Ergueu os olhos adiante,
E, na extremidade do fruto fresco,
Foi como se sentisse a sua face,
A maça roseada tinha quase uma textura,
Era como se recordasse o seu rosto,
Quis morder,
Depositou ali um fresco beijo,
Roçou os lábios como quem toca a pele
Sentiu na boca o gosto e o sabor doce,
Era como se o tivesse perto,
Sentia o cheiro,
Era mais que desejo,
Talvez, isso fosse amor,
Talvez apenas química,
Algo que explode ao toque,
Mas se apaga com a distância...
Talvez, talvez fosse mais que isso,
Andou um passo,
Agachou para pegar um galho solto,
Então, sentou-se na sombra do tronco da árvore,
Ali poderia colher mil frutas mais,
Mas, nem todas teriam o mesmo gosto
Ou despertariam mesmo sentimento,
Ao alcance,
Porém, também, da mesma forma distantes,
Ou mais um pouco,
Já não teria o sentimento de cansaço
E o desejo tão intenso de antes,
Ali, à sua frente, porém, bem longe,
Muito longe,
Lá, também tão longe havia aquele,
Sorriu e deu outra mordida tentadora,
Olhou para dentro da fruta e viu o brancor,
Límpido e transparente,
Parecia não haver muitos obstáculos ali na fruta...
Dessa vez, um sentimento terrível lhe ganhou com
força,
Era sua lembrança esplendorosa e boa,
Era a sua boca, sua pele, seu cheiro,
A fruta já não trazia a satisfação de instantes,
Ela escorou-se junto a árvore,
Não via saída,
Teria de procura-lo o quanto antes,
Falar de todo o amor que sentia,
Abraçar-lhe e roçar uma mordida,
Suave e molhada e intensa...
Queria ter asas e poder voar ali feito as folhas,
Imaginou que aquelas mesmas folhas o tocariam,
Sentiu cansaço e algo de triste nisso tudo,
Quis correr mas foi como se suas pernas contivessem o
aço,
Sentia-se pesada até mesmo para levantar-se,
À medida que o cheiro dele se aproximava,
Tudo o mais perdia o foco e a intensidade,
Seus contornos desenhavam-se diante do seu olhar,
Era como se estivesse tão próximo,
A distância deformava-se como se levada pelo vento,
Mas, não ventava apenas havia uma certa carícia de
mãos macias,
Distintamente um túnel se abria diante dela,
Algo com um interior indefinível,
E de largura espessa parecia mais que contê-la,
Sentia-se estreita e arredia,
Como se portas a prendessem e a esmagassem,
Quase lhe faltava o ar,
Mas seu sorriso se mantinha,
E na boca o gosto,
Entregou-se a outra mordida,
Sentia uma fome intensa e aterradora,
E depois, viu-se mais próxima de si mesma,
Mesmo que isso significasse perde-lo,
Não se arriscaria a tanto,
Entregar-se a uma imagem e imaginar tê-lo,
Isso sim é que era disforme...
Encontrou uma saída em tudo isso,
Ali, parada e escorada feito indigente,
Naquele instante ter um nome
Ou um caminho definido não fazia sentido,
Era esta de fato a saída,
Mas desta saída não era possível sair,
Mas lhe era possível o sentir...
Provou o sabor da fruto com uma última gota de
angústia,
Caminhara por quilômetros em sua busca,
Quase que doía o reencontro,
Quem ele era neste profundo de abatimento?
Talvez um alguém que não se lembrava dela,
Que não provava uma fruta com seu gosto,
Que tinha dentro dele mais que lembranças,
E esta, presença, não era a sua,
Não enquanto estivesse tão distante,
E não estaria mais perto,
Não para ele que não vinha,
Talvez, ele não pensasse em si mesmo,
Não mais.
Quem sabe via-se como alguém acima de tudo,
Inclusive do sentir,
Nem em si mesmo,
Nem Antonio pensava em Paola.