A quem queira saber:
Meu nome é Bianca sem sobrenome,
Neste breve relato, gostaria de confessar,
Se por algum motivo quisesse mudar algo,
Nunca seria por arrependimento,
Os motivos, a seguir poderei revelar,
Eu amei, com toda a alma e com todo o sentimento,
Sempre sussurrava aos prantos para mim mesma,
Nunca irei amar, nunca me entregarei a alguém,
Essa questão de corpo e alma
É para os apaixonados, e apenas quando os convém,
E isso para mim é muito pouco,
Não satisfaz, não alimenta, é vazio por dentro,
Feito aquele beijo que se pousa nos lábios,
Para em seguida, disfarçadamente, limpar a boca,
Ou aquela mordida disfarçada que traz um leve sabor
De sangue tirado de um cantinho discreto da boca,
Se é para ferir porque eu teria que sentir?
Se não for para amar, porque motivo iria me entregar?
Morte iminente, premeditada, inconsistente,
O que é irônico considerando o quanto minha pele
Se arrepiava ao menor som suave e intenso da sua voz,
Cada vez que o ouvia, sentia meu corpo procura-lo,
Movido por uma atração única, irresistível,
Se sentir seu abraço custasse a minha própria vida,
Por Deus, não haveria alternativa: me entregaria!
Mas me senti insegura quanto ao que poderia dizê-lo,
Parei, disfarcei, fechei os olhos, olhei para o chão úmido,
Desejei do fundo do coração que ele viesse ao meu encontro,
Ele me pareceu não dar ouvidos, senti como se estivesse
fechado
Trancado para o amor, fadado a algo distante que não pude
entender,
Sentei-me no banco mais próximo, esperei por um cumprimento,
O que, naquela terça-feira de outono, não aconteceu,
Me senti entristecida, e isso pareceu despertar algo em mim,
De repente, deixou de fazer sentido todo aquele
distanciamento
Que eu mantinha de tudo e todos,
Lembro-me com real intensidade, como desejei encontrar seus
olhos,
E mesmo que por um instante, enamora-lo,
Mas algo em mim me deteve, ele era inteligente,
Eu precisaria de uma estratégia, uma forma de conquista-lo,
Ele não parecia o tipo de homem volúvel,
Eu não soube ao certo como reagir a isso,
Mas tomei minha decisão, não era o que se poderia definir
plano,
Mas era uma boa estratégia, usar minha arte feminina e conquista-lo...
Na quarta de outono de 1925, quando o sol brilhou no
horizonte,
Eu já o esperava, com maquiagem feita e um vestido vermelho,
Conquistaria ao menos o seu abraço, já seria suficiente,
O apertaria em meu corpo para guardar em mim seu cheiro,
E poder senti-lo, ao menos, no decorrer do restante do dia,
Destino traiçoeiro, ele não veio, desencontro frio e
calculista,
Pensei comigo mesma, precisava mais que isso,
Ele merecia meu esforço, eu tinha certeza,
Um distanciamento de quem se ama, embora doa,
Faz com que os sentimentos se personifiquem,
Consegui imagina-lo ao meu lado em cada hora
Do dia que insistia para que eu não desistisse,
Ah, como minha alma procurava a dele,
Como minha pele desejava poder ao menos um instante...
As 3:30 h da madrugada, eu ainda não sabia o que fazer,
As 5:00 h, acordei, abri os olhos e chamei seu nome,
Não houve resposta, lágrimas me tomaram de assalto,
Em um ato instintivo, toquei meu rosto,
Nem mesmo eu acreditei no que sentia,
Amava-o, em tão pouco tempo, como poderia?
Será que a alguém seria possível entender um amor assim?
Esforço-me para contar com o máximo de detalhes,
Porém, sempre que tento definir tudo que senti
Me faltam palavras, com um arfar de ombros, deitei-me,
novamente,
Na quinta-feira, outonal, pedi um dia de folga no trabalho,
Sentei-me e fiquei o dia inteiro a escrever uma carta,
Com a única intensão de descrever toda a emoção,
Que senti em nosso breve cruzar de olhar,
Deus é testemunha do quanto me esforcei
Para demonstrar tudo que senti naquela vez,
Se isso não for amor, não sei mais o que poderia ser,
A mulher apaixonada em mim sabia,
Que um singelo abraço, jamais seria suficiente,
Mas seria um bom começo, o bastante para saciar a vontade
Que me consumia por dentro, me deixando trêmula,
De que adianta amar com tanta profundidade,
Sem jamais declarar o quanto o queria?
O mais difícil foram as primeiras linhas, depois tudo correu
com naturalidade,
Eu sempre acreditei no amor, só não imaginava que o
encontraria,
Ainda mais dessa forma tão displicente, entregue a
casualidade,
Nas últimas linhas da carta levantei a possibilidade de ser retribuída,
As 3h daquela mesma noite, próxima do ponto final,
Conclui que eu tinha belas chances, pelo menos de ser
ouvida,
As 7: da manhã, lá estava eu, sentada no banco a espera-lo,
Carta em mãos, desatenção disfarçada, sorriso tímido,
Se ele não me correspondesse, como eu faria?
Como seriam o decorrer dos próximos dias?
Tão solitários quanto os anteriores,
Por Deus, não sei se aguentaria, será que ele me entenderia?
Ele sentou-se bem próximo, com um singelo roçar de braços,
Ofertei meu melhor sorriso, senti meu coração dar um salto
Quando o vi retribuir, nem consegui acreditar,
Esse sempre foi o sonho de amor que guardei comigo,
Logo que senti seu cheiro, seu calor a me tocar por inteira...
Lembro que essa conversa aconteceu a uma quadra da praça,
Sem refletir sobre as consequências dos meus atos,
Eu acariciei sua mão, depois arrisquei tocar seu rosto,
Puxando-o com delicadeza ao encontro dos meus lábios,
Provei o amor em cada roçar, do doce da saliva
Ao sabor da sua boca macia de encontro a minha,
Jurei para mim mesma que o amaria por toda a vida,
Senti que ele também me amava, com aquele beijo,
Entrelacei nossas mãos e seguimos nosso caminho juntos
Até hoje, e acredito que até o fim das nossas vidas,
Talvez seja difícil acreditar, pois a poucos é possível amar
nessa medida.