terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Amor na Cidade

 

Tudo que conseguia pensar era no quanto a amava,

Uma vida seria pouco para o tanto que sentia,

Amava cada vez mais, a cada saudade provada

Em pequenas doses de uísque em noites de lua,

 

Como se cada estrela que brilhasse,

Trouxesse consigo uma parte da história

Em que transbordaram suas almas apaixonadas,

De forma irreversível, sem retorno ao passado,

 

Como então, agora, se renderia a solidão,

Sabendo que a voz que gritava em seu coração,

Ansiava por reviver uma vez mais tudo que sentiu,

Livrar-se do temor que assombrava seu peito vazio,

 

Sua alma apaixonada ainda estava lá,

Sobre a grama molhada do orvalho de dezembro,

Amando cada instante como nunca mais amaria,

Sonhando com uma vida que nunca tinha imaginado,

 

Até cruzar com aqueles olhos verdes assombreados,

E o amor o invadiu de forma volátil,

Isso ele só descobriu depois que partiu,

Depois que pegou-se sozinho a deriva de quem tanto amou,

 

A cada dose que embebia a boca sedenta,

Sentia um beijo repousar em seus lábios trêmulos,

Um amor feito para durar uma vida inteira,

Não poderia contentar-se com apenas momentos,

 

Ele sentia-se tranquilo em seu abraço,

Tudo parecia se encaixar de forma perfeita,

Ele acreditou que pudesse contar com ela,

Acreditou no amor que provou no doce da sua fala,

 

De repente um pássaro voou janela adentro,

Fez repousar uma flor sobre o assoalho,

Ele sentiu-se emudecido, ficou boquiaberto,

Como se confrontasse um horror antigo,

 

Agora o mundo parecia dirigir-se a ele,

Ouviu que um carro estacionava em frente a sua casa,

Desceu os lances da escada até aproximar-se,

Piscou várias vezes incapaz de acreditar no que via,

 

Sentiu uma dor insuportável em seu peito,

Ao vê-la ao volante, chorando a dor do amor perdido,

Que imaginava ela, ter sido esquecido, consumido pelo tempo,

Apagado pela distância, perdido dentro de sonhos omitidos,

 

Ele sentiu seu amor toma-lo por inteiro,

Prisão perpetua a um amante melancólico,

Nunca seria capaz de esquecer quem o abraçou em seus momentos mais temidos,

Viu que a cidade dormia sob as luzes do céu de outono,

 

Abriu a porta do carro e a chamou para o seu lado,

Eu te amo a disse com os olhos embaçados,

Momento em que a tomou em seus braços,

E a segurou até sentir seus corações baterem juntos,

 

Ambos não conseguiam controlar o choro,

Se beijaram ali mesmo, entre lágrimas e abraços,

Unindo os sonhos que embora parecessem esquecidos,

Encontravam-se vivos em seus corações apaixonados,

 

Nunca o amor foi tão reverenciado,

Feito aquele que venceu distância, brigas e segredos,

Que embora nunca compartilhados,

Deixavam uma nuvem de incertezas por onde passavam,

 

A dor que um dia ousou separa-los,

Agora unia destinos atormentados em sonhos conjuntos,

Cujo objetivo maior era edificar o amor que sentiam,

Espalhar sonhos passíveis de serem realizados,

 

Deus sabe que o sabor da vitória é maravilhoso,

Porém, quando se trata de sonhos de amor,

O destino torna-se algo de mérito,

Com um desvelo especial que só os apaixonados

 

Seriam capazes de definir em palavras ou gestos,

Mas, no instante em que aquele casal se uniu,

Diante do luar, das estrelas, aos olhos de todos

O amor entrou com artilharia pesada e venceu a batalha,

 

Todos sabiam sobre a dor que sentiam

Longe um do outro, sobre o quanto choravam escondidos,

Sobre o quanto procuravam um ao outro,

Nos vazios da cidade perdida em seus desvelos.

Vida na Roça

 

Por mais que amasse o trabalho que desempenhava,

Sentia que faltava algo a mais em sua vida,

Algo em que se dedicar, algo em que acreditar,

Um rosto belo lhe tocava a lembrança,

 

Ainda podia lembrar das tardes de outono

Em que cavalgavam juntos pelos bosques,

No carreiro que se desenhava aos poucos

Por entre as folhas secas e densas árvores,

 

Amar era algo que dava trabalho,

Ele ainda lembrava do quanto se dedicava a ela,

Do quanto ela tomava seu tempo com seus abraços insaciados,

Mas agora, mesmo longe, as lembranças ainda vinham abraça-lo,

 

Sem o calor do seu corpo macio em seu abraço apertado,

Sem sua voz melodiosa a tentar convencê-lo de algo,

Sem o seu cheiro a assalta-lo, toma-lo dos seus pensamentos,

Rouba-lo de tudo, fazendo-o esperar, desejar sua presença,

 

Se entregava ao trabalho diuturnamente,

Mas nada parecia tirar a sensação dela de sua pele,

Ainda lembrava como o sol a tocava,

Iluminando com algo misterioso o seu olhar,

 

Recordava como nunca o quanto ela sorria,

Enquanto cavalgava, indefesa, linda e esbelta,

Com seus cabelos escuros, longos e soltos ao vento,

Ela parecia iluminar, contagiar o seu redor,

 

Com uma espécie de felicidade que ele procurou

Por todos os cantos das cidades em que passou,

No entanto, nunca encontrou, ela era única,

Suave ao vento, feito as folhas que pairavam na estrada,

 

Com uma lágrima silenciosa e despercebida

A percorrer o caminho do seu rosto,

Ele lembrou da forma como ela apeava do cavalo,

Colhendo os frutos frescos das árvores,

 

Ela sempre o convidava para acompanha-la,

Tinha gosto em usufruir da sua companhia,

Colhia os frutos que alcançava e ainda o lançava

Aquele olhar de menina meiga, para que ele

 

A ajudasse a colher os frutos mais altos,

Depois o permitia escolher os que quisesse,

Nunca houve competição entre ambos,

Ao contrário, sempre se apoiaram em tudo,

 

Protegendo-se, andando lado a lado,

Desta forma, ela sentava-se na grama, no chão, onde fosse,

E lançava aquele olhar com um sorriso humilde e iluminado,

Fazia questão de sempre o presentear com seu abraço,

 

Olhar para as nuvens, construir desenhos,

Brincar com as folhas, saciar a sede nos frutos frescos,

Tudo estava tão vívido em sua memória,

Que ele sentia que poderia toca-la,

 

Lembrar sua fala macia, alta, rouca lhe trazia conforto,

Eles sempre colhiam alguns frutos para levar para casa,

Eu te amo pronunciavam em olhares cumplices,

A felicidade os encontrava onde quer que estivessem,

 

As vezes, cortavam caminho para ir brincar no rio,

Pescar sobre alguma pedra da encosta,

Nadar, brincando de ser peixinho,

Mergulhar como se a água fosse parte de si mesmos,

 

Depois descansavam nas margens,

Brincando de fazer as pedras baterem sobre a água,

Ela sempre o permitiu jogar sua pedra mais longe,

Isso era o que ela pensava,

Apesar de não discutir ele sempre soube que tinha mais força,

 

Pensando bem, ele achou que poderia confessar algo

Lembrava que ela sempre teve azar com as iscas,

Apesar dela esforçar-se, ele sempre pescava o peixe maior,

Depois de horas, ela se cansava e fazia birra queria ir embora,

 

Para convencê-la a permanecer na pesca,

Ele entregava sua própria linha, seu lugar e tudo o mais,

Mas a sorte permanecia com ele,

Embora lhe entregasse todas as dicas,

Ela nunca conseguiu nada,

 

Irritada ela se carregava de pedras e apedrejava a água,

Se ela não poderia pescar então parecia mais sensato impedi-lo,

E ele disparava atrás dela, que culpa ele teria?

Ela se esforçava ele sabia, mas ele gostava de protegê-la,

Ela tinha aquele jeito de menina forte que precisa de alguém,

E ele se esforçava ao máximo para suprir suas necessidades,

 

Outrora, sentavam-se na barranca e faziam uma fogueira,

Colhiam milho e assavam no fogo do outono,

Ele fazia sua imitação do pato Donald e ela amava,

Brincavam de cuidar dos girinos para ver se tornarem sapos,

 

Só para ouvi-los coaxar em seus ouvidos,

Embalando seus sonhos de meninos,

Corriam por entre os vagalumes, sob a luz do luar,

Muniam-se de toda a coragem em seus corações,

 

E enfrentavam a escuridão das noites sem lua,

Apenas para sentir a brisa fresca que caia,

Ouvir os cantos dos pássaros noturnos,

Contemplar as estrelas brilharem únicas no céu negro,

 

Até dispararem correndo, assustados com algo inventado,

As horas passavam feito segundos marcados no relógio,

A partir do instante em que adentravam na floresta,

Nada mais parecia convencê-los a saírem de lá,

 

Tudo chegava ao seu coração feito um sonho maravilhoso,

Mas era muito mais que isso, era a realidade em que viveram,

Ele sentia falta disso, precisava reviver estes momentos,

Permitir-se-ia a chance de encontra-la novamente,

 

Poder lhe dar o abraço que tantas vezes entregou ao travesseiro,

Acender uma fogueira para falar das histórias que traçaram,

Desistir de chorar calado, dar ouvidos a voz que o chamava

Que o fazia acordar tarde da noite para procura-la,

 

Ter um número em que discar no telefone celular,

Ter uma companhia para ouvir suas músicas,

Recitar um poema a luz do luar,

Que agora, jazia, tão triste no romper da aurora,

 

Pegou a lista telefônica, procurou por seu nome,

Discou de número a número até que uma voz conhecida

Atendeu com aquele mesmo tom que tanto lembrava,

Fez-se um minuto de silêncio, alô, disse ele...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Mulher Depois dos 30

 

A lua cheia brilhava naquela noite,

Ela bebia seu vinho com um arrepio na pele,

Uma música lhe falava sobre um amor verdadeiro,

Ela sentia-se sozinha, precisava fazer algo sobre isso,

 

As pessoas ao seu redor diziam que ela estava velha,

Que o tempo passa de igual forma para todas as pessoas,

E na sua idade todas já estavam felizes, casadas,

Umas grávidas outras com seus filhos no colo,

 

E ela continuava ali, no mesmo lugar,

“O que você está a procurar ou esperar?”

Lhe diziam elas, demonstrando algo como preocupação

Ou talvez tivesse outro nome, a alertava o coração,

 

No entanto, ela saia, buscava na balada,

Nas festas com pessoas, geralmente, mais jovens que ela,

Nas redes sociais através de perfis, que ela acreditava

A exponha muito, entregava de mão beijada

Todo e qualquer segredo que pudesse ter,

Entre fotos e frases colocadas em momentos diferentes,

 

Entre uma conversa e outra, um rapaz, esporadicamente,

Lhe chamava a atenção, seu relógio biológico gritava:

Tic-tac, o tempo está passando e você está ficando para trás,

Ela sentia urgência por ser amada, ser desejada,

Parecia que algo lhe faltava, por quê era diferente dos demais?

 

Então ele vinha, trazia flores, bombons, presentes,

Mas a conversa não fluía, ao contrário, era monótona,

Não se estendia para muito além daquele instante,

Ela desejava mais que isso, desejava ser tocada,

 

Reconhecida, sentida, valorizada por si mesma,

Alguns vinham e falavam sobre o trabalho,

Outros, inclusive, se interessavam por seus rendimentos,

Se ela pudesse ouvir seus pensamentos,

Iria assustar-se, tinha certeza disso,

 

A conversa pairava sobre o carro que tinha,

Sobre a forma como dirigia sua vida,

Sobre a casa ou o local em que residia

E todos que chegavam nela, queriam mudar alguma coisa,

 

Desta feita, o tempo passava feito a noite que se despedia,

E vinha o inevitável desejo de tocá-la,

Tudo se iniciava com um beijo explorador ou não,

Alguns ousavam, já no primeiro dia, falar de amor,

 

Só porque ela desejava ser amada,

Acreditavam que qualquer discurso fosse conquista-la,

Chegavam a olhar no fundo dos seus olhos,

E sussurrar com um sorriso nos lábios: eu te amo,

 

Ela tentava fugir, mas parecia que tudo a empurrava

A seguir adiante naquela história que se formava,

A partir daí, vinham as carícias sedentas por intimidade,

Ela precisava dizer não, não se sentia segura,

 

Porém, ali sozinha, como poderia reagir de forma diferente?

Deveria entregar-se, e fazer como todas as outras?

Falar de amor sem sentir-se correspondida,

Buscar completar-se no vazio de lábios falsos,

Mergulhar nas carícias que não faziam nada

Além de invadi-la, toma-la de si própria?

 

Havia algo de errado com ela por buscar mais que isso?

Por que os demais pareciam contentar-se com tão pouco?

Isso que lhe ofereciam eram como restos,

Beijos não correspondidos que buscavam saciar-se

Em corpos bonitos e desejados em que a beleza era tudo que importava,

 

Sempre havia ali um copo de alguma bebida, ela bebia,

Senão se sentiria excluída da conversa que recém se iniciava,

E as coisas tomavam um caminho mais fácil, parecia,

Nesta seara, chegava a temida hora do não, não quero, não aceito, não posso agora,

 

Era terrível o olhar que provava neste momento,

As carícias invasivas que pareciam ensurdecidas ao que dizia,

As palavras desmedidas que violavam seus ouvidos,

Os atos ofensivos que se desenhavam diante dela,

 

Ela, então, suspirava, munia-se de toda a sua força,

E o colocava para fora, a casa era sua, a vida era sua,

Somente ela poderia decidir por si mesma,

Fechava a porta, trancava-a e desejava nunca mais querer abri-la...

Ele Chorou

 

Ele acreditava que gostava dela,

Sentiu isso desde o primeiro olhar,

Embora não entendesse porque seu relacionamento,

Parecia negar-se a um futuro prodigioso,

 

Os sonhos que ele cultivou em si mesmo,

Foram os mesmos que viu naqueles olhos azuis acinzentados,

Ele tentou mandar flores, bilhetes apaixonados,

Contudo, suas vozes se calavam, por mais que houvesse diálogo,

 

Ambos não se alcançavam, se colocando em algum lugar distante,

Fechados em si mesmos, como se houvesse uma redoma

Que os impedia de aproximarem-se um do outro,

Naquele dia iria visita-la, passou o perfume preferido, vestiu a melhor roupa,

 

Não era exatamente a que ela gostava,

Mas ele sentia-se bem, não era isso o que importava?

Pegou sua moto, o capacete reserva e rumou para ela,

Ele sabia que ela sentia medo, mas sem alternativa não hesitaria,

 

Ele faria tudo para conquista-la,

Acreditava que apenas ao seu lado viveria uma vida tranquila,

Vez ou outra, ele entregava-se a bebida, ela não gostava,

Mas ele achava inoportuno o jeito como ela queria gerir sua vida,

 

Ao chegar em frente a sua porta,

Suspirou encantado, ela era muito mais linda do que a imagem criada

Em sua lembrança, trazida a ele de hora a hora,

Mantendo este amor vivo e seguro em sua memória,

 

Ela vestia um vestido vermelho, lábios e unhas na mesma cor,

Admiravelmente linda, apenas isso definiria seu amor,

Porém, notou com certa astúcia, um pingo de tristeza em seus olhos,

Ela teria que despir-se do vestido, talvez estragar o cabelo,

 

Que importava isso? Ele esperaria o tempo que fosse preciso,

A amava, isso era o máximo do que importava, não era?

Ela demorou em seu quarto, ele pensou em pedir pizza,

Então, ela desceu, trajava um shorts jeans curto,

 

Botas em couro preto, cano alto, correntes ao redor do corpo,

Ele pensou que era curto, mas não disse nada, estaria com ela...

Ela sentia-se presa, acorrentada a este amor,

Que acreditava, não a via, tampouco a respeitava,

 

Mas cada vez que mergulhava no escuro dos seus olhos,

Sentia amor neles e se entregava com toda a alma,

Então, ela cedia aos impulsos e seus encantos,

Mas não conseguia se imaginar tendo filhos,

 

Ela não entendia o por quê, mas parecia querer algo diferente disso,

Chegaram ao seu destino, ele bebeu um pouco,

Ela tomou seu suco, falaram sobre casamento,

Planos traçados para um futuro perfeito,

 

Mas um toque daquela conversa parecia ofende-la,

Ela não se sentia segura, a vontade, faltava algo,

Ao retornarem para a casa dela,

Ela o convidou para irem ao seu quarto,

 

Tinha urgência em senti-lo, entregar-se a ele,

Ela o amava, parecia a atitude correta a tomar-se,

Ele tocou com um pouco de força os seus dedos frágeis

Admirando suas unhas vermelhas longas e delicadas,

Minuciosamente arrumadas,

Como se ela fosse uma boneca a ser cuidada,

 

A puxou de encontro ao seu peito e beijou seus lábios macios,

De forma sôfrega, convidativa e exploradora,

Empurrando-a sobre a cama e despindo-a com maestria,

Ela fechou os punhos, escondeu as unhas sobre as palmas,

 

Ele a beijava, avançando sobre ela, falando algo sobre ama-la,

Ela ficava entre sorrisos, beijos, juras e algo que ela não entendia,

Ele se posicionou sobre ela, repousando sua mão em seu coração,

Ela não resistiu, ávida pelo sentimento que a envolvia,

 

Se alguém tivesse pedido a ela o que sentia,

Ela teria dito com toda a alma, amor, deve ser isso,

Mas quando viu suas correntes jogadas no chão,

Algo pareceu incomodá-la, sentiu acelerar o coração,

 

Pensou em desistir naquele instante, mas a voz falhou,

O que poderia dizer a ele? Ele viria com suas falácias sobre o amor,

E ela sabia, sempre que olhava no fundo dos seus olhos,

Ele a amava muito... amanheceu, o dia nasceu nublado,

 

Sua perna estava dormente, ela precisava ir trabalhar,

Assustada, percebeu que ele havia dormido com a perna sobre a dela,

Seu peito doía, parecia que lhe faltava o ar,

O braço dele estendia-se sobre ela, por uma noite inteira...

 

Ela rascunhou um bilhete depois de uma noite insone,

“Eu posso ter evitado usar a palavra arrependimento,

Não significa que não foi isso que eu tenha sentido,

Desculpa, não estou preparada para este amor desmedido,

 

Estou me mudando, deixo escrito o número do meu telefone,

Espero, com toda a alma, que algum dia nos encontremos,

E que eu o sinta mais maduro para tudo o que você propõe,

Por enquanto, me recuso a este amor inseguro”,

 

Ele acordou feliz, levantou com um sorriso satisfeito nos lábios,

Mas quando estendeu o braço para busca-la, se assustou, ela não estava,

Levantou, chamou seu nome com todo o amor que sentia,

Não houve resposta, então encontrou o bilhete sobre a mesinha,

 

Sentou-se desconcertado, lágrimas cobriram seu rosto,

Ela havia partido e pelo teor do bilhete,

Havia, inclusive, abandonado o trabalho,

“Meu Deus, onde eu posso ter errado?”, pensou ele.

Destino Dando Asas ao Acaso

 

Seu corpo era como um templo,

Uma espécie de santuário,

Em que muitos passavam,

Chegavam a fazer preces,

 

Desejar, talvez, algo maior,

Mas, tudo o parecia profano,

Palavras vazias, destituídas de sentido,

Nunca ficavam por muito tempo,

 

Havia algo nele que o impedia de abrir

Seu coração, algo que forçava seu sorrir,

Feito uma espécie de encanto

Que precisavam quebrar para poder encontra-lo,

 

Mas nenhuma pessoa cumpria o ritual,

Ninguém ousava desvendar seus segredos,

Adentrar no espaço escuro do seu olhar

Com o desejo de aquecê-lo, protege-lo, talvez, de si mesmo,

 

Com o tempo ele tornou-se gélido,

Desejava apenas distanciar-se de tudo,

Sentava-se em frente a sua janela e entretia-se

Ao contemplar a rua, ver, testemunhar a vida passar,

 

Odiava quando, ao caminhar pela calçada,

Sentindo a brisa suave da primavera,

O frescor de suas flores a desabrochar,

Algum desatento cruzava seu caminho e ousava tocá-lo,

 

Sentia-se invadido, algo dentro dele gritava por socorro,

Qual era o custo de prestar um pouco mais de atenção,

Ele sentia-se estranho, disfarçava, limpava as mãos,

Uma lágrima escondia-se dentro do vazio dos seus olhos,

Parecia que as pessoas queriam extrai-lo,

Rouba-lo de si mesmo, como se o quisessem dividi-lo,

 

Ninguém parecia entende-lo,

Na primavera de 2020, ele se viu refletido

Nos olhos de outra pessoa, desejou conhece-la,

Se aproximou com o desejo de dividir seu café gelatto,

 

Sentiu quando seus olhos se encontraram

Que ambos sorriam, por dentro,

E sua mão aspirou, pela primeira vez,

Sentir, tocar suavemente em alguém,

 

Ele observou que ela era frágil, precisava protege-la,

Embora estivesse sentindo medo por dentro,

Ele sorriu, um sorriso lindo que curvou sua boca,

Sentiu que dentro de si mesmo, seu coração se abria,

 

Uma certeza o invadiu, a de que finalmente

Sentia-se pronto para amar,

Para se entregar a alguém e provar aquele gostinho do para sempre,

Que ele sabia, estava nas curvas daquela moça,

 

Ele a desejava de um modo diferente,

Que ele nunca havia sentido,

Agora, abandonava ao passado aquele alguém

Em que apenas tocaram, sem nunca permanecer,

 

Uma noite de amor já não seria o suficiente,

Amor, pensou ele, agora cogitava a palavra amor?

Mordeu o lábio, abaixou a cabeça, realmente aquela moça era diferente,

Nunca pensou que seria desperto ao amor pelo destino,

 

Mas quem há de duvidar de que tudo tem um por quê?

Ela tinha o brilho do luar nos olhos castanhos,

Um luar contagiante que parecia clarear o escuro dos seus olhos,

Como se o iluminasse para algo diferente de tudo que havia vivido,

 

Ele desejou sair da escuridão em que tinha mergulhado,

E provar o sabor de ser ele mesmo,

Se entregar a alguém com todo o amor que guardava em seu peito,

De repente, guardar o amor já não fazia mais sentido,

 

Ele queria provar aquela luz que o iluminava,

Que o tocava por dentro despertando seu coração

De um sono em que há muito dormia,

Já não se sentia perdido, havia se encontrado naquela paixão,

 

Seus olhos se abriam para algo novo,

E sua alma desejava ser desvendada,

A estendeu a mão e sentiu-se arrepiar com seu calor,

Dividiram o café e falaram sobre a vida,

 

Sobre coisas que desejam provar,

Perceberam o quanto tinham em comum,

Então, se aproximaram com um sorriso dos olhos a boca,

E beijaram-se, ali mesmo, o amor que se fez em um acaso,

 

Teve a gentileza de tocar suas almas,

E unir dois corações em uma história romântica,

Refletindo o desejo que havia em cada olhar,

Em um único pedido; durar por uma vida inteira.

domingo, 6 de dezembro de 2020

Malas Feitas

 

Ele havia trabalhado o dia inteiro,

Contando as horas para voltar ao aconchego

Do seu lar, onde sua esposa o esperava,

Ao chegar, ela lhe deu um beijo de longe,

Mal repousando os lábios em sua boca,

 

- Você está sujo, suado, favor tomar um banho;

Ele havia tocado em outra, pode sentir isso

Logo que ele entrou pela porta de sua casa,

Seu cheiro, seu jeito desatento, tudo o denunciava,

 

Mas ela também, há muito que não o amava,

Por isso, nem fazia questão de que o sentimento que os unia,

Passasse de algo que poderia ser definido como amizade,

Ou pura e simples conveniência,

Afinal disso é que eram feitos os casamentos, não era?

 

Não gostava tanto de abraça-lo, ele tinha um cheiro forte,

Que parecia tomar conta dela e refletir em sua pele,

Ela sempre fez questão de saber como havia sido seu dia,

Mas ele era evasivo, fugia do assunto com muito esmero,

 

E ela, com o tempo, achou que isso era o bastante,

Se refugiar em frente a tv assistindo a um filme,

Afinal, só ela sabia o quanto ele podia ser impertinente,

Embora, ela fosse excelente no método virar a cara e

 

Se recusar a ouvir qualquer coisa que viesse dele,

Engraçado, quando acaba o diálogo em uma família,

Já não resta nada em um lar além da angústia

De ter que suportar a convivência com outra pessoa,

 

Ele sabia irritá-la de uma forma devastadora,

Por vezes, suas mãos magras e frágeis se fechavam

Prontas para desferir um soco certeiro em sua cara,

Vã tentativa, ele sempre foi mais forte que ela,

 

E demonstrava isso cada vez que a forçava,

Puxando-a para si, como se quisesse abraça-la,

Usando da força bruta para mantê-la,

Apertando seu punho de menina com dois dedos,

Em uma demonstração prepotente de força,

Como se desejasse quebra-la por dentro,

 

Talvez, ele soubesse em seu inconsciente

Que aquilo aniquilava suas forças,

Tornando-a nula, mera vítima de suas vontades,

Fazendo-a fugir para longe, como ela sempre fez,

 

Sempre que encontrava qualquer oportunidade,

Ser presa fácil nas mãos de um macho prepotente,

Quem desejaria destino mais ultrajante?

Depender dele? Somente para ser usada conforme seus interesses?

 

Mera submissa, de um covarde conquistador,

A essa vontade, Deus sabe: ela nunca se curvaria,

Entregar seu coração onde guardou seu amor,

A um prepotente com suas juras de amor falsarias, isso nunca;

 

Eles só ficaram próximos uma vez,

Na vez em que ele jurou cuidá-la por todo o sempre,

E sabe-se Deus por quê, ela acreditou,

Por tempo o suficiente para entregar a ele o seu nome,

Não mais que isso, caiu em si e desejou partir para longe,

 

De tanto sofrer presa por anos nesse amor infame,

Havia sempre um vestígio de compaixão em seus olhos,

A cada grito mais alto, a cada vontade dele,

Ela se curvava, se sentia incapaz de lutar por si mesma,

 

E o mundo ao seu redor parecia apoia-lo,

Ninguém via o quanto ela sofria,

O quanto a angustiava cada tocar dos seus lábios,

Com o tempo ela se distanciou, mas ainda havia o sexo,

 

Como evita-lo? Sentia-se presa a essa vida,

Sem saída alguma, mera vítima de si mesma?

A sociedade gritava a culpa é sua,

Por que escolheu conviver com esta pessoa?

 

Ela abaixava a cabeça e chorava,

Embora extravasasse sua dor em suas compras caras,

E depois escondesse o saldo do cartão por pirraça,

Sempre buscava reduzir o valor das coisas que possuía,

 

Então, não possuía o direito de escolher o melhor por si mesma?

Quando foi que lhe roubaram o direito de escolha?

Deram a ela o direito de eleger o representante do seu país,

Mas lhe roubaram o direito de ser senhora de si mesma,

 

Nem mesmo seu voto era vontade sua,

De que adiantou queimar o sutiã em praça pública

Se era obrigada a usá-lo para passar despercebida?

De autora a vítima de si mesma, o que fizeram dela?

 

Não podia escolher o que comprar,

O preço a pagar, absolutamente nada,

Quando foi que ela aceitou que sua voz fosse calada?

Quando caiu o sol naquele mesmo dia, logo após a tardinha,

 

Ela fez suas malas e desejou ir embora,

Pensou em levar na bagagem algumas lembranças,

Mas não guardou nada,

Nem mesmo as rosas vermelhas de que tanto gostava.

Amor

 

Uma mensagem chega aos seus ouvidos,

Seca, desprovida de qualquer sentido,

Aquele que disse que a amava,

Agora se despedia para sempre ele dizia,

 

Ora vejam até onde a audácia é capaz de chegar,

Ela perdeu suas forças, jogou-se no chão,

Chuta e grita com a força do amor que sentia,

Seu coração bate tão forte que chega a machucar,

 

Como se vertesse em estilhaços dentro dela,

Já não leva vida, mas sim, morte vagarosa

Para a sua alma apaixonada,

Seu amigo, incapaz de vê-la sofrer a carrega,

 

Joga-a sobre o ombro e ruma para o seu quarto,

Prepara um banho e pede a ela que não chore mais,

É insuportável ver todo o amor que ela sentia

Verter-se em lágrimas sobre seu rosto molhado,

 

Dentro dela, agora só há tristeza,

E um vazio imenso prestes a consumi-la,

Sua voz cala-se, ela nega-se a acreditar em tudo que ouviu,

Agora quem tanto amou-a, disse adeus e partiu?

 

Sentia um peso esmagador sobre o peito,

Todo o seu amor a consumia em lágrimas,

Já não tinha forças ou folego para falar,

Apenas abaixava a cabeça e consentia,

 

Sim, sim, sim dizia ela,

E via-se consumir em suas lágrimas de dor,

Pagava o preço de uma vida,

Por ter entregue seu amor ao beijo de um traidor,

 

Incapaz de refletir sobre o que sentia,

Ela pensa por um único instante,

Isso que sentia era amor, não era?

Pois havia sido tudo que havia conhecido até agora,

 

Ele a beijava com força, como se quisesse toma-la,

E a atraia para o seu peito em frente ao seu coração,

Com aquele abraço apertado que chegava a sufoca-la,

Ela sentia-se segura, presa fácil em suas mãos,

 

Mas quando ela buscava seus sonhos na luz do seu olhar,

Ela vê uma faísca de algo diferente no ar,

Ela sente um medo de seguir adiante,

Mas aquela necessidade a persegue,

 

Necessidade de amar, de ser tocada,

De sentir algo, Ela deseja apenas esquecer,

Mas seu amor parece crescer a cada instante,

Eu prometo, ela ainda podia ouvi-lo sussurrar:

 

Amar você e a nenhuma outra,

Mas ela não via seus atos refletirem suas palavras,

Ele parecia vazio, como se dentro dele não batesse um coração,

Mas algo diferente desprovido de qualquer emoção,

 

Como podia jurar amor aquele que por dentro era vazio?

Queria arrancar seus lábios por terem se entregado a um traidor,

Entrou no banheiro e permitiu que a água corresse por seu corpo,

Tirando qualquer marca que ele houvesse deixado,

 

Mas quem, agora, protegeria seu psicológico?

Ela teria que ser forte e lutar por si mesma,

Ser forte o bastante para não desistir do amor,

O aroma da primavera entrou pela janela,

 

Ela pensou que pudesse haver uma esperança,

Ela entende que seu desejo é audacioso,

Quem hoje ainda se permitiria amar por toda a vida?

As pessoas já nem ousavam mais falar sobre isso,

 

Amor, quatro letras carecedoras de qualquer sentido,

Perdeu a dignidade ao ser usado por lábios falsos,

Mãos vazias de sentimento, corações cegados pelo desejo

De possuir sem se permitir sentir, sentimento...

 

Quem ainda entendia disso?

E quem é que acreditaria que poderia haver amor naquilo?

O amor havia sido definido como um vício, uma compulsão,

Qualquer coisa que o distanciasse do pulsar de um coração,

 

Ela se ergue do chão, sozinha e se põe diante do espelho,

Vê que seu rosto, antes sem emoção, agora emite um sorriso,

Já se passaram algumas horas, alguém bate a porta,

Ela resiste, prefere não atendê-la.

Busca aos Peixes

Masharey acordou, Subiu na alta cadeira Feita de pneu usados, E cantou alto: - estou no terreiroooo! Em forma de canto. Após iss...