quarta-feira, 7 de maio de 2025

Aniversário da Vovó

- um brinde ao aniversário
Da vovó!
Dona Lúcia ergueu a taça,
E chamou todos ao brinde.
Completava, então,
Setenta anos.
Estavam todos presentes,
Amigos próximos,
Os filhos e netos.
- um brinde a vovó!
Todos disseram
Em uníssono,
Com vibrações de felicidades
E palmas.
- comprei a melhor champanhe,
Sim, permito a todos hoje
A ingestão de bebida alcoólica,
Até mesmo a bebê de quatro anos
Disse a vovó sorrindo,
Fazendo um gesto de carinho
Em direção a menina
De rosto vermelho, sorridente,
Vestida num vestido branco
De renda, cetim e laços.
- é branco vovó,
Vou usar para o seu velório,
Pois branca é a cor da inocência.
Gritou a menina,
Que há pouco aprendeu a falar.
- ah, que dócil criança,
Tão linda menina, Dora.
Dona Lúcia
Bebeu todo o líquido da taça,
Depois voltou a falar.
- dou a ela,
Conforme fiz com todos
As mensalidades da educação
Escolar toda quitada.
Uns olharam para os outros,
Sem entender o uso da palavra “dou”,
Mas optaram por beber o líquido
De suas taças para aproximar-se
De vovó,
E fazer suas cenas de carinho
E afeição,
Buscando equilíbrio,
Lucros no que refere-se a herança.
O advogado de vovó
Estava presente.
A conversa sobre a confecção
De um testamento
Se espalhou rápida,
Um queria parte maior
Que o outro,
Cada um tinha suas
Alegações a respeito.
Porém, ao final da primeira taça,
Com ódio no olhar
Contra o namorado da vovó,
Ali presente,
De um a um eles caíram ao chão,
Olhos fechados,
Dormiam feito crianças.
- pois é Doutor FonteMar,
Dormem feito bebê,
Assim deixam de espalhar
Seus boatos de maldade,
E eu decido o que cabe
A casa um.
Ela o olhou seriamente.
- peço que deixe os documentos
Que pedi ao senhor
Que confeccionasse para cada qual,
Peça ao transportador
Que espere do lado de fora,
E certifique-se com a segurança
Da casa
Para a retirada dos pertences,
E de cada uma dessas pessoas
De dentro de todas as minhas
Propriedades,
Manterei seus devidos empregos
E salários, nada mais.
Ela soltou sua taça vazia
Sobre a mesa de centro,
Pediu a faxineira
Para fazer a limpeza
Já que algumas taças quebraram-se,
Tomou a mão de seu namorado,
Formalizou o noivado
E o levou para o quarto.
Ao acordarem o povo
Olhou-se estranhos
Um ao outro
Sem entender o que houve.
Alguns juntaram suas taças
Vazias de cima da mesa,
Embaixo delas havia
Um bilhete:
- está taça contém o pó
Que vocês deram de beber a vovó.
Alguns leram em voz alta,
Olharam-se avermelhados,
E atiraram-nas um contra o outro.
Então, o advogado pediu licença
E explicou:
- sofrida em suas amarguras,
Vovó encomendou um pó
De suco especial
E deu ordens a empregada
Que fingisse que era veneno,
Sugerindo a cada um dos presentes
Dar a vovó dissolvido em bebida
Para ela consumir e morrer.
Todos fizeram o sugeridos,
E acreditaram que vovó
Sobreviveu devido a sua fé.
Diante, vovó excluiu a todos
Do testamento.
Leonardo recordou
Que ao fazer isto,
Foi para a balada,
Gastou a noite toda,
Pagou a festa para casa
Um dos presentes,
Ganhou todas as mulheres
E comprou um iate.
Logo no outro dia,
Teve o cartão de crédito cancelado por ele.
Leandro, demitiu todos os funcionários
E fechou a empresa,
Imediatamente, todos
Retornaram aos seus empregos,
E a empresa não mudou em nada.
Natasha, comprou uma ilha,
Preparava suas roupas
Para ir morar no castelo de lá,
Quando seu cartão foi rejeitado
Na loja de roupas e jóias.
Natália comprou um avião,
Estava em busca de piloto
Particular para ir para o estrangeiro,
Quando o cartão foi rejeitado
E a divida extornou.
Só sobrou até então,
Os valores gastos com o funeral,
Contudo, logo abaixo
Do pedido de despejo de cada
Qual das propriedades
Que pertenciam a vovó,
Estava um cheque assinado
Por ela,
Com os devidos valores
Que cada qual gastaria com ela.
A ordem de despejo
Era imediata.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

O Adeus

Enfim...
Para o lugar
Onde outros não podem ir...
Adeus,
Fim.
Ele ligou última vez,
Não sei se quis realmente
Me ver,
Depois, perdeu a cor
Escura e marrom,
E amarelo e esbranquiçado,
Foi.
Restou pele flácida,
Perdeu o sorriso dos lábios,
Uma surpresa veio aos olhos,
Depois, deitou-se,
Adormeceu estigmatizado,
Foi um espasmo de adeus,
Um espasmo de vida,
Um sopro que lhe faltou.
Estranha
A reação do corpo,
Buscar proximidade
Com quem não quer,
Intensificar desejos,
Tentar alcançar
O fora do alcance.
Olhos vívidos
E brilhantes,
Apagaram-se
Para sempre.

Convite Para um Homicídio

O jornal impresso
Já foi mais requisitado,
Em tempos não tão distantes,
Era requisito para o café da manhã,
Acompanhamento do chá da tarde.
Contudo, ultimamente...
Disse Rodrigo,
Baixando o jornal sobre a mesa,
Quando num instante
Algo lhe chamou a atenção:
“Convite para Um Homicídio!”
Ele retornou a olhar,
Ergueu o jornal bem próximo
Aos olhos,
Leu e releu a frase,
Depois buscou informações
Que constava logo abaixo
Da frase,
Rua das Hortências,
N 2538, bairro centro,
Cidade São Paulo.
Horário, dezesseis horas.
- Claiton, Claiton,
Corre aqui e leia isto para eu.
Claiton deixou o pano
De limpar a mesa do café,
Veio até o senhor Rodrigo,
Um idoso de oitenta anos,
Cabelos e barba branca,
Visão fragilizada pelo tempo.
- o senhor nunca reclama
De não conseguir ler
Senhor Rodrigo,
O que houve hoje,
 É porquê está nublado o tempo?
Ele indagou,
Chegou ao lado do idoso
Que sentava-se sobre um banco,
Nas sombras do café,
Na calçada da cidade de São Paulo.
Pegou o jornal que o senhor
Alcançava,
Leu o anúncio,
A pedido releu outra vez.
- não há dúvida, senhor.
Está escrito isto.
O jovem falou.
- mas é daqui a uma hora,
E o local fica a duas quadras?
O velho falou,
Abismado com o até viu e ouviu.
- sim.
Em pleno ano de 2025
E alguém usa de estardalhaço
Para aquecer a venda de jornal.
Ele disse
Devolvendo o jornal
Nas mãos de Rodrigo.
- não penso isto.
Achei tudo muito minucioso.
Não parece fictício,
Quase me sinto com medo.
Rodrigo falou,
Sorvendo um gole de café.
- imagine, está tudo bem.
Não preocupe-se.
Homicídio é crime,
Aliás, este anúncio também não
É muito sensato.
Ele disse,
Organizando a camisa amarela
Do velho,
E o ajudando a sentar-se
Melhor no banco.
Depois, voltou aí trabalho.
Rodrigo folheou as páginas,
Logo adiante,
Havia “busca-se emprego”.
Havia ao lado a discrição
Da pessoa e uma foto sua.
Depois disso,
Havia um impresso de página inteira,
Em tons enegrecidos,
Mas muito visível.
“Acidente automobilístico tira a vida de uma jovem”,
 Embaixo dos dizeres
Tinha uma impressão
De sentença de um juiz
Onde prescreve quatro anos
De apenamento do responsável
Pelo crime,
Apreensão da carteira de habilitação
E dois anos de impedimento de direção de automóvel.
Abaixo, quase no fim da página,
Havia uma foto
De um homem com as mãos
Sobre o rosto
Em prantos,
Umm carro azul destruído
Logo a frente dele,
Uma mulher ao volante ensanguentada,
E aparentemente desfalecida.
- jeito triste de morrer hein,
Claiton?
Esmagada contra um carro,
Sem chances de viver...
Disse o idoso.
- triste senhor Rodrigo,
Deve doer.
Triste mesmo.
Comentou alto o rapaz,
Servindo um casal na mesa
Dentro do café.
- mas, se este da foto
Foi o assassino,
Está sofrendo,
Não sei o que dizer...
Disse Rodrigo.
Claiton, saiu rápido
Para fora do café,
Deu uma olhada de soslaio,
E comentou:
- qualquer um sofreria.
Matar alguém deve ser difícil.
O rapaz comentou,
Limpou a mesa de frente
De Rodrigo
E retornou para dentro.
- veja Claiton,
As horas passam.
Está se aproximando o horário
Descrito no jornal.
Rodrigo falou,
Consultando o relógio.
De repente,
Um movimento inesperado
De pessoas passa a percorrer
As ruas,
Conversas baixas,
Olhares curiosos,
Indo em direção ao local,
Lhe pareceu.
Claiton ligou a televisão,
E o plantão de notícias
Noticiou a manchete do
Jornal local.
O apresentador riu,
Mas, disse que em razão
De o jornal ser de grande
Circulação,
Estavam levando a sério
A notícia.
Disseram ainda
Que entraram em contato
Com o redator do jornal,
E obtiveram a informação
De que a notícia,
Embora, devidamente paga,
Através de transferência bancária,
Se originou por telefone,
Como uma espécie de ameaça.
Se referia ao pai
De uma jovem
Que buscando justiça
Por ter perdido a única
Filha através de um acidente social,
Deu repercussão ao acidente
Por todos os meios possíveis,
Com o intuito de evidenciar
Que não foi por descuido,
E implorou por justiça
Por parte do judiciário,
Alegou que tudo que queria,
Era unicamente isto.
Então, postou a foto
De como um trabalhador
Pai de família
Encontrou sua filha,
Ensanguentada,
Presa num veículo,
Morrendo aos poucos
Por dor e negligência.
Neste aspecto,
Ele mostrou sua dor
E resignação ante ao fato,
E recebeu após a repercussão
Da notícia e fotografia
Ligações de ameaças e ofensas,
Foi chamado de assassino
Da própria filha.
Inclusive, o próprio
Veículo de comunicação
No qual ela deu repercussão
Ao acidente,
Houve ofensas dirigidas
Diretamente contra ele.
Agora, amedrontado
Não pode sair sozinho de casa,
Sofre ameaças,
E o juiz foi ameno
E na concepção dele
Parcial ao proferir sentença,
Considerou a moça,
Filha única,
Como um animal
Que morre esmagado no asfalto.
Segundo o jornalista,
O homem gritava:
“ Ela não é um animal,
Ela não é um animal!”
E avisou que será morte
Por morte.
- veja só Senhor Rodrigo,
Será que matará o juiz?
Indagou Claiton lá de dentro.
- pois é,
Matou mesmo a filha dele.
O rapaz continuou.
- o juiz dizer que foi
Sem intenção de matar
Que ocorreu o acidente,
Alegar negligência
Através de veículo automotor,
Realmente, parece estar
Sendo omisso com relação
A dor de perder um ente querido...
Disse Rodrigo,
Com o coração aos saltos.
- sim, Senhor Rodrigo,
Se morte é morte,
Porquê se for através de um veículo automotivo
Eles querem dizer que o crime
É menor?
Perguntou o jovem.
- não sei.
Mas este homem está
Respondendo em liberdade,
Com certeza,
Já está dirigindo pelas ruas
Da cidade.
Você se cuide
Ao voltar pra casa viu?
Disse Rodrigo.
O jornalista ainda dizia algo,
Para finalizar,
Informaram que mandaram
Um jornalista especializado
Da capital de São Paulo
Para de fazer presente no local
E filmar o que ocorrer.
Encerrou a nota indagando:
“quem este homem irá matar?”
A programação na televisão
Voltou ao normal,
Na cidade nem deixou de estar,
Não fosse pelo aglomerado
De pessoas aos bandos
Próximo ao local de encontro.
Alguns portando armas,
Outros usando drogas,
Viaturas policiais assustadas,
Que fecharam seus vidros
E pareciam estar cegas,
Contudo olhando o povo.
Ao pé das dezesseis horas,
Nem um minuto menos,
Ouve-se um tiro não muito distante.
Rodrigo levanta-se,
Retira o chapéu da cabeça
E corre as tais duas quadras.
Claiton, se eleva
Nos degraus do café
E tenta buscar informações.
Chegado no local,
Rodrigo descobre
Em meio a certa multidão,
O tal homem que se envolveu
No acidente de trânsito
Com a moça, morto.
- que houve,
Que houve será?
Ele perguntou
A uma mulher que estava
Em pé ao lado do cadáver.
- recebeu uma ligação,
Ali dentro da loja,
Saiu para fora,
Virou para aquela direção...
Ela apontou com o dedo
O local onde havia um prédio alto.
- levou um tiro na testa
E caiu estremecendo,
Depois, não se moveu mais.
Veja, parece que tem um
Homem na janela lá do alto.
Ela falou,
Se referindo ao prédio.
Rodrigo olhou o homem desfalecido,
Fez o sinal da cruz
E retornou ao café
Com as notícias.
- pelo visto o enlutado
Cumpriu com sua palavra.
Ele disse na chegada.
Pessoas se juntaram nas proximidades,
A rua foi completamente fechada
Devido a aglomeração,
Carros paravam onde estavam,
Isto se referia,
Até aproximadas cinco quadras
De distância do local.
O repórter do jornal televisivo,
Filmou o homem morto,
Mostrou o tiro,
E o rosto do indivíduo,
O juizado local silenciou.

domingo, 4 de maio de 2025

Organização Criminosa Policial

- cuidado.
Ele gritou
Atirando-se no gramado,
Caindo de lado,
Um revólver vinte e dois
Entre os dedos,
Um tiro foi disparado,
No instante em que se jogou,
Depois outro,
E outro,
Então, alcançou a altura do
Muro verde e parou.
- ahn.
Um grito ensurdecido de dor.
Sua esposa estava atrás de si,
Só desejou que o maldito
Não a tivesse atingido,
Ao vê-lo parado
Com aquele sorriso gelado,
E aqueles olhos azuis do inferno,
Seu coração gritou socorro
E seu buquê de rosas vermelhas
Lhe soaram sangue.
- Rosas?
Ele gritou nos seus
1 metro e 80 de altura
Na sua voz feminina.
A esposa Gerinda sorriu,
Ela ama flores,
Eu só lembrei de pôr
O pé na escada,
Levar a mal ao bolso
Para pegar a carteira,
Então, o vi.
Corri...
A escada fica de frente para a rua,
Dez metros antes da casa
Se completar,
E dobrar para a outra parede.
Minha esposa molhava o jardim,
Extremamente, nesta parte.
Dez metros,
Mais dez até eu me pôr
Na frente
E retirá-la daquela mira.
- meu Deus,
Vinte metros é pouco.
Minha mulher.
Minha mulher!
Danilo gritou sangrando.
O tiro veio.
Pareceu-lhe que era um
Único disparo.
Cortou e sangrou,
Mas acreditou que a bala
Se alojou.
- Corra Gerinda!
Se jogue no chão,
Se arraste até atrás de mim...
Ele gritou.
- Amorrrr.
Gerinda gritou.
-ahn.
Ele tentou sufocar o grito
De felicidade,
Estava viva.
Ele levou a mão pra frente,
Juntou a grama,
Tentou se segurar nela
Para se levantar,
Arrancou o gramado e terra molhada.
Chorou silenciosamente.
A mão direita com o revólver,
- eu vou mata-lo.
Que eu o tenha matado!
Gritou e gemeu feito um touro,
Ao ver pasto verde
Atrás do muro,
Preso em potreiro de grama seca.
#
- querido,
Nossa cachorra Fareka morreu...
Gerinda disse,
Entrando para dentro
Com a cachorra imóvel
No colo.
Danilo parou de teclar no notebook,
Fechou a tampa,
E olhou atordoado para ela.
- o quê?
Nossa filha?
Nossa menina.
Ele disse,
Levantou-se,
Pegou o bichinho
Sem vida.
Trouxe ela para seu peito,
Acariciou seus pelos
E chorou feito criança.
- como aconteceu isto?
Ele indagou perplexo.
- olha, eu encontrei semana
Passada bolinhos
Ao lado do muro,
Imaginei que alguma criança
Tenha jogado,
Será que ela comeu demais?
O peito de Danilo arfou,
Ele chorou ainda mais.
-Minha esposa,
Amada mulher,
Deram a ela veneno!?!
Ele disse,
Incapaz de controlar
A dor e o sufoco.
- mas, não vi ninguém
Querido,
Quem faria isso?
É só uma cachorrinha.
Ela respondeu em prantos,
Colocou uma mão em seu ombro,
Depois abraçou ambos.
- não vi ninguém,
Juro.
Ela falou.
- querida Gerinda,
Vamos tomar cuidado,
Eu fui designado
Para uma operação policial
Perigosa.
Ele disse.
Virou-se para ela e a abraçou.
- há uma quadrilha de policiais,
Eles estão agindo contra a lei,
Usam sistemas policiais,
Todos os disponíveis,
Armas e treinamentos próprios,
E fazem tudo isto em função
De lucro financeiro...
Ela agarrou-se a ele,
Tremendo de medo.
- querida Gerinda,
Você sabe o quanto
O salário no geral
É baixo.
Estas pessoas entraram
No sistema policial
Apenas pelo lucro...
Ele pegou o rosto dela
Com uma mão
E apertou até vermelhar.
-querida, eles tem treinamento,
Armas, os sistemas...
- meu Deus Danilo.
Eu não o quero morto,
Querido, não nos quero em risco.
Ela respondeu.
Olhando séria
Em seus olhos azuis marejados
Feito uma piscina
Que transborda.
- eu vou te proteger até a morte,
Eu enfrento o risco.
Eles são fortes.
Ontem eu os peguei
Matando o dono de um banco
E sacando todo o dinheiro
Que havia lá,
E nisto foi um rombo
De bilhões
Em único ato...
As pernas dela fraquejaram,
Ela caiu.
Ele soltou seu rosto
E a manteve erguida
Pelo ombro.
- meu amor,
Hoje mesmo as provas
Foram apagadas...
Apagaram todas as imagens,
E as poucas testemunhas
Estão sendo eliminadas,
É muito dinheiro,
Muito.
Eu acho que já pertenço
As testemunhas.
Ele falou sério.
- seu chefe,
De qual lado ele está?
Ele precisa ajudar.
Ela disse.
- me sinto desesperada.
Ele massageou seu ombro.
Depois beijou seus lábios
Com calma,
Sentindo o sabor
De suas lágrimas.
- querida,
O esquema é tão sofisticado
Que eu não posso dizer...
Então, a puxou
Para seu peito,
Apertou esposa
E cachorra para
Reter um pouco de força.
Porquê, um homem
Também fraqueja,
Sentiu o cheiro de seus cabelos,
Por um momento
Esqueceu a morte da cachorra,
A filha do casal,
Absorveu o calor dela,
Ficou tanto tempo assim,
Que seu braço gelou
Onde estava o animal.
- faça o que puder por nós,
Querido, eu o amo,
Não quero te perder Danilo.
Ela disse ofegante.
- querida, Gerinda,
Eu sou totalmente a favor da lei,
Jamais iria pôr sua vida,
De nossa família,
Ou nossos pais em risco.
Estas pessoas,
São fortes e em grande número,
Eles não se importam
Com quem irão matar
Ou qual o custo
Para obter o que desejam,
Nós somos empecilhos a anos...
Ele disse,
Olhando o alto.
- querido,
Não querer dinheiro
Por custo de crime
É sério empecilho?
Meu Deus,
Como sobreviver?
Ele a beijou
Em seu ombro.
E ficou parado ali
Por um tempo.
Depois a empurrou
Com carinho para trás.
- vamos enterrar o bichinho.
Nisto, saiu para fora.
Foi para o lado oposto da casa,
Nos fundos do quintal,
Parte direita,
Cavou um pequeno buraco,
E a pôs lá
Com sua almofada de dormir.
Este foi quatorze horas
Depois da descoberta
Do crime
Sabendo que foi designado
Para descobrir
Qual a motivação
De o videomonitoramento
Da cidade comandado
Pela polícia
Estar sendo misteriosamente
Estragado.
Simplesmente, imagens sumiam,
Câmeras eram quebradas,
Postes derrubados logo
Após serem colocados,
Neste intuito,
Ele designou alguns policiais
Para fazer uma pesquisa criminal
Apresentando números
De registros de delitos
E tipos de delitos
E o local onde eram coloridos
Com vistas a implantar
Monitoramento por câmeras
Nestes locais específicos
E assim poder inibir a ação criminosa,
Bem como, prender estes
Criminosos.
Neste aspecto,
Ele fez o levantamento de dados,
Escolheu os postes,
Os tipos de câmeras necessárias,
E designou pessoas para
Instala-las,
Estava, então, escolhendo
Quais policiais propriamente ditos,
Atuarial nestas áreas,
Conforme grau criminoso
Do lugar
Para fazer um rodízio
De pessoas
E buscar o melhor desempenho
De serviço.
Porém, as viaturas passaram a
Apresentar problemas,
Os policiais alegaram perdas de armas,
E, mal as câmeras chegavam
Já eram danificadas...
Foi então,
Que uma viatura se destacou,
Dois policiais pareceram
Suspeitos,
Ele conseguiu implantar
Câmeras em suas roupas,
E os viu em ação criminosa
No banco dm específico,
Checou imediatamente
As câmeras públicas,
E as internas,
Ao apresentar o relatório
Para o seu supervisor,
As imagens sumiram...
Passado o dia do enterro,
No dia seguinte acordou cedo,
Depois do café,
Se direcionou a sala
De videomonitoramento da polícia.
Bateu duas vezes
Antes de entrar,
Haviam lá seis pessoas sentadas
Em suas cadeiras,
Uniformizados e armados.
- preciso das imagens
Da rua Ercílio,
Bairro centro.
Todas elas.
Ele disse.
- negativo.
Não foram instaladas
Câmeras neste ponto, ainda.
Respondeu uma soldado.
- como?
Ontem eu as estava vendo
Através da minha sala!
Ele contradisse.
- houve um erro, senhor!
As câmeras de lá,
Estão para ser instaladas...
Ela olhou num documento
Que estava sobre a sua mesa,
Depois respondeu:
- está aqui,
Nesta linha,
Dia 20 deste mês,
A partir das dez horas.
Ele se aproximou dela,
Que levantou o braço
Com uma pilha de folhas
Mostrando a ele.
Especificamente,
Estava escrito da forma
Como ela disse.
Ele soltou o material
E saiu.
Expediu em sua sala
Um mandato de busca
E apreensão
Para fazer vistoria no banco
E trazer as imagens
E quaisquer outras coisas
Que tivesse disponível
Do roubo do dia treze.
Três viaturas foram designadas,
Chegado lá,
Ele, que auxiliou e participou,
Soube que não noite anterior,
Colocaram explosivos
No banco e explodiram
Suas salas
Sem deixar imagens intactas,
Já que a sala de controle interno
Foi explodida, também.
O filho que herdou o patrimônio,
Decidiu vender o imóvel,
Um policial estava comprando.
- Olá, colega!
Ele disse,
Chegando por trás
De Danilo e dando três
Tapinhas em seu ombro.
- bom dia, Coronel Mirel.
Ele cumprimentou
Virando-se de frente.
O homem apenas sorriu.
Exausto, Danilo retornou
Para o lar.
Tomou banho,
Trocou a roupa,
Vestiu calças de frio,
E jaqueta jeans
Sobre o coldre
Que continha duas armas,
E uma camiseta azul
Por baixo.
Na saída de dentro de casa,
Foi a procura da esposa
Que molhava o jardim,
Quando viu aquele homem estranho
Olhando para ela...
Por instinto correu até ela,
Retirando a jaqueta jeans,
Rapidamente, e a jogando
Para a frente.
O homem olhou para ela
E ficou sério de repente,
Então, olhou para aquelas flores,
E os ouvidos aguçados
De Danilo pareceram ouvir
Um estalido,
Algo como um tilintar
Num metal,
Então, veio o cheiro de óleo...
E Danilo correu mais,
Correu o mais rápido que pôde,
Neste intelecto,
Puxou ambas as armas do coldre,
E apontou.
E atirou.
Enquanto caia,
Se pondo em frente a esposa,
Disparou três vezes seguidas,
Com ambas as armas,
Só pode ver a esposa
Levar a mão sobre os lábios
Num espasmo de medo,
E se declinar para o muro verde,
Então, ele sentiu nele um disparo,
Viu o homem gorducho cair,
Perdeu a arma esquerda
A um metro pra frente
Sobre o gramado.
Levantou-se gritando,
Atordoado.
Se ergueu sangrando
Sobre a camiseta azul,
Se aproximou do muro,
E enquanto andava
Os cinco passos faltantes
Até a beira do muro,
Juntou a pistola do cinto
Do lado esquerdo,
Avistou o loiro no chão,
E disparou mais três vezes,
Com ambas as mãos.
O homem virou-se,
Soltou os braços no asfalto,
Ficou de olhos abertos
A sangrar.
Morto.
Então Gerinda
Se aproximou de Danilo,
A um metro atrás dele,
Ele voltou-se para ela,
A abraçou,
Juntou suas coisas
Sem falar muito,
Pegou o uniforme,
E a arma que ganhou da corporação.
Dirigiu até o batalhão,
Entrou por sua porta
Como se não fosse
Nenhuma novidade,
Chegou ao coronel
E soltou o bandido morto
Em sua sala.
- o quê houve?
O coronel indagou.
- trouxe este!
Danilo disse,
Com uniforme em mãos,
O coronel não respondeu,
Danilo deixou o morto lá,
E voltou para casa.
Com a esposa ao seu lado,
Passou pela rua do banco,
Olhou os estilhaços de vidro
Quebrados pelo asfalto,
Ainda as dezoito horas
Alguns pintores pintavam
As estruturas do local,
Dentro do estabelecimento,
Outros trocavam paredes...
Engatou a marcha,
Passou na loja de armas,
Marcou treino de tiro
Para a esposa,
Adquiriu uma arma para ela,
E retornou para casa.
Levou ainda
Uma câmera de vigilância.
A instalou em sua porta de entrada.
Abraçou a esposa
No final da escada,
Lhe deu um beijo
Na têmpora
E entraram de mãos dadas.

sábado, 3 de maio de 2025

A Mão Armada

A viatura estava parada
Na curva da estrada
Com os faróis do carro de polícia
Desligados e totalmente no escuro.
Ao passar a garota não os viu,
Seguiu fumando um cigarro,
Enquanto dirigia
Ouvindo o rádio.
De imediato,
Um policial acenou
Com a cabeça
Fazendo um jeito afirmativo
Para o outro,
Ligaram o carro,
Os faróis e foram atrás dela.
- tem certeza que está é Jandira?
Ele indagou ao outro.
- claro que é.
Eu saio com a prima dela,
Ela me passou a cor do carro,
O modelo e a placa,
E o nome da garota.
Respondeu o soldado.
- você está mesmo enrascado.
Disse o cabo a ele...
- não. O processo na corregedoria
Eu já resolvi,
Não quero só apresentar ela
Ao capitão,
Quero transar com ela.
Eu vi fotos lindas dela
No celular da Carol,
Elas estavam nadando na piscina.
Ele disse,
O cabo engatou a quinta marcha,
E seguiu rápido,
Ligou as sirenes e as luzes de emergência,
Logo a alcançaram
E pediram para ela parar.
Ela não viu devido a fumaça,
Ele a alcançou,
Dirigiu bem ao seu lado,
Cara a cara um com o outro.
- encosta.
Disse o soldado Horos.
Ela se assustou
Puxou o carro para o acostamento
E parou no escuro.
Deixou o carro ligado
E manteve as luzes acesas.
- sai fora do carro!
Disse o soldado.
- eu não fiz nada!
Ela falou alto.
- calada, ou dou voz de prisão
Por desacato a autoridade,
Quem você pensa que é pra falar
Alto?
Estava dirigindo fumando,
Isto é direção perigosa
Você estava causando perigo
Nas ruas.
Ele gritou cuspindo sobre
Seu rosto.
Ela fechou a porta assustada,
Não havia ninguém próximo
Para pedir ajuda,
Também não estava embriagada.
Se recostou na porta.
- acho que houve
Um mal entendido,
Vamos resolver com calma.
Ela dizia trêmula.
- não tem calma,
Tem lei pra você!
O soldado Horos disse
E deu um chute
Contra o pneu dela.
- pneu em má conservação,
Vai ter que trocar,
Você estava dirigindo rápido
Com estes pneus?
Tem certeza que não matou alguém?
Ele indagou anotando
Algo no papel da prancheta.
O cabo Tek,
Se aproximou pelo
Lado do motorista no carro,
E de lá abriu o porta luvas,
Retirando uma arma do próprio
Bolso e a colocando lá.
- veja Horos há uma arma aqui.
Ela estava armada!
Gritou o cabo sorrindo.
Horos ergueu a cabeça
Para o céu noturno sorrindo.
- encoste-se no carro.
Você está armada,
Vai ter que passar por revista íntima!
Ela se encostou
De costas para ele,
Com as mãos apoiadas no carro.
Horos arrancou a calça dela
E a calcinha com destreza,
E a estuprou sem piedade.
Retirou o pênis para fora
Da farda ( uniforme de policial militar),,
E estuprou ela rápido e
Distante.
- está limpa garota.
Deixa eu ver os documentos do carro.
Ele disse.
Deu-lhe um tapa
Em sua bunda e ela saiu.
Ao pegar o documento do carro,
Entendendo o que ele quis dizer,
Ela buscou em sua carteira
Mil reais e colocou entre os documentos
Para que ele juntasse o dinheiro
E saísse calado sem multa-la,
Ou prende-la por causa da arma,
Pois ela estava sozinha,
Era tarde da noite
E temeu por sua vida.
Horos abriu os documentos,
Viu o dinheiro,
Virou as costas
E juntou cada nota.
Depois se virou para ela
E entregou os documentos
De volta.
- tudo certo, moça.
Tudo certo!
Ela abriu a porta do carro
Trêmula,
Ligou as chaves
E engatou a primeira,
Sentiu um pavor extremo
Ao seguir.
Sentiu um medo absurdo
De que atirassem contra ela.
Pelo retrovisor
Ela pode ver Tek sorrindo,
Segurando as duas armas
Em sua mão.
Uma que ela imaginou
Que ele usasse para trabalho
E a outra que ele mentiu
Que estava com ela.
Logo que se afastou deles,
Ela correu muito,
Muito,
Apenas desejando
Nunca mais vê-los em sua frente.

Cabo do Medo

- vamos traiar bem a rede,
Sem deixar espaços
Pro peixe fugir.
Disse Mario a Dalson.
- tá certo,
Se passarmos o cabo
De lado a lado no rio
Não temos como não pescar.

Respondeu Dalson.
Se aproximava a semana santa,
Paira a lenda
Que não se deve comer carne
Exceto a de peixes,
Pois, as outras se prestam
A alimentar o diabo.
Então, quem faz carne
Nestes dias estaria
Prestando um culto
Ao diabo.

Os dois irmãos cruzaram
O cabo da rede de uma árvore
A outra,
Juntaram a linha de pesca
E a agulha que serve pra traiar,
Começaram a costurar
Todos os buracos.

Feito isto,
Pegaram a rede,
Levaram ao caico,
Juntaram um remo cada um,
Foram ao posso mais fundo do rio,
Amarraram numa raiz de árvore
De um lado,
Soltaram a rede aos poucos
Vendo ela cair,
Enquanto o outro seguia remando,
Chegando no outro lado
Amarraram a rede no tronco
Próximo ao barro da margem
E esperaram a noite cair
E o próximo dia chegar
Para retirar a rede.

Contudo, se aproximava
A semana santa,
Faltando pouquíssimos dias.
- vocês não deveriam
Armar a rede pra pescar
Tão perto da semana santa,
É pecado trabalhar nestes dias...
Disse Angela ao vê-los
Retornar cansados do rio.

Conforme dito,
A noite iniciou a chover,
A chuva seguiu no outro dia,
E se prolongou no tempo,
O rio encheu,
Sua vazão foi tão grande
Que percorreu cinquenta metros
Acima do seu nível normal.
Carregou pontes com ele,
Casas ribeirinhas,
E se aproximou da casa de Dalton,
Com uma água escura
Tão forte que fazia barulho,
Carregava árvores,
Dava medo até mesmo
Para pegar no sono.
A rede foi esquecida,
Até mesmo o lugar
Onde foi armada
Foi esquecido.
Chegou a semana santa,
O Seu Sebastião foi nadar no rio
Para tomar banho,
Ele esqueceu por três meses
De pagar a conta de água,
E a empresa cortou o seu abastecimento.
Eram seis da tarde
Quando ele foi tomar banho,
O relógio marcou nove horas
Da noite e ele não retornou,
Amanheceu e ele não chegou.
Uma turma de garotos
Aproveitaram o feriado
Para andar de barco
Nas aguas turvas do rio,
Que já baixava consideravelmente
O nível da água,
Contudo, ela ainda não retornou
A coloração esverdeada normal,
Estava marrom.
Da casa de Dalson ouviram-se gritos
Apavorados,
Uma algazarra estranha,
Chegou o final da quinta-feira
De cinzas ele foi até seu galpão
Para organizar os animais
De seu cultivo,
E encontrou quatro carros
Lá estacionados e vazios.
Correram os dias,
Não apareceu dono.
Ele ficou assustado.
De todo modo,
Chegou a sexta-feira de cinzas,
E uma turma de garotos
Se reuniu no outro
Lado do rio
Para fazer trilha,
Todos com água e mantimentos...
Depois de muito caminhar
Decidiram nadar,
Eles tinham coletes a prova de água,
Porém, não tardou,
Seu Mário correu apressado
Até a casa de Seu Dalson
Pois disse ter ouvido gritos
De pedidos de socorro,
E pareceu ver de seu terreiro
Aqueles garotos e garotas
Sendo misteriosamente
Puxados para baixo da água,
Um após o outro.
Assustados,
Pegaram o caico,
Juntaram seus facãos,
E foram ver qual era a façanha
De tamanho sumiço
De pessoas em torno
Daquele rio.
Buscando com uma vara de madeira
Estreita e comprida o fundo da água,
Chegaram na rede de pesca,
Ao estreitar as vistas
Viram várias pessoas enroscadas
Na rede e sem vida.
Do lado delas
Havia um peixe enorme,
Ele parecia preso,
Mas nem por isso
Deixou de se alimentar,
Ele comeu partes de cada um
Dos que estavam lá,
Parecia muito satisfeito.
Os dois irmãos
Se abraçaram
E choraram suas mortes,
Jurando nunca mais pescar
Tão próximo da semana santa.
Ao tentar puxar o cabo da rede
Não tiveram forças suficiente,
Pareceu que a rede
Se soltou num dos lados
E ficou presa no fundo,
Foram buscadas outras pessoas
Para ajudar,
Contudo, ninguém nunca
Mais pode retira-la de lá,
E pessoas nunca pararam
De morrer nas proximidades.
Dizem que um cardume
De peixes se apossou dela,
E a utiliza para encontrar alimento.
Cruzam-se os anos,
E ela está lá intacta,
Com sempre alguém preso
E peixes comendo-os.
Também, não é mais possível 
Se aproximar dela,
Pois um peixe enorme
A vigia,
Aos pulos e dentes afiados
No seu redor,
Alguns atrevidos que tentaram,
Isto, depois de o nível 
De água baixar 
E sua coloração voltar
Ao normal, ficaram todos lá.

Função Cantora

Angela Marroquina,
Cantora famosa
Desde os doze anos,
Era acostumada a fazer shows
Por toda parte.
Com a disseminação da internet,
E redes especializadas
Em música,
Tornou-se famosa mundialmente,
Desde as cidades mais remotas
Até grandes metrópoles.
Garota bonita,
Casada a dez anos,
Hoje aos vinte e sete é mãe,
De menino de sete anos.
Seus pais vivem nos Estados Unidos da América ...
Devido a agenda de shows,
Escolha de repertório,
E gravação de cds,
E organização de clipes musicais,
Há cinco anos não os vê,
Mas paga cada uma de suas
Milionárias despesas.
Com avião próprio,
Ela se considerava dona
De si própria,
Com direito a grifes exclusiva
De roupas para si mesma.
Caracterização única no palco,
Unânime em frente as câmeras,
Cada música lançada
Um sucesso em todas as bocas,
Desde crianças até idosos,
Todas com letras simples,
E lindas.
Já tinha empresa com repertório
Exclusivo,
No entanto,
Nas horas vagas,
Embaixo do chuveiro
Ou em oportunidades
Não esquecia de fazer um verso
Ou outro e correr anotar.
O esposo e o filho
Sempre tinham o caderno
De anotação em mãos.
Não raras vezes, corria pela casa,
Cheia de sabonete,
Nua, cabelo escorrendo espuma,
Em busca do caderno
Para anotar o verso.
O esposo sorria,
Logo ia atrás dela com o rodo
E o pano de chão
Para secar os rastros,
Não raras vezes,
Buscava a toalha
E se punha a secar
Com o chuveiro ligado,
Porquê encontrou a afinação
E a música perfeita
Ou estava planejando coreografia.
Um grito de espanto,
E Fábio invadia o banheiro
Para auxiliar,
Já ocorreu de cair no piso molhado,
Mais de uma vez,
A música envolvia toda a família.
O filho, já alfabetizado,
Escrevia as próprias frases
De que gostava,
Trazia para a mamãe,
E elas eram aproveitadas,
Inclusive seus desenhos
Eram organizados nos arranjos
E clipes.
O esposo escolhia roupas,
Não raras vezes,
Cruzou por alguma loja
Encontrou alguma roupa
No estilo da esposa
E a adquiriu para uso nos shows.
O entrosamento familiar
Era único e perfeito.
Cada despedir-se para os shows
Fora de seu país,
Marrocos, era um chochoro,
Ela sempre saiu com o coração apertado,
Desde ao conhecer Fábio.
O viu num show,
No Japão,
Ele trazia um cartaz em mãos:
“Meu irmão é seu fã,
Eu não!”
Ele escreveu.
Ela riu em plena música,
Cessou a voz
E o chamou até o palco.
Ele subiu,
Pediu licença para o irmão,
E ambos a abraçaram,
Logo depois se puseram de lado.
Naquele dia ganharam seu autógrafo,
Depois, puseram o cartaz autografado
Dependurado na parede de casa,
Num quadro moldado a cedro,
E vidro transparente.
Dono do hotel onde ela estava,
Logo ao meio dia
Do dia seguinte
Conseguiu conversar com ela
Pessoalmente,
No mesmo dia transaram,
Em poucos meses,
Aos dezessete anos dela,
Vinte e três dele,
Casaram-se.
De tão feliz,
Ele deu o hotel de presente
Ao irmão,
Foi embora do Japão,
Morar no Marrocos.
A distância impede visitas
Corriqueiras,
O irmão é ocupado
Com o trabalho,
Que tem decaído rendimento,
Mas o mantém feliz.
Os pais de Fábio
Fizeram uma viagem
De avião,
Faltou combustível
E há dois anos,
Ambos faleceram.
Em virtude de dívidas desconhecidas,
A propriedade em que viviam
Foi adquirida em leilão
Por estranhos a família,
Quando Fábio soube,
Traumatizado pela morte,
Tudo havia ocorrido,
Não pode fazer nada,
Nem despedir-se do local
Em que nasceu.
Soube por correspondência,
O advogado enviou uma carta,
Informado que não havia herança,
Todavia, nem dívidas.
De outra forma,
Foi agendado show
Em pais estrangeiro,
O destino de Angela Marroquina
Era o estado de Santa Catarina,
No país Brasil.
O idioma era desconhecido,
No entanto,
Em cinco minutos de abertura
Para a venda dos ingressos,
Todos os lugares foram vendidos,
O local estaria lotado,
Inúmeros fãs a esperavam
Sempre com todo o carinho.
Seria como de costume,
Desembarcar no aeroporto,
Ser conduzida por carro alugado
Até o hotel,
Esperar por poucas horas,
Ir ao show,
Terminar o show e ir para o hotel.
O país tinha agendado shows
Em três de seus estados,
Santa Catarina, São Paulo
E Rio Grande do Sul,
Tinha um outro também
Com muitos fãs requerendo show,
Minas gerais,
Então shows no país
Demandava uma semana
De entregas ao trabalho.
Por desconhecimento do local
E costumes e idioma,
Se recusou a levar a família,
Preferiu ir sozinha.
Contratou seguranças próprios,
Apenas três dos favoritos do esposo,
Jordano Mirano e Janvano.
O local se encarregada de outros
Para conter a multidão
E afastar curiosos.
No avião a caminho
De Santa Catarina,
Ela levou a música
Escrita com seu filho
Em mãos,
Ainda em sua letra a caneta:
O amor une as pessoas,
Eu amo minha mãe,
Ela ama eu e papai,
Então, nunca estaremos
Sozinhos,
Porquê quando ela me abraça,
Tudo fica bem,
E se ela sorri,
O mundo fica melhor que antes.
Papai abraça nós dois
Apertado,
Ele me faz dormir no seu peito,
Eu tenho sonhos bons,
Não quero acordar,
Quero dormir muito,
Aí mamãe abraça nós dois,
Ela tem perfume bom,
Seus cabelos cobrem seus ombros,
Eu me vejo ir mais longe
No sonho,
Acordo feliz e forte.
Ela me dá um beijo,
E beija papai,
Ele nos abraça mais.
Ela encerrou a leitura
De mãos trêmulas,
Beijou o papel branco,
Com seu batom nude,
Marcou a folha
E chorou.
Já sentia saudade,
Mas está viagem
Teria de ser feita sozinha,
Logo voltaria,
Assim era o trabalho
E valia a pena.
Com um único cd ficou milionária,
Construiu carreira segura,
Pessoas a amavam,
Buscavam por ela,
Lhe pediam para gravar as músicas.
Desembarcado no aeroporto,
Descobriu problema
Com a bagagem,
Se dirigiu a sala solitária
Para resolver.
Chegando lá,
Sentiu um cheiro estranho,
Uma fumaça no lugar
E caiu.
Acordou amarrada no chão,
Com o rosto ensanguentado.
- sua carreira acabou!
Disse um homem lhe
Apontando uma arma
Contra a nuca.
Ela levantou o rosto
Do soalho sujo de poeira
E sujeira de sapatos,
Viu num vislumbre
De tecnologia,
Bandidos invadindo
Sua casa
E matando seu esposo.
No que compreendeu,
Eles estavam vestidos
Como ela,
Com rosto, cabelo e maquiagem,
Fingiram que ela teve que voltar
Porquê esqueceu a música
Que tinha entre as mãos.
Um tiro em cada um,
Os dois caíram
Com sorrisos no rosto,
Então, surgiu uma mulher
A frente,
Realmente usava a mesma
Roupa que ela usava
Neste mesmo instante.
Depois soube que o irmão
Do esposo também foi morto,
E nisto os seus pais,
Por isso, ela não recebeu
Suas visitas
E teve a partir de então,
Suas viagens canceladas
Para ir vê-los.
Os bandidos que atuavam
Contra ela
Chamavam este feitio criminoso
De chacina,
E eliminaram toda sua família,
Agora seria ela,
Aquela moça iria
Requerer sua carreira artística,
A usufruir de seu dinheiro
E bens...
Ela encostou a cabeça
No chão sujo chorando,
E entendeu as motivações
De em tão pouco tempo
Ter investido tanto dinheiro
Em aquisição de prioridades...
Não chegou a levantar
O rosto,
Levou o tiro de misericórdia.
Descobriu que seus clipes
E ensaios até então gravados
Seriam todos utilizados
A partir de agora
Com o único fim de lucro,
Nada mais restaria dela.
Ainda teve tempo de chorar,
Ainda encontrou forças
Para pensar no filho.
Lembrou de si mesma
Dentro do avião
Cantando a música
Só em voz,
A câmera do avião sobre
Sua cabeça...
Tudo seria mostrado
Em ineditismo.
Antes de seu último suspiro,
Caiu ao seu lado
Três corpos,
Sua mente sugeriu
Que fossem os seguranças,
Seus amigos...
Tudo se foi.
Não restou testemunha
Ou aspecto fora do lugar,
Apenas as imagens
E aquela mulher tão similar.

Caso: Assassinato da Balconista

Aos vinte e cinco anos Não se espera a chuva fria De julho Quando se sai para o trabalho, Na calada da noite, Até altas mad...