- Eu juro.
Ela disse,
Olhando em seus olhos.
No altar de Allah,
Sob o sol de outono,
Com flores esvoaçando no ar,
Tocando ambos os rostos.
Segurando as mãos de Edilvandro,
Rostos próximos,
Olhares cruzados.
- Eu juro.
Ele respondeu em seus lábios,
Feito um sopro de vida,
Que somente o marido
Sabe repousar nos lábios
Desta que ama.
Viraram-se ao celebrante.
Ele ergueu a taça de vinho
Do altar de pedra
Que havia em frente a ambos.
- comemorem!
Disse.
Ela desceu a mão até a dele,
Que agora virava-se
De frente para o povo,
Haviam muitos convidados,
Sorrisos estampados
Em todos os rostos.
Veio a areia fina,
Repousou nos cabelos,
Vieram mais flores,
E o doce cheiro.
Passou o tempo,
Eles trabalharam no cultivo,
De uva.
De flores,
E um pomar de laranja.
Tudo transcorria bem.
Planejavam o primeiro filho.
Sonhavam a vida que tinham.
Contudo, veio a chuva.
Levou tudo.
Quando a casa desceu,
Eles acordaram.
Ela ficou presa sob um pilar,
Sobre a cama de ambos.
Ele acordou com o susto,
Num sopro estava sobre a água.
Mas cadê sua amada?
Chamou-a.
Gritou seu nome.
Sentiu medo.
Parecia não haver nada
Além de água.
Água em abundância.
Água suja.
E sua amada sumiu.
Retornou.
Mal via-se um pilar,
Lá em cima.
Cada vez mais distante dele.
Lá estava a casa.
Ele sentiu pelo sopro
Da vida,
Que não muito distante repousou
Em sua boca,
Que precisava voltar.
Retornou num ímpeto,
Usando de toda sua força,
Todo o vigor,
Todo o seu amor.
Chamou por Allah,
Rezou tomando água suja,
E tossindo.
Rezou e chamou.
-Fareia.
E nada de Fareia.
Nada de seu coração se acalmar.
Sentia que o sopro
Da vida partia.
E que algo o feria.
Sentia ela distante.
Nadou e nadou mais.
Mesmo demorando,
Alcançou o pilar,
Agarrou-se,
Sentiu os braços sendo puxados,
O corpo jogou-se para trás,
E água entrou nos seus
Pulmões.
E nada de Fareia.
Gritou.
-Ahhhannnnn.
Fareiaaaaa.
Lá no fundo,
A duna de areia escorregou.
As flores escorreram
Feito água que derrete.
Parecia magia.
Parecia milagre.
Beirava a maldição.
Ali onde estavam a chuva caia.
Lá longe nada se via?
Mergulhou.
Bateu a cabeça no lado do pilar,
Empurrou-se com a própria,
E bateu o braço.
Aí doeu.
-argggg.
Então, pôs a mão no coração,
E o sopro de seus lábios sumia.
Era Fareia.
Não podia ser outra coisa,
Um tecido,
Um cobertor,
Não.
Era Fareia deitada na cama,
E sobre ela um pilar.
Allah ele disse.
E seus pulmões inventaram o ar.
Nadou e já estava a três metros,
Puxou-se nos escaibros,
E retornou,
Pegou o pilar,
Usou de toda sua força
E levantou a custo.
Fareia foi puxada pela água,
Mas escapou.
Não apresentava sinal de vida.
Mas em seus lábios
Rodeados havia.
Ele sentia aquele sopro
Jurado no altar.
Ele podia sentir.
Foi mais forte ainda.
Empurrou o pilar
E nadou num impulso até ela,
A puxou.
Conseguiu chegar com ela
Até a beira da areia,
Soltou-a e a fez retornar.
Com um beijo
Ajoelhado próximo
A sua perna direita.
Simplesmente tocou seus lábios.
Veio o calor dele,
Intensificado e deu-lhe
O impulso necessário.
Ela retornou.
O abraçou.
Chorou.
Ele subiu com ela mais
Para o alto.
Sentaram-se e olharam.
Um lado do outro, abraçados.
-perdemos tudo.
-tudo.
Ela respondeu.
Veio a fome.
Então, andaram a esmo,
Até encontrarem um povo.
Lá, ao lado de outros.
Eles começaram a trabalhar do pó,
Juntaram o pó a água,
Única coisa que havia
De gratuito,
Precisavam sobreviver.
Fizeram, aí, uma estátua,
Uma linda estátua do Faraó.
Ele chegou passou por eles,
Jogou o resto do seu pão,
E desgostou.
Pisou nela.
Levou-a a nada.
Mas a tarde,
Quando foi trocar
Suas vestes de ouro,
Olhando sua imagem
Numa pedra turquesa gigante,
Viu-se bonito.
Lembrou-se do casal.
Chamou-os.
Eles chegaram trêmulos
E fracos,
Dedos feridos,
Rostos fundos e vazios.
-desenhem-me
Na areia.
Eles olharam um para
O outro e afirmaram
Com um menear de cabeça.
-desenhem-me que fique!
Eles se abraçaram.
O faraó lhes trouxe
Uma bandeja de frutas.
Entregou a eles.
E fez um gesto de saída.
Uma enorme porta branca
De pedra,
Abriu-se e se fechou
Em seus troncos de ferro
Grosso.
Saíram e puseram-se
A desenhar.
Aprenderam a deixá-la secar,
E molda-la até que virasse pedra.
Soprando um na boca
Do outro de tempos
Em tempos.
A estátua de repente
E através de seu trabalho ficou dura.
Ganharam comida
Todos os dias.
Ela tinha vida.
Colorido, curvas e fisionomia.
O povo que passava
Se assustava.
-Por Allah, tem vida.
Ao término do trabalho,
Eles abraçaram-se,
Se ergueram e sopraram juntos
Na estátua.
Viva.
Do monte que caiu em pó,
O casal passou a fazer estátuas.
Veio o vento
Ela ficou em pé.
Veio a chuva e não desmoronou.
Veio a maldita enchente,
Outra vez,
Eles fugiram e ficaram
Nos ombros da estátua do Faraó.
A enchente não os alcançou.
Não levou nenhuma estátua,
Eles passaram a desenhar de um a um,
Por comida.
Levou casas,
Comida e pessoas.
No castelo do Faraó fez um trincado,
Foram obrigados a trocar
A pedra da porta.
Trincou aos pés do Faraó,
Derrubando estilhaços
Quase invisíveis,
Um caiu no olho de seu filho
E o deixou cego.
Outros derrubaram
Muitas pessoas de cara no chão.
Parecia sabão,
Quanto mais se tentava limpar
Mais sofria.
A própria esposa do Faraó,
Com seu vestido vermelho
E cabelos negros encaracolados,
Foi limpar para se livrar
Daquilo tudo
E caiu de cabeça nos cacos,
Cortou-se,
Arranhou a coroa,
Arrancou boa parte do rosto,
Por simplesmente encostar ali.
Ela estava a centímetros do chão
Quando caiu.
Os estilhaços cortavam
Mais que faca.
Mil empregadas perderam seus dedos,
A casa vez de juntar os cacos,
Entraram partículas tão pequenas
Que não eram vistas,
Parecia miragem,
Então, continuava-se a limpeza,
E de repente caia um dedo.
Sangue jogou naquele chão
Mais que a tempestade fez lá fora.
A cara da esposa rainha,
Inchou sofreu pequena amputação,
Ela adoeceu.
O rosto inchou.
Foi ver-se na estátua de rubi,
E havia algo no rosto,
Lá dentro,
Retirou e era um estilhaço.
Meses depois,
O Faraó foi sair para fora,
Pisou no chão,
Sentiu cacos sobre seu chinelo,
De madeira e folhas,
E caiu no chão,
Resvalando por metros,
Suas costas verteram sangue.
Mas, ele levantou-se,
Olhou lá fora
E viu as estátuas em pé,
Trocou sua porta por colunas
De si e da esposa e do filho.
Houve o fim do desenho,
E o sopro.
Tudo ficou perfeito.
Ganharam em retorno
Um aposento no castelo,
Podiam ter seus filhos,
Não lhes faltava comida.
O povo oeste,
Vizinho daquele povo,
Invejou as estátuas,
Que em poucos anos
Multiplicaram-se,
Formando vasos, desenhos,
Pilares e novas maneiras
De construções e planejamento.
Então, juntou todos os seus homens,
Os mais fortes e marchou até lá,
De arma em punho
E gritou na garganta.
Chegando próximo
Começaram a bater os pés,
Com toda força
Gerando tremor nas areias.
Mas viram que foi pouco,
E chamaram todos os homens,
Chegaram próximos
E pisotearam com gritos guturais.
As estátuas pareciam reais,
Pareciam estar diante do próprio povo.
Então, gritavam
E ele nada falava.
Pisotearam e não reagiam.
Vendo que foi pouco
Chamaram as mulheres,
Elas pisavam, gritavam.
Todos juntos pisavam e gritavam.
Mas as estátuas não se moviam.
Retornaram e se calaram.
Não houve guerra.
Apenas areia estremecendo
E estátuas sérias
Com olhos para os céus.
De tanto investir em pisotear
Viram, também o povo oeste,
Que Allah é bom.
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