terça-feira, 18 de março de 2025

Tempos a Tempos

Lá próximo ao penhasco
Ele fez seu castelo,
A trouxe consigo.
Este foi o início.
Na janela a vista era para o céu,
De um azul profundo
Que se estendia para distante.

Abaixo do céu pedras
Que ferviam ao sol,
Que queimavam ao toque,
Cada lágrima dela
Jogada sobre aquelas pedras
Tornaram-se vapor.

Todo o choro,
E antes do choro
Todo o seu suor
Em busca de mantê-los.
Além das pedras água azul e límpida,
Que se estendia para distante,
Entre o fogo e o azul,
Eventualmente algumas gaivotas.

Onde houve o amor?
No instante em que ela
Foi jogada contra a parede,
Com o pescoço comprimido
Contra a janela
Tão próxima a cair no penhasco,
Ela quis pedir para ele.

Mas calou-se,
Como falaria de amor agora,
Não imaginou que ter um corpo
Tão mais forte que o seu
Empurrando-a contra uma parede
Tão dura fosse tão doloroso,
Ela sentiu como se seus ossos
Estalassem.

Sentiu a pele rasgar-se,
Mas não houve marcas,
Apenas as da parede.
Quando olhou em seus olhos,
Não havia amor neles.

Mas havia uma intensidade de ódio.
Ela escapou,
Não caiu da janela,
Se salvou.

Mas seu medo
A impediu de contar com a sorte,
Saiu para o jardim
Ver a luz do dia,
Sentir o vento na pele.

Abriu sua sombrinha,
O sol lhe feria a pele,
Logo todo o sol se foi,
Caiu chuva grossa,
Ela sentou-se,
Com o vestido largo
Vermelho, preto e amarelo,
Solto na chuva que caia.

Sentiu entre pedras, terra
E pouco gramado,
Segurou a sombrinha armada,
Pernas seguras no corpo,
Uma mão estendida,
Baixou a cabeça para o céu,
Na mesma medida
Foi baixando a sombrinha,
A chuva lhe caiu segura
A pingos firmes e fortes,
E gelada.

Ela ficou ali
Por algum tempo
Provando a chuva no rosto,
Cabelos, pescoço e vestido,
E sapatos pretos de salto baixíssimo.
A água misturou-se a terra
E fez barro,
Grudou no vestido,
Ela quis sorrir,
Sentiu-se bem.

Sem ninguém para vê-la,
Ama-la ou ao menos cuida-la,
Ela decidiu levantar-se sozinha,
Se sentia intensa,
Via em seu marido esposo arredio.
O relógio pontuava as horas,
E nada parecia mudar,
Só restavam memórias,
De tempos a tempos,
De beijos remotos
Como um filme antigo
De imagem apagada e estragada.

O que houve com a estrada do destino?
Só funcionava de tempos a tempos?
Feito flores que desabrochavam,
Morriam e tardavam a renascer?
Ela juntou flores,
Chegou próxima a porta,
Esperou que ele sentisse sua falta,
Esperou que ao menos abrisse
A porta,
De tempos a tempos
Podia ouvir suas passadas,
Ele estava lá dentro e...

Nada?
Ela sentou-se na escada de madeira,
Tirou os sapatos,
Mostrou os pés,
Não sentia-se insegura
De sua beleza,
Estavam juntos,
Olhou para as três flores
Em sua mão,
E viu que houve amor
Entre eles,
De tempos a tempos,
Houve amor.

A porta não abriu,
A chuva não parou,
Ela fechou a sobrinha,
Pendurou num prego
Que havia na parede de fora
Da entrada de casa,
Viu a água escorrer
Feito uma torneira dela.

Abriu a porta pesada
De madeira grossa e escura,
E entrou.
Ele estava olhando a parede
Sentado na cadeira do jogo
Da mesa de madeira
Pesada e escura,
Tudo surgia que a noite se alinharia.

De tempos a tempos,
Como um rufar de tambores
Batendo em seus ouvidos,
Ele deitado adormecido
Surdo e emudecido,
Ela de olhos atentos e doloridos,
Houve um fim lá atrás,
Um fim que não foi visto,
Parecia ter passado despercebido.

Mas, não.
Ela foi até a cozinha
Em frente a ele,
Juntou uma faca,
Houve um fim
Não haveria outro,
Estradas entrelaçadas no destino,
Estavam previstas
E concretadas.

Andou até a parede do quarto,
Chutou com o joelho
A parede,
Caiu um tijolo
Pôs lá a faca,
Recolocou o tijolo,
Não haveria diante do fim previsto
O medo,
Ela não seria jogada na parede,
Menos ainda cairia
Naquele abismo profundo
E dolorido feito de pedras e dor.

Foi ao banheiro
Retirou a roupa,
Soltando levemente o tecido
Em seu corpo,
Feito uma carícia na pele alva,
Viu quando caiu no chão
Pesado e sujo de terra,
Pegou a manga que estava dobrada
Na parede,
Desdobrou-a e a estendeu
Para tomar banho,
Deixou a água gelada cair
Sobre ela.

Depois chacoalhou os cabelos
Escuros e encaracolados,
Enrolou-os entre os dedos
Para escorrer a água,
Jogou-os para a frente de sua mesma
Agachou-se um pouco
E bateu-os com a mão,
Redobrou a torneira e saiu
Escolheu um vestido azul,
Verde e rosa.

Retornou colocou a comida
No fogão de lenha,
Acendeu o fogo,
Ele desgostou de como ela fez,
Chegou por trás,
Pegou com dois dedos
Seu cotovelo e apertou,
Ela chorou sobre o fogão,
Ouviu o chiado,
Viu as lágrimas sumirem de lá
Sem deixar marcas,
Continuou ali até aquecer a comida.

Depois estendeu uma toalha
De pano branco na mesa,
Colocou os pratos,
Os talheres ao lado,
Encostou seus seios nos ombros dele,
Retirou o vestido azul e verde e rosa,
Que usava,
Ficou usando tecido fino
E amarelo.

Sentou-se a sua frente,
Comeu, esperou ele comer,
Desfez a mesa,
Limpou os utensílios na pia,
Com a manga dobrada de lá.
Foi até o quarto,
Ele irritou-se outra vez,
A pegou por trás
Quando ela levantava a colcha
Grossa da cama
Para deitar-se.

Outra vez,
E que fosse a última,
Jogou-a contra a parede,
Comprimiu seu corpo
Contra as pedras da parede,
Apertou sua barriga,
Jogou seu braço contra a parede
Com um estalo,
Ela fechou os olhos de dor,
Reabriu-os quando sentiu a faca
Entre os dedos,
Retirou-a e levou até a barriga dele,
Com um golpe.

Ele se afastou,
Olhos abertos e arregalados,
A boca quis falar
Mas não disse nada,
Sangue manchou seu pijama
Esbranquiçado,
A faca estava ali,
Ela defendeu-se pela primeira vez,
Fatal vez.

Ele cambaleou,
Tremeu caiu até a janela,
Abriu a boca,
A faca estava até o cabo
Dentro dele,
Ele sangrava e sangrava muito.
Foi olhar para ela,
Ela estava na parede
Ao lado dele,
Exposta e imune,
Séria sem dizer nada,
Braços esticados contra a parede,
Corpo colado
Como se fosse pedra.

Ele tentou retirar a faca,
Tropeçou nos próprios pés,
E caiu,
E nada parecia tão profundo
Quanto foi aquele tombo,
Ele caiu contra uma pedra,
A pedra desceu com ele
E caíram sem parar,
Em algum momento
Ele pareceu encontrar o fim,
Ela tardou a olhar.

Ela viu sangue
Através da janela,
Não era o dela,
Pela primeira vez,
Havia sangue
E não era o seu,
Ela sorriu.

Olhou e pareceu vê-lo,
Morto.
A chuva veio mais forte,
Lavou o sangue,
Limpou a dor.
Ela continuou recostada
Na janela,
A casa estremeceu,
Outras pedras moveram-se,
E nelas a casa desceu,
Toda,
E na casa a janela,
Na janela,
Ela.

Tudo caiu
Rumo aquela imensidão azul,
De água, céu e pedras,
Muitas doloridas pedras
A atingiram
E a dor foi intensa,
E terrível,
Seu peito sentiu a dor
De ser estraçalhado,
Ela foi com ele,
O castelo desmoronou,
E levou-os.

De tempos a tempos,
Caída a sangrar entre as pedras,
Olhos abertos para a chuva,
Ela pode ver seu fim,
Enxergar a dor,
Sentiu cada parte sua sangrar,
O sangue escorrer até o azul,
Estendeu a mão e o alcançou,
Sim, ele estava ali,
Ao seu lado,
Limpo sentindo a chuva,
Ela não viu,
Mas havia nele pouco sangue
E tão menos dor.

Alcançou sua mão e apertou,
Ele teve um último
Impulso de forças
E apertou sua mão também,
Ela, então, fechou os olhos.
Sua cabeça caiu para o lado,
De olhos fechados,
Sem vê-lo,
A dele não teve forças de mover-se,
A chuva caia inerte e fria,
Uma gaivota voou em cê,
Subiu para o alto,
Desceu até a água,
Percorreu sua margem
E não provou de nada.

Ele apertou mais a mão dela,
De tempos em tempos,
Por uma última vez,
Ela foi ficando fria,
A chuva caiu mais intensa,
Ele fechou os olhos,
Sua cabeça caiu para o lado dela.
A chuva não parou,
O castelo veio,
As pedras caíram,
Nada ficou.

domingo, 16 de março de 2025

Metrô

Ela podia esquecer
De muitas coisas importantes,
Ser desatenta com respeito
A horários e atitudes,
Mas jamais desacreditaria
De seus sextos sentidos....

E aquele homem ali,
A sua frente,
Era peculiar,
Realmente.
Saiu da parede em que estava recostada,
Dois passos a frente,
Pode vê-lo por trás,
Vestido de negro,
A passos rápidos e inseguros,
Havia algo de errado,
Ele tinha algo pesado
Por entre os dedos,
Levava ao bolso,
Ela teve certeza disso.

Sapatos lisos e negro,
Pernas velozes e grandes,
Porte alto, um metro e setenta
Aproximados,
Ombros largos,
Carroça, rosto rechonchudo.
Ele saiu da quinta porta,
Lá havia apenas silêncio,
Era um compartimento fechado,
Ela decorou bem seus modos
E características,
Sem precedentes
Exceto a astúcia.

Ela foi atrás dele rápida e elegante
Em seu vestido cubinho
Vermelho e branco,
De gola em aspecto colar alto.
Deslizava sobre o piso liso
Como se fosse parte do piso,
Corpo esguio,
Andar seguro,
Rosto firme para seu alvo.

Quanto mais se aproximava
Mais tinha certeza,
Ele era de modo peculiar suspeito...
Ele olhava para todos os lados
Inseguro, rosto trêmulo,
Mãos firmes e pesadas
Pareciam entrar dentro dos bolsos.

Ela sentiu o cheiro de seu perfume,
Parecia ser caro,
Era raro,
De repente ele olhou para uma loja,
E se destacou para lá.

Ela aproveitou o tempo
Que tinha disponível e foi até a sala
Quinta,
Chegando lá encontrou dificuldade
Para abrir a porta,
Não desistiu,
Empurrou a chutes de escarpam rosa,
Meteu o salto fino e ela abriu.

Recostado na porta havia
Um homem imóvel.
Ela virou-se para trás e pediu ajuda,
Alguns rapazes lhe deram atenção,
Assim, abriram a porta
Por completo e encontraram o corpo morto.
Não possuía carteira ou identificação.

Enquanto os rapazes buscavam
Os seguranças locais,
Ela retornou até o rechonchudo,
Chegou por trás,
No instante em que ele
Iria realizar o pagamento de um relógio,
Juntou suas mãos
E o manteve seguro entre seus braços.

Logo, os seguranças viram tudo
E vieram ao encontro,
Ela explicou que o homem era suspeito,
Algumas garotas assustadas
Ajudaram ela a mantê-lo.
Ao buscar por sua roupa
Encontraram a carteira do outro,
Com fotos de identificação
E o pegaram usando o cartão
De crédito do morto.

Juntaram os dois,
Descobriram a tempo
Crime e culpado.
O homem quis fugir
Ao se deparar com os outros
Que carregavam o morto,
Os seguranças o pegaram,
Ele jurou vingança,
Seus olhos se sobressaltaram
Das órbitas,
Seus lábios tremiam
Como se fossem cair.

Logo em frente o metrô partiu,
A garota ficou.
Perdeu a passagem
Trocou pela próxima,
Sentiu no banco de espera e ficou.

sexta-feira, 14 de março de 2025

Direção Perigosa

Acordei.
Abriu os olhos.
O relógio no celular
Marcou treze horas.
Estranho.
Treze?

Era madrugada?
Estava escuro,
A lua que brilhava
Quando fui dormir,
Havia se apagado.

Olhei através da janela aberta
E haviam estrelas.
Sorri.
Mais calma.
Muitas estrelas brilhavam.

Voltei a dormir,
Sonhei que estava numa moto,
No carona,
E cheguei jantar em algum lugar,
Estavam preparando o jantar
Usando de talher
O braço de uma pessoa.

Era o meu?
Olhei para o meu
E ele parecia intacto?
Então, era um talher de madeira?
No formato de uma mão,
Com dedos quebrados...

Senti medo,
Estava com inimigo
Ao meu lado,
Eu parecia não reconhecer isto.
Um sobressalto
E eu acordo.

Olhou o relógio são 05 da manhã.
Quase dia eu penso.
Vejo neblina através da janela,
Ao meu lado
Está o meu menino o Bruce.
Vou ao banheiro.

Retorno.
Durmo.
Acordo com sensação ruim
No peito,
Um vazio profundo,
Acordo chupando algo,
Me indagou
O quê?

Um seio.
O seio da minha mãe.
Então, estou com fome?
Não.
Levanto e vejo que não.
Duas galinhas invadem a horta,
Danificam a salada
Que já não estava boa.

Eu desejo mata-las.
Me canso disto.
Sofro correndo por dentro da horta
Atrás das malditas galinhas,
Quando saio de lá,
Encontrou minha orquídea
No chão,
Toda roída por elas.

Junto pedras e apedrejo.
Sinto ódio de estar sozinha.
Sinto ódio profundo.
Desejo que meu esposo
Esteja comigo
Junto a trave de fechar a janela
E bato.
Bato intenso e forte.

Só desejo quebra-lo.
Arrancar-lhe o sangue.
Sinto ódio e arrependimento.
Um casamento regado
A ódio e arrependimento.
Saio de casa.

Pego o Bruce,
O cartão de crédito e o Al-Qhuran
E saio.
Chego na casa do meu pai
Para pegar o carro emprestado,
E ele me esnoba.
Eu desejo mata-lo.

Olhou para aquele rosto
Flácido, feio e caído
E desejo rasgar.
Fazer verter sangue.
Junto as chaves e vou.
Chorando o ódio.

Pego a BR282 de Santa Catarina,
Brasil.
Me dirijo até minha mãe.
Ódio guia meus braços,
Acelera até o fim
E deixa o banco do carro
Longe.

Penso que o ódio
Está estampado em minha cara,
Acho que estou vestindo
Sangue da menstruação
Que jorra entre minhas pernas,
E ódio.

Vou.
No caminho
Vem um caminhão
Na pista contrária,
Eu estou rápida
Regada a ódio.
Ele simplesmente dobra,
Entra numa rua de estrada de terra,
Dobra todo e inteiro.

Não há para onde ir,
Eu estou indo em cheio,
E rápida,
Penso no amante e me acalmo.
O imagino em meu lugar,
Aí penso que eu sou ele.
Fico calma,
Me ajeito no banco,
Esqueço o ódio do corno...

Então, na pista contrária
Vem um caminhão guincho
Com um carro em cima,
Ele está rápido e inteiro lá,
O outro ainda dobrado
Minha frente,
Eu lembro o rosto dele,
Como um vulto
Rápido e seguro,
Ligo o alerta e desacelero.

Acalmo o coração.
Não choro.
Não penso em outra coisa
Que não seja
Salvar meu filho
Ao meu lado.

Me vejo entre as rodas
Daquele caminhão
Andando na minha frente,
Imagino um acidente
E os danos no carro
E penso em como sair.

Depois, só penso
Que não entrarei entre aquelas rodas,
Quatro rodas escuras e cheias,
Quatro pneus enormes,
E o caminhão sobre elas...
Penso em sair da pista.
Acho que não teria tempo
O bastante para frear
Então, iria para o mato.

Desconhecido e perigoso mato.
Se fosse para qualquer outro lado
Iria bater em cheio no caminhão.
Mas, aí eu freio mais,
Até o final.
E o caminhão se desloca
A tempo de nada acontecer,
O do meu lado não sai da pista,
Não se desequilibra.

Apenas bruxinha bem alto.
Meu coração parece retornar,
Eu me sinto respirar,
Olho para meu filho
Ele está bem,
Olhou para meu peito,
Eu estou bem.
Olhou para trás
E há outro carro.

Não o vi anteriormente.
Ele não pareceu frear
Em nenhum momento.
Desisto de pensar nele.
Estamos todos salvos.

Acho que houveram
Outros carros atrás do caminhão
Guincho,
Eu ignoro.
E pareço sentir dores
No meus ossos direitos.
Mas, estamos bem.
Nada nos houve.

quinta-feira, 13 de março de 2025

Estátuas

Naquele povo,
Houve quem duvidou
Da verdade.
E a olhos no horizonte,
Deixou seu povo
E partiu para o vislumbre.

- é magia evidente!
Disse seu amigo,
Tocando seu braço
Para deter-lhe.
- é certo que não.

Disse ele.
E foi.
- preciso ver face a face.
Abriu o portão e fechou.

Lá no horizonte,
Um Faraó deu tudo de si
Para construir estátuas,
As mais perfeitas,
Imagem e semelhança.

Depois as fez grandes,
Cada vez mais alta.
Uma cresceu tanto
Que atingiu um grande monte
Ficou acima das nuvens
E foi como se algo a tocasse,
Certa chuva,
Retornou de lá,
Agachando-se,
Olhou para baixo
E levantou o pé,
Depois a soltou
Em uma próxima ao castelo
Que destruiu-se
Derramando-se em milhares
De pedras
Sobre o castelo.

O Faraó caiu para trás,
E fugiu.
A partir daquelas,
Com um levantar de sua mão
As demais criaram vida.
E gostaram disto,
Decidiram ser cultuadas.

Escravizaram cada pessoa de lá,
Cobrando culto evidente,
Isto é,
Que todos passassem
A construí-las sempre que
Houvesse luz,
De dia e através da luz da lua,
Sem parar,
Sem comer,
Sem beber ou respirar,
Apenas trabalho.

Aquele outro rapaz
Que veio para ver com seus olhos,
Viu e assustou-se,
Entrou e ficou.
Quatro dias depois,
Enfraquecido,
Desistiu do trabalho,
Foi esmagado
Por um único dedo
Da estátua do Faraó.

A mãe dele ouviu o grito,
Mesmo distante e
Quase inaudível,
Sentiu a morte do filho,
Veio em sua busca.
Vendo de longe
Aquelas esculturas estranhas,
Grandes e tão vívidas.

Sentiu medo,
Uma mãe sempre anda
Por seu filho,
Após o sentir do medo,
Está seu três passos,
Depois retornou correndo
Até o esposo.

Contou o que viu.
- o quê?
Indagou Fragerto atônito.
- desenhos de pessoas
Feitos da areia
Grandes, enormes,
Mas pareciam vivos.
Ela disse .

Com suas mãos
Entre as mãos dele,
Trêmula e chorando.
- nosso filho,
Ele está lá,
Eu ainda o sinto!
Ela jogou-se em seus braços.
Reuniram o povo todo,
Buscaram um plano,
Decidiram usar o petróleo,
O poço petrolífero.

Então, ela correu com uma pedra
Na mão,
Mostrou de longe
Brilhando sob o sol,
O reluzir do rubi,
Mal cabia entre suas duas mãos,
Brilhava mais que o sol.

Vendo aquilo
Em plena luz do dia
A estátua foi só encontro,
Com um passo esmagou
As torres do castelo,
No segundo derrubou o muro,
Em poucos a teria pego.

Mas o coração de uma mãe
Funciona melhor
Que qualquer outro,
E este acelerou e implorou
Socorro.

Ela correu com o rubi
Em uma mão levantada,
Correu feito louca,
Com uma força nunca toda,
Correu,
Sua saia negra esvoaçante
Colava em seu corpo,
E ela corria.

A enorme estátua andava,
Cada passo equivale a cem
Dos dela,
Era mais que correr,
Mas uma mãe vence dores
Que nem mil amores
Saberiam dizer,
E antes de ser mãe,
Uma mãe sentiu mil amores.

Está soube disso,
Correu,
Então, a dez metros do poço,
Caiu,
Quebrou a perna
Entalou na areia,
O povo vendo aquela estátua
Ficou imóvel e com medo.

Muitos correram,
Não souberam o que fazer,
Estava próximo de suas moradas,
Estavam em perigo evidente.
Correram,
A estátua num passo
Pisou sobre a mulher,
Então o rubi reluziu
A frente,
Brilhou sobre aquele poço,
Aparentemente coberto
De areia.

A estátua deu segundo passo,
Afundou a perna lá dentro,
O marido passou a jogar
Pedras na estátua do Faraó,
Gritou,
Tentou lhe atingir com
Ferramentas de lutas.
Ele não sentiu dor.

Estátuas não sentem.
Mas desejou o rubi,
Estátuas não pensam.
Não muito.
Puxou-se e deu o segundo passo,
Afundou no petróleo líquido
E escorregadio.
Tentou puxar-se
Com suas mãos,
Afundou mais.

Ficou.
O homem vendo a mulher
Esmagada,
Correu em busca do filho,
Chegou a tempo de ver
Todas as estátuas
Se estatificar.
Conforme estavam
Pararam.
Ficaram imóveis.

Uma esmagava a cabeça
De um homem,
Erguendo-o através do crânio.
Lá no alto
Com ele pendurado ficou.
Outra sentava rindo
De um que escavava.
Assim ficou.
Outra pisoteava.

Uma recebia uma coroa
De pedrarias.
Ficou agachada
Próxima aquela pessoa.
Assim ficaram todas.
Imóveis,
Viradas para todos os lados.

Encontrou o filho esmagado,
Muitas partes dele
Haviam sido comidas
Pelos animais,
Mas reconheceu-o.
Um pai sempre reconhece um filho.
O outro.
Ficou no petróleo.

Estátua do Faraó

- Eu juro.
Ela disse,
Olhando em seus olhos.

No altar de Allah,
Sob o sol de outono,
Com flores esvoaçando no ar,
Tocando ambos os rostos.

Segurando as mãos de Edilvandro,
Rostos próximos,
Olhares cruzados.
- Eu juro.

Ele respondeu em seus lábios,
Feito um sopro de vida,
Que somente o marido
Sabe repousar nos lábios
Desta que ama.

Viraram-se ao celebrante.
Ele ergueu a taça de vinho
Do altar de pedra
Que havia em frente a ambos.
- comemorem!

Disse.
Ela desceu a mão até a dele,
Que agora virava-se
De frente para o povo,
Haviam muitos convidados,
Sorrisos estampados
Em todos os rostos.

Veio a areia fina,
Repousou nos cabelos,
Vieram mais flores,
E o doce cheiro.

Passou o tempo,
Eles trabalharam no cultivo,
De uva.
De flores,
E um pomar de laranja.

Tudo transcorria bem.
Planejavam o primeiro filho.
Sonhavam a vida que tinham.
Contudo, veio a chuva.
Levou tudo.

Quando a casa desceu,
Eles acordaram.
Ela ficou presa sob um pilar,
Sobre a cama de ambos.
Ele acordou com o susto,
Num sopro estava sobre a água.

Mas cadê sua amada?
Chamou-a.
Gritou seu nome.
Sentiu medo.
Parecia não haver nada
Além de água.
Água em abundância.

Água suja.
E sua amada sumiu.
Retornou.
Mal via-se um pilar,
Lá em cima.
Cada vez mais distante dele.

Lá estava a casa.
Ele sentiu pelo sopro
Da vida,
Que não muito distante repousou
Em sua boca,
Que precisava voltar.
Retornou num ímpeto,
Usando de toda sua força,
Todo o vigor,
Todo o seu amor.

Chamou por Allah,
Rezou tomando água suja,
E tossindo.
Rezou e chamou.
-Fareia.
E nada de Fareia.
Nada de seu coração se acalmar.

Sentia que o sopro
Da vida partia.
E que algo o feria.
Sentia ela distante.
Nadou e nadou mais.
Mesmo demorando,
Alcançou o pilar,
 Agarrou-se,
Sentiu os braços sendo puxados,
O corpo jogou-se para trás,
E água entrou nos seus
Pulmões.

E nada de Fareia.
Gritou.
-Ahhhannnnn.
Fareiaaaaa.
Lá no fundo,
A duna de areia escorregou.
As flores escorreram
Feito água que derrete.

Parecia magia.
Parecia milagre.
Beirava a maldição.
Ali onde estavam a chuva caia.
Lá longe nada se via?
Mergulhou.
Bateu a cabeça no lado do pilar,
Empurrou-se com a própria,
E bateu o braço.

Aí doeu.
-argggg.
Então, pôs a mão no coração,
E o sopro de seus lábios sumia.
Era Fareia.
Não podia ser outra coisa,
Um tecido,
Um cobertor,
Não.

Era Fareia deitada na cama,
E sobre ela um pilar.
Allah ele disse.
E seus pulmões inventaram o ar.
Nadou e já estava a três metros,
Puxou-se nos escaibros,
E retornou,
Pegou o pilar,
Usou de toda sua força
E levantou a custo.

Fareia foi puxada pela água,
Mas escapou.
Não apresentava sinal de vida.
Mas em seus lábios
Rodeados havia.
Ele sentia aquele sopro
Jurado no altar.

Ele podia sentir.
Foi mais forte ainda.
Empurrou o pilar
E nadou num impulso até ela,
A puxou.
Conseguiu chegar com ela
Até a beira da areia,
Soltou-a e a fez retornar.

Com um beijo
Ajoelhado próximo
A sua perna direita.
Simplesmente tocou seus lábios.
Veio o calor dele,
Intensificado e deu-lhe
O impulso necessário.

Ela retornou.
O abraçou.
Chorou.
Ele subiu com ela mais
Para o alto.
Sentaram-se e olharam.
Um lado do outro, abraçados.

-perdemos tudo.
-tudo.
Ela respondeu.
Veio a fome.
Então, andaram a esmo,
Até encontrarem um povo.
Lá, ao lado de outros.

Eles começaram a trabalhar do pó,
Juntaram o pó a água,
Única coisa que havia
De gratuito,
Precisavam sobreviver.
Fizeram, aí, uma estátua,
Uma linda estátua do Faraó.

Ele chegou passou por eles,
Jogou o resto do seu pão,
E desgostou.
Pisou nela.
Levou-a a nada.
Mas a tarde,
Quando foi trocar
Suas vestes de ouro,
Olhando sua imagem
Numa pedra turquesa gigante,
Viu-se bonito.

Lembrou-se do casal.
Chamou-os.
Eles chegaram trêmulos
E fracos,
Dedos feridos,
Rostos fundos e vazios.
-desenhem-me
Na areia.

Eles olharam um para
O outro e afirmaram
Com um menear de cabeça.
-desenhem-me que fique!
Eles se abraçaram.
O faraó lhes trouxe
Uma bandeja de frutas.

Entregou a eles.
E fez um gesto de saída.
Uma enorme porta branca
De pedra,
Abriu-se e se fechou
Em seus troncos de ferro
Grosso.
Saíram e puseram-se
A desenhar.

Aprenderam a deixá-la secar,
E molda-la até que virasse pedra.
Soprando um na boca
Do outro de tempos
Em tempos.
A estátua de repente
E através de seu trabalho ficou dura.

Ganharam comida
Todos os dias.
Ela tinha vida.
Colorido, curvas e fisionomia.
O povo que passava
Se assustava.

-Por Allah, tem vida.
Ao término do trabalho,
Eles abraçaram-se,
Se ergueram e sopraram juntos
Na estátua.
Viva.
Do monte que caiu em pó,
O casal passou a fazer estátuas.
Veio o vento
Ela ficou em pé.

Veio a chuva e não desmoronou.
Veio a maldita enchente,
Outra vez,
Eles fugiram e ficaram
Nos ombros da estátua do Faraó.
A enchente não os alcançou.
Não levou nenhuma estátua,
Eles passaram a desenhar de um a um,
Por comida.

Levou casas,
Comida e pessoas.
No castelo do Faraó fez um trincado,
Foram obrigados a trocar
A pedra da porta.
Trincou aos pés do Faraó,
Derrubando estilhaços
Quase invisíveis,
Um caiu no olho de seu filho
E o deixou cego.

Outros derrubaram
Muitas pessoas de cara no chão.
Parecia sabão,
Quanto mais se tentava limpar
Mais sofria.

A própria esposa do Faraó,
Com seu vestido vermelho
E cabelos negros encaracolados,
Foi limpar para se livrar
Daquilo tudo
E caiu de cabeça nos cacos,
Cortou-se,
Arranhou a coroa,
Arrancou boa parte do rosto,
Por simplesmente encostar ali.

Ela estava a centímetros do chão
Quando caiu.
Os estilhaços cortavam
Mais que faca.
Mil empregadas perderam seus dedos,
A casa vez de juntar os cacos,
Entraram partículas tão pequenas
Que não eram vistas,
Parecia miragem,
Então, continuava-se a limpeza,
E de repente caia um dedo.

Sangue jogou naquele chão
Mais que a tempestade fez lá fora.
A cara da esposa rainha,
Inchou sofreu pequena amputação,
Ela adoeceu.

O rosto inchou.
Foi ver-se na estátua de rubi,
E havia algo no rosto,
Lá dentro,
Retirou e era um estilhaço.
Meses depois,
O Faraó foi sair para fora,
Pisou no chão,
Sentiu cacos sobre seu chinelo,
De madeira e folhas,
E caiu no chão,
Resvalando por metros,
Suas costas verteram sangue.

Mas, ele levantou-se,
Olhou lá fora
E viu as estátuas em pé,
Trocou sua porta por colunas
De si e da esposa e do filho.
Houve o fim do desenho,
E o sopro.

Tudo ficou perfeito.
Ganharam em retorno
Um aposento no castelo,
Podiam ter seus filhos,
Não lhes faltava comida.
O povo oeste,
Vizinho daquele povo,
Invejou as estátuas,
Que em poucos anos
Multiplicaram-se,
Formando vasos, desenhos,
Pilares e novas maneiras
De construções e planejamento.

Então, juntou todos os seus homens,
Os mais fortes e marchou até lá,
De arma em punho
E gritou na garganta.
Chegando próximo
Começaram a bater os pés,
Com toda força
Gerando tremor nas areias.

Mas viram que foi pouco,
E chamaram todos os homens,
Chegaram próximos
E pisotearam com gritos guturais.
As estátuas pareciam reais,
Pareciam estar diante do próprio povo.
Então, gritavam
E ele nada falava.

Pisotearam e não reagiam.
Vendo que foi pouco
Chamaram as mulheres,
Elas pisavam, gritavam.
Todos juntos pisavam e gritavam.
Mas as estátuas não se moviam.
Retornaram e se calaram.

Não houve guerra.
Apenas areia estremecendo
E estátuas sérias
Com olhos para os céus.
De tanto investir em pisotear
Viram, também o povo oeste,
Que Allah é bom.

terça-feira, 11 de março de 2025

Universo

Em seis dias Allah fez
Os céus e a terra,
A lua e o sol para um correr
Atrás do outro,
E as estrelas para empecilho.

Vendo que o encontro
Era evidente,
Ele fez dia e noite,
Vendo nisto
Um possível erro,
Ele fez os planetas.

Enormes e distantes,
Vendo nisto a solidão
Permitiu a eles o vagar,
Até que criassem
Uma sincronia.

No sétimo,
Sentado em seu trono,
Ele viu a possibilidade
De divertir-se,
Não foi aí que ele fez seu povo,
Do contrário,
Usou um véu de estrelas
E amarrou cada planeta.

Depois brincou
De entrelaça-los,
Levou um para lá,
E outro para cá,
Aproximou demais um
Do sol,
E o sol o consumiu,
Fez dele pó.

Allah quase rasgou o véu,
Decidiu tomar mais cuidado,
E assim, fez o tempo,
O movimentar-se de tudo.
O encontrar-se,
E o distanciar.

Allah nunca soltou
Seu véu de estrelas,
E lá na terra Hud
Foi enviado para dizer:
“adorai Allah, também há profecias mentirosas.
Allah não é um Deus que brinca”.

Povo Leste

Aquele povo acreditou
Em deuses,
Mais de um,
Então, escolheu para glorificar
O fogo,
Tudo investiram nele.

Houve a noite,
O fogo foi bom,
Fez luz,
Veio o inverno,
O fogo foi bom,
Fez o calor,
Veio o predador,
O fogo foi bom,
Fez a tocha para espantar.

Veio a sede,
O povo aprendeu a beber dele,
Disse o povo,
Ajoelha-se e estende suas mãos,
Sentira sua sede saciada,
Assim o foi.

O fogo consumiu
Aos poucos o que havia
No seu redor,
Ele cobrava para existir.

Outro povo,
Do leste escolheu Allah,
Lá houve a água,
Houve a noite,
Eles inventaram a tocha.

Fez-se o inverno,
Eles criaram a fogueira,
Houve o predador,
Eles inventaram a caça.

Havia neste povo
Um lindo poço de água pura,
Eles fizeram dele um lago,
E o transformaram num rio,
Mas Allah interveio,
“Este outro povo
Não possui fé em minhas palavras
A água não irá chegar lá”.

E ao desviarem o fluxo do poço
Para lago,
O povo de lá não se aproximou
O fogo exigiu alimento,
Isto lhes consumiu o tempo,
Nisto, o povo leste
Desviou o lago para o curso
De um rio.

Mas o demônio não aceitou,
Antes que a água chegasse
Até eles o rio secava,
E se afastava.

Lá houve terra seca,
O demônio prefere adoradores.
O fogo consumiu a terra.
Mas não atingiu o nível da água.

O fogo nunca parou de crescer
Até consumir todo aquele fogo,
Restou apenas os ossos.

Então, houve o vento
E o vento lhes trouxe nuvens,
Com isto a chuva que caiu
Dos céus
Ressuscitou aquele povo,
E houve a vida,
Fez-se de lá o início.

No leste o povo viu
Que estava correto
E seguiu.
Porém, o povo leste
Pode testemunhar, ainda.

O cajado de Moisés 
Foi consumido pelo fogo.
Tudo retornou,
O cajado mágico 
Que se tornava serpente 
Virou pó e mais nada.

Polícia e Tiro

Sirenes, buzinas ou apitos Não avisaram Que uma guerra Havia iniciado no país inteiro. A televisão foi cancelada Por ordem...