Ouvia-se um ruído gutural de sua garganta,
Algo de alguém que tenta expressar a alma,
Em uma frase apenas expor tudo que sente,
Sem se importar com quem ouve ou entende,
Ela podia ser vista lá do horizonte,
E ouvida, talvez, mais longe ainda,
Um brilho de lágrimas gotejava a face,
Um misto de dor enrubescia a pele rosada,
Desdobrava a sua dor numa espécie de trovão,
Um clarão de espanto levantava-se ao seu comando,
Um exército de sentimentos baixava a guarda,
Dor, solidão, rejeição e tantas outras coisas incontidas,
Era um anjo caído que tentava se levantar,
Deus sabe quantas vezes um coração não consegue mais,
E aquele esgotava as suas forças,
Todos se calaram sem dizer nada,
Baixaram suas cabeças sem conseguir se dispersar,
O silêncio sempre provoca um não saber o que fazer,
Um quê de refletir e uma dor que não se entende,
A moça, agora já se sentia sem fôlego,
Mas ainda assim gritava num misto de pranto e dor,
A garganta não mais que brasas acesas a queimar,
Olhos frágeis e cansados da espera,
Um amor insensato e dor que dilacera,
Sua parte da culpa não estava coberta,
Assim como a sua rejeição – exposta e latente-,
Por amor suportou tudo que pode,
Agora apenas dor e lágrimas lhe cobrem o rosto,
Nem mesmo mais a pele sentia,
Era como se não houvesse mais nada – em chagas-,
As carícias que consumiram seus medos,
Viraram-se contra ela e a devoravam agora,
Porém, em solidão e lamentos por tudo que houve,
E muito mais pelo nada que restou-lhe,
As promessas que disse em voz acalorada
Agora caíam sobre ela e a esmagavam,
Frase a frase irrefreada de encontro a sua alma,
A dor sangrava e as chagas se abriam diante dela,
Se ele parecia se importar não demonstrava,
Se havia alguma forma de ele não saber – não havia-,
Cansou de esconder o que estava na cara,
Abriu a boca e gritou até ficar sem fala,
Mas o coração em tempo oportuno,
Sabe suportar também a distância e a saudade,
Porém, agora era tempo de sofrer – chagava a sua hora-,
Chorar, gritar e ser ouvida, quem sabe,
Tirava do coração a dor e tentava elevar a alma,
Algo, dento dela, tinha que responder,
Pelo grande amor que tinha por si mesma,
Precisava resistir e ser forte,
Porque amores não matam apenas ferem,
Sentia-se pisar em um atoleiro e afundar,
Com apenas a mão para fora, ninguém a via,
A mão que ele cumprimentou no primeiro dia,
Esquecida, abandonada, a afundar-se para dentro,
No fundo, para dentro, no fundo,
Em um fundo que talvez não fosse mais encontrada,
Mas dizem os tolos e quem é que quer ser salvo?
O amor, é por isso que ama e se entrega,
O amor quer algo que busque ser diferente e o seja,
Lágrimas profundas e densas a puxavam,
Arrastada para algum lugar ela se perdia,
Mas quanto ao amor que sentia,
Não calou palavra alguma,
Que esta cova de dor se feche sobre mim,
E cale cada pulsar do meu sentir,
Se quiser algum dia,
Sobre o que sinto calar a minha boca!