sábado, 7 de dezembro de 2024

Mudanças

20 anos,
A esperança de um beijo,
O desejo de compromissar,
E o medo de não satisfazer,
Em outras palavras,
Não corresponder expectativas.

Ultimamente,
Se dedicava as flores,
Não recebia visitas frequentes,
Exceto o dono da casa
A quem pagava aluguel.

A mãe sempre o recebia bem,
Ele não deixava o local
Sem adquirir algo.
Não viu nada nele
Que não fosse olhares
Que lhe representaram
Um tanto curiosos,
Suas atenções não tardaram
A se desviar, exclusivamente, para a mãe.

Mesmo com seu vestido floral,
Pés descalços,
Chuva fina no corpo,
Ele não lhe dirigia palavra,
Ou gesto de desgosto,
Olhares atentos a sua mãe,
Bastante exclusivo.

Então, o objetivo dele ali
Não era ela,
Com certeza.
De repente,
Fosse singela amizade,
Solidões que se complementam,
Mas nada que a incluísse.

Contudo,
Em algumas de suas visitas,
Ela se juntou a eles,
Quando tiveram longas conversas,
Mas, em seu íntimo,
Sentia-se um tanto intrusa,
Como se eles quisessem mais intimidade.

A conversa foi cordial
O bastante
Para que ela nada temesse,
Nem ao menos
Sua mãe apaixonar-se,
Se casar e ir embora com ele,
Deixando-a ali sozinha.

Só em pensar lhe vinha
Lágrimas no olhar,
Ela tinha medo de perdas,
De abandonos,
De partidas desavisadas.
O medo fere por si próprio,
Mas vê-los lhe assegurou.

Todavia, seu coração se apertava,
Perder o pai
E agora ver seu lugar substituir-se.
Tinha medo de ser esquecida.
A morte levou o pai,
Não foi o querer dele,
Foi algo mais forte,
Agora, o simples querer de um homem,
Um estranho,
A faria esquecer-se?

Desapegar daquele com quem
Conviveu todos os seus anos...
Um calafrio lhe corria a espinha,
E trazia o medo
De quê a fizesse desapegar-se dela,
Nunca a mãe ficou tanto tempo distante,
Vendo-a,
Sabia-se,
Nunca ela esteve mais radiante,
Com uma certa jovialidade
No olhar,
E suas horas passavam,
E ela não a chamava,
Não a incluía.

Não foram muitos dias
Para que ela dispensasse a ele
Muitas de suas horas,
E que ao se aproximar da filha,
Não falasse sobre lhe sentir falta,
Aliás, Antônio, se tornou nome afamado,
E de todo querido,
Diga-se mais,
Desejado.

Aliado a isso,
Nem um rapaz interessante
Parecia disponível para lhe
Dar segurança,
Ela sentia medo de dividir a mãe,
Ou de quê a distância lhe levasse,
O pai faleceu a meses,
A morte é horrível,
O não ver mais é terrível.

Mas sempre que tentava
Falar algo negativo a mãe,
Contemplar o sorriso esplendoroso
Em seu rosto
Lhe tirava a coragem,
Ela estava feliz,
Vendia suas flores,
Conseguia dinheiro
Para as despesas
E até mais que isso,
Mas o motivo maior
Parecia ser aquele homem,
Aquele estranho,
Tão atencioso
E direcionado a ela.

É sabido,
Ela nunca tentou
Ter alguém,
Nem notou sua mãe
Ter tentado algo similar,
Sabe-se,
Casados, as vezes, se traem.
Mas ver eles dois
Lhe trazia calentura,
Aquecida sua alma,
A faziam desejar ter uma companhia,
Conhecer um alguém
Mais afundo,
Direcionar-se.

O amor entre casais
Parece ser lindo,
Ela viu isso nos pais,
Queria saber o que é sentir isso.

Pegou a esponja,
O balde,
Pôs água e detergente nele,
Juntou a escova de lavar roupa,
Abriu todas as janelas
E colocou-se a limpar,
Desta vez,
Daria isto sozinha,
Sem pagar ou procurar ajuda,
Iria lavar toda as bordas das janelas,
E também as paredes da casa,
Se preciso fosse,
Lavaria de balde a balde.

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