada grita mais alto que o pênis,

Nem mesmo a vagina que o implora.

Uma vida de servir e servidão,

As mãos que tapavam a boca vão para o rosto,


Sinto vergonha se um dia servi-o,

-Ai de mim que terrível ruína,

Rebaixar-me a servil – serviçal- vagina.

O escravo a servir-me e eu a trouxear-me,


Valorizar um pênis- separa-lo do homem,

Seria difícil vagar pelas ruas com mãos na cara,

Sou obrigada a vê-los,

Penso se eles percebem,


Se entendem o quanto vejo...

Envergonho-me.


 

terça-feira, 11 de julho de 2023

Seu Abraço

 

Enfrentar o fim do abraço é alarmante,

Ter que me afastar dele,

Mesmo que para olhar em seu olhar,

Contemplar sua face,


Não há o que possa doer mais,

Ignorar a dor é terrível,

Soaria estranho pedir mais um pouco,

O aconchego que há nele é único,


O menino com este coração acelerado

Que parece pulsar sobre o meu,

Me dar forças para seguir adiante,

Alegria por senti-lo unido a eu,


Ágil e preciso e motivador,

Este coração parece pulsar desconhecido,

Depois de senti-lo,

Não consigo ficar tão longe,


Mesmo que seu cheiro me busque,

Nossos olhares permaneçam unidos,

Eu preciso senti-lo.

Acaricio seu corpo com movimentos lentos,


Quero permanecer nele,

Há nisto um meio?

Me vejo tocada de forma profunda,

Tão grande e intenso,


Sob a sombra da distância,

Se assemelharia a um túmulo,

Acho que ali tanto eu poderia dormir segura

Como me perder e não saber voltar,


Maior que eu um pouco,

Mais forte que meus músculos em muito,

Rígido e por vezes prepotente,

Se adentro ali não sei qual caminho pegar,


Tenho medo de olhar meu redor

E ter ido para tão distante

Até não reconhecer mais nada,

Me vejo apegada e grudada a seu peito,


Ali é quente, seguro e intenso,

Não preciso ver mais nada – preciso?

Suas mãos me seguram tão intensas,

As minhas cabem tão bem dentro delas,


Meu corpo sabe se moldar a ele,

Não tenho medo do que vejo em seus olhos,

Nele eu não temo o meu caminho,

A ponte que liga o homem amado


Ao futuro pretendido e até sonhado,

Não cai com chuva alguma,

Ela não sofre rupturas,

Seus alicerces conduzem a qualquer rua,


O lado de fora do seu abraço se assemelha a indiferença?

Pre-po-tên-ci-a a minha,

Não a sua,

Apegada a ele feito sua roupa,


Mas roupas não permanecem por 24 horas,

Elas são removidas e trocadas pela necessidade,

Esta mesma que me faz querer ficar,

Me pede que me afaste,


Andar sobre seus passos ou dentro de suas pegadas,

Me soa a algo sombrio e desconhecido,

Então, me lembro de seus batimentos,

Do seu pulsar sobre meu coração mais lento,


Chamo por sua mão e o medo se afasta,

Como tinha de ser,

Então, acho que é assim com todo mundo,

-Seus passos são grandes e profundos,


Nossa, que assombro!

Me vejo dentro deles e tão pequena,

Será que se eu for rápida eu caio?

E caindo você saberá se voltar?


Você me vê como preciso,

Entenda, estou sempre um passo atrás,

É de fato uma pegada marcante,

Ela quase cobre meu pé por totalmente.

domingo, 9 de julho de 2023

Esquecer

 

A faísca se apagou,

Com apenas um fechar de olhos,

Tudo se esvaneceu;

Queria que uma sombra desconhecida


Ganhasse nosso passado,

E apagasse tudo da memória,

Mas, a cada instante paro e penso,

Parece não haver outro assunto,


Vejo uma porta se fechando,

Com um baque surdo,

E ao olhar ensurdecedor,

Ele desistiu muito fácil de nós,


No outro dia já beijava outra,

Na esquina do lado da escola,

-Garota de esquina.

Sussurrei baixo talvez não o bastante,


Insuficiente,

O beijo parecia não ter fim.

“Rezemos!”

Pensei comigo com mãos ao alto,


Não quis agradecer a Deus mas agradeci,

“Se esquece tão fácil,

Muito me é melhor o partir”.

Não, não contive o choro,


Olhos baixos,

Com todos vendo minhas angústias,

Mil cabeças se viraram,

Também não penso que fui o assunto do dia,


Nenhum deles desistiu do beijo,

A troca de abraços parecia muito íntima,

Me vi de joelhos,

A afoga-los em lágrimas,


Antes disso, preferi o calar,

Desisti de causar julgamentos,

Ser tachada a menina enganada,

Meu busto ficou encharcado por lágrimas,


Sim, me foi difícil disfarçar,

Como quis que uma sombra apagasse tudo,

Dores na cabeça e na alma,

A um braço de estapeá-lo na cara,


Mas qual o motivo me guiaria?

Eu o amei e ele não,

Não me amou ou a si mesmo,

Eu jamais me rebaixaria a intimidades tão óbvias,


E... a vista de todos?

“chamativas” eu poderia defini-las,

-Desregradas.

Eu disse alto,


Com um chute na pedra a minha frente,

Um singelo chute no chão de pedras,

Era como se ele a abandonasse ao infinito,

Estavam tão juntos que pareciam em demasia separados,


Em frente a todos e ao nível de todos,

“Uma tal disponível a qualquer um”,

Olhei a palma vermelha da mão esquerda,

Amparei algumas lágrimas,


A indisponível e sozinha,

Tentei fazer as lágrimas retornar aos seus lugares,

Com um levantar de cabeça

E um quase “não me importo”,


Mas algo dentro de mim se importaria,

Alguma coisa em mim não entendia,

E não conseguia abrir mão de um passado bonito,

Difícil e aterrador,


Foi embora e me manteve enraizada,

Manteria minha boca fechada,

Penso que isso já seria o suficiente,

Não fazer aquele tipo


“a menina angustiada e que morre por ele”,

Mas aterrador e enterrador,

Do não conseguir resistir

Ao não poder esquecer foi um segundo,


Uma palavra,

Uma letra ou duas,

Um beijo,

Um em minha boca o outro na dela...


sábado, 8 de julho de 2023

Rezo Por Nosso Amor


Não havia mais extensão no espaço,

Quanto cabe no céu de uma boca?

Muitos sonhos diluídos em beijos,

E no coração que abriga quem ama?


Falta espaço, lhe digo: falta espaço!

O céu se enegreceu e se debruçou,

Eu deitei sobre a grama e o trouxe comigo,

Não havia nada além dele em mim,


Eu não quis nada mais que seu peso,

Mesmo o céu não quis fazer presença,

Penso que existem coisas a dois,

Alguns flocos de sereno surgiram,


Mas, entre nós nada além do suor,

Quente e úmido,

E carícias macias sobre corpos molhados,

Pareciam espíritos em densas névoas,


O sereno a vista do horizonte,

Mas, de alguma forma tínhamos certezas,

Um no outro; um do outro.

Nada mais era tão nítido no campo de visão,


Nem tão frio quanto a ação do vento,

Contudo, eu não poderia contar esta história desta forma,

Minha versão é a em que estou de olhos fechados,

Arredia do mundo,


Entregue aos seus braços,

Muito calor passava de um ao outro,

Beijos ferventes se derretiam sobre corpos nus,

A sede do céu de sua boca me descompassava,


Tanto quanto os cabelos ficavam em desalinho,

O sentimento era de completude,

A intensidade era tênue,

Feito uma linha forte que não se rompe,


Que tem a força e posicionamento exato,

Se eu pudesse ver seus olhos apesar da noite,

Apenas eu sei o quanto veria neles,

Eu o amo, o amei e não guardei dúvidas a respeito,


Ali, colada em seu corpo,

Tudo lá fora era armadilha,

Armadilhas escondidas sobre folhas secas de incertezas,

O flamejar da intensidade dos nossos carinhos


Acentuava calor por toda a pele,

A um homem deste não se curva,

Se dobra,

E eu me dobrei em muitas,


Fui todas e cada uma que pude,

De todas estas fui a versão menina,

Eu confesso que não tinha sua opinião,

Ou atitude sobre meus passos e decisão,


Agi sozinha e por impulso,

Medida a incertezas,

Sob a sombra de árvores densas ou secas,

A tocha que acendeu em mim não se apagou,


Eu segui abrigada somente a luz dela,

As folhas secas sobre as armadilhas não foram capazes,

Não sei expressar o motivo das certezas,

Mas cai em muitas delas,


E em cada uma eu o esperei,

Me curvei aos obstáculos e os ultrapassei,

Sempre me prostrei dobrada ao amor que sinto,

Não tenho vergonha do quanto o amo e admiro,


Quanto aos ferimentos,

Eu guardo você limpando-os em cada um deles,

Tirando os lenços de sua carteira,

Acredito que você sabia que isso aconteceria,


Mas não que estaria tão preparado,

Você se saiu muito bem,

Quando a claridade ressurgia sobre as folhas secas,

Tudo o mais se desvanecia,


E seu olhar resplandecia sobre todas as coisas,

Nada restou dos ferimentos

Além de uma sombra desconhecida,

Veja minhas mãos e cada centímetro


Da minha pele que você tanto beijou,

Aí estão cada cicatriz em ferida fechada,

Acredite meu amor,

Em cada uma desta que fiz,


Eu o tinha por objetivo,

Me desculpe se lhe soar em culpa,

Mas eu o amava em sobremaneira,

E o amo com todo o amor do mundo,


Algo se tomba no infinito sempre que estas comigo,

Já não sou eu e eu sorrio disso,

Mas, estremeço,

Nunca pensei que este tombar também tivesse lhe ocorrido,


Isso me entristece,

Porque, amor, eu não estive lá,

Mas guardei um lenço,

Veja, meu amor, aqui está,


Eu sempre o trouxe comigo,

Tem seu nome e o desenho de sua boca,

Rezo, meu amor, eu rezo,

Te amo e gostaria de estar mais em sua vida.


 

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Sua Boca e Seus Mistérios

Elas saiam da boca e se dissipavam,

Dentro dele,

Por entre sua língua e formas,

Feito um acariciar a pele,


Até a parte mais profunda.

As palavras,

Não falo do beijo,

Não ainda.


Um círculo de bichinhos sobre a água,

Peixes vendo-os,

Parecem gostar da ideia,

Comê-los.


Feito pequenos degraus eles descem,

Não acredito que saibam nadar,

Mas sabem,

Descem em meio ao vácuo e retornam,


Não são tocados,

Parecem espalhar uma espécie de pânico,

Peixinhos se rodeiam e fogem,

Um maior fica ainda próximo,


Pequenas ondas se formam,

Alguns bichinhos desfalecem, então,

Já não entendo como ou o porquê,

Imagino se seria possível descer abaixo,


Bem no fundo sem precisar de ar,

Se há maneiras de percorrer toda a água,

E, óbvio, tocá-la mas não precisar voltar,

Penso agora e somente agora,


Se há possibilidade de ir até mesmo sem tocá-la,

Retorno a boca e agora desejo o beijo,

Então procuro-a,

E acreditei até então, que algum dia a percorri,


Dou um espaço e a contemplo,

Estremeço,

Acredito no que sinto,

Assim, digo que a amo,


Mas antes de retornar ao beijo sereno,

Penso se realmente um dia a toquei ou a senti,

Sentindo-a como acho que está em minha boca,

Reflito se me aprofundei nela,


Se toquei em cada parte,

Se respirei fundo o suficiente nela,

Se meu ar a preencheu ou retirou-a-na,

Se fui capaz de percorrer cada parte dela,


Da altura de um degrau,

Eu me jogo nos seus braços,

Sem pensar se está preparado,

Mergulho em queda livre,


Livre do espaço ou tempo,

Um coliseu no céu aberto,

Porém, profundo, misterioso e acessível,

Coberto por águas límpidas e ora turvas,


Se eu pudesse ficar tão pequena,

Ou quase ínfima,

Seria possível usar os bichinhos e então ir,

Então o reconheceria,


E sua boca?

Como poderia me aprofundar nela?

Estando nela como conhecer você?

Eles seriam degraus,


Contudo alguns ficam por lá embaixo,

Será que me abandonariam?

Mesmo os degraus se movem e

Eu me perco,


Não, eu não queria conhecer o impacto de cair,

Mesmo que na imensidão de um profundo,

Ou de altura que considero segura,

Doce vislumbre de um mergulhador,


Fracasso de muitos,

Creem que poderiam descer sozinhos,

Transparência tendenciosa ao naufrágio,

Mergulhar nos seus braços e ficar,


Sonho louco e apaixonado,

Reconhecer suas atitudes,

Tomá-las por minhas- compreender.

Assim, é como me sinto cada vez que o vejo,


Peixes travam combates ali,

Alguns fraquejam antes,

E sua boca,

Quem luta por ela?


Que segredos você seria capaz de guardar,

Gostaria de saborear seu gosto e me ver nela,

As palavras que falam e que estão em você,

Já o contem em muito,


E nas suas,

O que há de nós dois juntos?


 

Imensidão

Riscado o céu de branco, Céu negro e inexpressivo, Luzes transcendem o firmamento, As sombras de imagens Vão se afirmando. ...