segunda-feira, 28 de abril de 2025

Seu Olhar

Quando se planeja
O que fazer de sua vida,
Ocupa-se uma folha,
Ocupa-se duas
De um caderno 
Com linhas novas.

Mas, assim que cruzei
Com seu olhar,
Eu vi minha vida passar
Como se eu estivesse a passear,
Dirigindo meu carro
Em velocidade alta,
E você estivesse lá fora,
Andando na calçada.

E eu tão simples,
Passei por você,
Num piscar de olhos te reconheci,
Cruzei o sinal vermelho,
Uma senhora de bengalas
Levantou a bengala a reclamar.

Eu ainda, assim,
Te cuidei pelo espelho
Retrovisor,
Eu sinto muito pela idosa,
Não pude fazer outra coisa,
Continuei a te olhar.

A rua não tinha retorno,
E eu fui obrigado a passar,
Respeitar outros planos,
Não podia parar,
Cruzei em velocidade alta
Pelo marcador de velocidade,
Eu ganhei multa.

Mas não parei de olhar
Pra trás,
Simplesmente, precisava
Encontrar retorno,
Virar de qualquer forma,
Te encontrar.

Mesmo que isto
Demorasse uma vida,
Uma hora,
Ou o tempo que for,
Mas suas pernas
Não correram me alcançar,
Por Allah,
Você não me viu te olhar?

Mash'allah,
Não posso acreditar,
Eu precisei marcar retorno,
Voltar a te ver,
Te falar tudo que senti por você,
Quando se apaixona
Não é questão de esperar,
É questão de não perder de vista,
De outra forma,
Como a veria outra vez?
Não,
Não sou capaz de perder...

Convite de Lua

O relógio restou meia noite,
Ela não soube entender,
Mas, no palpitar de seu coração,
Entendeu que era sexta-feira,
Dia treze.
Levou a mão ao peito,
Pois seus ossos ficaram
Significativamente frágeis,
Então, seguindo o impulso,
Sentou na beira da cama,
Depois, retirou a mão do peito,
Levantou-se,
Abriu as cortinas
E pôde contemplar a lua cheia.
Tão imensa e brilhante
Que fez parecer dia,
Sua luz ofuscante
Lhe bateu no mesmo
Instante em seus olhos,
Deixando-a cega,
Seus lábios abriram-se,
Mas não precisou falar.
Seu corpo deu meia volta,
Parou estagnado
Olhando a porta trancada,
E não importou se estava segura,
Sentiu urgência por andar.
Precisava, de alguma forma,
Dentro de si, vagar.
E sentia que tinha um rumo,
Por isso, necessitava seguir
O fez.
Caminhou até a porta,
Sem preocupar-se por estar
De camisola até os joelhos
Transparente,
Abriu a porta.
Não disse nada.
Saiu.
Lá fora percebeu
Que haviam outras portas abertas,
Como a sua,
Que sem saber porquê,
Não quis fechar,
Só entendeu
Que era desnecessário,
Precisava seguir,
Tinha que ir.
Tomou o lado direito da rua,
Sentido ao centro da cidade,
Duas quadras antes,
Desviou,
A lua brilhava sobre sua cabeça,
Feito uma lâmpada,
Tornando a noite um dia.
O rumo que tomou a levou
A um portão,
De imediato ela não reconheceu,
Mas o abriu,
Ele era alto e grande,
Estava escrito em letras
Gigantes Cemitério 🪦.
Abriu,
Seguiu.
Chegou a uma lápide,
E não soube porquê,
Mas precisou sentar-se sobre ela,
Sentou e seu coração
Começou a parar de bater.
Ele foi acalmando-se,
Para um batimento lento
E regulado,
Era como se a lua tivesse mãos,
E suas mãos regulavam seu corpo,
E coração.
Nisto pensou se deveria
Rezar,
Não soube que oração fazer.
Então a lua escondeu-se
Atrás de algumas estátuas,
Lentamente, baixou para trás,
E aquelas sombras
Ganharam o cemitério,
E saíram de cima das lápides
Para irem percorrer o chão.
Não havia barulho,
Não tinha ninguém além dela,
E as sombras vinham
Com desenhos obscuros,
Sem formato
Querendo alcança-la.
Seu coração ao invés
De acompanhar seu medo,
Fez o contrário,
Foi batendo cada vez
Mais devagar,
Então, quando a primeira sombra
Quis tocar seus pés,
De modo instintivo,
Ela sentiu que deveria levanta-los.
O fez.
Levantou-os,
Depois, os puxou para onde estava,
E como seu coração parou de pulsar,
Ela, primeiramente, caiu,
Então, ele pulsou fraco,
Aí ela organizou o corpo,
E deitou-se ali.
Sem conseguir pensar,
Sem impulso para reagir,
Aninhou as mãos retas
Ao corpo,
Então, as sombras chegaram,
Subiram a lápide,
E ela caiu.
Caiu dentro do túmulo,
Havia ossos lá,
Um formato de pessoas,
Não muito reconhecível,
Estes ossos levantaram os braços,
E a abraçaram.
Mantendo ela ali dentro.
A lua não surgiu mais,
Apenas o dia.
Com o dia veio o coveiro,
Ele chegou cantando
Com uma pá em mãos,
Enxada e cavadeira,
Subiu para mais acima
E iniciou a abertura do chão.
Morreu alguém na cidade.
Haveria velório.
Ele passou por ela
Diversas vezes,
Seu coração pulsava fraco,
Ela não tinha forças
Para falar,
Não conseguia abrir
Os lábios,
Nem emitir grunhidos,
Ou mesmo soluçar.
De uma vez,
Ele olhou em sua direção,
Seus olhos estavam abertos
Ardiam contra o sol,
Mas ela esforçou-se
Para mantê-los,
Seu peito arfava levemente.
Ele olhou,
Passou a mão
Para limpar uma sujeira
Como se ainda houvesse
Uma lápide sobre ela,
Ele pôde ver sua mão mexer-se.
Depois, ele pegou um balde,
Colocou água,
Trouxe sabão,
Uma toalha,
E limpou onde ela estava.
Ela podia ver a água cair,
Podia até sentir,
Num esforço imenso,
Abriu os lábios,
Estatelou os olhos,
Arregalou-os num pavor abafado,
Mas, ele não a via.
Ele passou o pano do início
Ao fim do túmulo
E saiu de perto,
Seguiu seu rumo de abrir a cova,
Na parte da tarde,
Aproximadamente dezessete horas,
Um caixão passou.
Seus homens o carregavam,
Pessoas choravam atrás,
Algumas traziam flores,
Outras cantavam louvores,
Outras faziam orações,
Todas olhavam curiosas
Para todos os lados,
Mas nenhuma a via.
Todavia, ela enxergava
De uma a uma.
Ela tentou mover-se,
Mas, os braços daquele
Que a seguravam
Eram mais fortes.
Ela ouviu quando seus pais
Saíram na janela chamar seu nome,
Quando alguns se tumultuaram
Atrás dela,
Quando carros passavam
Aturdido pela estrada,
Mas ela estava emudecida.
Era como se sua língua
Tivesse ficado presa,
Ela mal conseguiu
Abrir a boca,
Então, chegou o entardecer,
Conforme o sol se foi,
E as sombras da tarde
A tocaram
Ela pode chorar,
Copiciosamente,
Mas seu peito estava fraco,
Ele não emitia sons.
A lua chegou.
Velas crepitavam
No seu entorno,
As ceras das velas
Começaram a escorrer,
Chegaram até ela,
Ao passar pelo túmulo,
Invadiram a lápide,
E algo quente a tocou,
Ela não pôde mover-se,
Apenas deixou ser consumida
Por ceras de velas coloridas.
A cada nova vela
Ela podia ouvir um pedido
Do ente querido
Que a acendeu...
Aos poucos, a lápide
Foi sendo preenchida,
E a noite foi,
Veio o dia.
O dia não deixou as ceras
Esfriarem,
Manteve elas cada vez mais aquecidas,
Algumas pessoas entravam ali
Aturdidas,
A maioria saíram,
Porém, na noite do dia 15
Uma não saiu.

Futebol Amador

Chegou o sábado,
Antes das quatorze
A comunidade inteira
Se reunia no campo
De futebol.
- daqui vamos tirar um artilheiro!
Disse Adílio.
- um verdadeiro campeão!
Gritou Dalvan,
Descendo a estrada de terra limpa,
Próximo a laranjeira,
Erguendo seu filho nos braços
Até o céu
Como se fosse um troféu.
- Ehhhhh!
O menino gritou,
Levantou a mão fechada
Para o céu
E chacoalhou-se naqueles
Braços fortes de seu pai.
- a bola!
Gritou Edivaldo.
Dando um chute com toda força
Na bola
Por trás da rede do gol.
- aproveitei esse chute,
Assim que o jogo iniciar
Você não terá outra chance!
Gritou Douglas
Do lado direito do campo,
Correndo para pegar a bola
No meio do campo,
E chutando de bico para o gol:
- eh é Goolllll!
Comemorou Aquelino,
Saindo do outro lado
Do campo,
Vindo em direção a bola,
As corridas e tropeções,
Erguendo a camiseta
Sobre a cabeça,
Estilo jogador profissional,
Deixando sua barriga flácida
A mostra.
- Sai que é sua!!!!!
Gritou Valderez,
Para si próprio,
Se jogando através da rede
E pulando em frente ao gol
Rápido o bastante
Para segurar o chute.
- peguei, peguei, peguei!!!
Ele gritou rodopiando
Com a bola em mãos.
Se jogando para a torcida.
- Ehhhhh, ganhou uma laranja.
Respondeu Luiz,
Reconhecendo seu porte
Obeso e partindo para a árvore,
Subindo sem perdão até
Alcançar as laranjas.
- tá certo!
Tá certo!
Vamos dividir os jogadores.
Disse Dalvan,
Soltando Gilvan no chão.
- crianças não jogam.
Ele disse
Apontando o dedo
No peito do garoto de doze anos.
- é no par ou ímpar,
Par ou ímpar.
Ímpar eu ganho!
Gritou Adílio.
Entrando no campo,
Fazendo alongamentos,
Comendo quatro dedos
De banana que retirou
Do cacho maduro
Da beirada do campo
Esquerda.
- é comigo então, neguinho!
Disse Dalvan
E correu com três dedos
A mostra na direção de Adílio.
Adílio se alvoroçou
E botou cinco dedos.
- Deu oito.
Deu oito.
É parrrr!
Gritou Carlinho,
Chegando para conferir os dedos,
Estilo juiz,
Meio vesgo,
Mas sabendo contar dedos.
Dalvan iniciou chamando,
Adílio continuou
E assim seguiu até incluir a todos.
Partida iniciada,
Bola no meio do campo,
Primeiro chute
E o drible rolou solto.
Chutada a bola,
Para a área do gol do adversário,
Adílio esqueceu para qual
Time jogava,
Ao invés de marcar o gol,
Já que estava na área,
Alcançou a bola
Cara a cara com o goleiro,
E driblou sozinho,
Feito Luiz Gonzaga na sanfona,
Único e conhecedor.
Contudo,
Virou de frente
E chutou a bola
De bico para a frente,
Com toda a força,
A bola bateu na outra área,
O goleiro correu e a alcançou.
- Adi, marquei pra lá o gol
É pra lá.
Valderez gritou aturdido.
E revidou depois de segurar
A bola com a mão esquerda,
Fez picar no chão,
Chutando para frente
De qualquer forma.
Dalvan ergueu a perna,
Segurou a bola
Na panturrilha,
Fez quicar no chão,
Mantendo com o pé esquerdo,
Várias vezes,
Até poder segurar.
Então, passou para o pé direito,
E rumou,
Porém, depois de driblar Douglas,
- Darvan,
Darvan,
É pra lá!
O Adi é loco,
Ele que jogou errado!
Darvan.
Gritou Douglas,
Tastaviando com o pé,
Buscando tomar a bola
De Dalvan.
Douglas e Dalvan
Jogavam no mesmo lado.
Dalvan deu uma olhadinha
Para Adílio,
Que arfou o peito,
E se soltou dm busca
Da bola,
Então, recordou-se
Que fazia o gol
Para o lado oposto,
E fez uma meia lua,
No Laudecir,
Deixando ele boquiaberto
Com as mãos na cabeça,
E retornou driblando todos
Que pôde.
Na terceira meia lua,
De pegar a bola com o pé direito,
Vir com ela solta no chão,
Jogando de um lado para o outro,
Em zigue e zague.
Esperava o adversário chegar,
Então, jogava o pé esquerdo
E passava a bola por cima
Da pessoa,
Depois com o direito
Trazia a bola de volta.
Dalvan parou três metros
Depois do meio do campo,
Mirou o gol
E chutou dali mesmo.
A bola saiu do chão
E levantou vôo livre,
Não teve opção pro goleiro
Alcançar,
Ele jogou-se para o céu,
E a bola cruzou um metro
Depois de suas mãos,
Parando no alto da rede,
Quicando e descendo
Para a grama.
- é gol.
É gooll.
Ele gritou.
Derli tinha aula
De educação física
Na escola,
Levou as duas mãos ao rosto
De vergonha,
Porquê jogava toda semana
E não reconheceu
A habilidade da jogada.
O time do Dalvan
Se aproximou e se abraçaram
Comemorar.
No entanto de tanto
Ser o estudante,
Um dia um jogador
Ensina o outro.
Adílio de posse da bola,
Tocou para Derli
Com força,
Douglas tentou segurar,
Pegando na ponta do pé
A bola,
Mas ela correu
Para a frente,
E Marcelo correu para ela.
- peguei Adi.
Peguei!
Marcelo gritou
Levando as mãos para o céu,
Em vitória.
-Jogue que eu pego.
Joguei pra frente.
Respondeu Euclides.
- pra frenteee!
Disse Adílio.
E Marcelo conseguiu
Chutar com o pé direito
Para o esquerdo,
Do direito para o esquerdo,
Do direito para o esquerdo.
Sozinho.
Ele e a bola.
Nisto Douglas chegou,
Colocou o pé por entre
As pernas de Marcelo,
Perturbando a bola,
Que correu um metro pra frente,
Marcelo levou a mão
No peito de Douglas,
Empurrou ele pra trás
E correu.
- falta.
Falta.
Gritou Douglas.
Levantando as mãos.
Porém, Marcelo não parou.
Não reconheceu o erro.
Alcançou a bola
E chutou a toda prova.
Aquelino pulou no gol,
Do lado esquerdo
Voou ao alto para o direito,
A bola bateu na ponta de seus dedos,
E passou.
- nãoooo!
Ele gritou.
Ela acertou em cheio
No travessão,
Na quina do travessão
E voltou.
Quede pegou a bola.
- é minha.
Aqui não.
Aqui não.
Reteve a bola no chão
Por um momento
E passou a rolar ela
Embaixo do pé,
Em meia lua,
Depois virou para o lado
Que jogava para marcar o gol.
Sem parar de rolar,
Ele deu um pulinho
E acertou a bola
Com o próprio pé esquerdo,
Passando para o colega
Daniel,
Que chutou um metro pra frente
E correu alcançar,
Chutou para frente e correu.
Deixando o povo incrédulo
Com aquilo,
Driblando a si mesmo
De maneira unânime.
Nisto, Adílio entrou de carrinho,
Deslizando para a bola
Com o pé esquerdo,
Firmando-se no direito.
- De carrinho na bola.
Daniel que já havia chutado
Para ninguém
Se distanciado da bola,
Correu de suar atrás daquele
Chute de Adílio.
Alcançou a bola,
E chutou ela sem esperar parar,
Unindo a força que ela vinha.
Pois não verdade,
Adílio chutando a bola
De carrinho
Apenas desviou o curso
E ao invés de ela seguir
Ela foi para o lado,
Então Daniel apenas
A pegou com um chute
Usando o lado do pé,
E mandou para o gol.
Valderez nem mexeu-se,
A bola chegou voando
Em sua direção,
Ele apenas juntou as mãos
E a pegou.
Ela quicou,
Ele revidou com o próprio peito,
Ela retornou para a frente.
Dalvan chegou,
Não deixou chegar no chão,
E chutou prazerosamente,
Com a parte de cima do pé,
Pegando bem no meio
Embaixo dela,
Que foi rodopiando de volta,
Seguindo reta,
Alcançou o lado direito
De Valderez,
Entrando sem ele ver para o gol.
Valderez esperou a bola
Pulando de mão levantada no gol.
- não passou.
Cadê?
Cadê?
Ele dizia.
- passou e tá aqui!
Respondeu Dalvan
Indo buscar a bola
Dentro do gol.
Iniciada a partida,
Adílio perdendo
Por dois gols,
Se fortificou,
Manteve a bola próxima
De seus pés,
Quando Dalvan chegou tomar,
Ele passou pelo meio
Das pernas dele
Com força.
- passou queimando!
Ele gritou.
Correu e alcançou a bola
Do outro lado de Dalvan,
Deixando ele pra trás.
Então, Douglas chegou nele.
- não vem não, neguinho.
Não vem não!
Ele gritou,
Deu uma corridinha
De centímetros na bola,
Levou o pé por baixo dele,
Deu uma chutada
E levantou até a altura
Do próprio joelho,
Douglas saiu por baixo,
Adílio levantou por cima,
E de meio dia pé
Levantou para a área do goleiro.
Paulo da área alcançou
A bola com a cabeça
E foi assim mesmo
Com ela para o gol.
O goleiro tirou
Com destreza,
Jogou com ambas
As mãos para a frente,
Caindo no peito de Adílio
Que não teve medo,
Soltou para o chão,
E chutou rente a grama
Para o ângulo direto.
Aquelino apenas
Teve tempo de levar a perna,
A bola tocou nele,
Mas não fraquejou,
Foi para a rede!
- eh ehe ehe.
Goollll.
Terminado o futebol amador,
Ronaldo foi reconhecido
Na televisão nacional,
Era o único em idade para jogar
Futebol profissional,
Apropriado da técnica amadora,
Se lançou no mundo.
Saiu da grama da Linha Barra da Taquara,
Para a grama de São Paulo.
Lá, fez três gols para ganhar a partida,
Até seguir no seu drible,
Bola rolando do seu pé
Para a grama,
Do seu pé para a grama,
Do seu pé para a grama.
Correu a bola,
Até chegar o adversário
E apenas calçar a bola
Com o pé direito.
Ronaldo levou uma prensada
Na bola contra o adversário
Caiu de cara no chão,
Voando para o alto,
De cara na grama São Paulina.
Depois disso,
Ele foi dispensado,
Para chegar a São Paulo
Fez uma vaquinha
Pedindo dinheiro emprestado
Para todos os parentes,
Mas foi de avião,
 Ninguém lhe tirou este gosto
De voar pelos área,
Porém, bola perdida,
Jogou entregue
Para o adversário,
Ele optou por retornar de ônibus.
Bola embaixo do braço,
Autografada,
Jogo gravado
Passando na televisão,
Gols no ângulo,
Dribles vergonhosos na bagagem.
Foi difícil entregar a camisa do time,
Suada e suja,
Retirou e beijou-a,
Adeus a carreira,
Retorno as origens.

domingo, 27 de abril de 2025

Mergulho em água doce

Elio mergulhou,
Longo e profundamente,
Abriu os braços e fechou
Por baixo da água
De cabeça abaixada,
Depois, olhou para a frente,
E foi ainda mais longe.
De calças folhadas,
Sem camiseta,
Com um único movimento
Ele retornou ao leito,
Percorreu uns cinco metros,
Enquanto juntou os dois braços
E os abriu,
Encostando-os nas pernas.
Ao sair,
Virou-se de volta,
De súbito,
Fazendo a água saltar,
Empurrou-se na própria água,
E nadou a braçadas de volta.
Há uns cem metros,
Alcançou o fundo,
Sem afundar
E percorreu o resto do caminho
A passadas até a margem.
Pegou algumas pedras
Do fundo do rio,
Sentou-se na água,
Olhando as pedras,
Enquanto respirava
Pesadamente.
Peixes passavam sobre seus pés,
Deixou o corpo submerso
Até o umbigo.
Depois, um arrepio
Lhe percorreu primeiro
Os braços,
Depois subiu até o pescoço
E rosto.
Uma sensação estranha
De ser observado
O tomou com força,
Ele tremeu de medo,
Olhou ao redor,
Não pôde ver muito distante,
Todavia, não havia ninguém,
Apenas o silêncio.
Bateu uma pedra
Na outra para ouvir
O barulho,
No entanto,
Isto não atenuou seu medo,
Não lhe pareceu tão seguro
Estar ali seminu.
Olhou repetidas vezes
Para todos os lados,
Então, ergueu as pernas
E deixou os braços
Imóveis sobre os joelhos.
Isto, de alguma maneira,
Lhe pareceu correto,
Como se fosse uma alternativa,
Ou um meio de fuga.
De soslaio pode notar
Repousar uma borboleta
Próximo a ele
Sobre as pedras
Fora dá água.
Ele sorriu para ela,
Ela parecia reconhece-lo,
De alguma maneira estranha.
Ela bateu as asas algumas vezes,
Depois disso,
Repousou em seu braço,
Como se quisesse lhe falar ao ouvido.
Ele teria corrido,
Teria gritado,
Mas optou pelo silêncio,
Aterrador e interrogador.
Permaneceu olhando-a,
Não soube o que dizer,
Ela batia levemente suas asas,
Feito um código,
Uma linguagem antiquada,
Ou algo do qual
Ele não tivesse conhecimento.

A Agricultora

- boa tarde!
Indagou um homem
Vestido de terno e gravata,
Assim que Erica abriu a porta.
- quem é?
Ela indagou
Dando um passo
Sobre a escada.
-sou advogado.
Estou com a ordem
De despejo em mãos!
Ele disse.
Subindo até ela
E lhe entregando um documento
Assinado por advogado.
Ela pegou e o olhou,
Com os olhos marejados de lágrimas.
- como assim?
Ela perguntou,
Escorando-se na parede
Da casa por ter perdido
Suas forças.
- você financiou
E não pagou,
Aí atrás está o valor
De sua dívida,
Os juros,
E a sua penhora.
Ele explicou.
Falando rápido
E gesticulando.
- eu financiei porquê
Meu esposo morreu,
Eu não tive dinheiro
Para pagar o velório,
Enfeite da igreja,
Aquisição de caixão,
Roupa sob medida,
E lugar no cemitério...
- na verdade, senhora.
Não nos importa
Os motivos de seu financiamento,
Dívida é dívida,
Precisa ser paga.
Ele interrompeu-a.
- Meu Allah.
Ela respondeu,
Gesticulando próximo
Ao rosto para encontrar ar.
Suas pernas trêmulas,
Pareciam se deslocar
De pavor.
“Perder a casa?”
Iria para onde?
“uma dívida em seu nome?”
Isto era mesmo
Um ato de desonra.
- tem quinze dias.
Quinze dias.
Nenhum dia a mais,
Ou a polícia será
Enviada e a senhora
Há responde processo.
O homem disse,
Passando por trás do carro escuro,
E abrindo a porta de entrada...
- a senhora não responde
A um processo por assassinato?
Ele indagou
Com a porta aberta,
Olhando-a seriamente.
- não foi seu esposo que foi encontrado morto
Sem motivos sentado a mesa
De sua casa?
Ele perguntou
Entrando no carro.
- Allah.
Eu não o matei.
Eu o amava.
Eu juro...
Ele ligou o carro,
Não a ouviu
Nem menos se importou.
Ela escorregou da parede,
Desceu até o degrau da escada
Feita em madeira,
Que há um ano
Ela e o esposo Roberto
Fizeram juntos,
Usando um serrote,
Madeira da propriedade
E pregos...
Escorregou,
Caiu sentada
E chorou.
Estava tudo perdido,
Como comprovaria
Que nunca feriu o esposo.
É certo que,
Quando ele partiu,
Há nove meses,
Talvez até,
Ela deveria ter buscado
Substituí-lo por outro homem.
Principalmente, quando
O gado de leite aumentou
A produção,
Mas ela preferiu ficar sozinha,
Triplicar o trabalho
E resolver tudo como podia.
Nisto cumpriu.
Rezou por seu esposo,
Pediu a Allah que o protegesse,
Se apegou ao seu cheiro
Pela casa,
Manteve as lembranças.
Soube, através dele mesmo
Que encontrou outra,
Ainda podia recordar a conversa.
- chega,
Cala a boca!
Então, estapeou-a no rosto!
- estou cansado de você,
Você é uma fraca!
Você não transa bem,
Não me satisfaz em nada!
Nisto pegou uma mala
E saiu de carro.
Fez um sinal com a mão
De dentro do carro,
Erguendo um dedo
Para a casa e baixando
Rumo ao chão.
Cantou pneu
Na estrada da frente de casa,
Fazendo voar pedra
Na porta,
Nas flores
E nela.
Depois foi.
Beijando uma fotografia
De uma mulher
E colocando no painel
Do carro.
Ela o viu fazer isso.
Ele nunca agiu assim
Tão apaixonado
Com relação a eles dois.
Ela ficou embasbacada.
Boquiaberta.
Ele foi.
Simplesmente, foi.
Ela soluçou tanto
Naquele dia,
Quanto agora.
Chorando capciosamente.
#
- e então?
Enriqueao indagou
Tocando a face de Larissa.
- tudo pronto.
Neste exato momento
Tudo se encaminha
A meu favor.
Ele riu alto.
-Parabens, Larissa.
Seu sonho foi destruir
Roberto e você conseguiu?
Ele beijou-a ternamente,
Por muito tempo,
Depois se afastou.
- Claro, Erik.
Sua mãe acusou ele
De ser seu pai,
Eu não o perdoei
Por se afastar de você,
Jamais irei perdoa-lo.
Ela respondeu,
Ajeitando a camiseta
Sobre seus ombros largos.
- verdade,
Mamãe teve uma imensidão
De namorados e homens,
No geral,
Mas ela se apegou aquele nome.
Ele respondeu se sentando.
- Ora, querido.
Foi simples demais.
Não bastou todo o dinheiro
Retirado dele por meio de minha relação...
Que nojo de ter de beija-lo,
Só de pensar me embrulha o estômago...
Ela olhou o namorado,
Distanciou-se um pouco.
- mas o dinheiro que tirei
Não foi pouco,
Depois quis mais,
Muito mais.
O trouxe pra cá.
Mas logo,
Senti tanto ódio daquele velho,
Que me obriguei a envenena-lo,
Então, lhe fiz um seguro de vida.
Me garanti!
Ele riu alto.
- você trabalhar com seguros,
Foi ótimo!
Ele disse, sorvendo um gole de chá.
E mexendo o açúcar
Da xícara dela.
- sim.
Financiamentos e penhor,
E seguros...
Dinheiro, né baby,
Dinheiro fácil.
Ela respondeu,
Lhe tomando a xícara e bebendo.
- ela me rejeitou,
Que idiota,
Assim, me sinto
Menos responsável
Pela bolada...
Ele disse,
Olhando para a janela de vidro.
- verdade, você se irritou muito,
Pela rejeição daquela velha roceira....
Depois de um momento de silêncio,
Ela indagou:
- vai mesmo se apropriar
Daquela propriedade idiota
Por despeito?
Você superfaturou todo o velório,
Com seu amigo, heim?
Ela falou rindo,
Roçando os dedos em sua face.
-ela vai ir presa,
Aquilo iria para leilão igual.
Você esqueceu que devolveu
O esposo envenenado
Para ela?
Ele indagou
E se aproximou beijando
Sua face,
Depois saindo.
- sim, falei com o juiz da cidade.
Ele foi encontrado morto
Com ela,
E o laudo constou envenenamento...
 Só falta sair sentença.
Acho que irei levar uma flor
No cemitério,
Aquele merece uma flor.
Ela disse
E riu.
Erick saiu para fora
De casa.
#
- senhora, Erica Enriquera?
Indagou dois policiais
Armados com documentos
Nas mãos.
- sim?
Ela respondeu abrindo a porta.
- estamos com sua ordem
De prisão em mãos.
Você foi condenada por assassinar
Seu esposo através de veneno!
Venha conosco para a viatura,
Você será levada ao presídio local.
Ele respondeu,
Lhe entregando o papel
Para ser assinado.
- assine. Depois disso,
Junte as suas mãos nas costas,
A senhora é considerada
Perigosa.
Será conduzida algemada.
Eles revistaram ela.
Percorrendo com suas mãos
Seu corpo todo,
Cabelo, pescoço,
Partes íntimas,
Dentro da boca...
Depois a algemaram,
Abriram o camburão
E a colocaram lá.
- na entrada do presídio
A senhora liga para alguém
Que feche sua casa.
No presídio a senhora
Não precisará de nada.
Ele falou fechando a porta
Em sua cara.

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Não Serei Mãe?


Aos trinta e quatro anos,
Sem filhos,
Você já pensa
Se será capaz de chegar
Ao momento da concepção.

Você se pega a engordar,
Olhar o espelho,
E se imaginar
Quantos meses de gravidez
Estaria.

Mesmo assim,
Você não deixa de comer,
Fazer os pratos que te agradem
E, as vezes, sonhar
Se existiria alguém compatível,
Dentre tantos feios,
Um feio que se goste,
Que lhe satisfaça em algum quesito.

Porquê gosta estou,
Enjoada com relação a homens,
Também,
Homem por concepção
Encontrou poucos,
Quase todos a linda distância.

Se você deseja engravidar,
Será que deve tentar
Com todos
Ou escolher um pouco,
A questão é quando
Você não possui tanta opção.

Porquê gorda e enjoada,
Vai sobrando poucos
Pra se querer,
Eu olho fotos de bebês
E penso terei um meu?
Como será quando o tiver?

Eu preciso dar valor
Aos poucos que há em meu número,
Selecionar é para as jovens
E bonitas,
Me enojam o passar dos anos,
Um dia abandonei meu casamento,
Não foi hoje que me arrependi.

Convivo com um monstro,
Esposo,
Um monstro rico,
Eu feia pobre...
Destino fadado.
Sucesso garantido,
Mas, como engravidar?

Sinto repugnância
De olhar no rosto,
Eu prefiro esfaquear minha barriga,
Perder todo o ar,
A me rebaixar,
A qualquer um daqueles
Monstros asquerosos.

Eu disse a ele,
Faça um castelo de ouro,
Fez,
Mas não me encorajo,
Devo ser burra,
Fadada a pobreza,
Mas, não suporto me rebaixar.

Sinto nojo,
Soberano,
Gente da nobreza,
Eu pobre,
Da roça...
Me rebaixar
Ou nunca ter filhos...

Não ser chamada de mãe,
Carregar um bebê no colo,
Mas, ter um com cara de macaco?
Não sou tão pontual
Com minha aparência
Pra conviver com um feio.

Se alguém quiser desculpas,
Bem, inicialmente foram os atos,
Hoje quis me comprar com dinheiro,
Fez tudo a ouro,
Mas eu ainda estou
Jogada na pobreza,
Preferia-os mortos!

Tanto dinheiro me compra,
São prédios a ouro,
Mas não compra meu futuro,
Eu não serei mãe.

quinta-feira, 24 de abril de 2025

Minha Manhã de Mulher Independente

Sinto orgulho
Em compartilhar
Meu dia com você,
Eu acordei,
Tive necessidade de trocar
A máquina de lavar roupas
Do lugar.

Conforme fui analisando
Os objetos de dentro de casa,
Notei a falta de um tanque
Para lavar os calçados,
E tirar a sujeira maior das roupas.

Sabe aquelas encardidas
Que a gente ama
E não quer pôr fora?
Então, estás mesmas.

Olhei minha horta
Com suas saladas tristonhas,
Vi a necessidade
De instalar uma torneira
Para pôr a mangueira de jardim.
E o fiz.

Chamei três encanadores,
Todos me irritaram
Com a demora,
E não entendiam
Como eu queria organizar.

Eu disse a eles:
Queridos poupem sem tempo,
Que eu poupo meu dinheiro.
Analisei que peças iriam,
Como eu gostaria
Fui a loja de materiais de construção
E comprei todas elas.

Iniciei o trabalho cedinho da manhã,
Cheguei ao meio,
Troquei algumas ideias,
Voltei a loja,
Comprei o que faltava.

Bem, são treze horas da tarde,
Eu instalei tudo perfeitamente,
Sobraram peças
E ainda instalei um novo
Chuveiro porquê cansei do antigo.

Isto mesmo,
Organizei instalação elétrica,
Posição e reposição de canos,
Colocação de peças neles,
Prendi o tanque de plástico
Que escolhi.

Coloquei a mangueira de jardim,
E instalei a máquina de lavar,
Me sinto orgulhosa,
Por tudo que fiz.
Adeus ao discurso de independência,
Bem-vinda a competência pra fazer.

Por fim,
Só agradeço ao meu esposo,
Que me apoiou
E confiou em mim:
Enfim, amor, consegui!

Caso: Assassinato da Balconista

Aos vinte e cinco anos Não se espera a chuva fria De julho Quando se sai para o trabalho, Na calada da noite, Até altas mad...