segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Lembro

Lembro, sim.
-Então, o vi, o achei incrível.
Marcamos o encontro e segui.
Não pareceu que precisaria
Ficar recordando o dia,
Relembrando o horário.
- Você sabe.
Me apaixonei a olhos vistos.
Eu não sei fingir,
Desejei você,
Quis provar seus lábios.
Os olhos castanhos dela,
Sábios, brilhosos,
Sempre a guardar uma lágrima,
Ficaram-se em mim,
Eu a quis.
Tive absoluta certeza,
Destas certezas que removem distâncias,
Que dão vontade de estar perto,
Que faz até sonhar,
Que deixa um pouco inseguro.
- Eu não consigo desviar meu olhar,
Querer, sonhos e desejos,
O vejo,
E meus lábios ficam entreabertos,
Desde a primeira palavra,
Antes de tudo,
Eu o esperava,
Quis sua boca,
Desejei seus beijos.
Não negaria.
Parecia que o olhar dela
Mais que qualquer coisa
O conhecia de forma verdadeira,
Foi emocionante o que senti,
Conhecer ela,
Marcar o encontro,
Estar ali.
Não precisaria reagendar,
Jamais haveria desencontro,
Estava tudo muito certo.
- eu não quis esperar,
Só desejei ter certeza
Que você sabia arder e gemer,
Querer estar comigo,
Tocar sua cintura,
Remover sua camisa surrada branca,
Que aliás,
Você parece trocar por nada,
O vi outras vezes,
Sempre fui clara
Com relação ao meu prazer,
E você sempre com ela.
Linda camisa branca.
Está tudo bem agora.
É só seguir viagem.
Vamos ficar bem.
Trocar carícias,
Falar de amor,
Fazer um bom sexo.
-E o quarto ficou tão quieto,
Que podemos ouvir nossos corações,
Eu sinto
Que você me deseja
Tanto quanto eu o amo.
Vamos ficar sempre juntos.
Vamos ficar sempre juntos.
Ela encerrou o monólogo.
Ele encerrou seus pensamentos.
Rolou sexo.

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Direção

Hoje caminhei,
Segui, corri,
Quis andar o mais rápido,
Chegar muito depressa,
Foi então, que vi,
Eu não sabia para onde ir.
Aí, simplesmente, peguei o carro,
Saí.

Dirigi depressa,
Vi tudo passar por mim,
Rápido demais,
Vi a curva se fechar,
Rápido demais,
Cansei de ver,
Quis fechar os olhos,
Fugir,
Nem enxergar mais.
Quis deixar tudo pra trás.

Chorei,
Clamei,
Me entreguei,
Foi questão de minutos,
Me justifiquei,
Procurei Deus,
Me consolei,
Andei mais devagar,
Mesmo que tudo explodisse,
Vi que minha estrada era segura,
Que Deus planejou tudo antes.

Levantei as mãos aos céus,
Baixei,
Segurei firme o volante,
Percebi que Deus é maior,
Que ele me colocou em seus planos,
Não interrompi estradas,
Não cortei frentes,
Não entrei sem ligar o pisca,
Não diminuí sem ligar o alerta,
Eu vi,
Tudo ficou claro,
Mesmo entre lágrimas,
Deus estava ali,
Caminhando na estrada,
Me esperava.

Quando o trânsito parou,
Eu não bati,
Quando o carro ultrapassou,
Eu não corri,
Quando recebi a notícia
Que eu não quis,
Ela já não me feria,
Eu vi Deus ali,
Caminhando comigo,
Seguindo a estrada,
Sentado ao meu lado,
Ele nem rezava,
Estava seguro,
Sabia bem certo quem sou,
Sua seguidora,
Aquela que Ele criou,
Sim,
Sou sua serva,
Não preciso antecipar nada,
Deus segue comigo,
Eu não tenho pressa,
Estamos seguro,
Juntos no mesmo carro.

Ele não precisa se cansar,
Caminhar a passos lentos,
Eu conheço o caminho,
Ele já andou por onde irei,
Eu posso levá-lo,
Sim, hoje, não irei sozinha,
Ofereço uma carona,
Levo Deus comigo,
Não sinta medo,
Eu sei dirigir muito bem,
É Deus quem senta ao meu lado,
E se eu errar a marcha?
Eu diminuo velocidade,
Peço para ele me ajudar.
É Deus quem esteve a frente,
Hoje levo ele comigo,
Ele já pode descansar,
Receber um beijo de agradecimento,
Eu o levo no carona.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Amor

Caiu por terra
Afogado em palavras
Que não teve forças
Para falar,
Lágrimas a percorrer seu rosto,
Pesadas demais
Para indiferenças.
Sentiu-se fraquejar,
Com a cabeça contra os joelhos,
A beirar a terra,
Ele permaneceu,
- como consegue não sentir nada?
Me ver cair e não se ressentir,
Você não sabe amar,
Você não é capaz de se entregar,
Sempre contida,
É como se o amor
Em você
Tivesse medida.
Diga uma palavra,
Fala alguma coisa,
Você beijou minha boca,
Tocou meu corpo,
Dormiu comigo,
Eu soube te fazer feliz?
Por favor, me diz.
Meu coração está emudecido,
Bateu feito uma pedra,
A pesar no peito,
Estou fraco demais para me levantar,
Não capaz de sair deste chão,
Onde você me fez escorregar,
Eu não quero sua compaixão,
Lhe pedi amor,
Por quê se recusa?
Bondade, moça,
Bondade.
Diga uma palavra,
Uma frase qualquer,
Este rosto cheio de dor,
Já foi digno de seus carinhos,
Você se recusa a me tocar,
Evita de aproximar,
Me diz,
O que eu te fiz?
Estou a desmoronar,
Meus alicerces ficaram entre seus dedos,
Em cada carícia sua,
Em cada sonho perdido,
Você está disposta ao caminho errado,
Entenda que eu sei sobre destinos,
Me quer a seus pés,
Não me veja como um de seus escravos,
Eu a terei,
Me coloco ao seu dispor,
A busco,
Me arrasto se não puder caminhar,
Mas estarei ao seu lado,
O amor não é maligno.
Sua distância
Ressoa sobre minha pele
Feito ferro em brasa,
Me faz arder,
Temos sua falta,
Pela última vez,
Seja minha,
Reconheça o que sinto...
A moça virou as costas,
Não foi capaz de amar,
Não sabia corresponder,
Dizem que encontraram um esqueleto,
Depois de muito tempo,
De uma jovem solitária,
Cujo qual não permaneceu
Muito tempo sozinho
Na vala onde foi jogado,
Quando quiseram separar
O esqueleto masculino
Do feminino
Em que morreu abraçado,
Ele, que morreu após ela,
Segurava forte,
Seguro como se sonhasse,
Se desfez no pó.
Após sua morte,
Parecia que ainda tentava protege-la
Mesmo seus ossos
Reconheciam o amor.
O dele se desfez,
O dela ainda possuia roupa e tecidos.

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

É a Vida

A solidão é uma base fria,
Escorregadia,
E destruidora,
Há quem caia nela
E voltei melhor?
Ou que não sinta tanta dor.
Hoje abri meus olhos
E senti medo,
Um pavor me percorrer,
Eu não quis deixar o cobertor,
Me recusei a levantar-me.
Mas o dia corre,
E antes que as horas passem,
Eu preciso ser forte,
Preciso sair do lugar,
Enfrentar tudo que houve,
Desistir de culpar,
Buscar
E insistir.
Seguir.
A solidão é base fria,
De quebrar a cabeça,
Romper o cérebro,
Retirar as certezas,
A solidão cega,
Ou apenas apaga
Aquele que não se importa?
Sozinha.
Sozinha.
Sozinha.
Não posso me acostumar.
Estou em ruínas.
Queria uma frase se sentimento,
E uma atitude,
Romper distâncias,
Estar perto,
Ter um alguém.
Aos 35 anos
Tudo que mais sinto é medo.
Momentos de ódio,
E medo.
Não sei se me escondo,
A vida toda não fiz outra coisa,
Rompi as certezas,
A verdade é que nunca tive as respostas,
Nunca soube o que fazer,
Tudo que fiz
Foi mentir,
Mentir para você.
Eu nem fui tão feliz.
Ou tudo está muito lá atrás,
Esquecido.
Eu sonhei com ídolos,
Eu imaginei frases eróticas,
Eu desejei me entregar,
Eu vivi cenas em minha cabeça.
E tudo que eu fiz com elas
Foi destrui-las,
De uma a uma,
Em cada dia que eu desejei vive-las,
Eu sinto dores intensas,
Eu tento me masturbar,
E nem sempre consigo,
Eu acho difícil sentir prazer,
Eu odeio gozadas curtas,
Eu gosto de metidas fortes,
Meu riso é involuntário,
E meu peido também,
Eu não gosto do amor.
Eu amo meus cheiros,
Admiro minha bunda
E cada um de seus movimentos.
Eu me amo de costas,
Admiro meus ossos,
O formato dos meus ângulos,
Eu gostaria de um pênis intenso,
Estou cansada de masturbadores,
Mesmo que isso signifique
Reconhecer dores
E saber dissipa-las
Por si própria.
Eu tiro dez em minhas histórias,
Quando percebo
elas são de todo mundo,
Eu sei que exigem da mulher
O conhecimento do prazer solitário,
Mas eu não sou capaz
E não me importo,
Eu preciso de companhia,
E exijo homens calorosos,
Nunca fui boa com garotos,
Nem dispenso os mais velhos,
Mas, por favor,
Não insista comigo,
E claro,
Só transo homens,
Não tenta ser doida garota.
Não se bobeia,
Garoto que mexe comigo,
Por quê não se aproxima,
Eu deixo claro,
Não me sinto bem sozinha,
Vem e fica comigo.

terça-feira, 15 de outubro de 2024

A beira do rio

Sentada na pedra
Onde a rainha da França
Reza suas horas,
Dezesseis dias
Antes de se passar
Está história ,
Ela já molhava o pé na água,
Cuidava a grama,
E via os peixes nadar,
Não daria para negar:
Sonhava.

Numa bela manhã
De quarta,
Até resolverem demolir
Cada moita de flor do lugar,
Trocar aparências,
Puxar um barco a remo,
Tudo andaria bem,
Se não fosse o relinchar
Do cavalo,
A acorda-la.

Ela não era mais
Que um espécime vivo
Deitada sobre aquela pedra,
Marcas no corpo,
Mas o ano era do Senhor
De 2020,
Ano prometido.
Mil moedas jogadas
Naquela água,
Se falassem,
Diriam tudo:
Promessas e cumprimento!

- Otário.
Disse ela ao levantar
A face
E direcionar-se,
Ao belo homem,
De porte atlético
E elegante,
De rédeas a mão,
E chapéu sobre o rosto.
Ela respirou a realidade,
Levantou-se,
E lhe estendeu a mão
Em cumprimento,
- Olá, como está?
Sorriu.
E um rubor lhe correu a face,
Ao devorar com o olhar
O peito másculo
Que se mostrava
Por entre botões
Frouxos da camisa azul,
Sua realidade
Era um lindo homem
Alto, magro e fascinante!

Ele permaneceu imóvel
E ao seu dispor,
Sorriso fraco e contido,
Se tivesse uma borboleta
No bolso,
Certamente,
Ele lhe daria a borboleta,
Mas este homem
Não tinha nada no bolso,
Aliás nem tinha bolsos,
Felizmente, um incidente
Veio a socorre-lo,
Iniciou-se chuva forte,
Então, apeou do cavalo,
Abrigou-se a uma árvore,
Despiu-se da camisa,
E abrigou-a em seu peito,
Aquecida pelo tecido.

domingo, 13 de outubro de 2024

Neblina

Noite sem lua,
Noite escura,
Noite vazia,
Noite fria.
Olhar fixo
Naquela que amava,
Ali não era percebido,
Ela não o procurava.
Logo baixaram-se pontos brancos,
Mesmo as estrelas
Não estavam mais presentes,
Seu sorriso pálido
De um sonhador que ama,
Não consegue esquecer,
Não tenta buscar.
Tudo se apaga,
Assim que os olhos se fecham,
Tudo fica escuro,
Repousa uma mão no peito,
Um vazio que não se preenche,
Torna a acordar-se,
E não há nada
A não ser si próprio.
- Rápido, rápido.
Ele corre a gritar para o moço.
- Sei de moça que o ama.
E neste mesmo segundo
Ela o chama.
O rapaz grita ao outro
Não no coração dele segredo,
A moça ao dormir chama
Um nome,
E ao acordar
O procura por entre as ruas,
Tal rapaz, moço galante.
Belo rapaz
Que não resiste a aventuras,
Beija de boca a boca,
Troca seus nomes,
E número de suas casas,
Não se negaria a vê-la,
Não está,
Tão bonita e importante.
(Amada pelo amigo)
Seria tão ou mais querida
Por este,
O amante!
Mas a bota do belo rapaz
Veio ensurdecida e cega
Ao seu peito,
A empurrar chute violento,
Sabe-se,
Botas não sentem,
Ouvem ou vêem,
Chutaram-o com máxima força,
E pernas são para manter
Um homem em pé,
E aquele,
Por sua natureza conquistadora,
Queria tudo,
Menos amor,
- venha.
Como você é feliz por ter alguém
Que o ama!
Venha!
O amigo ainda tentou
Último gesto.
O rapaz ignorou toda conversa,
Simplesmente deu-lhes as costas,
O amigo também fez
Uso de suas pernas,
Teve amor por si mesmo,
Pegou rumo diverso
E foi-se embora.
- Oh, recusar-se a isso?
Sussurrou ele,
A sumir-se
Através da neblina.
Há homens que esperam.
Mulheres que esperam.
E há, outros.

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Si mesma

Aterrada,
Infeliz,
Destruída,
Sonhos a ruir.
Promessas obscuras.
Lábios trêmulos
Como se estivessem
Sempre a rezar.

Já não se tratava de juras.
Seus olhos estavam adiante,
Subiam aos céus,
Não havia promessa alguma.
Foi quando ele contou a multidão,
Aproximou-se de seu ouvido
E falou com sofrega paixão,
Como se única alternativa:
- você me quer?
Eu ainda posso ser seu homem.
-O que pensa que sou?
Ela respondeu.

É como se a ideia de mulher
Fosse afixada a um alicerce,
E que este fosse o homem,
Sem o qual ela não poderia ser.
Mulher dependente.
Mulher amparada.
Mulher escorada.
Apenas é mulher
Se tiver um homem.
- Só desejo o amor.
- então, no que depender
De mim,
Não será de ninguém.

Ele respondeu
Cuspiu em seu rosto
E gritou: vagabunda.
Ela sai por dinheiro!
Os olhos de todos
Se jogaram contra seu rosto,
Era como se ela fosse acorrentada,
E que cada olhar
Contasse suas horas de vida.
Morte.

Morte por se entregar
A quem não merecia.
Morte.
Por ter feito sexo por prazer.
Ergueu os olhos aos céus,
Falou baixo o nome
Do homem por quem nutria sentimento,
Ele estava distante,
Não era capaz de ouvir,
Talvez,
Não tivesse disposição
Para ajudar.

Lhe lançar uma palavra amiga,
Fazer uma aproximação de conforto.
Nada além de desprezo.
O céu azul parecia fazer
Recortes nas nuvens claras,
Era como se produzisse impulso
Para que baixassem,
Ela não queria permanecer,
Desejou com todo o seu ser,
Uma saída
Daqueles olhares punitivos.
Duro é o amor,
Tão frágil, belo e delicado,
Que as vezes,
Não parece querer
Pertencer a mãos humanas,
Ela apertou seu próprio
Corpo com os braços,
Quis dar-se carinho e amor próprio.

Rejeitada,
Devido a boatos e murmúrios,
Especulações de esposas fracassadas,
Banida por homens
Que não a queriam
Se não fosse apenas por prazer,
De repente,
Ela correu a praça
Abraçada a si feito uma louca,
Caindo e levantando,
Limpando a sujeira da roupa
E gritando:
- amor! Amor! Amor!
Amor ou um soco na cara!

Foi até o fim da praça,
Retornou e correu a avenida
Abraçada a si mesma
E gritando:
- Amor! Amor! Amor!
Amor ou um soco na cara?!

Comida do Leito do Rio

E, Houve fome no rio, Os peixes Que nasceram aos montes, Sentiam fome. Masharey o galo Sofria em ver os peixes sofrerem, ...