Deixou-se entregar a água do rio
Que a tocava de um modo quente,
Era primavera, os pássaros cantavam ali no mato,
Em uma mistura de prazer e suspense,
Nunca se sabia ao certo que sinfonia fariam,
Ela mergulhava, aproveitava para ver os peixes,
Como a vida se manifestava em todo o seu redor,
Deixou-se entregar até fazer parte daquilo,
Dormia ia ao fundo e acordava em um susto,
Sorte que tudo era muito rápido,
Pois quase lhe faltava o ar para respirar,
Lá no alto do infinito, um pássaro sobrevoava,
Admirou-o, viu que seus olhos brilhavam muito,
Eles pareciam enxergar muito longe,
As flores desabrochavam exalando seus cheiros,
Deixando um toque adocicado por onde passavam,
Era quase como se pertencesse a outra vida,
Em um lugar onde nada morria,
Tudo se transformava em algo maior,
Assim se sentia ela, rejuvenescendo a cada momento,
A vida a tomava e a conduzia a outra dimensão,
E no pulsar do seu coração,
A trazia de volta, renovada,
Naquele instante único, se permitia sonhar,
Uma nuvem distante tomava forma,
Parecia um coelho, um urso, um cachorro,
E mudava de forma a forma,
Uma leve brisa soprava e vinha para ela,
O mato ao seu redor dançava ao som da brisa fresca,
Em algo imaginado, extraído de um conto inventado,
Fechou os olhos e apenas permitiu-se sentir,
Aproveitou cada segundo, a água, a brisa,
O calor, as flores, sem querer se pegou a sorrir,
De repente, algo como um vapor,
Ou algo que poderia ser definido como um leve chuvisco,
Feito uma carícia tocou o seu rosto
Acordando-a daquela espécie de encanto,
E ali, em meio a todo aquele azul profundo e límpido,
A nuvem tomava a doce forma de um rosto,
Flutuando docemente sobre ela,
Como se a admirasse ou algo mais profundo,
Ele parecia estar... apaixonado?
Ela percebeu que precisava sentir aquilo,
Provar um pouco de tudo que sentia sem saber explicar,
Sentiu-se flutuar e naquele instante, soube,
Tocou os céus mesmo sem ter saído do lugar,
Levantou a mão para o alto,
Parecia senti-lo na ponta dos dedos,
Quis mudar aquele semblante que se formava,
Algo muito forte nela, desejava guarda-lo, protege-lo,
Não sabia ao certo, apenas sentia que precisava toca-lo,
Seu coração falhou apenas por um segundo,
Aquele rosto pareceu sorrir para ela,
Seus olhos ficaram molhados, famintos,
Abriu os lábios, desejava sentir aquele... orvalho?
Naquele momento não lhe bastava mais a solidão,
Queria alguém ao seu lado,
Alguém com quem pudesse confidenciar seu coração,
Ela acreditou que em algum lugar também haveria
Um homem tristonho que talvez, estivesse a procura-la,
Talvez tenha sido este o segredo que a nuvem lhe confidenciou,
Em sussurros que pareciam humanos aos seus ouvidos,
Ficou mais um pouco ali mesmo onde estava,
E um beijo pareceu repousar nos seus lábios,
Felicidade plena, mas momentânea, desejava abraça-lo,
Eis que uma chuva quente desceu do infinito,
Molhando uma região pequena,
Estaria ela lhe traçando um caminho a ser seguido?
Conforme aquela chuva tocava tudo se transformava,
Com uma única certeza em seu peito,
Decidiu que aceitaria ser conduzida,
Fez uma prece silenciosa; encontra-lo...