Quem estaria mentindo, os olhos quando fingem não ver,
Ou aquele que jura amor e beija em falso sem perceber,
Confesso que gostaria de saber a resposta exata,
Sem meias palavras, saber qual seria a medida certa,
Ninguém ganha nada ao esconder-se entre as lacunas,
Mas, talvez no omitir-se também não haja o que ganhar,
Dependeria da situação alguém poderia alegar,
Falsear as histórias e dar a verdade roupagem nova,
Seria algo bom, até que ponto, haveria um ponto final para
algo?
No exato instante em que se desiste e abandona ao acaso os
sonhos,
Poderia alegar-se que sim, sem procurar me estender em
evasivas,
A versão de cada pessoa que vejo sempre me parece autêntica,
Mas em certa parte da história, em alguma vírgula posta,
Não para o acaso, tudo muda, e vejo-as caírem nos vazios de
si mesmas,
Esta minha vírgula poderia ter ocorrido naquela tarde
chuvosa,
Em que o cheiro das frutas vinha me convidar para sentar na
grama,
Eu deveria ter resistido, estava no intervalo do trabalho,
Mas sentei-me com uma sesta de morangos, sentir o vento,
Sorrateiro ele brincava com meus cabelos, como uma carícia,
Eu sorria mesmo sem perceber, meu encanto era evidente,
Minha admiração sempre foi incontida quanto a cada estação,
Uma borboleta sentou no meu pé, desejei guarda-la em uma
imagem,
Olhei ao meu redor e encontrei um moço admirando tudo,
Caminhando por ali, como se estivesse perdido ao acaso,
Ele sorria disperso de mim, parecia pensar em algo mais
adiante,
Eu pigarreei, abri um sorriso gentil e pedi se podia tirar
uma foto,
Ele me olhou com olhos assustados, com um arrepio a
percorrer a pele,
Eu sorri, encorajadora, me apresentei com uma estranheza na
voz,
Ela estava rouca e sôfrega, algo havia mudado em mim,
Algo intenso e forte me pegou de surpresa e me fez sentir
que não poderia resistir,
Mesmo desconcertada, entreguei a ele meu celular com a tela
desbloqueada,
Ele sorriu de uma forma que me fez sentir única, perfeita,
talvez, amada?
Eu quis duvidar, como o amor poderia cruzar meu caminho
dessa forma,
Simplesmente, achar que poderia passar sem dizer
absolutamente nada?
Quando tentei dizer algo que fosse um pouco mais
interessante,
Percebi que minhas palavras também falhavam, inertes,
Seria mesmo o amor, aquele que cruza nosso caminho e nos
deixa sem saída,
Como se destituísse todo o mundo de sua importância apenas
para nos contemplar?
Aquele que suga toda a nossa força, como se fosse levada
pela brisa fresca,
Seja como for naquela hora eu sentia que tudo poderia partir
para outro lugar,
Eram os meus medos, e eu apenas desejei que ficassem bem
distantes,
Então, soube que a chave para isso estava no abraço dele,
postado a minha frente,
Mas sendo o amor coberto de mistério como eu poderia
desvenda-lo?
Dizem que os medos nos acorrentam, eu senti que não naquele
momento,
Sob o abrigo dos olhos daquele estranho, eu senti que amaria
como nunca,
Ser digna de estar sob os seus cuidados nunca seria mais
convidativo,
Embora não tivesse um roteiro escrito em que eu pudesse ser
a protagonista,
Senti que toda a minha vida passou a fazer sentido com ele
ali perto,
Me sentia protegida de uma forma que nunca havia imaginado
antes,
Quis protege-lo, desejei fazer algo por ele, de repente
desejei conhecer alguém,
Sem temer qualquer tipo de exposição, dei vida a voz que
havia em meu coração,
Me desculpa, eu disse, mas, você é muito bonito, ele sorriu
com o rosto avermelhado,
Eu sorri mais ainda, então, não bonito do tipo comum, mas daqueles
com um gosto,
Um gosto que se quer provar, como se houvesse algo em você
que me chama,
Não sei se você consegue me entender, peço que me perdoe
pela invasão,
Com palavras tão abruptas, mas este sentimento ainda não
havia tomado minha emoção,
Eu falava entre sorrisos e ele apenas sorria, sem uma única
palavra,
Me ganhou para uma vida inteira; eu o disse tomar, porque já
não me pertencia,
Ele agradeceu com uma frase curta, guardo comigo cada
palavra,
Como se houvesse uma forma de esquecer sua voz rouca e máscula,
Senti meu coração pulsar fora de mim, descompassado,
Então, você pode tirar minha foto? Eu pedi com desembaraço,
Havia um misto de sentimento que explodiam em mim,
E eu precisava controla-los, nunca havia me sentido assim,
De que me valeria quedar em inércia e nunca mais vê-lo,
A tempos eu cruzava por aquele lugar e nunca o tinha visto,
Sem fazer muito alarde sobre o caso, mas meus lábios estavam
secos,
E os dele, tão molhados, parecia que nossos corpos falavam
alto,
Uma linguagem que ultrapassa os limites da voz, como um
reflexo,
Do que sentíamos dentro um do outro,
Era como se não coubéssemos dentro de si próprios,
Será que fomos feitos para não pertencer a nós mesmos,
Uma espécie de metades que se unem para estar completo?
Eu teria me levantado, mas ele ficou parado, fazendo os
retratos,
Os olhos dele tinham algo de mágico, algo fora do mundo,
maravilhoso,
Era como se o toque dele fosse capaz de me modificar por
inteira,
Desejei ter sentido o calor das suas mãos nas minhas,
Suas mãos oscilaram, será que ele poderia ouvir o que eu
dizia,
Mesmo sem eu chegar a dizer nada, de repente o nada tomou
forma...
Era todo o meu passado sem ele, era o vazio de um futuro
indesejado,
Então o chegar também teve outro significado, o silêncio
pareceu avesso,
Aquele momento se tornou importante sobremaneira, desmedido,
A efeito de todo o sentimento que exalava palpável entre nós dois,
Tão palpável que podíamos tocar um no outro, na fagulha de
um olhar,
Ele, pediu se podia fazer um retrato comigo, aceitei na mesma hora...