quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Encontro Casual na Praça

 

Quem estaria mentindo, os olhos quando fingem não ver,

Ou aquele que jura amor e beija em falso sem perceber,

Confesso que gostaria de saber a resposta exata,

Sem meias palavras, saber qual seria a medida certa,

Ninguém ganha nada ao esconder-se entre as lacunas,

Mas, talvez no omitir-se também não haja o que ganhar,

 

Dependeria da situação alguém poderia alegar,

Falsear as histórias e dar a verdade roupagem nova,

Seria algo bom, até que ponto, haveria um ponto final para algo?

No exato instante em que se desiste e abandona ao acaso os sonhos,

Poderia alegar-se que sim, sem procurar me estender em evasivas,

A versão de cada pessoa que vejo sempre me parece autêntica,

 

Mas em certa parte da história, em alguma vírgula posta,

Não para o acaso, tudo muda, e vejo-as caírem nos vazios de si mesmas,

Esta minha vírgula poderia ter ocorrido naquela tarde chuvosa,

Em que o cheiro das frutas vinha me convidar para sentar na grama,

Eu deveria ter resistido, estava no intervalo do trabalho,

Mas sentei-me com uma sesta de morangos, sentir o vento,

 

Sorrateiro ele brincava com meus cabelos, como uma carícia,

Eu sorria mesmo sem perceber, meu encanto era evidente,

Minha admiração sempre foi incontida quanto a cada estação,

Uma borboleta sentou no meu pé, desejei guarda-la em uma imagem,

Olhei ao meu redor e encontrei um moço admirando tudo,

Caminhando por ali, como se estivesse perdido ao acaso,

 

Ele sorria disperso de mim, parecia pensar em algo mais adiante,

Eu pigarreei, abri um sorriso gentil e pedi se podia tirar uma foto,

Ele me olhou com olhos assustados, com um arrepio a percorrer a pele,

Eu sorri, encorajadora, me apresentei com uma estranheza na voz,

Ela estava rouca e sôfrega, algo havia mudado em mim,

Algo intenso e forte me pegou de surpresa e me fez sentir que não poderia resistir,

 

Mesmo desconcertada, entreguei a ele meu celular com a tela desbloqueada,

Ele sorriu de uma forma que me fez sentir única, perfeita, talvez, amada?

Eu quis duvidar, como o amor poderia cruzar meu caminho dessa forma,

Simplesmente, achar que poderia passar sem dizer absolutamente nada?

Quando tentei dizer algo que fosse um pouco mais interessante,

Percebi que minhas palavras também falhavam, inertes,

 

Seria mesmo o amor, aquele que cruza nosso caminho e nos deixa sem saída,

Como se destituísse todo o mundo de sua importância apenas para nos contemplar?

Aquele que suga toda a nossa força, como se fosse levada pela brisa fresca,

Seja como for naquela hora eu sentia que tudo poderia partir para outro lugar,

Eram os meus medos, e eu apenas desejei que ficassem bem distantes,

Então, soube que a chave para isso estava no abraço dele, postado a minha frente,

 

Mas sendo o amor coberto de mistério como eu poderia desvenda-lo?

Dizem que os medos nos acorrentam, eu senti que não naquele momento,

Sob o abrigo dos olhos daquele estranho, eu senti que amaria como nunca,

Ser digna de estar sob os seus cuidados nunca seria mais convidativo,

Embora não tivesse um roteiro escrito em que eu pudesse ser a protagonista,

Senti que toda a minha vida passou a fazer sentido com ele ali perto,

 

Me sentia protegida de uma forma que nunca havia imaginado antes,

Quis protege-lo, desejei fazer algo por ele, de repente desejei conhecer alguém,

Sem temer qualquer tipo de exposição, dei vida a voz que havia em meu coração,

Me desculpa, eu disse, mas, você é muito bonito, ele sorriu com o rosto avermelhado,

Eu sorri mais ainda, então, não bonito do tipo comum, mas daqueles com um gosto,

Um gosto que se quer provar, como se houvesse algo em você que me chama,

 

Não sei se você consegue me entender, peço que me perdoe pela invasão,

Com palavras tão abruptas, mas este sentimento ainda não havia tomado minha emoção,

Eu falava entre sorrisos e ele apenas sorria, sem uma única palavra,

Me ganhou para uma vida inteira; eu o disse tomar, porque já não me pertencia,

Ele agradeceu com uma frase curta, guardo comigo cada palavra,

Como se houvesse uma forma de esquecer sua voz rouca e máscula,

 

Senti meu coração pulsar fora de mim, descompassado,

Então, você pode tirar minha foto? Eu pedi com desembaraço,

Havia um misto de sentimento que explodiam em mim,

E eu precisava controla-los, nunca havia me sentido assim,

De que me valeria quedar em inércia e nunca mais vê-lo,

A tempos eu cruzava por aquele lugar e nunca o tinha visto,

 

Sem fazer muito alarde sobre o caso, mas meus lábios estavam secos,

E os dele, tão molhados, parecia que nossos corpos falavam alto,

Uma linguagem que ultrapassa os limites da voz, como um reflexo,

Do que sentíamos dentro um do outro,

Era como se não coubéssemos dentro de si próprios,

Será que fomos feitos para não pertencer a nós mesmos,

Uma espécie de metades que se unem para estar completo?

 

Eu teria me levantado, mas ele ficou parado, fazendo os retratos,

Os olhos dele tinham algo de mágico, algo fora do mundo, maravilhoso,

Era como se o toque dele fosse capaz de me modificar por inteira,

Desejei ter sentido o calor das suas mãos nas minhas,

Suas mãos oscilaram, será que ele poderia ouvir o que eu dizia,

Mesmo sem eu chegar a dizer nada, de repente o nada tomou forma...

 

Era todo o meu passado sem ele, era o vazio de um futuro indesejado,

Então o chegar também teve outro significado, o silêncio pareceu avesso,

Aquele momento se tornou importante sobremaneira, desmedido,

A efeito de todo o sentimento que exalava palpável entre nós dois,

Tão palpável que podíamos tocar um no outro, na fagulha de um olhar,

Ele, pediu se podia fazer um retrato comigo, aceitei na mesma hora...

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