sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Beijo na Rede

Estava na terceira cuia de chimarrão,

Sentada na varanda da casa de madeira branca,

Algo profundo palpitava em seu coração

A cada momento em que parava


Para permitir-se ver o rio correr para o mar,

Naquele dia em especial,

Fazia um calor acolhedor lá fora,

O orvalho não havia secado ainda,


Uma leve brisa brincava com as folhas

Que caiam, pousando sobre a grama,

Pássaros revoavam e cantarolavam,

Mas, os pensamentos dela estavam longe dali,


Em um lugar incerto, dentro da saudade

Que parecia soprar aos seus ouvidos: sinto sua falta,

E apenas um rosto tomava sua alma,

Por inteiro, nada além lhe despertava,


Afinal, tudo parecia estar no seu lugar,

Mas ela estava incompleta, sozinha,

Precisava senti-lo, toca-lo, beijá-lo...

Doce rosto que não lhe saia da cabeça,


Loiro, forte, alto, ombros largos, perfeito demais para

Passar despercebido, olhar doce de menino,

Atitude de quem sabe o que quer,

Uma única certeza lhe trazia levemente para a sua boca,


Um gosto, doce, molhado e gostoso demais para ser detalhado,

Um beijo, exigente, daqueles que tocam os lábios

Enquanto abraçam suavemente a alma,

Daqueles, que deixam as pernas bambas,


Incapaz de resistir as suas investidas,

Fechou os olhos, se pegou a sonhar,

Sonhos que estavam longe de serem apropriados a escrita,

Sim, acreditava ter razões para derreter a cada carícia sua,


Afinal, como resistiria?

Ela tentou evitar, tinha certeza disso,

Porem quando mais fugia, mais se aproximava,

Acreditava até que o procurava...


O que, de fato, era tudo que sonhava,

Queria pertencer a ele para sempre,

Caso contrário, não poderia dividir com ele a mesma cidade,

Estado, país ou universo, estivesse ele onde estivesse,


Ela sabia, o desejaria e muito mais: o procuraria,

Sentia dentro de si mesma: não poderia evitar

O sentimento tão intenso que a consumia,

De maneira que deixava uma mensagem curta:


Precisava dele, sentia uma urgência desmedida,

Como se dentro de si mesma

Houvesse um gatilho que apenas ele sabia despertar,

E mais, ela sentia que ele a entendia,


E parecia até mesmo adivinhar sua urgência,

Fechou os olhos, deixando-se embalar na rede,

Suas lembranças foram tão fortes,

Que pode sentir sua presença,


Aquele corpo tão familiar a tocava,

Perfeito, com habilidade em cada carícia,

Instintivamente, ela abriu a boca

Para receber o beijo, como se ele não soubesse


Como guia-la... aonde toca-la, sentiu-se tonta

E permitiu-se ser guiada por sua fala macia,

Suave, rouca, melódica, aveludada...

Carícia para sua alma apaixonada,


Apenas um desejo a tomava:

Ser sua, irremediavelmente sua,

Sentia que sem ele não poderia respirar,

Nem existir, apenas ele a conhecia tão bem,


Como se em seus lábios contivesse o néctar da vida,

Ela bebeu-os, sugou-os, desejava cada traço dele,

Desejava-o, dentro dela para sempre,

Seria possível absorver alguém


Tragando-o para si de forma que não se distinguisse

Quem era quem?

Sentia-se vazia e ele a preenchia,

Parecia completa-la como a uma só forma,


Sentia que seu coração batia dentro do dele,

Não, ela não poderia se imaginar sem ele,

Adorava admirá-lo,

Era como se dividissem os mesmos pensamentos,


Sentia-se vívida, acolhida, era capaz de ver-se refletida em seu olhar,

Presságio do destino: caminho certo a se traçar,

Era dentro dele que ela queria morar,

Caminhar ao seu lado ou ficar parada,


Qualquer coisa desde que junto a ele,

Sentir sob os dedos frágeis a sua pele,

Poder provar seus lábios sempre que quisesse,

Ser acordada por sua voz a cada alvorecer,


Ela ansiava que isso pudesse acontecer,

Enquanto isso, mantê-lo presente em sua saudade,

Era o bastante, ali ele estava guardado,

Protegido, abrigado ao seu amor,


Ali permaneceria para sempre em seus braços,

Derretendo-a em cada beijo apaixonado,

De forma que respirassem o mesmo ar,

Tivessem as mesmas ideias,


É claro que amando-o como amava

Ela sabia que não poderia demonstrar nunca

Tudo que sentia, pois ia além das palavras,

Tivesse ela o dom de escrever, lhe escreveria


De mil maneiras possíveis,

Apenas para que ele percebesse

Que sempre o amou e amaria para todo o sempre.

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