Ela casou-se com um homem
Que era cineasta,
O que descobriu
Em sua noite de núpcias,
Depois do primeiro beijo,
O tirar do vestido de noiva,
É que ele foi na verdade
Um escritor há muitos anos,
Depois de seu único
E bem sucedido filme
Ele sofreu aquele bloqueio
Famoso entre os escritores,
Então, nunca mais escreveu
Única palavra
Ou até mesmo entendeu
Como conseguiu o primeiro.
Ela levantou-se
De cima do seu peito,
Ajeitou o smoking negro dele,
Reorganizou o vestido,
E não deu a ele o último beijo,
Saiu do quarto
E trancou a porta por fora,
Tudo bem até aí,
Tratava-se de um hotel
Alugado para a linda noite.
Na infância foi atriz famosa,
Dançava de vestido lambado,
Vendia suas fotos
Por poucos reais
Com autógrafo,
Mas a adolescência chegou,
Ela perdeu a paixão
Que havia
Entre ela e a câmera.
E passou a não ser chamada
Para mais nada,
Nem programas de auditório
Ou propagandas de comerciais.
Se entregou a Coca-Cola
E sanduíches rápidos,
Perdeu a voz
Ao ficar gorda e flácida.
Quanto a sua mão,
Nunca tentou escrever,
Então, sua diminuição
De movimentos
Não fez diferença
Para a vida pessoal.
Ela nunca distinguiu
Pessoal do profissional,
Tirar fotos com fãs,
Vendendo suas poses
E os abraços,
Beijinhos selados,
Sempre foi parte do dia-a-dia.
Mas, tudo diminuiu,
Menos o número da roupa,
42, 44 e 48.
Já no 48 passou para o esquecimento.
Nunca foi fã de vícios,
Exceto ela própria e sua imagem,
Claro, de dinheiro.
De dinheiro, óbvio.
Por quê não seria?
Sua irmã sofreu um acidente
Automobilístico,
Ela nunca descartou
Que fosse devido a sua fama,
Contudo, ao avaliar os traços
De seu lindo rosto
E perfil ao dirigir a cadeira de rodas,
Podia-se dizer que foi devido
A beleza estonteante
E unânime que possuía.
Enquanto, Jéssica cobrava poses,
Jussineira se apaixonava
E saia com os mais lindos garotos,
Suas fotos valiam reais,
As da irmã ternos beijos de amor.
Insaciáveis.
E correspondidos.
Não casou-se
Para acompanhar minhas viagens,
O trabalho sempre foi árduo,
Mas quando a vejo
Olhar fotos antigas,
Porquê ela sempre se esforçou
Para manter uma cópia de casa uma,
Eu ouso acreditar
Que ela gostava de conhecer
Novos garotos
E se divertia em suas conquistas.
Eu permaneci nas poses,
Ela escolheu viver.
Vi isso no dia em que saí sozinha,
Hoje moramos em cidade pequena,
Abandonada pelo tempo,
É mais fácil fingir que nunca existimos,
Do que admitir
Que foi sucesso
Mas, passou.
Feito fumaça
Que enquanto acesa toma conta,
Resta um cheiro intenso,
E um dia nem isso.
Eu fui ao mercado,
Coisa do cotidiano,
Jussineira levantou-se
Com a cadeira de rodas,
Chegou até a escada comprida,
Deixou a cadeira,
Cambaleante e sofrida.
Usou o corrimão,
Deu alguns passos
E não me pareceu que não
Se jogou.
Caiu e rolou.
Chegou ao final
E feriu-se.
Bateu com força
Contra o próprio rosto,
Beliscou-se,
Se arranhou,
Se feriu de toda forma.
Eu logo vi as imagens
Através do celular,
Eu instalei câmeras lá,
Então, voltei correndo
E não a deixei mais.
Agora, passou um ano,
Saímos juntas,
Os rapazes mexem conosco,
Nós sorrimos para todos,
Principalmente, os mais bonitos,
Então, ela disse:
- minha irmã,
Gostaria, agora, que você
Escrevesse sua história.
Com suas palavras
Contasse sua vida que
Foi tão bonita nos palcos.
Eu sorri para ela.
- e a sua,
Por quê você acha que
É menos importante?
Indaguei a ela.
- olha, querida, então, conte ambas.
Respondeu.
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