O que posso adiantar de antemão,
É que nunca conheci a trágica história
Que vem de paixões enciumadas e sem emoção,
De ter seu coração primeiramente cheio de amor,
Depois arrastado até que toda a paixão se consuma,
Andar de regresso a regar a terra com lágrimas,
Não, adianto, não sou dessas,
Se você busca algo diferente disso,
Encerre nesta linha a leitura.
O rapaz de quem gostava,
Girou a lâmina entre seus dedos bondosos,
Apresentou maestria,
Chegou até meu corpo – me esquivei-,
Ele me puxou pela cintura,
Senti meu corpo colado ao dele,
Neste instante já não sabia se o queria,
Ele puxou-me para trás na distância de centímetros,
Então, passou a lâmina no botão,
Ele não resistiu e saltou longe,
Mas, eu permaneci forte o bastante,
Segura de não querer seus beijos- ainda não,
O botão imóvel e distante,
Eu tremula e sôfrega ousei olhar em seus olhos,
O que vi neles não se assemelhou ao que eu conhecia,
Mas encarei de frente – resistente,
Ele apertou minha cintura com força,
Soltei um gemido incerto,
Nisso dedos hábeis arrancaram o zíper,
Bem, abriram-no esta é a palavra exata,
Um arrepio gelado percorreu minha coluna,
Minha cabeça ficou tonta,
Meu pé caiu num encalço,
O salto riscou – apenas um pouco,
Com isso, meu corpo jogou-se na direção dele,
Eu não gostei nada disso,
Havia um jogo entre nós dois,
E ele estava apenas no início,
Ao retornar para trás usando toda a minha força,
O primeiro botão da minha camisa se abriu,
Um seio rosado ficou levemente a mostra,
O metal gelado percorreu meu pescoço,
Assim que ele me tocou com a carícia costumeira,
Fiquei ereta, me senti estagnada,
Acho que eu era um botão, um botão de rosa,
Fechado, mas prestes a abrir-se mediante sol quente,
Sedento por água,
Consciente de que não iria encontra-la,
Isso, o custaria a morte – e ele sabe,
A roseira sabe e eu também,
Mas, eu não sou uma flor,
Com um olhar de desdém,
Senti os botões serem arrancados,
A iniciar com um puxão de uma mão apenas,
A outra, carinhosamente, nunca saiu da minha cintura,
Quatro botões sobraram,
Não por muito tempo,
Foram cortados com um ato só,
Este ato me custou um leve aranhão vermelho,
Quase sangrento,
Arrepios descontrolados me percorriam,
Um sorriso beirou nos meus lábios,
Deixando meus dentes a mostra,
Coração aos saltos, mãos inseguras,
Busquei empurrá-lo,
Notei que já fazia isso a algum tempo,
Sem efeito,
Apenas um roxo inconsistente e tremulo,
Meu short amarelo manchou-se em vermelho,
Uma gota de sangue – dele,
Da lâmina que rasgou a blusa,
Prendi minha respiração,
E agora como reagiria,
Inconsistente procurei seu beijo,
Ele se recusou, se empurrou para trás,
Pude ver o rosto que amava fugir de mim,
Não sei confessar o que senti,
Ele movia a lâmina de um lado ao outro,
Creio que pensou que eu a buscaria,
De alguma forma ele imaginou que eu a desejaria,
Mas, não, isso fragilizou minhas forças,
Me vi colada ao seu peito nu e descompassado,
Então, ele curvou-se ao meu encontro,
Com os lábios pressionando minha orelha,
Sussurrou coisas inconsistentes ao meu ouvido,
-Esta lâmina anda sempre comigo,
É uma espécie de amuleto,
Me apego a ela,
Mas prefiro você em seu lugar:
Você gosta?
Não soube o que dizer,
Meu sorriso agora entrecortado tremia,
Meu olhar reluzia algo de ingratidão, será?
Naquele instante descobria que era capaz de matar,
E tudo que eu mais odiei foi a solidão que senti um dia,
Quis me livrar dela a todo custo,
Mas, isso me valia me achegar a ele,
E eu queria me livrar daquele aperto,
Eu o queria, você sabe, não preciso repetir,
Mas, aquele jeito me deixava arrisca, arredia,
Ele tornou a lâmina para perto,
Veio na direção do meu cabelo,
E cortou um chumaço,
Me colou na perna dele – soltou minha cintura,
Com a mão solta pegou a carteira e guardou o cabelo,
Eu ri desiquilibrada, embora bem segura,
Ele podia me manter estagnada com uma perna apenas,
Eu era forte porque o tinha,
Frágil porque não podia me livrar,
Levantei a cabeça e mostrei meus lábios avermelhados,
Poderia haver um outro alguém no lugar,
Isso me deixava agitada,
-Não gosto dela,
Sua voz ressoava profunda, sarcástica e segura
Enquanto removia minha calcinha com um puxão,
Como se não fosse absolutamente nada,
Notei então que deveria ter sido cortada,
Caso contrário me machucaria,
Não tive certeza,
Eu não podia enxergar direito o seu rosto,
Então, não falava mas balbuciava algo,
Gemidos, sorriso incontidos,
Ele me pressionava ao seu encontro,
Vividamente, me tocava com maciez e profundidade,
Seu rosto tinha a expressão indistinta e desconhecida,
Vi que se sentia homem e estava másculo,
-Caro Senhor diferente, notei que gosta de me manter....
Consegui dizer e com isso me desvencilhar para trás,
Me senti tocar a parede,
Bem depois disso, depois disso: você pode imaginar.