segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Seu Beijo

 


Logo após inesperado beijo,

Surge uma espécie de relâmpago,

E com ele um mergulho no tempo,

Eu penso, me indago:


“Será que ainda o amo?”

Paro de pensar e decido me dedicar,

Passo a mão do pescoço até a nuca,

Acaricio sua pele e sinto sua quentura,


Desisto de abrir os olhos,

Permaneço com minha boca colada a sua,

Lábios trêmulos e seguros do que faço,

Ele se dirigia a alguém que não estava,


Eu poderia sentir,

Acredito por mim mesma não imaginar,

Mas era dedicado,

Diria aplicado em cada carícia que faz,


Eu correspondo em forma e medida,

Penso num relatório verbal sobre nós dois,

Mas, as palavras me faltam,

Há instantes mais significativos que falar,


Durante curta distância

Eu procuro evitar contato intenso,

Mas, me recosto em seu corpo feito um abrigo,

O sinto pele a pele,


É como se soubesse e entendesse o que sinto,

Sinto a protuberância do seu corpo,

Sua força parece me percorrer,

Já não sou a mesma de antes,


Em seguida, busco o lado esquerdo do pescoço,

Acaricio, o sinto quente por entre os dedos,

Agora, já não há distância segura,

Quase sinto poder me apaixonar,


Tento guardar o quanto é bom estar em seu poder,

Vigio com os olhos semiabertos cada forma sua,

Penso em remover sua roupa,

Então, lhe passo as unhas,


De cima a baixo até seus cabelos,

Que, havia algum tempo que eu o buscava,

Poderia acreditar que sim,

Que buscava fugir do que sentia,


Eu não saberia definir,

Isso me desperta a atenção,

Decido, por fim,

Abrir os olhos e olhá-lo,


Percorrer cada traço seu,

Sinto que posso decorar cada forma,

Talvez, ler seus pensamentos,

Me interesso por isso,


Então, percorro com minha mão seu rosto,

Percorro seus lábios,

Absorvo seu calor,

E nem por um segundo eu paro o beijo.


sábado, 5 de novembro de 2022

Lembranças

 

Teria ele,

Ao apaixonar-se por um desconhecido,

Se perdido diante de tudo que houve?

Se for analisar até que não ouve muito,

Aquelas palavras que ele disse,


Nunca soube que seriam tão importantes,

Parece que continham uma chave,

Um quê de conquista e para sempre,

Mas não, não foi o bastante,


O coração que um dia pulsa em falso,

No outro pode errar também,

Um dia, ele foi traído, mas hoje,

Nem isso.


O que a fez entrar pela por porta,

Talvez não tenha sido distante do que a levou a sair,

Lembrara de convidá-la a entrar,

Recorda com carinho o seu sorrir,


Lembra-se ainda do sol forte que entrara pela porta,

Convidou-a sentar-se rapidamente,

Nisso, houve um abraço irrefletido,

Simplesmente viu os braços dela em torno do seu pescoço,


Não disse nada,

Mas também, não a abraçou,

Sem saber porquê não sentiu-se bem,

Mas, parecia saber em seu íntimo que a amava,


A fez sentar-se e pediu a ela um pouco de calma,

Ela lhe parecera encabulada e trocou o assunto,

Hoje pareceria que teria iniciado,

Porque não havia conversa alguma,


A quem mais respeitar senão ele mesmo?

Virou o rosto por um pequeno instante,

Mudou o semblante e retornou a ela,

Continuara a conversa iniciada em tom de importância,


De desinteressada parecia muito insatisfeita,

Agora, lhe parecia que se atirava para ele,

Mil vezes ele fazia um movimento em falso

E no falso encontrava ele,


Uma lágrima molhava os seus olhos,

Isso é algo de que se pode duvidar,

A sua língua tremula escorregara e caíra para fora,

Era como se os lábios tivessem ficados pesados,


Dentro da boca algo não se continha,

Dentro dele algo parecia se resolver sem que tivesse consciência,

Sem estalido e com um rangido

Ele se movimento e escorregou até o lado dela,


Pôs uma mão em sua cocha,

E não quis ser mais que suave,

Nada tão íntimo nem tão distante,

Movimentou seu rosto até ela e beijou-a na face,


Não conseguiu ir adiante,

Mesmo quando ela o puxou para si com esforço,

O movimento embora bem planejado,

Não obteve êxito,


A piscina interna chegava até seus pés,

Parecia refletir um sussurro de um beijo,

Um beijo que duas horas depois não veio,

O diálogo parecia abrir a noite,


Ou então, convidá-la a ir embora,

O escuridão parecia convidativa e aconchegante,

Era o bastante para escondê-los um do outro,

Algumas estrelas piscavam lá fora,


Ali dentro nem mais seus olhares se cruzavam,

A claridade forçava a aproximação,

Mas o coração resistia e parecia dizer não,

A paz reinava sobre os amantes da noite,


Não muito distante um sol resplandecia,

Daria para enxergar dali de onde estavam,

O amor quando ilumina deixa a alma estrelada,

Parecia que sua boca quis novamente mergulhar na dela,


Ele escorregou um pouco para a frente,

Mas, ainda assim não aproximou-se,

A água parecia turva diante de sua visão,

Uma espécie de constrangimento parecia levantar dela,


Daquele tipo em que se evita a todo custo,

Como aquele que antecede o fim do beijo

E quer-se com presteza pedir outro,

Havia um alguém, alguém atrás de nós,


Nisso ele soltou sua caneta e parou de anotar,

Não menciono a sensação de saudade tardia que teve,

Mas, menciono que por este amor valeria a pena chorar,

E nele perder-se algum tempo a ouvi-lo e tentar ao menos entender...

 


sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Das Estrelas


Por que se não vejo seu rosto,

Ainda me indago o seu nome?

Eu não acredito ainda estar errado,

Mas queria algum dia ainda encontrar você,


Quando a distância deixa de ser importante?

As vezes, quando fecho meus olhos,

Sinto que poderia senti-lo,

O que me é estranho,


Porque nunca quis estar ao lado de alguém,

Por alguns segundos mantenho os olhos bem abertos,

E confesso me fazer esta pergunta em mente,

O que o torna este alguém tão diferente?


Há algo em você que me faz abrir a janela

E contemplar o luar ao anoitecer,

Antes ainda de a lua pôr-se a brilhar,

Eu a indago: e você?


É como se o sol sorrisse e dissesse:

Olhe bem, acredito estar claro!

Na primeira vez que ouvi isto em alta voz,

Confesso que ri sem medidas,


Hoje porém, rir já não me faz o mesmo bem,

Preciso de um pouco mais que isso,

Gostaria de ao menos saber,

E você, como se encontra e como se sente?


Sabe-se que os céus são de todos,

Mas, por quem seu coração bateria mais forte?

Poucos são os pássaros que voam tão alto,

Eu não ousaria ir para tão distante,


E você até onde iria por nós dois?

O céu é um mar de azul onde os pássaros se perdem,

Perder-se em busca de alguém,

Porém, aqui no espaço terreno e fértil,


Onde é possível ser de todos e de ninguém,

Será que você aceitaria me pertencer?

Seria interessante a ideia de que lhe pertenço?

Ser de alguém parece intenso e ameaçador,


Isso depreende responsabilidade,

Não me indago se você estaria preparado,

Será que esta ideia passou por seu olhar

Em algum momento enquanto cruzava por mim?


Se bem me lembro,

Eu lhe vi abaixar a cabeça e sorrir,

Depois de um mês sonham os homens com aqueles pássaros,

Dizem alguns boatos,


Que alguns sobem tão alto apenas para morrer,

Me seria assim tão intangível o sonhar com você?

Nas estrelas de Saint-Cloud pairam ninhos,

Neles seus pássaros voam em bandos,


E nós aqui tão pertos e sozinhos,

E que importa? Eles são pássaros,

E nós, o que somos um diante do outro?

Quem reteve estes bandos?


As estrelas lá no alto,

O que nos coloca tão distantes?

Talvez, aquele seu olhar para longe,

E as estrelas sobre isso sem se quer tomam forma,


Há quem diga que lá de cima aqui em baixo tudo é pequeno,

Mas, seja como for,

Você me fez bem,

Das estrelas contemplam-se os sonhos,


Mas não este não é o meu caso,

De lá ou aqui eu só vejo você.


 

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

O Mentiroso!

 


Bem são palavras de Érika,

Filha da Brunna,

Cunhada de João,

Esta mulher declarou com emoção:


O amor, mas ele não!

Sentiu-se a mais sábia das mulheres,

Pois amava mesmo sem retribuição,

Mas, um dia sucede o outro,


E certo dia, não muito distante,

Cruza ela por ele e o acha no chão,

Caído e por morto!

Ergueu as mãos aos céus e clamou por socorro,


Por algum motivo íntimo

Não queria tocá-lo,

Jurou a tantos anos antes

Nunca mais amá-lo,


Lembra-se de todos os danos,

De sua pele a descamar ante a dor,

Agora, com a pele e alma refeita: tocá-lo!

Não, ela não tinha o entendimento de um ser humano,


Amar exige esforço e isso implica em cuidar,

Mas, deveria abandonar a si mesma?

Tanto tempo, e tantas mentiras descobertas,

Inflou o peito e gritou alto:


-Por favor, alguém o ajude,

Que me perdoem mas não quero me obrigar a tocá-lo,

Que horror!

Mas, parecia não haver ninguém tão próximo,


Ou alguém que se importasse com ele da mesma forma,

Faz-se o homem,

E dele provém suas atitudes!

Quem é este que sobe aos céus e desce?


Ela levantou as mãos ao vento

E foi como se as estregasse a ele,

De alma limpa, sujar-se-ia e nisso suas roupas,

Suas mãos, nada além.


Eram como se os limites fixados

Agora fossem postos por terra,

Ajoelhou-se sobre aquele corpo por morto,

Percebeu águas escorrerem sobre sua roupa,


Nela as suas lágrimas,

Era como se não o tocasse,

Não merecia tamanha sujeição,

Mas, qual era o nome dele?


O nome deste que agora nem podia pedir socorro,

Se disto dependesse sua vida,

Nem conseguiria pedir-lhe o perdão,

Quem era este nome?


Caído ao chão,

Um corpo vazio mas com vida,

Ela podia sentir-lhe a vida pulsar por entre os dedos,

Sim, ele não estava morto,


Apenas aparentava,

Conseguiria salvar este que só tinha dele suas atitudes,

Este que por ela pôs o nome em esquecimento,

-Conte-me, você sabe!


Ela pediu a ele enquanto tocava em seu peito,

Conhecia aquela pessoa de forma íntima,

Agora, já não recordava,

Precisaria?


Cada palavra que provém de Deus é pura,

Mas da boca que por Ele fala, ela seria?

De repente, seus lábios moveram-se,

Ele se esforçava por si mesmo,


Daria para acreditar que queria viver,

Será que seria forte o bastante?

Estava em suas mãos agora,

Aquele que um dia lhe virara as costas,


Aquele que feriu-a,

Ele da forma como estava,

Se assemelhava a um escudo impenetrável,

E acho até que este escudo o feria...


Não tentou movê-lo tanto,

-Diga-me, diga seu nome,

Você o têm, não têm?

Como é que você é conhecido pelos outros,


Não, não tente me reconhecer,

Quem eu sou agora não importa,

Nem aquele que você foi para eu,

Diga para mim,


Como você é reconhecido lá fora?

Me parece que ninguém se lembra...

Não ouviu nada a se acrescentar,

Conseguiu com muito esforço colocá-lo sentado,


Quase se arrependeu do tempo em que o definiu- o mentiroso!

De sua boca jorrou sangue,

Sangue coagulado e grosso...

Um sangue escuro e inconsciente...


(Penso que ele ainda não sabe quem é,

Mas sim, está a salvo!).


quarta-feira, 2 de novembro de 2022

A Mordida

 

Ergueu os olhos adiante,

E, na extremidade do fruto fresco,

Foi como se sentisse a sua face,

A maça roseada tinha quase uma textura,


Era como se recordasse o seu rosto,

Quis morder,

Depositou ali um fresco beijo,

Roçou os lábios como quem toca a pele


Sentiu na boca o gosto e o sabor doce,

Era como se o tivesse perto,

Sentia o cheiro,

Era mais que desejo,


Talvez, isso fosse amor,

Talvez apenas química,

Algo que explode ao toque,

Mas se apaga com a distância...


Talvez, talvez fosse mais que isso,

Andou um passo,

Agachou para pegar um galho solto,

Então, sentou-se na sombra do tronco da árvore,


Ali poderia colher mil frutas mais,

Mas, nem todas teriam o mesmo gosto

Ou despertariam mesmo sentimento,

Ao alcance,


Porém, também, da mesma forma distantes,

Ou mais um pouco,

Já não teria o sentimento de cansaço

E o desejo tão intenso de antes,


Ali, à sua frente, porém, bem longe,

Muito longe,

Lá, também tão longe havia aquele,

Sorriu e deu outra mordida tentadora,


Olhou para dentro da fruta e viu o brancor,

Límpido e transparente,

Parecia não haver muitos obstáculos ali na fruta...

Dessa vez, um sentimento terrível lhe ganhou com força,


Era sua lembrança esplendorosa e boa,

Era a sua boca, sua pele, seu cheiro,

A fruta já não trazia a satisfação de instantes,

Ela escorou-se junto a árvore,


Não via saída,

Teria de procura-lo o quanto antes,

Falar de todo o amor que sentia,

Abraçar-lhe e roçar uma mordida,


Suave e molhada e intensa...

Queria ter asas e poder voar ali feito as folhas,

Imaginou que aquelas mesmas folhas o tocariam,

Sentiu cansaço e algo de triste nisso tudo,


Quis correr mas foi como se suas pernas contivessem o aço,

Sentia-se pesada até mesmo para levantar-se,

À medida que o cheiro dele se aproximava,

Tudo o mais perdia o foco e a intensidade,


Seus contornos desenhavam-se diante do seu olhar,

Era como se estivesse tão próximo,

A distância deformava-se como se levada pelo vento,

Mas, não ventava apenas havia uma certa carícia de mãos macias,


Distintamente um túnel se abria diante dela,

Algo com um interior indefinível,

E de largura espessa parecia mais que contê-la,

Sentia-se estreita e arredia,


Como se portas a prendessem e a esmagassem,

Quase lhe faltava o ar,

Mas seu sorriso se mantinha,

E na boca o gosto,


Entregou-se a outra mordida,

Sentia uma fome intensa e aterradora,

E depois, viu-se mais próxima de si mesma,

Mesmo que isso significasse perde-lo,


Não se arriscaria a tanto,

Entregar-se a uma imagem e imaginar tê-lo,

Isso sim é que era disforme...

Encontrou uma saída em tudo isso,


Ali, parada e escorada feito indigente,

Naquele instante ter um nome

Ou um caminho definido não fazia sentido,

Era esta de fato a saída,


Mas desta saída não era possível sair,

Mas lhe era possível o sentir...

Provou o sabor da fruto com uma última gota de angústia,

Caminhara por quilômetros em sua busca,


Quase que doía o reencontro,

Quem ele era neste profundo de abatimento?

Talvez um alguém que não se lembrava dela,

Que não provava uma fruta com seu gosto,


Que tinha dentro dele mais que lembranças,

E esta, presença, não era a sua,

Não enquanto estivesse tão distante,

E não estaria mais perto,


Não para ele que não vinha,

Talvez, ele não pensasse em si mesmo,

Não mais.

Quem sabe via-se como alguém acima de tudo,


Inclusive do sentir,

Nem em si mesmo,

Nem Antonio pensava em Paola.


sexta-feira, 28 de outubro de 2022

De Joelhos

 


Ele afundou ainda mais,

Inclinou a cabeça para trás,

Tudo que mais desejava era respirar,

Mas quanto mais se esforçava,


Mais se via agarrado a ela,

Atrelado ao seu pescoço feito uma só carne,

Não conseguia fugir do que sentia,

Sabia que a queria,


Mas, isso não lhe parecia o bastante,

Quem o visse naquela escuridão,

Teria acreditado que usava um tipo de máscara,

Mas não tinha nada a ver com isso sua emoção,


O contrário: era o rosto da moça que viam

E seu olhar que contemplavam,

Achavam que por isso ele estava feliz,

Acreditavam ver sedução e satisfação,


Mas não, o rosto dele estava afundado nela,

De tal forma que não se via nada dele,

Apenas o cafungar sob seu cabelo,

Que esvoaçava-se apenas um pouco,


Ele flutuava sobre a sombra e parecia acolher-lhe,

Ou esconder-lhe,

Quando mais a queria e se entregava a ela

Muito mais se sentia arredio,


Acima da cabeça dele estava aquele rosto lívido

E cheio de cobiça,

A cabeça dele pendia e a procurava,

Fez um esforço em desespero e lançou um pé para trás,


Nisso empurrou de leve a sua cintura,

Seu calcanhar atingiu algo sólido e arredio,

Viu-se resvalar e quase cair ao solo frio,

Mas ela jogou-se sobre ele com toda força,


E conseguiu contê-lo,

Jogou-se como se fosse tudo que pudesse fazer,

Nem ao menos preocupou-se se iria machucar-se,

Naquele instante ele era o de mais importante,


Mas, o coração dele não fez mais que saltitar,

Mesmo a este impacto preferia fugir,

Um ponto de apoio em falso,

O tempo de segundos que não desejou viver,


Ter aquela por quem fugia ser a que o salvaria,

Ele se ergueu, se endireitou sobre ela,

Parecia que queria criar raízes sobre aquele apoio,

O mesmo que o fez cair...


Isso lhe pareceu um degrau necessário,

Algo que daria uma guinada sobre sua vida,

Ao tentar o segundo passo resvalou para o lado,

Sentiu-se retorcer em dor aguda,


Viu-se de joelhos e acabado,

Ela jogou-se sobre ele e o puxou para si,

Mas ele não ousou olhá-la por algum motivo,

O chão até lhe parecia mais convidativo,


Era de todo justo o rasgo na calça e o joelho sangrento,

Continuou ali a olhar o chão por muito tempo,

Desejou que quando se recuperasse ela não estivesse mais lá,

Que ao erguer os olhos não a visse,


Com a alma absorta em alguma oração

Viu uma mão estender-se a sua frente de um alguém de joelhos,

Olhos choravam e um vestido era manchado,

Era ela quem estava caída a sua frente em emoção,


E sentimentos, ele sabia disso,

Sabia que não seria abandonado...

Isso valeu o beijo,

Valeu o anel sobre o seu dedo,

Valeu os anos que viveram juntos.


quinta-feira, 27 de outubro de 2022

O Atolado

Anjello, sentiu o chão fugir sob seus pés,

A sensação era de afundar-se na lama,

Sentiu-se preso e incapacitado de seguir adiante,

O pior de tudo isso era que a água


Que subia dali para a superfície,

Estava o tomando de si próprio e até da lama,

A questão é que ele não sabia nadar,

E permanecer ali seria uma morte imediata,


Porém, como dissesse no início,

Estava preso, com lama acima das botas,

E a água subindo-lhe aos joelhos,

Era preciso passar,


Houvesse o que fosse precisaria seguir,

Pensou por um segundo

Em tudo que era capaz de dar-lhes forças,

Mas precisava unir forças multiplicadas,


E o beijo que o esperava já parecia pouco,

Voltar atrás era impossível,

Anjeel, como gostava de ser chamado

Estava atolado em sentimentos e infortúnios,


Só que agora o destino lhe pregava uma peça,

Pregando-o, mantendo-o estagnado ao chão enlameado,

Estava extenuado,

Para onde poderia ir?


Como alcançaria força o bastante para fugir?

Sentiu que uma perna avançou,

Mas isso pareceu lhe deixar mais fraco e inconsistente,

A bota ficou presa e o pé escapou,


Apesar do medo firmou o pé no chão –descalço,

Há instantes em que uma bota não ajuda,

Não importa a qualidade ou a marca,

Também, há momentos que conhecer o chão em que se pisa


É mais importante que todo o resto,

Menos que sua vida,

Muito menos que o amor que sentia,

Também, menos que o beijo que proviria,


Porque, um pouco adiante,

Não tanto distante,

Sua amada o esperava

E isso lhe dava força o bastante – acreditava,


O lamaçal tão profundo de início agora começava a desanuviar,

Talvez precisasse pôr os pés no chão,

Despir-se de imprecisão e de suas botas,

Não importaria em nada que estas ficassem para trás,


Perdidas e atoladas até o fim no lodo,

Porém, ao segundo passo o pé se afundou mais,

A moda resvalou e ele caiu de costas,

A água lhe veio a boca e a sujou,


Agora toda a sua força era usada para levantar-se,

Precisava sair dali o quanto antes,

O lodo lhe prendia ao chão escorregadio e pegajoso,

Talvez, em poucos instantes nunca mais a veria de novo,


Elevou-se, caminhou a passos tortuosos,

Mas assim seguem os esperançosos,

Creu nesta hora que muitos ficaram ali,

Sem forças para sair ou resistir,


A água agora lhe batia a cintura,

Uma chuva fina começava a cair,

E não parecia querer parar,

Afundava e afundava-se,


Perdia-se em tudo que pensava e em seu medo,

Poderia ter estado com ela,

Poderia nunca a tê-la deixado,

Mas isso significava expô-la a perigos


E ele preferiu enfrentar isso... sozinho?

Havia uma força que o magnetizava

E não importava o que ela dizia,

Ele sempre se encaminhava a sua amada,


Isso era o bastante e teria que o ser agora,

Este lodo era tão denso e capaz de sugar um homem,

Capaz de leva-lo a sepultura sem dar mais notícias,

Haveriam aqueles que nunca seriam encontrados...


Corpos perdidos e vagantes perante os escombros,

Evidentemente que ele poderia ter suportado o peso dos dois,

Talvez, se ela estivesse ao seu lado fosse mais fácil sair,

Foi então que seu braço quebrou,


Já não conseguia abrir o lodo a sua frente,

Agora teria apenas a força do próprio corpo,

As chances de se salvar eram maiores isoladamente,

Teve que admitir,


Conseguiu avançar,

Agora era o quarto passo,

Não haviam muitos até o final,

Mas o lodo era espeço, pegajoso e mortal,


Carregava nele um moribundo,

Que talvez já fosse um cadáver e nem saberia,

Pensou se não estava lá atrás ainda caído,

E apenas sonhando com tudo isso,


Jurou que não,

Levantou o braço acima da água que estava no peito,

E seguiu, tirou o boné e o encheu da própria água,

Jogou sobre a cabeça e saiu correndo,


Feito um louco,

Quis gritar mas não o fez,

Quis nunca mais passar por ali,

E assim o fez.


 

Comida do Leito do Rio

E, Houve fome no rio, Os peixes Que nasceram aos montes, Sentiam fome. Masharey o galo Sofria em ver os peixes sofrerem, ...