Cinco é o número que repito comigo,
Cinco beijos ele me deu nem um a menos,
Usou de seus lábios como um escudo contra o que eu dizia,
A cada instante freava minhas palavras com sua boca,
Castigo aviltante agora me espera – sua ausência-,
Mal soube que aquele seria nosso último selo,
- Amor, espera, tenho algo a dizer-lhe, é que...-,
Palavras entrecortadas por lábios macios
Que se desenharam de encontro aos meus e por fim,
Refrearam-se sobre a minha face, calavam-me,
Um ponto antes do final que se iniciava e eu não sabia,
Ora, um homem sempre metódico com os outros
Como poderia agir consigo mesmo?
Ele deve ter me avisado, em algum instante, ele deve,
Agora em quê isso importa se não o tenho comigo?
O carinho dos seus dedos penetrava-me a pele,
E alcançava um lugar profundo em mim, entre meus seios,
No lugar vago entre eles, lá mesmo onde havia um vazio,
Esteve repleto este vazio, repleto dele, agora apenas
ressoa,
A pulsar em desespero algo que meu coração tateia,
E que as lágrimas buscam acalmar quando minha visão se desfoca,
Carinhos que estão destinados ao fogo,
Lá será sempre sua morada - em mim, eu digo, em meu peito-,
Não seria de outro modo que o guardaria em busca de encontra-lo,
Em que se presta um endereço quando se guarda alguém na memória,
No lugar mais escondido da alma, e mais fluente,
Cada um que passa pode contemplar em mim uma parte dele,
Seja seu nome em erro ou uma parte do que vivemos,
Não faço da minha boca o santuário de uma única palavra
Que não possa contê-lo, é um pacto comigo mesma,
Não posso fugir disso, o amo e não escondo,
Alma, coração, um vazio cheio dele e as lembranças,
Tudo isso misturado estão a escrever os meus dias,
Penso em escrever uma nova história, mas já são cinco horas,
Dias depois, um nome voa ao sabor do vento e atinge minha
boca,
Feito um beijo repousa no pé do ouvido, o seu nome em cheio,
Chegou a minha alma ali mesmo, no meio da rua,
Sem pedir licença ele entrou e o encontrou dentro de mim,
Sua morada, por entre as lembranças e mais alguma coisa,
Saudade uns diziam, amor eu teimava sem me importar,
O que eu senti naquela hora, veja bem, não era ainda cinco,
Mas perdi o fôlego atordoada, outro alguém o chamava?
Se seus beijos eram selos nossas cartas não estão lacradas,
Permanecem guardadas para que todos possam contemplá-las,
Juro agora, como jurei em outras horas: o amo, como
nunca...-,
Mas antes que eu terminasse a frase que dizia para mim
mesma,
Uma mão amiga repousa em meu ombro e me chama,
Paro um momento, suspiro aquele cheiro bom,
Suspiro porque não parece real, eu conheço demais esse gosto,
Digo gosto, porque já está entre os meus lábios,
Antes de estar entre os meus braços, no abraço que guardava,
Uma promessa selada não pode ser esquecida,
O beijo que não tinha sido dado agora vinha à tona,
Fazia estremecer meus lábios a suspirarem sem falar nada,
Havia uma poça de água rasa na minha frente,
Parei antes de desviar dela, em mim nada era raso,
O que eu sentia era tão profundo que poderia me perder
Dentro de mim mesma se não soubesse como mantê-lo,
Uma das promessas que repito sobre o homem que sigo
Faz referência a alguma coisa que esqueci entre seus beijos,
Ora, veja bem, sua mão no primeiro momento
Agiu feito uma lâmina presa em minha garganta,
Segurou-a com força segura, enquanto me puxava para perto,
Depois repousou seus lábios nos meus atônitos,
Estou com dois dedos sobre os lábios trêmulos
Então, mãos seguras abaixam-se para os meus braços
E me puxam para si, vejo-me de encontro ao seu peito,
E o beijo que selava estava ali, a postos, -me aguardava eu espero...-,
Iniciei a frase como de costume visando não chegar ao fim.