- Eu preciso de dinheiro,
Do seu dinheiro.
Ela disse em desespero,
Dívidas da casa em atraso.
Iriam penhorar e retirar dela.
- ótimo.
Ótimo ele quis responder
Com orgulho opressor,
O mesmo teor que ela utilizou,
Se pudesse cuspiria terror.
Ao invés disso sorriu emotivo,
- querida, estenda suas mãos
Em minha direção,
Fiquei próxima.
Bastante próxima.
Então ele cuspiu.
Com lentidão,
Escassez e sede.
Lembrou-se de toda sede que sentiu,
Da vez em que se viu obrigado
A beber sua própria urina,
De quando não teve lugar
Em que depositar sua urina,
Por estar de portas trancadas,
E incapacitado por algemas
Fez tudo nas calças.
- não, não se incapacita um homem,
Fuzilando sua masculinidade.
Ele não esperou pelo tapa na cara.
Chorou feito criança.
Então, saiu de seu devaneio
E olhou-a,
Amou ver seu desespero,
A humilhação estampada nela,
Sentiu-se ainda mais fraco,
Ele tinha o valor,
Ele poderia ajuda-la,
Mas jamais o faria,
Não esqueceria a falta de água,
A ausência de seus remédios,
Estar preso e obrigado por ela,
Impedido de buscar medicamento,
O risco a sua vida
Era motivação suficiente
Para a recusa.
Não,
Não iria ajudar,
Morreria com cada cédula,
Enfiaria no cu
E fingiria que era merda,
Limparia a bunda
E daria descarga,
Mas jamais iria auxiliar.
Sofrer é horrível,
Mas ser alvo de pressão psicológica,
Estar preso a quatro paredes,
Não.
Não há como perdoar
Ou ao menos esquecer.
Sim.
Precisava sair vivo,
Não sabia como se sair bem,
Mas confiar e ajudar,
Não convém.
Outra forma de fingir confiança,
Precisava de outra maneira
De fugir
E se colocar o mais distante,
Enfiaria cada cédula no cu
Até virar merda,
Mas não facilitaria
Ou seria conivente.