domingo, 17 de janeiro de 2021

Moça Pensativa

Ela, olhou-o com olhos assustados, apesar de tantas promessas feitas,

Já não reconhecia seu namorado, decidiu ignorar todas as palavras ditas,

Virou as costas e encaminhou-se para a porta a passadas largas,

Sem dizer adeus, nem cair em lágrimas, segura de si mesma,

Se as promessas feitas entre beijos apaixonados foram insuficientes,

Menos fiadora de sentido seria travar uma briga sob olhos descrentes,

 

Que os observavam com curiosidade incontida, notícia do dia,

Deveriam estar a defini-los uns aos outros, fato este, inconcebível para ela,

Sempre fez de tudo para honrar seu nome, não seria por amor a um cafajeste

Que poria tudo a perder, como se fosse uma qualquer carente de mente,

Ele ainda sorria, como se duvidasse de sua capacidade de ir embora,

Jogava sua partida de bilhar como se isso fosse o auge de sua vida,

 

Mas ela já não se importava, não aceitaria discutições, ele nunca a via,

Nem ao menos percebia as investidas dos seus amigos sobre ela,

Já estava alcançando a porta quando alguém tocou com força o seu braço,

Ela parou, virou-se estupefata, ele estava em pé com seu sorriso de lado,

“Eu te amo, não gostaria que fosse embora, me deixar aqui dessa forma,

Me soaria demasiado ofensivo, eu a amo sempre fui fiel o que mais você desejaria?”

 

Ela não disse nada, fidelidade? Como ele ousava tocar nesta palavra,

Depois de traí-la tanto com suas atitudes, então trair era apenas questão de corpo?

Voar com a alma sabe se Deus para onde, enquanto a abraçava, não significava nada?

Desviar o olhar para todos os lados como se sempre estivesse a procurar algo,

De repente, passara a significar prova de amor? Então, o amor mudara sua definição,

E agora passara a ser confundido como mero movimento de lábios,

 

A proferir Eu te Amo sem sentimento, a repousar-se entre beijos em lábios afetados?

Não, isso era pouco demais para alcançar seu coração, insuficiente para fazê-la ficar,

Se desvencilhou com um movimento rápido, forte e preciso, pôs a mão no trinco,

Respirou por alguns segundos, abriu a porta e chamou um taxi, logo estaria em casa,

Não queria se estender em conversas evasivas, mil vezes ensaiadas, repetidas

Mas nunca ouvidas, nunca assimiladas, ela não era dada a regalias,

 

Não se renderia aos impulsos de suas amigas, recusaria conselhos,

Disse a si mesma: seria a dona da sua própria vida, a autora da sua história,

Sentada no taxi, algumas lágrimas vieram no rosto, como se para apagar o gosto,

Que com o mesmo efeito de um beijo falso, ressoaram sobre ela em palavras

Errôneas pronunciadas com roupagens de verdadeiras,

Suas mãos endurecidas pelo trabalho da roça pareciam saber o que fazer,

 

Secaram cada lágrima, com a forma de uma carícia que ela merecia,

Qual a validade de tanta soberba, se nem ao menos sabia reconhecer uma mulher?

Esconder-se por trás da bebida, para disfarçar atos desejados,

Era uma atitude simplista, de nada valia se não houvesse planejamento,

Em que baseava sua estima se tudo o que fazia não passava de reflexo

De pensamentos externos? Não sabia pensar por si mesmo, valorar o próximo,

 

Nunca passaria de fantoche nas mãos de estranhos metidos a espertos,

Ela relutou, antes de tomar sua atitude, refletiu, deveria precisar seus atos,

De maneira a evitar o máximo possível de erros, não se joga o amor pela janela,

Mas também, não se espera-o com a porta aberta, há riscos pelo caminho,

O futuro sempre guardava um quê de imprevisibilidade,

Ela precisava estar segura, preparar-se para o que poderia espera-la a frente,

 

Saiu do táxi, e uma sombra escondeu seu rosto, pagou a dinheiro,

Dirigiu-se para sua casa, sentou-se um pouco na escada, contemplar a vida,

Que passava sempre com aquela segurança conhecida, atônita, mas consciente,

Isso fazia com que ela acreditasse que existiria algo melhor, um pouco além,

Mas esperar sentada não parecia ser a melhor maneira, levantou-se, entrara...

Fora para seu quarto, abrira um livro, ficara em silêncio, dispersa de tudo,

 

Ela lembrara de ele ter engasgado, perdendo a voz, ela sabia que era valorizada,

Era vista como um troféu em que todos queriam tocar, irritados por ela se negar,

As demais soavam sempre tão frágeis, sempre apaixonadas e volúveis,

Sempre repetiam suas histórias com cada homem da cidade,

Gritando aos quatro cantos que a escreviam pela primeira vez,

E eles, tolos doentes por corpos fáceis, fingiam acreditar nisso,

 

Apenas para ganharem minutos de consolo em qualquer canto,

Isso a deixava inquieta, era como se não houvesse ninguém para segurar sua mão,

Os filmes que assistia, as músicas que ouvia e os livros que lia, lhe davam outra sugestão,

Suas amigas sempre com as melhores roupas, unhas feitas, maquiagem “da-hora”,

Corpos expostos, objetos de deleite aos que pagavam o preço,

Ela, nunca entregara-se a estes luxos, bem pudera, levava uma vida simples,

 

E as outras pareciam gostar disso, sempre buscando excluí-la, era difícil interagir com elas,

Não bastava definirem um comportamento, ainda queriam obriga-la a seguirem-nas,

Comportamento este, puramente instintivo, baseado em sexo, abordagens negativas

E despeito, quem haveria de amar seres vazios desse jeito?

Tanto eles, quanto elas “farinha do mesmo saco”, ela gostava de defini-los,

Mas, ali onde estava, ela não precisava de homem algum,

 

Bastava a si mesma, seria autossuficiente, seria o bastante para protege-la,

Almejava uma faculdade, desejava um caminho em que se sentisse plena,

Onde construiria seu chão com honra, negando-se a vender o próprio corpo,

Ela havia percebido entre as amigas, que, no instante em que colocavam preço em si mesmas,

Perdiam tudo na busca incessante pelo dinheiro, trocavam seus valores por trocados,

Perdiam pelo caminho desde as medidas do corpo, do cérebro e até da alma,

 

Isso, no começo a fizera sofrer, era difícil deparar-se com suas amigas em cada esquina,

Se soubessem elas, o quanto eram amadas, entenderiam a pena que ela sentia,

Mas naquela hora, para aquele tipo de pessoa que se tornaram, e que provavelmente,

Sempre tivessem sido, já não importava mais o amor, apenas o dinheiro fácil,

Ela sentira-se fracassar, até perceber que tudo não passava de chantagem,

Outra forma que adquiriram para extorquir, lucrar sobre os outros,

 

Manipular as pessoas que ainda amavam, só porque nelas, não havia mais nada,

Mentes vazias corrompidas pela ambição, só vislumbravam meios de lucro,

Prostitutas de carteiras cheias, que buscavam um valor que não tinham,

Repetindo entre si mesmas: “putas são aquelas que dão de graça”...

Coitadas, tão vazias, que em busca de se estabilizar frente a sociedade,

Conseguir percorrer as ruas que tanto precisavam para manterem-se,

 

Tentavam denegrir quem tinha valor e não colocava preço aos seus sentimentos,

Ela, olhava a todas com o olhar incrédulo, vendo seus corpos e mentes

Consumirem-se em seus próprios vazios, isso a deixava embasbacada,

Sexo com hora marcada, corpos a definharem em seus prazos de validade,

Homens insatisfeitos a comprarem momentos de prazer,

Onde fora parar a tal dignidade? Quisera balbuciar algo, não soubera o que dizer...

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