Existe um lugar que se estende ao norte,
A partir da estrada margeada por árvores e algumas poucas
flores,
Cinco quilômetros a oeste de onde ficam as primeiras
montanhas,
À quatro quilômetros de um campo recheado por gramas
floridas,
Há quem alegue que elas nunca cessam o seu desabrochar,
Que os pássaros que cantam por lá são únicos e fazem chorar,
À direita deste lugar existe uma fonte de fogo de onde o sol nasce,
À esquerda ele se deita para descansar além do horizonte,
Mas, por algum motivo os campos de lá são os mais bonitos,
E a água que percorre o rio é amena – doce, serena e as vezes,
morna-,
Depende do lugar em que se põe o pé, algumas partes diferem,
Porém, o sol ardente nunca toca este lugar,
Lá é um lugar seguro e promissor,
O acesso se dá por um desvio bastante desconhecido,
Sua estrada, embora exista, não se encontra no mapa,
A cortina de árvores que a adorna, mantém-se fechada,
Apenas os que a conhecem conseguem alcança-la - a estrada-,
O sol que brilha um pouco acima do teto desta mata
Mantém-se vívido, o que proporciona uma claridade languida,
Suas flores guardam um cheiro de tempos passados,
Sempre que passo por lá recordo tantas histórias...
Foi lá que conheci o homem que eu amo,
A história é comprida, mas eu disponho de algumas linhas,
Era um dia de chuva, trovejava por lá,
Parei diante dele com a respiração ofegante,
Tentava me refugiar em algum lugar que estivesse seco,
Não trouxe guarda-chuva e se aproximava a tempestade,
Ou a forma de uma, dizem que neste lugar nunca cai ventos
fortes,
Foi então que o vi, ele enxugou o rosto com um lenço
amarelo,
E depois fitou-me, dizendo algo que eu não ouvi,
Seus lábios movimentavam-se rápidos e eloquentes – o entendi
-,
Se aquele rio que corria logo adiante fosse feito de tinta,
E todo ele entornasse entre os meus lábios em forma de
palavras,
Eu não seria melhor que fui, precisaria de um mar dele ou
mais,
E não seria o bastante para expressar todo o sentimento,
O amei de forma avassaladora que nem mesmo o vento me
tocava,
O trovão mais forte não continha o timbre da sua voz,
O relâmpago mais próximo e ardente não continha a luz do seu
olhar,
O raio mais cortante não me penetraria como ele,
Se cada gota tornasse palavra, mesmo somado a chuva não
bastaria,
Não pude ouvir nada, estava estagnada em tudo que sentia,
A neve do último inverno descia nas montanhas ao longe,
O frio que me escondia de amar alguém era espantado – ficava
distante-,
Quanto mais ele se aproximava mais eu correspondia,
Estremecia e não era por medo, ardia em brasa viva e não era
fogo,
Sentia o sangue correr mais intenso, algo dentro de mim
reagia,
Confesso que sobre isso não sabia que atitude tomar,
Embebi no doce dos meus lábios as palavras que pude,
Quis dizer o máximo do que sentia e não saiu nada,
Pensei em gesticular, foi quando a chuva caiu lá no horizonte,
Feito uma cortina de sentimentos ela veio em nossa direção,
Leva-se alguns minutos até que nos tome em suas mãos,
Leva-se muitos dias até que toda a neve derreta,
Não no nosso caso, o frio do meu coração derreteu na hora,
O gelo em meu olhar evaporou em sentimentos fidedignos,
E a chuva quando nos tocou serena parecia que cantava,
O primeiro pingo caiu no meu rosto, logo abaixo do meu olho,
Parecia uma lágrima de uma alegria desconhecida,
Os outros molharam meu cabelo, esvoaçando-o na brisa fresca,
Depois molharam a minha roupa rosa,
Em sobressalto contemplei o cair do seu lenço ao chão,
Nem me esforcei para juntar o vento o carregou consigo,
Não era apenas minha a emoção de estar com ele,
O tempo o tinha entre seus dedos e gostava disso...
Ele fungava enquanto falava alguma coisa e me olhava,
Eu tossi uma vez, engoli em seco e terminei próxima demais a
ele,
Ele parou para recuperar o fôlego, seus olhos brilhavam
intensos,
Passei a língua em meus lábios e elevei um dedo ao alto,
Desejei conquistar sua atenção, toquei em seu ombro,
Afrouxei os outros dedos e apertei-o, queria ver se era
real,
Trouxe-o: eu te amo me vi sussurrar, talvez feito uma tola,
Sem esperar por sua resposta o beijei naquele mesmo local,
Enquanto um bando de andorinha voava buscando abrigo,
E algumas tesourinhas pareciam brigar nos céus por entre os relâmpagos.