O tempo passou,
A época chuvosa auxiliou,
O jardim floresceu,
Fez sementes,
As sementes foram plantadas.
Novas mudas emergiram
De antigas matrizes,
E latas e outros objetos encontrados
Foram utilizados como vasos.
O jardim se transformou
Ao redor da casa,
Não deixando espaço
Para tantas flores lindas.
A vizinhança logo soube
E uma vizinha ou outra
Passou a demonstrar interesse
Frequente nas flores,
Com apego,
Mãe e filha
Passaram a fazer preço.
De um ou mais,
Os vasos simples foram vendidos,
E outras mudas sendo plantadas.
Nunca aparentou diminuir,
Mas o dinheiro passou a entrar na casa.
Época antiga,
O trabalho era proibido para a mulher,
Mas cuidar de jardim
Sempre foi passatempo,
Diversão feminina.
Um dia,
A mãe fez grande venda,
Sob encomenda
Para o final da cidade,
Eram poucos vasos,
No entanto,
Todos grandes e lindos,
Espadas de São Jorge,
Roseiras e folhagens,
Isto rendeu grande valor.
Contudo,
Ao se aproximar do carro
Observou que o pneu estava furado,
Pegou o macaco de levantar o carro,
E a ferramenta para tirar o pneu,
Porém, não teve forças
Para arrodear o macaco
E ele levantar o carro.
Sem isto,
Nada feito,
O pneu não seria trocado,
E o carro não sairia do lugar.
Ela se desesperou,
Sentou na brita quente,
E chorou escorada na roda.
A filha também não teve forças,
Não havia quem ajudasse,
Tudo parecia perdido,
O dinheiro escasso,
Estava começando a entrar no bolso,
Porém, o negócio não poderia falhar,
A promessa da entrega
Com hora e dias certos
Precisava ser cumprida.
Trêmula, magra e frágil,
Entrou em casa,
Pegou o telefone para matar-se,
Confesso que seu primeiro pensamento
Foi passar ele no próprio pescoço,
Dar fim a vida cruel de desgosto,
Se alimentar com pouco dinheiro
Não dava direito de escolha,
Ela começava a esvair-se.
Contudo,
Lembrou de um nome,
Já que o aluguel estava próximo
Do vencimento,
Ligou para o Antônio,
O dono da casa,
Ele atendeu,
Foi gentil e
Dirigiu-se imediatamente
Até ela.
Ao chegar foi recebido
Por uma mulher insegura,
Magra, frágil e desalentada.
Trocou o pneu imediatamente,
Decidiu enfeitar suas propriedades,
E substituiu todas as suas flores artificiais
Por as flores dela mesma.
Nisto ela economizou meses de aluguel,
Recebeu dinheiro em pagamento,
E conseguiu um amigo
Que passou a visitá-la toda tarde,
Para falar de flores,
Da vida e outros contentamento.
Mês e pouco se passou:
- como eu gostaria de seu perdão,
Eu cheguei aqui com tanto medo,
Senti que todo o redor
Era meu inimigo,
Peguei até certa aversão,
Não pensei que encontraria
Aqui mesmo,
Um amigo.
Ela disse isso,
E se recostou nele,
Sem saber por quê
Movida apenas por carinho,
Estendeu um braço
Por seus ombros
E o apertou,
Estendeu a outra mão
Em sua clavícula
E escorou-se meio que em si própria,
Tanto quanto nele.
- eu entendo seus medos,
Deve ter sido difícil ficar viúva,
Ver sua filha sofrer,
E saber que não o teriam de volta.
Ele respondeu,
Baixou um beijo sobre a mão dela,
E recostou-se na mesma mão,
De maneira que ela beijava sua nuca.
Ele estava gordo,
Com roupa mal passada,
Costura desfeita,
Sapatos desajeitados,
Parecia um homem esquecido,
Descobriu ela,
Que era divorciado.
Morava com a mãe,
Ela amava flores.
Encomendou sementes,
Muitas sementes para ela,
Que seriam recebidas
Ao final da estação.
Caminharam por horas no jardim,
Encontraram o ninho
De um passarinho,
Salvaram um beija-flor
Que ficou preso
Em um hibisco cor de rosa fechado.
A entrega foi feita sem atrasos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário