terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Casal Sentado Num Banco

 

A quem queira saber:

Meu nome é Bianca sem sobrenome,

Neste breve relato, gostaria de confessar,

Se por algum motivo quisesse mudar algo,

Nunca seria por arrependimento,

Os motivos, a seguir poderei revelar,

Eu amei, com toda a alma e com todo o sentimento,

 

Sempre sussurrava aos prantos para mim mesma,

Nunca irei amar, nunca me entregarei a alguém,

Essa questão de corpo e alma

É para os apaixonados, e apenas quando os convém,

E isso para mim é muito pouco,

Não satisfaz, não alimenta, é vazio por dentro,

 

Feito aquele beijo que se pousa nos lábios,

Para em seguida, disfarçadamente, limpar a boca,

Ou aquela mordida disfarçada que traz um leve sabor

De sangue tirado de um cantinho discreto da boca,

Se é para ferir porque eu teria que sentir?

Se não for para amar, porque motivo iria me entregar?

 

Morte iminente, premeditada, inconsistente,

O que é irônico considerando o quanto minha pele

Se arrepiava ao menor som suave e intenso da sua voz,

Cada vez que o ouvia, sentia meu corpo procura-lo,

Movido por uma atração única, irresistível,

Se sentir seu abraço custasse a minha própria vida,

Por Deus, não haveria alternativa: me entregaria!

 

Mas me senti insegura quanto ao que poderia dizê-lo,

Parei, disfarcei, fechei os olhos, olhei para o chão úmido,

Desejei do fundo do coração que ele viesse ao meu encontro,

Ele me pareceu não dar ouvidos, senti como se estivesse fechado

Trancado para o amor, fadado a algo distante que não pude entender,

Sentei-me no banco mais próximo, esperei por um cumprimento,

 

O que, naquela terça-feira de outono, não aconteceu,

Me senti entristecida, e isso pareceu despertar algo em mim,

De repente, deixou de fazer sentido todo aquele distanciamento

Que eu mantinha de tudo e todos,

Lembro-me com real intensidade, como desejei encontrar seus olhos,

E mesmo que por um instante, enamora-lo,

 

Mas algo em mim me deteve, ele era inteligente,

Eu precisaria de uma estratégia, uma forma de conquista-lo,

Ele não parecia o tipo de homem volúvel,

Eu não soube ao certo como reagir a isso,

Mas tomei minha decisão, não era o que se poderia definir plano,

Mas era uma boa estratégia, usar minha arte feminina e conquista-lo...

 

Na quarta de outono de 1925, quando o sol brilhou no horizonte,

Eu já o esperava, com maquiagem feita e um vestido vermelho,

Conquistaria ao menos o seu abraço, já seria suficiente,

O apertaria em meu corpo para guardar em mim seu cheiro,

E poder senti-lo, ao menos, no decorrer do restante do dia,

Destino traiçoeiro, ele não veio, desencontro frio e calculista,

 

Pensei comigo mesma, precisava mais que isso,

Ele merecia meu esforço, eu tinha certeza,

Um distanciamento de quem se ama, embora doa,

Faz com que os sentimentos se personifiquem,

Consegui imagina-lo ao meu lado em cada hora

Do dia que insistia para que eu não desistisse,

 

Ah, como minha alma procurava a dele,

Como minha pele desejava poder ao menos um instante...

As 3:30 h da madrugada, eu ainda não sabia o que fazer,

As 5:00 h, acordei, abri os olhos e chamei seu nome,

Não houve resposta, lágrimas me tomaram de assalto,

Em um ato instintivo, toquei meu rosto,

 

Nem mesmo eu acreditei no que sentia,

Amava-o, em tão pouco tempo, como poderia?

Será que a alguém seria possível entender um amor assim?

Esforço-me para contar com o máximo de detalhes,

Porém, sempre que tento definir tudo que senti

Me faltam palavras, com um arfar de ombros, deitei-me, novamente,

 

Na quinta-feira, outonal, pedi um dia de folga no trabalho,

Sentei-me e fiquei o dia inteiro a escrever uma carta,

Com a única intensão de descrever toda a emoção,

Que senti em nosso breve cruzar de olhar,

Deus é testemunha do quanto me esforcei

Para demonstrar tudo que senti naquela vez,

 

Se isso não for amor, não sei mais o que poderia ser,

A mulher apaixonada em mim sabia,

Que um singelo abraço, jamais seria suficiente,

Mas seria um bom começo, o bastante para saciar a vontade

Que me consumia por dentro, me deixando trêmula,

De que adianta amar com tanta profundidade,

Sem jamais declarar o quanto o queria?

 

O mais difícil foram as primeiras linhas, depois tudo correu com naturalidade,

Eu sempre acreditei no amor, só não imaginava que o encontraria,

Ainda mais dessa forma tão displicente, entregue a casualidade,

Nas últimas linhas da carta levantei a possibilidade de ser retribuída,

As 3h daquela mesma noite, próxima do ponto final,

Conclui que eu tinha belas chances, pelo menos de ser ouvida,

 

As 7: da manhã, lá estava eu, sentada no banco a espera-lo,

Carta em mãos, desatenção disfarçada, sorriso tímido,

Se ele não me correspondesse, como eu faria?

Como seriam o decorrer dos próximos dias?

Tão solitários quanto os anteriores,

Por Deus, não sei se aguentaria, será que ele me entenderia?

 

Ele sentou-se bem próximo, com um singelo roçar de braços,

Ofertei meu melhor sorriso, senti meu coração dar um salto

Quando o vi retribuir, nem consegui acreditar,

Esse sempre foi o sonho de amor que guardei comigo,

Logo que senti seu cheiro, seu calor a me tocar por inteira...

Lembro que essa conversa aconteceu a uma quadra da praça,

 

Sem refletir sobre as consequências dos meus atos,

Eu acariciei sua mão, depois arrisquei tocar seu rosto,

Puxando-o com delicadeza ao encontro dos meus lábios,

Provei o amor em cada roçar, do doce da saliva

Ao sabor da sua boca macia de encontro a minha,


Jurei para mim mesma que o amaria por toda a vida,

Senti que ele também me amava, com aquele beijo,

Entrelacei nossas mãos e seguimos nosso caminho juntos

Até hoje, e acredito que até o fim das nossas vidas,

Talvez seja difícil acreditar, pois a poucos é possível amar nessa medida.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Reclusão em um Livro

Dezembro seguia sua rotina, dia após dia,

A vida passava vazia e tristonha,

Ainda na metade do ano ela fizera 30 anos,

Ainda podia recordar dos seus sonhos,

 

Desejava, ao menos um pouco, revive-los,

Lembrava da infância humilde que teve,

Onde fazia as bonecas de milho ganharem vida,

Bolinhos, e objetos esculpidos no barro,

Tudo ao seu redor se transformava

E parecia transportá-la para um outro mundo,

 

Morava no interior, em um reino perdido no meio do mato,

Lá havia poucos vizinhos, se contentava em amar e cuidar dos bichos,

Teve uma adolescência vazia e reclusa,

Por não ter muitos amigos era impedida de ter vida social,

 

Não tinha liberdade para sair sozinha,

Não ganhava a confiança dos pais para reger sua vida,

Era presa em algemas invisíveis que a freavam,

Marcavam sua pele sem muita conversa,

 

Filha de mãe distante e pai possessivo,

Não conseguia controlar nem dar vida as suas ideias,

Se trancava no quarto, chorava sozinha,

Corria para o longe para poder contar com sua própria companhia,

 

Sentia com todo o coração que ninguém a entendia,

O amor que provava no seio familiar não sustentava,

Pelos erros que seus pais cometeram: a julgavam,

Os desejos que sonharam projetavam sobre ela,

 

Que liberdade teria para viver deste jeito?

Não importava o que pensava ou sentia,

Imponham-na a viver como eles queriam,

Até seus diários rabiscados em cadernos eram violados,

 

Suas leituras para passar o tempo,

As músicas que escutava, tudo era vigiado,

E punido com rigor excessivo,

Ela nunca conseguiu entender isso,

 

Não podia falar sobre seus anseios, seus desejos,

Suas paixões como as que as outras meninas tinham,

Não era entendida, apenas julgada, subjugada,

Excluía-se, nunca achou que tivesse alternativa,

 

Logo cedo, decidiu ir embora,

Partir para algum lugar ao longe,

Permitir que a vida a conduzisse para algo diferente,

Ironia do destino, decidiu por se casar,

 

Enfrentou o óbice da família e até da sociedade,

As pessoas a apontavam: só pode estar grávida!

Ela ria por fora, chorava por dentro, mas lutava,

Nunca permitiu-se ficar por muito tempo no mesmo lugar,

 

Havia algo que faltava em sua vida 

E ela seria forte o suficiente para buscar,

Não importava quem ou o que teria que enfrentar,

O mundo nunca foi feito para pessoas fracas,

Aquelas criadas para estarem rodeadas por redomas,

 

Que apenas acomodavam-na, prendendo mais que protegendo,

Como se o mundo fosse recebe-las da mesma forma,

Com aquele tapa que era seguido por uma carícia,

O mundo era muito mais cruel do que aparentava,

 

Não a preparavam para viver, apenas prendiam sua mente,

A falta de diálogo em sua família levou-a embora de casa,

A mesma falta de diálogo emudeceu suas fugas doloridas,

Aprisionavam seus impulsos, tudo que era ou poderia ter sido,

 

Todos queriam que ela fosse de um jeito, como poderia contenta-los?

Vinham com suas ideias prontas como se o mundo se resumisse a aquilo,

Em que parte do seu caminho permitir-se-ia ser algo em que pudesse se encontrar?

Quem hoje poderia falar sobre aquela que ousou sonhar,

Mas foi proibida, impedida desde pequena,

Ninguém é igual a ninguém, em busca de proteger destroem as almas,

 

Agora aos trinta, decidiu preencher os vazios do tempo,

Aproveitar tudo que lhe foi tirado, impedido,

Mas os bares eram frequentados por jovens,

Seus sonhos de menina haviam mudado,

Roubaram sua inocência de pensar,

Mas também, levaram os sonhos em que acreditar,

 

Custava a tempos atrás sentar e conversar?

Custava confiar ao menos um pouco em suas habilidades

E maturidade para tomar suas próprias decisões?

Aquela que excluíram a tempos atrás,

 

Agora se recusava a sair da sua reclusão,

Havia conquistado seu carro, sua casa, era independente,

Mas, haviam decidido ou imposto que preferisse a solidão,

Então, por que agora a procuravam e desejavam cumplicidade?

Pelas Noites da Balada

 

Muito mais do que pensava que amaria,

Ele pegou o telefone mil vezes,

Mil vezes discou seu número na tela,

Mil vezes desistiu insegura de como agir,

 

Era uma noite a mais na balada,

Ela dançava, bebia uma cerveja ou outra,

Olhava ao redor mas nada mexia com sua emoção,

Haviam apenas pessoas absortas em seus mundos

 

De fantasias em que buscavam ostentar uma vida

Que não tinham, com uma felicidade que não havia,

No fim da noite de liberdade em que ninguém desejava

Realmente encerrar a noite de forma solitária,

 

Restava apenas aquele zumbido no ouvido,

E a tontura que parecia corroer o cérebro,

Entre beijos babados e espaços privados,

Não restava nada que merecia ser lembrado,

 

A melhor parte era estar do lado de fora vendo as estrelas,

As quais brilhavam assustadas, apagadas pelas luzes

Ofuscantes da cidade que dormia um sono sórdido,

De olhos fechados para todo o murmúrio

 

E o tumulto daqueles seres vivos vazios de si mesmos,

Corpos errantes perambulantes por espaços a serem preenchidos,

Eventualmente, uma música chamava a atenção,

Uma dor aguda tocava no fundo do coração,

 

A solidão a qual buscava apaziguar,

Tomava-a pela mão e a machucava,

Ela não admitia, mas sentia-se ferida,

Olhava para as pessoas a sua volta

 

E se via, aparentemente reconhecida,

Mas nada que sustentasse sua emoção,

Parecia haver uma pessoa mais vazia que a outra,

Vestiam roupas, acessórios, maquiagem chamativa,

 

Homens pagavam bebida a custo de beijos,

Mulheres entregavam seus corpos, vendiam suas almas,

Alguns dançavam e achavam que podiam toca-las,

Havia preço alto para se ter companhia,

 

Pois não havia espaço para conversar,

De que forma reconheceriam um ao outro?

Danças extravagantes, passos ensaiados,

Nada sólido em que pudesse se prender,

 

Nenhuma palavra ou frase que merecesse

O mérito de se tornar uma história de amor,

Como seria possível preencher vazios com mais vazios?

Só restava entornar o gargalo, dançar com poucos,

 

Pouco era possível entender sobre pessoas que frequentavam festas

Sem saber dominar um único passo de dança,

Ir a um banheiro lotado, secar o rosto em toalhas de papel,

Fingir que tudo estava se saindo bem,

 

Trocar telefone com um, depois com outro,

No outro dia se ver dividida entre desejar uma mensagem,

Um toque, ou na pior das expectativas: uma ligação,

Travar uma conversa frívola e perceber que perdeu-se a chance

 

De guardar um beijo para um outro dia,

Uma outra hora, ou quem sabe, outra boca,

Onde estava a pessoa que desejava amar alguém,

Aquela que, por vezes, havia sonhado em ter?

Ela já não sabia, só percebia que aquilo não iria adiante,

 

No caminho de estrelas que a guiava a seguir adiante,

Alguém estendeu um tapete de luzes ofuscantes,

Nos braços em que ela sonhou abrigar o amor,

Entravam e saiam pessoas embaladas pelo ritmo

Da dança, que por algum motivo, não parava,

 

A vista do salão em que dançava era fria e sombria,

Onde se podia ver prédios erguendo-se para o alto,

Ela sorria, sempre soube que buscavam a lua,

Mas nunca entendeu porque motivo precisavam ofusca-la,

 

As ruas silenciosas ganhavam a vida dos sonhadores

Que as percorriam, reconhecendo histórias,

Testemunhando pessoas vagarem em busca de si mesmas,

Mas ela sempre repetia, estava feliz pelas flores que se abriam,

 

As quais lembravam vagamente, as que possuía em sua janela,

Seus cachorros a espera-la, talvez, tristes por sua ausência,

Quem sabe podiam estar sem água ou ter faltado a comida,

Ela estava longe já não saberia, ou quem sabe, nem ao menos voltaria,

 

Ela confiava no seu potencial para dirigir,

Sempre que estava ao volante se privava de beber,

No entanto, sabia que estava na contramão da grande maioria,

O que a fazia pisar no pedal e correr para sentir a brisa,

 

Vagando por entre aquelas ruas malfeitas,

Respeitando sinais, procurando prudência,

Então desacelerava, havia pouco para admirar,

Tudo caia aos poucos na rotina,

 

Mas solitária como percorria os ares da cidade nova,

Ela não percebia que, ao longe, alguém a observava,

Com uma expressão de admiração, uma gota de contentamento,

No instante em que ele a convidou para uma dança,

 

Ela percebeu que a direção que sua vida havia tomado,

Era o melhor rumo que podia ter escolhido,

Então viu o quanto foi bom ter se valorizado,

E buscado mais que uma conversa de bar para conquista-la.

TE AMO!

 

Sem conseguir conter as lágrimas,

Ela entregou-se a dor que a abraçava,

Deslizando por seu rosto, deixando-a exposta,

Sentia suas forças esgotarem-se na mesma hora,

 

Permitiu-se cair ali mesmo, no chão frio,

De onde se encontrava conseguia vê-lo sangrar,

Sua dor a dominava, a entorpecia,

Não conseguia, nem queria controlar o que sentia,

Sua dor eram lâminas afiadas sobre a sua alma,

 

Sentia que percorria suas veias e a corroía,

Como se sua própria alma lhe fosse roubada,

Pois sem ele de onde tiraria forças?

Ela havia jurado a si mesma, jamais chorar,

 

Mas vê-lo sofrer, enxergar naqueles olhos castanhos,

Que sempre tivera brilho intenso, seguro, protetor,

Um resquício de quem padecia e via a morte ao seu lado,

Não deixou alternativa senão escoar sua dor em lágrimas,

 

Lágrimas de sangue escureciam seu olhar,

Já não via mais nada na sua frente, somente a vontade de protege-lo,

De demonstrar todo o amor que sentiu desde o primeiro momento,

Suas lágrimas escorriam quentes,

 

Ela sentiu no pulsar confiante do seu peito

Que ainda tinha forças para abriga-lo,

Rastejou até ele, o tomou nos braços,

Deixou que suas lágrimas o molhassem por inteiro,

 

Com um pedido audível, sensível, visível,

De que a tudo resistisse,

Pois precisava dele ao seu lado,

Ele, sempre tão forte, padecia com seus olhos avermelhados,

 

A dor que ele guardava em seu peito,

Escorria da sua alma e o afogava dentro de si mesmo,

Precisava salva-lo, não poderia permitir que Deus o tirasse tão cedo,

Acreditava que o amor não morria se transformava,

Mas sabia dentro dela, que nunca estaria pronta,

 

O amava a cada segundo, a cada instante,

Para além do eterno, um abraço a mais de todo o sempre,

Seus soluços rompiam o silêncio,

Seu amor vencia a dor que tentava toca-lo,

 

O abraçou como quem entregaria a própria vida,

Se preciso fosse, para um instante a mais ao seu lado,

Não poupou amor para abriga-lo,

Os olhos dele se fecharam por um momento,

 

Como se estivesse um pouco mais calmo,

Devido as suas palavras enternecidas,

“Eu preciso de você ao meu lado,

Esta me ouvindo?” Lhe disse, abrigando-o em si mesma,

 

Jogada aos seus pés, entregue a tudo que sentia,

Guiada pela certeza, sem ele não viveria,

Ele parecia ter sido feito para ela,

A protegia a todo custo, se entregava de uma forma

Que, ela tinha certeza, ninguém mais faria,

 

Sentia seu corpo frágil, entregue a dor

Assim, apertou o abraço fazendo-o deitar no seu colo,

Entregue a esse gesto com todo o carinho do mundo,

O pediu que ficasse, falou sobre o quanto era importante,

O quanto o amava com toda a vida e mais a cada instante,

 

Beijou seu rosto, seu corpo triste,

Provou o gosto do sangue dos seus lábios,

Com o único pedido de afasta-lo do vínculo da morte,

Entregando a ele, seu amor, sua alma, o que fosse preciso,

 

Ela o abrigava perto do seu peito,

O embalando com um amor que ele sabia pertence-lo,

Jamais permitiria vê-lo jogado nas mãos do sofrimento,

Vez que, para o amor que sentiam um pelo outro,

Nunca houve momento ou lugar certo,

Todo o instante era hora de demonstrar o que sentiam,

 

Um cuidava do outro, não foi para isso que inventaram o amor?

Venha comigo, disse ela, eu imploro,

É apenas mais um dia de dezembro,

Não faça com que isso se torne um eterno tormento,

 

Não entregue-se a esta dor faminta e solitária,

Que ao invés de suprir suas lacunas,

O priva, o distancia de tudo que juramos acreditar,

Ele não falou nada, mas ela pode ver em seu olhar o quanto a amava,

 

Ele não desistiria de ambos, resistiria ao que fosse preciso,

Aos poucos ela sentiu seus olhos afastarem-se do escuro,

Mas permitiu que a dor ficasse mais um pouco,

Enquanto ele a ouvia ler uma história de amor,

Ela, então lhe sussurrou com um sorriso tremulo nos lábios,

Eu te amo, jamais esqueça disso.

Bom Sono

Ele sempre dizia que a amava da mesma forma,

Seguia seu ritual firmemente calculado,

Mandava-lhe flores na hora certa,

Não esquecia sequer um único aniversário,

 

Porém, ela sentia que faltava algo entre eles,

Ela seguia seu ritual de mulher madura,

Marcava hora no salão, cuidava da pele,

Arrumava os cabelos, fazia as unhas,

 

Mas havia algo que a afastava dele,

Algo que ela não conseguia evitar ou entender,

Cada vez que conversavam as palavras falhavam,

O diálogo era monótono, não acrescentava,

 

Ele parecia não a ver realmente,

Ela havia se cansado de todas as suas manias,

Das roupas espalhadas pelo chão,

Da toalha molhada sobre a cama,

 

Da sua mania de querer resfriar por onde andava,

Como se tivesse uma necessidade de mantê-la

Sempre protegida, pendurada em seus braços,

Dependente de cada um dos seus passos,

 

Desde a primeira noite em que passaram juntos,

Ele sempre a fazia dormir abraçada a ele,

Como uma dependência de tê-la por perto,

Ela entendia sua mania por proteção,

Mas as vezes, isso parecia atordoa-la,

Desviar o foco, tirar sua atenção,

 

Certa vez, tarde da noite, enquanto ele dormia,

Ela sentou-se silenciosa sobre a cama macia,

E pensou sobre o quanto ele a amava de forma até, desmedida,

Mas ela ainda não dominava o que sentia,

 

Somente em seus mais belos sonhos,

Ele parecia o homem ideal para se passar os anos,

Ela não sabia se estava preparada para viver tudo isso,

Sentia seus anseios, medos infantis sempre retornando,

 

Como se nunca tivessem partido,

Ela desejava conversar com ele sobre isso,

Mas não conseguia se expor, a insegurança calava a sua voz

Antes mesmo que ela encontrasse as palavras certas para falar algo,

 

O medo a dominava, a calava, e ela se permitia ser conduzida,

Aceitava sem pensar tudo que ele a propunha,

Tinha todos os seus desejos ao próprio alcance,

Mas não sentia dentro dela que isso era suficiente,

 

Havia algo nela que estava muito errado,

Um sentimento de vazio que a consumia por dentro,

Quanto mais ela tentava escapar deste sentimento,

Mais se via consumida por este estranho lamento,

 

As vezes, parecia que ele notava algo errado,

Mas ela sempre respondia de forma evasiva,

Sentia-se atordoada ao ver o velho medo retornando,

Mas quanto mais fugia mais se via perdida,

 

Parecia-lhe que realmente não havia saída alguma,

Como poderia contar a ele seus mais profundos segredos?

Será que ele a entenderia, será que a aceitaria assim mesmo?

Ela não era perfeita, fazia questão de repetir isso,

 

Mas sentia que ele a enaltecia, que a via de uma forma sobre-humana,

Que ela temia, na parte mais profunda de si mesma,

Não ser capaz de atingir suas expectativas,

Quando se indagava sobre ser feliz ou não,

Ela sabia que a resposta era positiva, assim lhe ditava o coração,

 

Lembrou-se ela que, certo dia, ele procurou um beijo em seus lábios,

E ela desviou com uma desatenção calculada,

Ele pareceu não perceber, então a acariciou no rosto,

E a fez olhar no fundo dos seus olhos,

 

Ela sorriu com lágrimas no olhar diante de tanto amor,

Mas ainda assim, quando ele a abraçou com esmero,

Ela, apesar do esforço, não achou que sentia o mesmo,

Seus segredos estavam colocando obstáculos em seus sonhos,

 

Ela sentia que o amava profundamente, porém,

Não se via segura para abrir-se com ele,

Ela dormia em seus braços com um sonho recorrente,

Amava-o o máximo que podia apenas porque parecia ser

O que ele desejava dela, não porque realmente o sentisse,

 

Havia algo gritante de errado, algo que não se encaixava,

Ainda na cama, ela virou-se para o lado e enterneceu-se ao contempla-lo ressonar,

Seu rosto era lindo, tranquilo, parecia sorrir para ela,

Fez um carinho nele, abaixou-se e tocou de forma suave sua boca.

sábado, 12 de dezembro de 2020

Um Cigarro, Por Favor?

 

Ele colocou um disco antigo na vitrola,

Serviu um drinque puro acompanhado de gelo,

Sentou-se em sua poltrona preferida,

Com uma perna estendida e a outra erguida sobre ela,

 

De uma forma absorta e livre,

Afinal, estava em sua casa,

Ali, podia agir como lhe conviesse,

Mas aquela música ousava falar de amor,

 

E um rosto pairava sobre ele como uma miragem,

Nunca acreditou que amaria algum dia,

Mas, admitia com um pingo de desconfiança,

Um dia encontraria alguém para amar por toda vida,

 

Mas sobre aquela moça, não sentia vontade de procura-la,

Apenas sua voz soava tremula aos ouvidos,

Feito um gemido de felicidade incontida,

Mas ele não chegava a acreditar que fosse isso,

 

Acendeu um cigarro, admirou-se ao notar os dedos trêmulos,

Tragou até sentir a fumaça dentro de si,

Até sentir-se absorvido por aquela sensação,

Até que seus nervos sentissem-se um pouco melhor,

 

Fazia desenhos com a fumaça enquanto ela subia até o teto,

Admirava a forma como parecia domina-la,

Pensava que, assim o faria sempre em sua vida,

Mas quando tratava-se daquela moça ele perdia sua força,

 

Perdia a pose de quem controlava tudo ao seu redor,

E as coisas recusavam-se a fazer sentido,

Eventualmente, uma lágrima trazia luz aos seus olhos,

Mas ele escondia-a dentro da penumbra do quarto,

 

Com o tempo, o escuro se tornou sua melhor companhia,

Seu drinque estava gelado, trazia um gosto bom,

Ele sentia-se tonto, entregava-se a sensação de contentamento,

Mesmo que fosse por pouco tempo, sentia-se tranquilo,

 

Repensava consigo todos os seus compromissos,

Que o esperavam logo que a noite terminasse,

E prendia-se ao trabalho como uma boa forma de se viver,

Algumas vezes, ele acreditava que pudesse reviver

Aquele sentimento que acreditou sentir nela,

Mas outrora, ele acreditava que aquilo fosse uma espécie de vício,

 

Uma necessidade por sentir-se comprometido com algo,

Algo muito distante do que denominaria desejo,

Absorvido por um caminho diferente de tudo que havia vivido,

Eu te amo, ele repetiu aos seus ouvidos,

Mas, acreditava em seu íntimo, que nunca chegara a sentir isso,

 

Ele queria alguém com quem compartilhar seus momentos,

Alguém com quem pudesse falar dos seus sonhos,

Mas quanto a amar realmente, ele se recusava,

Para que iria se entregar dessa forma?

 

Tudo que via nas outras pessoas não passava de felicidade passageira,

Nada comparado as suas músicas, seu drinque, seu cigarro,

Sentia-se mais absorvido, mais completo de alguma forma,

As pessoas tinham o costume de quererem manipula-lo,

 

Agora, estava protegido disso, seguro em seus aposentos,

Tudo estava meticulosamente organizado conforme sua vontade,

Mas os beijos daquela moça o pegavam pelo braço,

E desejavam conduzi-lo para algum lugar, ao longe,

 

Olhou sua forma diante do espelho,

Percebeu o quanto ele era atraente,

Não merecia portar-se feito um escravo,

A mercê dos desejos de uma mulher insolente,

 

Frágil demais aos seus compromissos,

Destituída de sentimentos profundos,

Ele não se entregaria a este amor egoísta,

Em que só dava ser receber nada em troca,

 

Ascendeu outro cigarro, as horas passavam o sono não vinha,

Sentia-se tolo por tentar enganar-se nessa medida,

Aquela moça se entregou a ele, era verdade, porém cobrou preço alto,

Prostituição era o nome próprio, ele pagou não apenas com o dinheiro,

 

Sujou o corpo quando a tocou, a alma por trair a si mesmo,

Como fora capaz de se permitir a algo assim tão profano?

Não era amor o que encontrou nela, aquilo tinha outro nome,

Carência, falta de amor próprio, falta de valorizar a si mesmo,

 

Perda completa e desmedida da sua dignidade,

Se ele tivesse se dado um mínimo de valor,

Jamais teria tentado conquistar com dinheiro,

O que só se alcança através de sentimento,

 

Sentia-se usado, como uma marionete nas mãos

De quem era acostumada a usurpar tudo que tocava,

Sorte sua ter protegido o seu coração,

Mas seus jogos ainda o prendiam, precisava se livrar,

 

Como foi ardilosa ao lhe prometer amor,

Sabendo o quanto ansiava por isso,

Chegou a chorar quando decidiu dar fim naquilo,

Um choro falso feito uma aranha a prendê-lo,

 

Chegou até mesmo a chantageá-lo,

Não havia limites para o seu comportamento,

Como foi falsa, traiçoeira, ao entregar-se a qualquer um por trocados,

Ele havia errado, agora tentava apagar seu passado.

Homens x Mulheres

 

Meninas vestem rosa, meninos usam azul,

Vermelho somente para mulheres decididas,

Preto, dedica-se aos que se encontram de luto,

Mas, por favor, somente por sete dias,

 

Não menos importante, o branco destina-se para o casamento,

Há quem contrarie essa tese e afirme que é somente para as virgens,

Então, por favor, outras mulheres não permitam-se ao amor,

Do contrário vocês serão apontadas pela sociedade,

Como aquela que, ousou um dia arriscar-se, chamada: divorciada;

 

E os homens adultos usam o que? E caso decidam casarem-se?

Aquele tradicional fraque preto e branco,

Que dizem, lembrar os pinguins do gelo?

Então o casamento é só isso? Algo decidido, imposto, comercializado?

 

Quem foi que se apossou das cores

E as distribuiu por entre a sociedade para fazer distinções?

Ah, um recado comercializado, imposto pela cultura:

Homens sejam sempre fortes, territorialistas, possessivos,

 

As mulheres precisam que vocês marchem cegos

Rumo ao caminho que vocês decidam ser o melhor,

Enquanto, a elas só lhes cabe cair aos chãos,

Calarem suas vozes que gritam em suas almas,

Através de gestos meticulosos e lágrimas por seus rostos,

 

Jamais ousariam decidir por si mesmas,

Este direito lhes foi negado ainda na nascença,

Há profissões para as quais elas jamais estariam habilitadas,

E quando enxergarem lágrimas nos olhos dos seus homens,

 

Por favor, mulheres, lhes virem as costas,

Aos homens não lhes foi concedida esta prerrogativa,

Chorar é pura demonstração de amor,

Ao homem é impedido amar, a sentir desde sempre,

 

Quem é que ousaria contrariar a mãe que o pede para engolir o choro?

Pois não é coisa de menino permitir-se sentir dor,

Cale sua voz, cale seu coração, cale sua emoção,

Você não pode sentir, arrume uma mulher que faça isso por você,

 

Somente a elas é dado este direito de sonhar em entregar o amor

Que a vocês foi negado desde o nascimento,

Até que, elas joguem-se aos seus pés, escoam por seus dedos,

Implorando o afeto que talvez, ninguém nunca tenha sentido,

 

Mas sendo lhes negado, como agora deveriam os homens reagirem?

Ouçam o eco dos saltos delas a bater no piso frio,

O barulho não os faz com que as ouçam?

Será que elas sempre deverão caminhar por espaços vazios

Até serem aceitas por seus abraços?

 

Ah, não esqueçam de serem sempre fortes para carrega-las

Elas precisam disso, é assim que foram educadas,

Não esqueçam do colo para acalmar seus olhos chorosos,

Estendam um tapete vermelho para vê-las passar,

 

Assim é possível disfarçar suas necessidades de serem vistas,

Mas sem holofotes, isso poderia confundi-las,

Não é permitido percepção sobre nenhum tipo de estratagema,

Sigam seus caminhos desatentos para tudo que sentem,

Homens: a vocês, resta somente responderem aos seus pedidos,

Não ousem pensar muito além disso,

 

Mas quanto ao choro, não preocupem-se tanto,

Logo virão os filhos e eles tomarão todo o espaço,

Todo o tempo de vocês, então, por favor,

Eduquem-nos para serem diferentes,

Apenas caso discordem deste tabu existente ao redor da palavra amor,

Este joguinho imposto para que os casais se identifiquem,

 

Fazendo da sociedade marionetes nas mãos

De poucos que decidem cores a vestir, modo de agir,

Jeito de falar, o que é amor o que deixa de ser,

Desliguem suas tvs, apaguem seus celulares,

 

Vocês não cansam de marchar por um caminho imposto?

Seguirem sempre os passos do mesmo destino,

Quando Deus definiu o amor talvez ele quisesse mais que isso,

Mas quem é a sociedade para ousar discuti-lo se nem ao menos se permite senti-lo?

 

Façam seus jogos, planejem suas tramas,

Não há nada a ser visto pelo caminho que a vocês ainda é desconhecido,

Não mudem suas rotas, tracem suas errôneas estratégias,

O mundo sempre foi o lugar do mais forte, o mais competitivo,

 

A estação do ano está mudando, eles vestem um terno fino,

Não esqueçam de esconder o frio e de tirar seus casacos

Para protegerem suas mulheres em seus vestidos leves e bonitos,

Elas precisam exibir seus corpos esculturais aos quais se dedicaram tanto,

 

Jamais demonstrem insatisfação em tudo que lhes foi imposto,

Nem pensem na morte como destino certo a lhes aguardar,

Vivam para o trabalho, para suprir o que vocês nunca tiveram,

Deem-se, porque às mulheres somente foi dado o direito de esperar,

 

Aceitem-os, pois aos homens foi imposto o direito de provedor,

Mas, por favor, jamais se permitam pensar sobre isso,

Imagine se, de repente, ambos ousassem desafiar ordens preconcebidas

E acreditarem que poderiam quebrar as algemas que lhes prendem e marca.

A colina

Sentadas. Lado a lado. Mãe e filha. O sol partia na coluna Em frente aonde Estavam sentadas, Ambas abraçadas. Pensativas....