Pensou no sabor daquele beijo
E aquele heroico modo em que o conquistou,
No tempo em que levou para consumi-lo,
Saborear cada gesto e gosto seu,
No tempo em que estava sozinho
Não parecia que as coisas se desenrolassem assim,
Não. Não teria como estar apaixonado,
Mas, preferiria, agora, estar em Berlim.
O ar, de apenas 100 metros de distância
Ali, dentro daquelas grossas paredes de gesso,
Imploravam para estar noutro lugar,
Mas, ele não faria o esforço,
Ergueu o copo, sorveu o líquido,
Esticara-se mais na poltrona – imóvel.
Explodira uma guerra na praça de São Pedro,
Mas, dentro dele aquilo tudo não fazia diferença,
Uma cálida expectativa, porém, descria,
E assim percorria por seu corpo,
Poderia jurar que implorava pelo beijo dela,
Embora, talvez, guarde a expectativa apenas para lembrança,
O mundo lá fora não estava nada sereno,
Mas, ali dentro fazia apenas o frio;
Era a tradição ligar mais tarde,
Porém, ele não fazia parte disso,
Não queria que a boa percepção se apagasse,
Que a imagem criada na primeira vez se dissolvesse,
Feito lamparinas cheias de óleo,
Daquelas que prometem queimar para sempre,
O beijo que houve entre eles, não seria apagado,
Ao menos não até a meia-noite,
Porém, depois que fechasse os olhos,
Bem, neste instante, não haveriam garantias.
Sorvia o líquido como se a entornar beijos,
Como se tivesse provado a boca dela mais de uma vez,
Como se a tivesse tocado por uma vida,
Um beijo bem dado é o bastante!
A mistura entre bebida e lembranças
Produz um gosto de, gostaria de vê-la...
Velas, lamparinas e beijos,
A sensação da bebida na boca era boa,
Gotas de sonhos o invadiam através do líquido,
Pensar nela ajudava, mas apenas um pouco,
Trazia-a em suas veias,
O beijo, embora único, foi mais que isso.
Que havia encarnecido antes do tempo
Por meio do tempo e de, um pouco de descrença,
Poderia admitir agora,
Que vivera nela de modo afivelado,
Sim, fez tudo que pode para mantê-la,
Seus cabelos caíam sobre o peito dele,
Deixaram ali um cheiro que não seria esquecido,
Podia ainda cheirar sua pele,
E nela estava um pouco dela...
O perfume assombreado pelos dias,
Parecia querer penetrar mais fundo,
Quem sabe, desejasse fazer morada,
Montar barraca, definir um campo,
Tomar partido de uma parte sua;
Após os vinte anos beijos não são como antes,
Ao menos pelo que pudesse recordar,
Após lábios deixarem sua face roseada,
Tudo muda de perspectiva.
Um rosto sorridente e simples,
Tão singelo que não se esquece facilmente,
Puro e com ar de criança,
Porém, com a atitude e simpatia únicas,
Admirável feito o ar que agora vem da França...