Olhando desconfiado em torno de si,
Tremia de frio embaixo daquela blusa ensopada,
Chovia lá fora,
Mas isso não foi o bastante para contê-la,
Ele tinha o aspecto de uma pessoa clássica,
Ela um tanto mais eclética,
Dizem que sol e chuva não se fazem num mesmo dia,
Mas, naquele instante tudo se fez na mesma hora,
Usava um casacão com cara de autoridade,
Abotoava-o até o queixo,
De que adiantava isso, indaga-se ele,
Que ao menos não estava molhado,
Ela corre pela chuva sobre a grama escorregadia,
Desliza com leveza e certa gravidade,
Daria para se acreditar que desejava a tempestade que
vinha,
Pelo menos estava feliz por estar ali ensopada,
A roupa colada sobre o corpo bonito,
A maquiagem escorrendo aos poucos pelos olhos,
O rosto com gotículas de chuva,
Guardavam um aspecto realmente másculo,
Algo de altivo e soberbo,
Típico de homens – pensava ele,
Bem, ela devia não estar se enxergando tanto,
Parecia não conhecer seu efeito sobre as coisas,
De imediato as flores se abriam,
O sorriso tomava o rosto dele,
Embora não concordasse em correr na chuva,
Não tinha de que reclamar ante a tudo que via,
O leitor talvez reconhecesse este casal
Se os visse percorrer as vielas das ruas estreitas e
mal feitas,
Mas ali imersos naquela grama macia,
Não saberia, realmente que opinião guardar,
Como eu que aqui lhe escrevo também,
Qual seria o objetivo último?
Provavelmente agasalhar-se um no outro,
Espero, vejo e descrevo...
Ele a olhava com fome e sede,
Seus lábios molhados e avermelhados
Tinham um aspecto perfeito,
Sobretudo ele sentia sede - sede de toma-los,
Queria ganha-la em seus braços,
Ser merecedor de tudo que sentia,
E ali ele era, ao menos acreditava nisso,
Como o rio que seguia,
Mas neste instante tomava novo rumo,
Subia as encostas,
Ganhava as margens e conhecia os bosques,
Um lugar cheio de água que não se pode beber,
Águas límpidas que se fazem turvas,
Percebeu que sua visão também se embaçava,
Aproximou-se dela e a tomou pelo braço,
A conteve a tempo de evitar que caísse,
Ou quase causou o tombo,
Algo deste aspecto,
A puxou confortável até seu peito,
- O que é que há que foge tanto?
Indagou com o rosto quase colado ao dela,
A chuva que molhava seu rosto agora,
Passava por ele e percorria, então, o dela,
- Bem sabes, eu te odeio!
Disse ela altiva com seu jeito inevitável,
-Odeia eu por completo,
Posso saber o que a fiz de tamanho desfeito?
Ela procurou as palavras como se procuram os atos,
Ele sorriu por sua atitude compassiva,
Então, não haviam motivos:
- Não se odeia uma pessoa por completo,
Se odeia, então, atos dela,
Sendo os atos deve-se, então, encontrar o motivo.
Um ato de um homem é parte dele,
Mas não é o todo dele.
Ela parecia chorar, abaixou a cabeça,
Parecia procurar um lugar em que se encontrar,
Ele a traz para seu peito,
Não tem certeza se ela chorava ou não.
-É realmente, odiei o instante em que você
Se recusou ao beijo.
Com isso, levantou a cabeça e encontrou seu queixo,
Com lábios sedentos procurou sua boca,
Com mãos tremulas acariciou seu peito,
Desejou de toda sorte encontrar sua alma,
Um ato, um gesto, talvez não faça um homem,
Mas um beijo, este sim é capaz de fazer...