Era outono crepuscular,
Caía o entardecer do dia,
Ela aconchegava-se as sombras,
Sentia-se bem na ausência da lua,
A noite que antecedia a lua cheia,
Bem, ela sabia:
Isso poderia lhe custar a vida,
Mas, a mentira não lhe pertencia,
Não lhe fazia bem a boca,
Proferir qualquer coisa acerca,
Se a boca do insensato leva a ruína,
A sua não seria capaz,
Quem ama com integridade sente segurança,
E ela sentia,
Mesmo que veredas tortuosas estivessem ao seu olhar,
Fecharia os olhos e aproveitaria as sombras,
Mas seguiria,
Há um caminho que abre-se aos que amam,
E ela perambularia por ele até lá;
Chegaria, ela sabia, chegaria.
A boca d’aquela que ama é fonte de vida,
Não se envaidece na mentira,
Nem faz uso da maledicência,
Apenas ama,
Aquele que controla a língua
Entende mesmo quando se cala,
O que a alma que ama deseja ela encontra,
Passa a tempestade e o céu retorna,
Tudo sempre volta ao seu lugar,
Assim é com os que se voltam e aos que procuram,
Mas, a’quela que ama permanece a espera,
Não se cansa,
Quem é capaz de amar o outro, a si mesma o faz,
Quem procura encontra,
O amor antecede por quem o busca,
Ela se escondeu por entre as árvores do bulevar,
Por trás daquela grama havia uma história,
Logo no início quando ela ainda era plantada,
Quando os pequenos montes ganharam a terra,
Desejosos de suas flores e da vida que se abria,
Ali, naquele cantinho um beijo repousava,
Naquela hora,
A escuridão serviu de véu para as juras,
Guardou em si cada promessa,
Como uma espécie de macha que não se apaga,
Ou um perfume que não sairia,
Ali, o beijo nunca seria desfeito dela,
Então, parou por um momento recostada,
Se colocou contra a árvore – silenciosa-,
Não temia a noite que a abraçava,
Aquele que a disse: eu te amo, ela não esqueceria.
O beijo soou feito uma flor que não murcha,
Que os dias passam mas ela fica,
Permanece intacta e cheia de vida,
Inerte as horas e cheia de expectativas,
Diferente das que estremecem e ao final fazem chorar,
Afinal, pensou ela:
Por que uma flor levaria as lágrimas?