segunda-feira, 21 de abril de 2025

Vencedor da Corrida de Camelos

Segura o peão,
É peão não,
Quem chega é o vencedor,
De bandeira em mãos,
Veja bem,
Abandonou as cordas,
Mantém o controle
Por meio de seus próprios pés.

Ele não se senta,
Quem senta é a torcida,
De mãos erguidas
E queixo no chão,
Ninguém segura este campeão.

Veja como corre
Este camelo,
Bem trajado,
Incrível desvelo.

Parabéns,
Quem corre na areia
É o lindo camelo,
Vem de vermelho e negro,
Olhos seguros,
Objetivo em foco.

Lindos passos a desfilar,
Veja como é bem domado,
É incrível este camelo domesticado,
Bem ensinado,
Cuidado e amado.

Voam os pés
Sobre a areia
Do lindo camelo
De pelos sedosos.

Sorri o vencedor
Em pé sobre ele,
A desfilar seus feitos,
Domou e correu,
E foi perfeito!

Veja,
Se olhar de perto
Os olhos do camelo
Cor de areia da praia,
Eles sorriem pra torcida,
De tanto que gosta
De ser o vencedor,
O melhor das apostas.

Parabéns,
Também ao
Zeloso cuidador,
Trajado na cor areia,
Este rapaz gosta da velocidade,
De fazer voar a areia para trás,
De camuflar-se até chegar.

Camelo e domador,
São um só,
Músculos e desenvoltura,
Fé em Allah,
Que o troféu te espera.

Este camelo tem os pés na areia,
Ele não corre,
Parece voar,
A areia lhe pertence,
Vejam ela obedecer a seus pés,
E este árabe sabe de seus efeitos,
Domina os comandos,
Faz correr,
Faz vencer,
Parabéns!

A primeira corrida de camelos
Lhe concedeu o troféu
Você é o vencedor,
Zeloso domador,
Amado corredor.

E...

Encerrado o expediente,
Eu tento buscar seu nome,
Parece que você não entende,
Eu não diria que foge,
Nem se esconde,
Mas, cadê você?

Eu busco mensagem,
Uma foto com sua face,
Te vejo em partes,
Quem é este?
Bem,
Gostaria de saber.

Agora é o momento de esquecer,
Apagar a amizade,
Trocar o papo de eternidade,
Me afugentar do que houve,
Pra quê?
O que te fez sofrer?
O erro aconteceu em que fase?

Você me aquece,
E depois se arrefece,
Dentro de você,
Me conta o que acontece?

Não tem rubor na face,
Se esconde entre verdades,
Há medo em sua pele,
Ou diga a verdade,
Sem esperar meias viagens,
Quem é a outra mulher?

Duas Irmãs

Ela casou-se com um homem
Que era cineasta,
O que descobriu
Em sua noite de núpcias,
Depois do primeiro beijo,
O tirar do vestido de noiva,
É que ele foi na verdade
Um escritor há muitos anos,
Depois de seu único
E bem sucedido filme
Ele sofreu aquele bloqueio
Famoso entre os escritores,
Então, nunca mais escreveu
Única palavra
Ou até mesmo entendeu
Como conseguiu o primeiro.

Ela levantou-se
De cima do seu peito,
Ajeitou o smoking negro dele,
Reorganizou o vestido,
E não deu a ele o último beijo,
Saiu do quarto
E trancou a porta por fora,
Tudo bem até aí,
Tratava-se de um hotel
Alugado para a linda noite.

Na infância foi atriz famosa,
Dançava de vestido lambado,
Vendia suas fotos
Por poucos reais
Com autógrafo,
Mas a adolescência chegou,
Ela perdeu a paixão
Que havia
Entre ela e a câmera.

E passou a não ser chamada
Para mais nada,
Nem programas de auditório
Ou propagandas de comerciais.
Se entregou a Coca-Cola
E sanduíches rápidos,
Perdeu a voz
Ao ficar gorda e flácida.

Quanto a sua mão,
Nunca tentou escrever,
Então, sua diminuição
De movimentos
Não fez diferença
Para a vida pessoal.

Ela nunca distinguiu
Pessoal do profissional,
Tirar fotos com fãs,
Vendendo suas poses
E os abraços,
Beijinhos selados,
Sempre foi parte do dia-a-dia.

Mas, tudo diminuiu,
Menos o número da roupa,
42, 44 e 48.
Já no 48 passou para o esquecimento.
Nunca foi fã de vícios,
Exceto ela própria e sua imagem,
Claro, de dinheiro.
De dinheiro, óbvio.

Por quê não seria?
Sua irmã sofreu um acidente
Automobilístico,
Ela nunca descartou
Que fosse devido a sua fama,
Contudo, ao avaliar os traços
De seu lindo rosto
E perfil ao dirigir a cadeira de rodas,
Podia-se dizer que foi devido
A beleza estonteante
E unânime que possuía.

Enquanto, Jéssica cobrava poses,
Jussineira se apaixonava
E saia com os mais lindos garotos,
Suas fotos valiam reais,
As da irmã ternos beijos de amor.
Insaciáveis.
E correspondidos.

Não casou-se
Para acompanhar minhas viagens,
O trabalho sempre foi árduo,
Mas quando a vejo
Olhar fotos antigas,
Porquê ela sempre se esforçou
Para manter uma cópia de casa uma,
Eu ouso acreditar
Que ela gostava de conhecer
Novos garotos
E se divertia em suas conquistas.

Eu permaneci nas poses,
Ela escolheu viver.
Vi isso no dia em que saí sozinha,
Hoje moramos em cidade pequena,
Abandonada pelo tempo,
É mais fácil fingir que nunca existimos,
Do que admitir
Que foi sucesso
Mas, passou.

Feito fumaça
Que enquanto acesa toma conta,
Resta um cheiro intenso,
E um dia nem isso.
Eu fui ao mercado,
Coisa do cotidiano,
Jussineira levantou-se
Com a cadeira de rodas,
Chegou até a escada comprida,
Deixou a cadeira,
Cambaleante e sofrida.

Usou o corrimão,
Deu alguns passos
E não me pareceu que não
Se jogou.
Caiu e rolou.
Chegou ao final
E feriu-se.

Bateu com força
Contra o próprio rosto,
Beliscou-se,
Se arranhou,
Se feriu de toda forma.
Eu logo vi as imagens
Através do celular,
Eu instalei câmeras lá,
Então, voltei correndo
E não a deixei mais.

Agora, passou um ano,
Saímos juntas,
Os rapazes mexem conosco,
Nós sorrimos para todos,
Principalmente, os mais bonitos,
Então, ela disse:
- minha irmã,
Gostaria, agora, que você
Escrevesse sua história.

Com suas palavras
Contasse sua vida que
Foi tão bonita nos palcos.
Eu sorri para ela.
- e a sua,
Por quê você acha que
É menos importante?
Indaguei a ela.
- olha, querida, então, conte ambas.
Respondeu.

Forever

Domingo de abril,
Dia vinte,
Noite escura,
Eu aqui te busquei.

Quis provar seu beijo,
Dissipar a névoa
De um passado
Onde eu o amei,
E feito ontem,
O esperei.

Então, fique mais tempo comigo,
Me aperte forte em seus braços,
Sinta a sintonia que sinto,
Me tenha e entregue-se a isso.

Faz frio,
E a névoa se assemelha a chuva,
Contorne meu corpo
Com suas mãos,
Me entrega seus carinhos,
Agora eu posso ser sua.

Fui te procurar,
Não houve erro,
Nada do que senti ficou distante,
Você foi minha inspiração,
Hoje é realidade.

É verdade que sai a janela
Para te buscar,
Escrevi eternamente
Em muitas linhas do caderno escolar,
Como eu esqueceria isso?

Mas agora há algo maior,
Me desculpa,
Eu posso, finalmente te beijar,
E tenho duas promessas,
Não esquecer o que senti,
Te amar a rigor.

Os anos consumiram tantas coisas,
Você viveu,
Eu vivi,
Mas a estrada onde andei,
Nos caminhos que te busquei,
Ainda encontro os resquícios,
E isto, meu amor, é bom!

Você foi minha melhor make,
Senti-lo colado ao meu rosto,
Seu calor a escorrer por mim,
É perfeito!

Eu posso falar do passado,
Cruzar antigas ruas,
E desenhar para sempre
Com meu dedo ao vento,
E ainda eu não estarei errada,
Nem darei tempo
Para o arrependimento.

Você foi linda inspiração,
Hoje faz parte da minha vida,
Se quiser,
Porquê meu coração
Palpita seu nome,
E gosta de seus carinhos,
Então, este amor do para sempre,
Ainda não pede o fim,
Nem teria motivos para pedir.

Seu rosto pequeno,
Seu olhar de meigo mistério,
Seus lábios quentes
Ainda são os que preciso,
Deitado em meu ombro,
A sentir meus afagos,
Se aproximar do meu pescoço,
Se aconchegar em meu corpo.

Então, enquanto o for,
Seja meu,
Enquanto durar,
Eu posso ser sua.

domingo, 20 de abril de 2025

A Boneca com Seu Rosto

A menina delicada
Ganhou uma boneca
Com seu rosto de princesa,
O tempo passou,
Tudo mudou.

Hoje, ela acordou,
E não se olhou no espelho,
Buscou sua imagem
No rosto de porcelana
De uma boneca.

Juntou-a de seu roupeiro,
Limpou o vestido roseado,
Lembrou do tempo
Em que tinha uns cor favorita,
Um estilo de ser
E um rapaz a conhecer.

O lindo xeique,
O rapaz alto e magro,
De rosto gentil
E sorriso displicente.
Ela abraçou a boneca,
E lembrou
O tanto que o amou
E esperou.

Depois, afastou a boneca,
Olhou seu rosto lívido,
Cheio de fulgor e volúpia,
Sonhos suplicavam em sua boca.

Ela foi incapaz de contar,
Lindos olhos desenhados,
Abertos e atentos,
Memória perfeita,
Sonhos vívidos ali dentro.

Largou a boneca
Ao lado do celular,
Nem hoje tinha o número do rapaz,
Nem sabia se em seu olhar
Depois de tanto tempo,
Ainda lhe cabia pretensão...

Tirou seu olhar da boneca,
Buscou o espelho,
O que viu assustou-a,
Dos sonhos nos seus olhos,
Restavam marcas profundas,
Num lugar onde tanto houve
Mas nunca saiu nada.

Da imagem daquele que amou
Não restou lembrança inequívoca,
As pálpebras baixas,
Já impediam de olhar
Para tão longe.

Os lábios caídos,
Se antes calaram-se,
Hoje já não tinham forças
Para declarar sentidos contidos,
Os dentes vagos
Na gengiva pulsante,
Não permitiam o melhor sorriso,
Foi-se a boneca,
Com seu rosto resplandecente,
A que ficou,
Está que agora vê-se,
Está chora.

Tentou limpar os espasmos
De sobre o espelho,
Levantar os braços
Se tornou custoso,
Bem certo que sua boneca
Nunca teve mobilidade,
Mas nunca conseguiu menos
Que neste instante
Buscar aquele xeique,
O tal amor adolescente.

A pele já estava cansada
De brigar contra o tempo,
A menor brisa ela sente,
Move-se e não sorri,
Um prestes a desfazer-se...

Os anos não sabem levar sonhos,
Mas sabem todo o resto.
Sentou-se sobre a cama,
Acobertou-se em incertezas.

Então, olhou de volta a boneca
Que guardou um sorriso,
Um brilho amistoso,
Revestiu-se,
E beijou o ar,
Num aceno
Contou a ele:
Ainda o amo!

Páscoa

Hoje é dia comemorativo,
O calendário está
Em letras escarlates,
Os carros trafegaram ontem,
Hoje estamos com quem gostamos,
Onde queremos estar.

Reunimos os amigos,
Chamamos todos
Que podemos,
Abraçamos a família,
Nos permitimos:
Rir tudo que não rimos,
Beber o que não podíamos,
Comer o que não deveríamos,
Por quê,
Amanhã,
Se quisermos nos arrependemos.

Hoje olhamos sorrindo
Para o cachorro da rua,
Que rasga os sacos da lixeira,
Temos sobra de comida,
E damos a ele.

Hoje reconhecemos
O rosto do vizinho
Que se mudou a pouco tempo,
Cumprimentamos os próximos,
Ofertamos um sorriso.
Nos permitimos.

Hoje a esposa usa biquíni,
O marido se permite
Retirar a camiseta,
Deitar na cadeira de descanso,
Beber um suco com gelo.

A esposa escolhe a salada,
O marido prepara a carne,
Os pais se fazem presente,
Os filhos fazem barulho,
Os vizinhos se aproximam.

Por quê, hoje é ressurreição,
Surge o parente que ninguém
Mais vê,
E que termina a festa
Ele some,
De repente, surge a amante,
Quem sabe algum filho perdido.

Ressurge a vontade de cantar
Embriagado,
Mergulhar na piscina,
Andar de barco
E ser chamado de capitão,
Dirigir o navio,
E rir da marinha em guerra
Contra o tubarão.

Hoje não se dá roupa
Ou calçado,
O presente é o chocolate.
Hoje vem o apertado abraço,
O olhar no fundo dos olhos,
Ouvir um ao outro,
Conviver com todos os sonhos,
Hoje é Páscoa,
Felicidades e magias!

Baby Jane Bonequinha

Eu teria esquecido,
Facilmente, me esqueceria,
Não fosse o que houve.
Eu tinha dois anos,
Dormia no meu cestinho
Feito de folha de palmeira trançada,
Era meu aniversário,
Meu pai chegou da cidade
E deixou ao meu lado
Uma boneca.
Uma linda boneca,
Cabelos escuros,
Olhos escuros,
Lábios vermelhos,
Pele acentuada na terra,
Com vestígios de poeira avermelhada.
Ela tinha uma chupeta,
Destas de bebê usar,
Quando se removia ela,
A boneca chorava.
Eu acordei,
Eram quatorze horas da tarde,
Minha pomba entrou
Dentro de casa
Buscando quirela.
Eu acordei,
Vi a boneca,
Me apaixonei,
Levantei,
Dei quirela a pomba,
E me sentei no início da escada.
Logo a boneca chorou,
Ela foi tão incrível
Que em pouco tempo
Eu ouvia sua voz,
Seus pedidos de bebê,
Mais jovem
E frágil que eu.
Então, ela disse:
-sinto frio,
Corte o vestido de noiva,
E me enrole.
Eu o fiz.
Subi na cadeira,
Cai de lá,
Me feri.
“ Só um pouco,
Só um pouco”.
Logo melhorei,
Subi de volta,
Peguei a faca,
Cortei o vestido de noiva,
Aquele que minha mãe
Usou em seu casamento.
Minha mãe chegou,
E indagou perplexa:
- o que houve?
Ela disse, séria.
- o pai me deu.
Eu falei rápida,
Mais pareceu a boneca.
Ela sentou e chorou.
Eu não entendi,
Mas soube que a boneca
Sentia fome,
Então, era isto.
Logo que minha mãe
Entrou em casa preparar
O almoço,
Eu subi na bergamoteira,
Foi simples,
Mas minha boneca disse:
- se você me ama
Caia por mim.
Eu me joguei de lá de cima,
Com as bergamotas
Em minhas mãos.
A árvore era entroncada,
Tinha espinhos do início ao fim,
O tronco era arqueado,
Próximo ao chão.
- eu me feri.
Eu disse a boneca.
Limpando a sujeira da mão.
E entregando a ela
As bergamotas descascadas.
Ela comeu.
Mais tarde,
Ela disse:
- pegue o estilingue do seu primo,
Prepare pedras
E acertei o olho do seu pai,
Ele ficará feliz.
Eu sabia que ela entendia
De felicidade,
Sempre que eu a abraçava,
Sentia seu cheiro bom,
Eu era feliz,
Isto me deixava bem.
Então, eu fiz.
Treinei contra as galinhas,
Joguei contra a pomba
No ninho,
Bem de perto,
Trepada na árvore,
A centímetros de distância,
Ela ficou lá pra sempre,
Os passarinhos bebês voaram,
Sem penas,
Eu atirei contra o gato,
O gato pulou e os pegou.
Foi simples jogar contra minha mãe,
E mais tarde,
Contra meu pai,
Eu me escondi atrás de um tronco
Caído ali ao lado
De outras bergamoteiras,
E joguei muitas pedras contra ele.
Ele me viu,
Veio até eu,
Me pegou no colo,
Me abraçou e disse:
- eu te amo.
Ele estava feliz.
- foi a mãe quem mandou,
Eu disse.
Ele olhou para o lado
De casa,
Não disse nada.
A boneca sorriu.
- olha pai,
Minha boneca sorri.
Eu disse.
Ele olhou para ela
Deitada sobre um lençol
Em frente a outro tronco caído,
De frente para nós.
- claro que não filha,
Bonecas não sorriem.
Então, ele se virou
E me deixou brincando,
Ela piscou um olho.
Depois disso,
Ela falou séria:
- vamos andar de carinho
De rolimã.
Eu disse:
- ótimo.
Peguei com muito custo
O carrinho,
De um metro aproximado,
Sem freios.
Ela disse:
- vamos subir até o topo
Do morro,
De lá de cima
Você se solta no carrinho.
Eu fiz como ela disse.
Cheguei no topo,
Soltei o carrinho
Que puxei empurrando,
Erguendo e levando
Com uma corda de puxar vacas.
Soltei no chão,
Subi em cima
Com a boneca no colo
E me larguei,
Eu corri muito
Sobre aquela tábua de rodas,
Com meus pés sobre
Aquele eixo duro.
Eu voei,
Pedras e galhos voavam
Contra meu rosto
E meu corpo,
E a boneca rua,
Ria, ria,
Sem parar.
Eu parei,
O carro finalmente parou,
Com meu pai correndo atrás,
Todos nós em disparada,
Eu caí no boeiro,
Entre sujeira e galhos,
Lá no fundo
Sobre as pedras.
Ele correu chorando
E me pegou.
A boneca abriu muito
Os lábios eu vi,
Ela se sentiu muito feliz.
Eu chorei,
Chorei muito.
Minha pele se escoriou,
Eu fiquei inteira arranhada,
Eu senti muita dor.
Meu pai me levou no colo
De volta para a casa...
Destas brincadeiras
Minha boneca me ensinou muitas,
Hoje aos quinze anos,
Eu ainda a ouço falar,
E ela tem ideias sensatas,
Parece sempre muito madura.
Agora conseguiu trabalho,
Ela é policial militar,
Ela nunca irá me deixar,
Sempre vai me cuidar
E proteger,
Ela disse que eu dormi
Está noite e sonhei
Com força sobrehumana,
Então, é para eu juntar
Umas folhas da bergamoteira
E isto será meu distintivo,
Pois eu sou outro tipo de polícia,
Depois, quando vier
Aquele ônibus
Nesta estrada sem freios,
É para eu me colocar
Em sua frente
Eco segurar.
Ela é muito forte,
Sabe o que os outros pensam,
Sabe o que acontece lá fora,
E não erra nunca,
Ela sabe de mim
E do quanto eu posso ser forte.
Quinze anos é uma boa idade,
Há treze moramos juntas,
Se eu tiro o biquinho dela
Ela chora como antes,
Ela é minha filha,
E me ama.
Neste dia,
Meu pai trabalhava
Capinando o mato
Atrás de casa,
De repente,
Ele surgiu ali:
- filha, começo a crer
Que sua boneca fale.
Ele disse, sério.
Escorado na enxada.
- sim, pai.
Ela é viva
E tem poderes.
Eu respondi.
Ele disse:
- filha, não existem poderes.
Contudo,
Eu sabia que sim.
A boneca falava,
Adivinhava coisas,
E quando eu ia pra cidade,
Tudo acontecia
Conforme ela dizia.
Então, eu fui ajudar
Aquelas pessoas do ônibus,
E quando ele veio
Correndo feito uma bala,
Jogando pedras pra todos
Os lados,
Eu me coloquei na sua frente.
Então, meu pai correu mais,
Mais que o ônibus,
O que pareceu absurdo
E me tirou de lá.
Bem na hora,
O ônibus não me acertou,
Nem a ele,
Mas, também não parou.
- estava sem freio pai,
Eu sabia,
Eu precisava ajudar.
Então, ele beijou minha cabeça
E chorou.
Abandonou a casa,
Fechou a boneca dentro
E queimou.
De longe,
Eu ouvia o choro da boneca,
Seus gritos e risos.
Sobrou fumaça,
Sobre os escombros
Corroídos pelo fogo
Restou Baby Jane
Com o rosto rachado ao meio,
Um olho fechado,
Os lábios abertos
A chorar,
E o bico queimou
Ao seu lado.
- meu Deus,
Ela vai chorar para sempre?
Indagou meu pai,
Ouvindo-a.
Minha mãe
Segurou no ombro dele.
- e parece se divertir.
Ela respondeu.

Caso: Assassinato da Balconista

Aos vinte e cinco anos Não se espera a chuva fria De julho Quando se sai para o trabalho, Na calada da noite, Até altas mad...