Era como se eu tivesse percorrido quilômetros sem parar,
Como se todo o meu passado não tivesse mais sentido,
Como se em toda a minha vida eu tivesse percorrido a esmo,
Aqui, diante do seu olhar, percebi que tudo ganhava novo
sentido,
Como se todo o tempo em que estive destituído de sua
presença,
Não apenas fosse carente de razão, mas de qualquer emoção,
Sabe aquela música que você ama, mas presta atenção na
letra,
E por mais que a encante ela na verdade não lhe diz nada?
Sabe como é vagar como se estivesse simplesmente a
perambular?
Quando mesmo as palavras mais bonitas são ausentes de vida?
Quando mesmo os momentos mais belos deslizam para o vazio,
Condenados ao esquecimento de uma alma sem sentimento,
Não que antes de encontrá-la, meus olhos azuis fossem
gélidos,
Apesar de refletirem a cor dos céus eles nunca estiveram lá
em cima,
Não tão distantes a ponto de eu não sentir nada,
É claro que sentia, mas isso beirava a insignificância
diante dela,
Mas eu precisava de um pouco de bom senso, prendi o fôlego,
Queria encontrar as respostas, pensar por mim mesmo,
Por que o coração decide tomar as rédeas da nossa alma
E acreditar que pode direcionar nosso caminho?
Posso estar errado, mas antes parecia que não era dessa
forma,
Agora tudo tomava outra direção, eu me sentia perdido,
Sempre gostei de ter o controle sobre tudo que acontecia,
E agora me via descompassado, então algo havia mudado?
Ante a um simples olhar e todas as certezas oscilavam?
Menos o coração, este parecia ter mais certeza que nunca,
Sentia minha garganta queimar por uma urgência desconhecida,
Talvez eu precisasse de um beijo, uma carícia escondida,
Diante das armadilhas do amor eu não passava de um
preambular,
Um esboço de tudo que sempre acreditei, mas nunca cheguei a
viver,
Ela sorriu e seus olhos refletiram um brilho simpático,
Eu, um tanto inseguro, talvez assim pudesse me descrever...
Sorri e a olhei da melhor forma que pude,
Dei voz ao coração para que pulsasse forte
E demonstrasse tudo aquilo que eu sentia dentro de mim,
Mas parecia não saber expressar, não naquela hora,
O amor deveria existir daquele jeito há muito tempo,
Da forma exata como tantos descreviam com suas palavras,
Mas de maneira estranhamente ausente dos meus passos,
Sentia meu coração sair do lugar e ir pulsar lá no alto,
Onde eu nunca imaginei que estaria, como se quisesse
toca-la,
Meus dedos sentiram isso, e pareciam convidá-la a se
aproximar,
Existiria alguma forma de evitar o amor? Naquela hora me pareceu
que não,
De repente meus gestos ficaram ausentes de mim e próximos da
emoção,
Me calei naquele momento e permiti que o amor me guiasse,
Não me incomodavam com o que o outros diriam, mas com alguém,
Um alguém especial que o destino havia me encarregado de
cuidar,
Um suspiro baixo escapou da minha boca como se recusasse o
silêncio,
Mesmo estando sem lua não haviam sombras naquela noite
escura,
Um coração pulsava alto demais para ser contido,
Enquanto outro parecia ouvir em silêncio, talvez, desatento?
Não porque não sentisse nada, mas por que estava distante,
Parecia que ela estava focada em algum ponto do horizonte,
Que sentido teria em deixar passar o amor sem tomar nem uma
atitude?
Como o fato de ela estar alheia ao seu redor iria me ajudar
com isso?
Eu nem mesmo acreditava no amor antes de vê-la passar na
minha frente,
Se os restantes das pessoas não acreditavam não haveria
alguma razão nisso?
Seja como for, naquele momento a razão andou mais depressa
que nós,
E antes mesmo de ela chegar até mim eu já estava apaixonado,
Antes que ela pusesse o seu olhar no meu, e se atentasse ao
que eu sentia,
Eu já a amava por toda uma vida e com o sentimento mais
puro,
Com certeza minha razão estava um pouco mais adiantada que
ela,
A pegaria de surpresa um pouco a frente e a convenceria,
Se houvesse alguma razão naquela hora estava mesmo em outro
lugar,
Os sentimentos eram mais intensos que minha capacidade de
pensar,
Fosse de outra forma eu não teria me enrolado tanto com as
palavras,
Eu precisava mudar minha postura encontrar uma forma de
tocá-la,
Talvez se eu conseguisse ordenar os pensamentos e falar algo
Ela entendesse o fato de eu estar tão apaixonado sem
pretextos,
Eu nunca entendi muito sobre o amor,
Mas acreditava que seria capaz de despertá-lo algum dia em
alguém,
Apesar de nunca ter me considerado um amante a moda antiga,
Eu sonhava em ter alguém com quem compartilhar minha alma,
Alguém com quem eu pudesse falar sem rodeios e ser
compreendido,
Alguém de quem eu não precisasse esconder meus pensamentos,
Alguém que de preferência não usasse isso contra mim depois,
Falar era algo que eu reconhecia, que me deixava
confortável,
Talvez ela desejasse me ouvir ao menos um pouco,
Quem sabe, também, poderia entender isso que eu sentia,
Apesar de talvez parecer vítreo eu nunca fui quebrável,
Muito menos minha alma havia sido esculpida no gelo,
E aquele olhar dela, tão meigo e desatento, eu não chamaria
de único,
Mas parecia próximo o suficiente para entender sobre o que
eu sentia,
Não desejei acreditar que ela estivesse tão distante quanto
parecia,
Não aceitei a ideia de que ela se colocasse onde eu não
pudesse alcançar...