segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Amor Sem Medida

 


Em uma noite, feita das estrelas de novembro,

Três suaves batidas soam a porta,

Sem mensagem de chegada ou aviso,

Apenas com um buquê de flores coloridas...

 

Ela estava deitada, vestia sua melhor camisola,

Sentia-se bem, dali a algumas horas

Logo, de madrugada, seu marido chegaria,

Pouco antes da lua esconder-se por detrás da neblina

 

E ir parar em algum lugar longe dali,

Ela levanta, abre a porta, para sua surpresa seu marido a espera,

Nao bastasse o buque de flores, estava com aquele seu sorriso distinto,

Suado, havia saido do trabalho mais cedo,

 

Usava aquele seu uniforme negro que ela tanto amava limpar,

E seu distintivo, merito proprio, que ele conquistou com muito estudo,

Naquele momento, a lua se curvou, pequena diante de sua beleza,

Escondeu-se por trás de uma nuvem, destacando ainda mais

 

Sua beleza mascula, realçando seus cabelos escuros,

Dando um brilho intrigante aos seus olhos castanhos,

Era apaixonante, sempre era como a primeira vez,

O amava, o esperava, torcia por cada conquista sua,

 

Seus olhos encheram-se de lagrimas, a tres dias nao o via,

Ele havia sido escalado para uma operação especial,

E a cada hora, ela rezou para que ele retornasse

Protegido, com aquele seu jeito adorável que apenas

A ela, ele demonstrava, sorriu aliviada ao vê-lo de colete,

 

Arma no coldre, braços fortes com flores engatilhadas para ela,

Ela era especial, não sentia dúvida alguma quanto a isso,

Se jogou em seus braços fortes onde só ela cabia,

Beijou-o, colocando toda a sua saudade, toda a doçura

 

Que havia na sua alma, onde ele sempre estaria abrigado,

Protegido de tudo aquilo...

Sonho de toda mulher apaixonada:

Ver seu homem lutar como um guerreiro em busca de uma vida

Mais digna para o que ele orgulhava-se de denominar; família humana,

 

Mesmo que sob o risco de partir para nunca mais voltar,

Enfrentando a mira de algum bandido, entregando sua alma

Por estranhos que nem sempre sabiam valorizar,

So mesmo alguem com coracao e alma nobre se arriscaria dessa forma,

 

Ela o amava, o amava, o amava de corpo e alma

E mais um pouco, e este pouco logo estaria abrigado

Em sua barriga, sob a forma de um filho,

O filho do cavaleiro escarlate, do homem de ferro,

 

Do homem que apenas se entregava a justiça e a ela,

Ele a abriga em seu peito musculoso, seca suas lagrimas

Com beijos de amor, passando uma rosa em seu rosto,

Em seguida possui sua boca com sofreguidão, doçura

E um toque de urgência que os deixa trêmulos,

 

Entre beijos e abraços, eles juram um ao outro amor eterno,

Frases soltas sobre saudade, preocupação e um que de pressa,

Ele entra com ela ainda no colo para dentro de casa,

Segura-a no braço em que mantêm as flores e tranca a porta,

 

Abandonando para a escuridão da noite a saudade, a preocupação e a pressa,

Para que se perdam e nunca mais sejam encontradas,

Ali dentro só restava os dois, e horas que se estenderiam em um amor enérgico,

Um amor servido derramado entre beijos, abraços e carinhos,

 

Ele que marchava feito um general em direção a guerra,

Com sua pistola metálica como extenção do seu braço,

Se derramava sobre ela entre carinhos e juras de amor correspondido,

Lá fora, sempre preferia a escuridão, se sentia mais seguro camuflado,

 

Claro que o fato de seus olhos possuirem o reflexo da lua,

Servia como um filete de luz a iluminar seu caminho,

Seu colete nada tinha de abrigo comparado a sua inteligência,

Mas ali dentro, entregue aos seus carinhos,

 

Ele se despia de tudo isso para ser somente dela,

Ali preferia ficar a meia luz para contempla-la com mais nitidez,

Conhecia cada gesto dela, cada toque que ela gostava,

Até seus pensamentos ele possuía a liberdade de ler,

É certo que o fato de ele ser irresistivelmente lindo o ajudava

 

A escolher a luz em que seria visto,

Ele era perfeito, encantador, e a tocava de uma forma macia,

Que a deixava frágil, apaixonada, ela adorava ver sua armadura

Cair ao chão revelando o homem que tanto amava,

 

Ela era sortuda, sabia disso, mas quando estava com ele,

Sentia que era maior que tudo,

Mil carinhos se distribuiam entre suas juras de amor,

Seus lábios percorriam um destino único aos dois,

 

Suas mãos traçavam um mapa em seus corpos,

Em busca de um tesouro secreto, só a ambos revelados,

Como são felizes os que amam, sabiam disso

E renovavam suas juras a cada olhar apaixonado,

 

O homem que marchava com pulsos de ferro,

Ao seu lado se entregava a um amor jamais vivido,

Um amor permitido a poucos, sem reservas, sem medos,

Ambos não eram mais do que dois amantes em busca de abrigo,

 

Essa era a palavra repetida, escolhida mil vezes: abrigo,

Abrigo de tudo aquilo que ele deixava no serviço,

Ao que ele se entregava de corpo e alma,

Mas que abandonava por inteiro para ser somente dela,

 

Resguardo de tudo que exigiam dele

Por tão pouco reconhecimento,

Ali, ela nao exigia nada, apenas se entregava,

Era dele, toda dele, para sempre dele,

 

Ele repousou as flores sobre a cômoda,

Deitaram-se abraçados na cama,

A vida se resumia em amarem-se, sem medida,

Sem reservas, a paixão que os tomava

 

Os despia de qualquer segredo, qualquer reserva,

Excluindo qualquer resquício de solidão

Que possa ter assombrado o coração

De qualquer deles, algum dia,

 

Eis que cai por terra toda a saudade,

E é consumida pelo amor que os domina,

Queima-se sob o calor dos seus carinhos,

Ate resumir-se em cinzas de algo distante,

 

De uma forma que palavra alguma descreveria,

Felicidade talvez pudesse descreve-los, algum dia,

Porém, transcorridos cinco anos de casamento,

Ainda sentiam, um pelo outro, algo muito maior,

 

Escondida em algum lugar, ambos sabiam

Que poderiam encontrar alguma palavra

Que pudesse expressar o amor entre eles,

Porém, neste momento só restava se apegar ao para sempre.

Sol ao Final do Horizonte


O sol se move no horizonte,

Lentamente, só para desenrolar o passar das horas,

Segue a direção da saudade que sinto agora,

Desenrolando uma paixão difícil de esquecer,

 

Daquelas descritas nos livros de romances,

Que são destinadas ao para sempre,

Deitada na grama do meu quintal,

Vejo tudo cair ao anoitocer, sonolento,

 

Ou quem sabe, dor da saudade para os que sentem,

Sintam -se as margens de quem partiu para longe,

Apenas para aguçar a saudade dos que sentem,

O mato, a grama, os céus e tudo o mais respondem

 

Em um murmúrio melodioso de um código segreto

Desvendado apenas a estes ternos corações apaixonados,

Sinto minha pele alvoroçar pela neblina do entardecer

Que me envolve em seu manto da tardinha de novembro,

 

Meus olhos castanhos brilham em nome da felicidade,

Fecho meus olhos por um segundo em um desejo:

Trazê-lo para perto, o sol se esconde atrás do cume,

Em cumplicidade, jura para mim que ira buscá-lo,

 

Feito a noitinha que me envolve, o sinto em mim: pele a pele,

Forte, determinado, másculo, com seus cabelos escuros,

Olhos castanhos cor da noite ao entardecer

E aquele cheiro gostoso de homem,

Capaz de despertar segredos em mim até então, desconhecidos,

 

Inigmático, seria capaz de conquistar em mim qualquer coisa que quisesse,

Mera serva ao dispor dos seus caprichos,

Por Deus, nao foi dado a mim o dom de resisti-lo,

Fecho meus olhos, envolvida nessa espécie de sonho,

 

Imagino o quanto seria maravilhoso estar em seus braços,

Sentir o cheiro do seu suor me percorrer por inteira,

Descobrir aquele desejo animalesco que o vejo

Esconder por tras dos seus atos masculinos,

Daqueles olhos escuros, em uma palavra: fascínio,

 

Em duas palavras: sinto saudade,

Em três palavras: eu te amo,

Em quatro palavras: sera que seria permitido?

Em um suspiro: o desejo como a nenhum outro,

 

As garotas ao seu redor, olham umas para as outras,

Entre cochichos e conversinhas: o desejam,

Quem é que poderia resistir ao seu poderio masculino,

O sol do novembro já está um pouco mais longe,

 

Meu horizonte explode em diversas cores,

Penso em como me sentiria se fosse tocada por ele,

Nao teria como resistir, sorrio, prendo a respiração,

Amor é o que defino nas batidas do meu coração,

 

Ele e um homem lindo, envolvente, musculoso,

Olhos fortes, inteligentes e bondosos,

Me sinto pronta para ser amada, desejo viver meus sonhos,

Aqueles que me privei de viver ate reconhece-lo,

 

Digo reconhecê-lo, porque tenho certeza que ha muito o procurava,

Doce certeza que sinto em mim, a qual não me foi dado explicar,

Os poetas definem amor este sentimento forte e intenso

Do qual a gente nao consegue resistir, fugir ou evitar,

 

Lembro da última vez em que o vi,

Não consegui desviar o olhar,

Desejei ser sua esposa, ser sua para toda a vida,

Vi filhos na sua voz potente, seus atos decididos,

E seu jeito único, falhou a voz na garganta...

 

Incapaz de me expressar, molho a boca em um gole de café quente,

Traçando uma linha fina de leite sob meus lábios,

Sedentos, febrios, apaixonados, por um momento

Apenas fechei meus olhos, senti ele se aproximar,

 

Sorte a minha estar sentada, As pernas falharam na mesma hora,

Seu cheiro se intensificava até me tocar,

Sem jestos, apenas com o olhar e aquele algo peculiar

Ao qual fui apresentada naquela hora...

 

Volto a tardinha de novembro, São quase 7 horas,

Quase sete horas, o sol se foi, sinto-me sozinha

Com minhas lembranças onde o guardei com todo o carinho,

Com ele me senti frágil, menina, mulher posso admitir

E nunca foi tão bom me sentir assim,

 

Penso comigo mesma: sera que o sol conseguira trazê-lo?

Me sinto triste por ter que viver sem ele,

Nessa sua busca ele poderia pedir-lhe um beijo?

Não desejaria mais que isso,

 

Por um breve instante ser sua amiga, amante, mulher,

Saborear o prazer de sentir o toque suave dos seus lábios,

Se fosse possível pedir, apenas um pouquinho mais,

Gostaria de tornar o beijo mais longo, profundo, forte,

 

Abraca-lo para nunca querer solta-lo,

Apenas a ele, me permitiria tornar-se um capricho seu,

Objeto em suas mãos para que ele me possuísse

Como lhe conviesse, ser sua para todo o sempre...

domingo, 29 de novembro de 2020

Sonho

 


No primeiro dia, acreditou que ela nem faria falta,

Embora, ao acordar tenha olhado para o lado,

E seu porta retrato estava vazio, sem vida,

Vestiu seu melhor sorriso, se dirigiu a cozinha

 

Preparou seu café matinal, e sentiu-se feliz,

Via-se livre, livre daquela que tanto jurou amor,

Mas na primeira oportunidade decidiu sair da sua vida,

Sem brigas ou promessas quebradas,

 

Simplesmente saiu pela mesma porta que usou para entrar,

Sem esquecer de deixar a chave ali pendurada,

Com o chaveiro que escolheram ao compra-la,

Naquele momento, ele percebeu que os sonhos

 

Que viram nos olhos um do outro,

Ja nao faziam sentido, haviam sido deixados para trás,

Em algum lugar no passado,

Perdidos em meio a rotina do casamento,

 

Ligou sua TV, assistiu um filme legal,

E decidiu tirar o dia para si mesmo,

Férias merecidas para alguem que se dedicou tanto a família

E agora, estava sozinho na casa em que planejaram juntos,

 

As horas se passaram, o sol se pos no horizonte,

Ele pediu pizza para o jantar e foi bom,

Comeu sobre a cama, manchou os lençóis brancos,

Comprados na lua de mel que tanto sonharam,

Assistiu mais um pouco e adormeceu,

 

Nesta segunda noite acordou assustado,

Virou para o lado e nao havia ninguem para chamar,

Olhou para o teto, se acalmou um pouco,

Afinal, se tem algo que nunca se permitiu ser: era fraco,

 

Das tres da madrugada até o sol da matina,

Ele permaneceu de olhos abertos,

Nao era um sonho mas nao podia denominar pesadelo,

As cinco decidiu se levantar o esquentar a pizza,

 

Fez café, se dirigiu ao trabalho

Mas as horas se estendiam a sua frente

Como o tapete limpo e bem cuidado em que pisava

E o qual cobria toda a sala,

 

Final da tarde, retornou a sua casa,

Abriu a porta e nao havia ninguem a sua espera,

Foi a cozinha lavou a louça e fez pipoca para o jantar,

Ao escolher o filme nao soube qual seria o melhor,

 

Levantou-se e pos os lençóis para lavar,

A mancha saiu e eles estavam novos de novo,

Contudo, seu coracao parecia pesado,

Faltava algo, as paredes pareciam frias

E estranhamente opressoras,

 

Sentia-se esmagar por dentro,

Algo lhe subiu a garganta,

Era o nome dela, se recusou a pronuncia-lo,

Que ousadia ela ir embora da sua vida,

 

E agora, se recusar a sair da sua lembrança,

Olhou para cima em busca de conter as lágrimas,

Encontrou entre o vão do vazio de suas paredes brancas,

A foto de casal pendurada na parede,

 

Que ironia, ali ainda sorriam e amavam-se

Diziam, entre sorrisos cúmplices um para o outro,

Decidiu arrancar a foto da parede e joga-la fora,

Se ela se recusava a ficar, porque teria ele

Que lembrar-se dela a cada hora que passava?

 

Ao se apoiar no sofá para levantar-se,

Algo amarelo como se tivesse roubado

O brilho do sol, reluzia em seu dedo,

A aliança. Aparentando, casualidade começou a remove-la,

 

Percebeu que ela havia deixado uma marca

Noticiando os sonhos abandonados entre os anos em que viveram,

Denunciando a saudade que ainda o habitava,

Dominando-o por dentro, até retirar suas forças

E deixa-lo, ali, largado as margens da solidao que o oprimia,

 

E doia, como uma faca que fere a pele e dilacera,

Mas a saudade era pior, feria a alma,

Entregou-se a um choro compulsivo,

Sem perceber adormeceu, ali mesmo

 

Sentiu algo tocar seus lábios levemente,

Estava escuro, a TV apagada,

Sentiu braços acolherem-no, abraçando seu pescoço,

Puxando sua boca para perto, viu-se estremecer,

 

Ele pensou em afastar-se de imediato,

No entanto, ansiava por aquele beijo

Então , se entregou e viu seus lábios sendo invadidos,

Abertos por uma boca ávida e decidida a toma-lo,

 

Extraindo-o daquele sonho em que se encontrava,

Perdido em algum lugar que não saberia precisar,

Gostou da sensação, sentia seu coração bater excitado,

Fechou os olhos, pensou em como ainda nao havia vivido isso,

 

Levantou os braços para entregar-se ainda mais ao beijo,

E encontrou apenas o vazio da noite insone,

Nao havia ninguém, apenas a sensação de algo,

Guardou-a consigo, decidiu que iria encontra-la,

 

De nada adiantava viver uma vida vazia,

Ele merecia mais, muito mais que isso,

Queria dar-se a chance unica de provar o amor

Embebidos em doses sedentas de labios apaixonados.

Sol da Manhã

 

Se existisse como se acostumar a viver só,

Ele teria se acostumado,

Sentia isso dentro de si, quase sempre,

Mais uma vez, o relogio badalava meia noite,

 

Sem sono, sem energia, sentia-se tonto,

Ele olhou para o arranjo de flores

Desajeitadamente, colocado ao seu lado,

Parecia vê-la, naquele copo de leite,

 

Ele sempre sentiu -se seguro de si mesmo,

Porem, no que referia-se a ela,

Ele nem sempre entendia seu jeito

Queria ama-la, protegê-la, te-la guardada em seu peito,

 

Mas não sabia como alcança-la,

Por mais que se esforçasse não parecia ser suficiente,

Mandou flores, mensagens, presentes,

Mas sentia dentro de si que nao era o bastante,

 

Buscou no bolso da calça,

Encontrou o bilhete de cinema em que foram juntos,

Lembrou de te-la abraçado, e na surdina

Aproveitado para repousar um beijo molhado em sua Buchecha,

 

Ela lhe brindou com um sorriso

E um mordiscado no labio inferior,

Sentia dentro de si mesma que também o amava,

Mas algo dentro dela ainda a deixava insegura,

 

Ela nao tomaria a iniciativa de entregar seu coração,

Mas em um jesto instintivo, ousou tocar sua mão,

Com uma carícia terna e desisteressada,

Foi quando percebeu que ali caberia um coraçãO

 

E, quem sabe até, ela inteira,

Desejou repousar nos braços fortes e convidativos

Que ele, caprichosamente, lhe oferecia,

De maneira, caprichosa, deitou em seu ombro,

 

Acomodando sua cabeça entre o seu pescoço,

Sorriu ao sentir seu cheiro,

Ele aproveitou para retribuir o carinho

Com uma carícia em seu rosto,

 

-Cuidado, você vai dormir e perder o filme,

Ele lhe falou, tocando-a com um jesto firme,

-Nao vou não, ta bom de ficar assim contigo,

Instantes depois, seu celular caiu no carpete,

 

Ela dormiu feito uma menina,

Ele sorriu com uma lágrima feliz em seu olhar,

Amava-a com toda a alma,

De repente, uma luz estranha entrou por sua janela,

Pegando-o de surpresa, instintivamente, levou a mao a boca,

Ainda sorria com o sonho ou... lembrança?

 

O sol penetrava a sua janela de vidro,

Não teve como oferecer resistência,

Não restou alternativa a não ser sentir seu calor,

No mesmo lugar em que repousava o seu sorriso,

 

Pensou consigo mesmo,

Se o sol é tao forte a ponto de buscá-lo,

Invadindo o que fosse preciso,

Porque ele nao seria capaz de romper as barreiras

Que o impediam de conquista-la,

Se o amava com toda a alma para uma vida inteira?

sábado, 28 de novembro de 2020

Noite A Praia

 

Fazia frio ali naquele lugar,

Xícara de chocolate quente em mãos,

Mas o pensamento estava distante demais,

As ondas iam e voltavam na praia,


Era noite, o mar havia se perdido em algum lugar,

Somente as estrelas brilhavam ali na praia,

E o cheiro do mar noturno vinha para buscá-la,

Ela se pôs em pé, e pegou-se a percorrer a areia,


Caminhou até sentir-se cansada e desejou ir um pouco além,

A noite a pegava pela mão e a conduzia,

Até algum lugar que ela não sabia onde era,

Mas desejava profundamente chegar,


A brisa soprava suavemente sussurrando aos seus ouvidos,

Carícias que tocavam sua pele e brincavam com seus cabelos,

Algo bom de se ouvir, de sentir, e a água beijava a areia de maneira apaixonada,

Nem uma estrela ousou piscar naquela hora,


Encantadas com toda a beleza que sentiam,

Ela imaginou que se fosse qualquer outra pessoa,

Iria se lamentar e sentir-se sozinha,

Afinal ela parecia ser a única vida humana naquele lugar,


Mera ilusão de um coração saudoso,

Mas ela não era assim, ela ainda era Carina,

Aquela que beijou um rapaz aos 15 anos

E nunca mais fora capaz de esquecê-lo,


Aquela que fechava os olhos apenas para trazê-lo para perto,

Aquela que abraçava a si mesma na esperança

De que lá, onde quer que ele estivesse, ele ainda pudesse,

Ao menos, por um único instante que fosse,


Lembrar-se dela, como a menina que fora antes,

Aquela que até hoje ainda o amava e o amaria para todo o sempre,

Sorveu um gole do chocolate quente,

Sentiu-se aquecer por dentro,


Não era nada parecido com o abraço de Jon,

Mas mantinha seu amor intacto para ele,

Sentou-se ali em um canto escuro,

Seus pés penetravam a areia e brincavam com ela,


Diferente da areia que escapava por entre os vãos,

Mesmo a distância ou o passar dos anos,

Nunca foram capazes de tirarem-no do seu coração,

Ela o manteria presente na noite escurecida diante dos seus olhos,


Só para que ela contemplasse o firmamento e pudesse vê-lo,

Em cada estrela que brilhava, em cada momento que viveram,

Imaginando seu olhar com aquele brilho único a contemplá-la,

Ou lindamente fechados, em um sono tranquilo,


Em que dormiam aconchegados um ao outro,

Doces estrelas que cintilavam a cada acorde seu,

Brisa fresca que estremecia sua pele somente para lembrá-la

Do quanto seu toque era quente e aconchegante,


Com um suspiro que vinha do fundo da alma,

Desejou tirá-lo da sua memória e fazê-lo presente,

Saboreou mais um gole do chocolate

E agora, sentiu nele um sabor diferente,


Revivendo em sua boca o gosto do seu beijo,

Era doce, com um toque aveludado,

Ela sabia que em outras bocas ele pareceria gelado,

Mas na sua, ele derreteria qualquer barreira,


Ele parecia amar penetrar em sua alma,

Descer líquido por sua garganta, para revivê-la a cada instante,

Ela virou o rosto para o lado esquerdo,

Desejou encontrar o peito dele,


Onde poderia recostar-se um pouco,

Até que aquela sensação de amor a invadisse por inteira,

Não o encontrou, sentiu-se tola,

Lágrimas vieram aos seus olhos cor terra,


Olhou para trás de olhos fechados

Fechou os dedos em figa e desejou do fundo da alma: vê-lo,

Em um suspiro disparou ela: eu amo, por que não admito?

Ela desejava tocar sua mão, até poder demonstrar tudo que sentia,


Mas a última vez que o viu, tudo que foi capaz de fazer,

Foi dar-lhe um sorriso de longe, e olhá-lo com imenso carinho,

É claro que os seus olhos a entregaram naquela hora,

Dizendo a ele o quanto o amava, desejou que pudesse ouvi-la,


De vez em quando sua lembrança criava passos ao seu redor,

Querendo convencê-la de que ele estava perto,

E ela nunca havia cansado de esperá-lo,

Desejosa, abraçou seus joelhos rasurados de quando ela caíra na escada,


Ao percorrer aquele caminho escuro e desconhecido,

Seu pensamento a abandonava e ela sabia que agora,

Estaria a guiá-lo, abraçando-o e talvez, algum dia

Conseguisse convencê-lo de trazê-lo para ela,


Para que ela pudesse sentir-se inteira, segura, amada,

Então, deitou-se ali e ficou imóvel a contemplar a noite escura,

O sentia de maneira tão forte que a solidão se retirou do seu entorno

E se perdeu em algum lugar onde ela não poderia encontrá-la,


Outra lágrima lhe veio a face, apenas desejou que sua solidão

Não tivesse ido atormentá-lo com tantos sonhos de amor

Que agora pareciam perder-se no imenso espaço entre o tempo

E a suave, rouca e aveludada sinfonia da lembrança,


Prometeu a si mesma, que não iria dormir naquela noite,

Permitiria a si mesma, reviver aquelas lembranças

Em pequenas doses, como se elas fossem aquele chocolate,

Que de alguma forma, ainda estava quente, a esperá-la,


Sabia que ele possuía a chave da sua casa,

Não ousou trocá-la, se ele desejasse procurá-la;

A encontraria, no mesmo lugar onde a deixou,

Sorvendo o mesmo chocolate que ele, tantas vezes, havia


Feito para ela, somente para vê-la feliz e aquecida,

Cuidando das mesmas flores que ele a havia presenteado,

Ouvindo suas músicas preferidas,

E tentando rasurar palavras que permaneceriam ali escritas,


Para serem proferidas somente para ele,

Palavras que só ousava contar para as estrelas,

Véu que tantas vezes cobriram e testemunharam

Seus momentos e juras de amor eterno,


Momentos que ela guardava com ela,

Juras que criavam vida e escreviam histórias,

Somente para que um dia, em um acaso qualquer,

Pudessem chegar até ele e trazê-lo, ou ao menos recordá-lo

De tudo que viveram.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Feliz

 

Aquela sensação ruim se estendeu

Durante muitos dias seguidos,

Ligou o rádio em uma música romântica,

Ferveu a água, sentou-se na varanda


E tomou seu chimarrão,

A música era muito boa,

Porém, algo dentro dela não estava bem,

Nem mesmo as palavras ousavam


Passar por sua mente,

Parecia que haviam se escondido

Em algum lugar, escuro, frio... vazio,

Ousou olhar para o céu azul e límpido,


Ele sempre a enchia de energia,

Aquilo era mágico, parecia um sonho,

No entanto, bela contradição, estava negro

Escurecido, digo até a-me-a-ça-dor,


Por instinto, ela olhou para o seu peito,

E o viu refletido em tudo aquilo,

Percebeu que algo estranho viria a seguir,

Sentou-se e ficou ali,


Sabia que não havia nada a temer,

Também, não se sentia sozinha,

Ao longe viu que um vento forte se aproximava,

Ele mexia e retorcia todas as árvores ao seu redor,


Houve, inclusive, aquelas que não aguentaram,

Quebraram... sem problemas: virariam lenha,

Aqueceriam sua lareira,

Muitas folhas voaram ao longe,


Feito um tapete verde cobrindo o firmamento,

Nem mesmo as flores ousaram contrariar,

Sorte tiveram as que foram flexíveis e souberam

Se curvar, afinal, quem ousaria contrariar uma tempestade?


Quando os céus entram em ira, algum lugar tem que ceder,

É certo que os atos dos céus são apenas consequências

De ações humanas... humanas...

Por que tão poucas pessoas são humanas?


Existem tantos discursos vazios,

Mas sempre que os ouvia sentia que faltava algo,

Ela continuou seu chimarrão contemplando tudo ao seu redor,

Raios e trovões rompiam o ar,


A chuva tão esperada naquela terra árida e sedenta,

Trouxe consigo uma bela tormenta,

Ela sabia que somente o que possuía

Raízes profundas sobreviveria a tudo aquilo,


Levantou-se, olhou para os céus e uma

Lágrima quente percorreu seu rosto,

Foram doze minutos de ventos fortes,

Que pareciam não querer ceder,


Porém, quando sua lágrima correu,

Molhando seus lábios e descendo

Até alcançar o seu coração e secar ali,

Pareceu-lhe que ela penetrou sua pele


E alcançou seu sangue, a partir dali

Faria parte dela, afinal havia saído dela...

Mas naquele mesmo segundo,

Uma chuva calma desceu dos céus


Contendo o vento, os raios e tudo o mais,

Tudo se acalmou, as nuvens empalideceram,

E a chuva descia a terra como uma dança ao vento calmo,

Aceitou considerar a possibilidade


De que talvez, sua lágrima tivesse

Flutuado e alcançado o céu,

Pedindo para acalmar tudo ao seu redor

E voltou a terra para trazer vida...


Sempre acreditou que apenas

O amor seria capaz de transformar,

A chuva durou por horas seguidas,

Agora ela se sentia calma,


Era como se sua mágoa fosse dividida

Com outra pessoa, uma mágoa estranha,

Ela, finalmente, se sentia segura,

Amada, admirada, feliz,


Precisava de alguém com quem

Dividir o que sentia, e os céus a ouviram.

A colina

Sentadas. Lado a lado. Mãe e filha. O sol partia na coluna Em frente aonde Estavam sentadas, Ambas abraçadas. Pensativas....