Não, ainda não era inverno,
Não importava o frio na janela,
Ou a neve sobre a grama fresca,
Ainda não era inverno,
Mesmo que o sol ou a neblina quisesse,
Com relação a carta – a recuso,
Que outra coisa faria?
A mão que estende é a mesma que poderia ficar,
Se vem para servir mas toma de volta,
Não quero e ainda peço: não insista!
Recuso francamente cada palavra,
Com um pedido rouco e sóbrio, ainda:
Não confunda com fracamente,
Se esta voz que tenta falar não lhe diz nada,
Se se esforça mas não é o bastante,
Simplesmente, não insista,
O que acaba, antes de tudo, não deveria começar,
Não quando é amor,
E quanto a brisa fresca que chega e entra,
Não diga nada, não é inverno,
Não ainda,
Não importa se a janela esteja fechada,
Nem ao menos se aqui dentro tudo congela,
Me ouça, não insiste, nem agora ou depois,
Uma carta não passa de uma máscara,
Algo com o que você escreve o que quer
E depois apenas nega,
Já disse, não insista para mim foi o bastante,
Por baixo de cada palavra,
Escondida por entre as linhas
Encontra-se a mentira,
Eu sei o que sua boca não fala,
Então, me ouça e não insista,
O amor só amor quando se está junto,
Longe, amar separado, não dá, não insista,
Não! Nada de carta!
Para o amor não é necessário promessas,
A lenha se apaga na lareira,
A chuva molha o que resta lá fora,
Já disse, não é inverno, não agora,
Amar você é mais que tentador,
Você conhece meus limites e o seu potencial,
Não insista, não preciso mais de nós,
Amassou a carta e jogou no fogo antes de enviar,
Escrita do próprio punho e alma,
Não foi capaz nem seria,
A chama consumiu carta e conteúdo,
O fogo atirava-se como se quisesse mais ainda,
Mas, Deus sabe: eu não tinha,
A não ser que eu inteira fosse junto,
Tivesse como arrancar o coração, o faria,
Logo que vi o vulto, ao longe pelo reflexo da janela,
Por entre a espécie de chuva de inverno,
Joguei a carta fora e me despi do que sentia,
Estava preparada para o adeus,
Que eu não queria dizer mas ensaiava muito,
No entanto, o tempo passou e ele não chegou,
A chuva ou neve cessou e voltou...
A carta chama já não existia,
Nem mais a esperança.