segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Pelas Noites da Balada

 

Muito mais do que pensava que amaria,

Ele pegou o telefone mil vezes,

Mil vezes discou seu número na tela,

Mil vezes desistiu insegura de como agir,

 

Era uma noite a mais na balada,

Ela dançava, bebia uma cerveja ou outra,

Olhava ao redor mas nada mexia com sua emoção,

Haviam apenas pessoas absortas em seus mundos

 

De fantasias em que buscavam ostentar uma vida

Que não tinham, com uma felicidade que não havia,

No fim da noite de liberdade em que ninguém desejava

Realmente encerrar a noite de forma solitária,

 

Restava apenas aquele zumbido no ouvido,

E a tontura que parecia corroer o cérebro,

Entre beijos babados e espaços privados,

Não restava nada que merecia ser lembrado,

 

A melhor parte era estar do lado de fora vendo as estrelas,

As quais brilhavam assustadas, apagadas pelas luzes

Ofuscantes da cidade que dormia um sono sórdido,

De olhos fechados para todo o murmúrio

 

E o tumulto daqueles seres vivos vazios de si mesmos,

Corpos errantes perambulantes por espaços a serem preenchidos,

Eventualmente, uma música chamava a atenção,

Uma dor aguda tocava no fundo do coração,

 

A solidão a qual buscava apaziguar,

Tomava-a pela mão e a machucava,

Ela não admitia, mas sentia-se ferida,

Olhava para as pessoas a sua volta

 

E se via, aparentemente reconhecida,

Mas nada que sustentasse sua emoção,

Parecia haver uma pessoa mais vazia que a outra,

Vestiam roupas, acessórios, maquiagem chamativa,

 

Homens pagavam bebida a custo de beijos,

Mulheres entregavam seus corpos, vendiam suas almas,

Alguns dançavam e achavam que podiam toca-las,

Havia preço alto para se ter companhia,

 

Pois não havia espaço para conversar,

De que forma reconheceriam um ao outro?

Danças extravagantes, passos ensaiados,

Nada sólido em que pudesse se prender,

 

Nenhuma palavra ou frase que merecesse

O mérito de se tornar uma história de amor,

Como seria possível preencher vazios com mais vazios?

Só restava entornar o gargalo, dançar com poucos,

 

Pouco era possível entender sobre pessoas que frequentavam festas

Sem saber dominar um único passo de dança,

Ir a um banheiro lotado, secar o rosto em toalhas de papel,

Fingir que tudo estava se saindo bem,

 

Trocar telefone com um, depois com outro,

No outro dia se ver dividida entre desejar uma mensagem,

Um toque, ou na pior das expectativas: uma ligação,

Travar uma conversa frívola e perceber que perdeu-se a chance

 

De guardar um beijo para um outro dia,

Uma outra hora, ou quem sabe, outra boca,

Onde estava a pessoa que desejava amar alguém,

Aquela que, por vezes, havia sonhado em ter?

Ela já não sabia, só percebia que aquilo não iria adiante,

 

No caminho de estrelas que a guiava a seguir adiante,

Alguém estendeu um tapete de luzes ofuscantes,

Nos braços em que ela sonhou abrigar o amor,

Entravam e saiam pessoas embaladas pelo ritmo

Da dança, que por algum motivo, não parava,

 

A vista do salão em que dançava era fria e sombria,

Onde se podia ver prédios erguendo-se para o alto,

Ela sorria, sempre soube que buscavam a lua,

Mas nunca entendeu porque motivo precisavam ofusca-la,

 

As ruas silenciosas ganhavam a vida dos sonhadores

Que as percorriam, reconhecendo histórias,

Testemunhando pessoas vagarem em busca de si mesmas,

Mas ela sempre repetia, estava feliz pelas flores que se abriam,

 

As quais lembravam vagamente, as que possuía em sua janela,

Seus cachorros a espera-la, talvez, tristes por sua ausência,

Quem sabe podiam estar sem água ou ter faltado a comida,

Ela estava longe já não saberia, ou quem sabe, nem ao menos voltaria,

 

Ela confiava no seu potencial para dirigir,

Sempre que estava ao volante se privava de beber,

No entanto, sabia que estava na contramão da grande maioria,

O que a fazia pisar no pedal e correr para sentir a brisa,

 

Vagando por entre aquelas ruas malfeitas,

Respeitando sinais, procurando prudência,

Então desacelerava, havia pouco para admirar,

Tudo caia aos poucos na rotina,

 

Mas solitária como percorria os ares da cidade nova,

Ela não percebia que, ao longe, alguém a observava,

Com uma expressão de admiração, uma gota de contentamento,

No instante em que ele a convidou para uma dança,

 

Ela percebeu que a direção que sua vida havia tomado,

Era o melhor rumo que podia ter escolhido,

Então viu o quanto foi bom ter se valorizado,

E buscado mais que uma conversa de bar para conquista-la.

TE AMO!

 

Sem conseguir conter as lágrimas,

Ela entregou-se a dor que a abraçava,

Deslizando por seu rosto, deixando-a exposta,

Sentia suas forças esgotarem-se na mesma hora,

 

Permitiu-se cair ali mesmo, no chão frio,

De onde se encontrava conseguia vê-lo sangrar,

Sua dor a dominava, a entorpecia,

Não conseguia, nem queria controlar o que sentia,

Sua dor eram lâminas afiadas sobre a sua alma,

 

Sentia que percorria suas veias e a corroía,

Como se sua própria alma lhe fosse roubada,

Pois sem ele de onde tiraria forças?

Ela havia jurado a si mesma, jamais chorar,

 

Mas vê-lo sofrer, enxergar naqueles olhos castanhos,

Que sempre tivera brilho intenso, seguro, protetor,

Um resquício de quem padecia e via a morte ao seu lado,

Não deixou alternativa senão escoar sua dor em lágrimas,

 

Lágrimas de sangue escureciam seu olhar,

Já não via mais nada na sua frente, somente a vontade de protege-lo,

De demonstrar todo o amor que sentiu desde o primeiro momento,

Suas lágrimas escorriam quentes,

 

Ela sentiu no pulsar confiante do seu peito

Que ainda tinha forças para abriga-lo,

Rastejou até ele, o tomou nos braços,

Deixou que suas lágrimas o molhassem por inteiro,

 

Com um pedido audível, sensível, visível,

De que a tudo resistisse,

Pois precisava dele ao seu lado,

Ele, sempre tão forte, padecia com seus olhos avermelhados,

 

A dor que ele guardava em seu peito,

Escorria da sua alma e o afogava dentro de si mesmo,

Precisava salva-lo, não poderia permitir que Deus o tirasse tão cedo,

Acreditava que o amor não morria se transformava,

Mas sabia dentro dela, que nunca estaria pronta,

 

O amava a cada segundo, a cada instante,

Para além do eterno, um abraço a mais de todo o sempre,

Seus soluços rompiam o silêncio,

Seu amor vencia a dor que tentava toca-lo,

 

O abraçou como quem entregaria a própria vida,

Se preciso fosse, para um instante a mais ao seu lado,

Não poupou amor para abriga-lo,

Os olhos dele se fecharam por um momento,

 

Como se estivesse um pouco mais calmo,

Devido as suas palavras enternecidas,

“Eu preciso de você ao meu lado,

Esta me ouvindo?” Lhe disse, abrigando-o em si mesma,

 

Jogada aos seus pés, entregue a tudo que sentia,

Guiada pela certeza, sem ele não viveria,

Ele parecia ter sido feito para ela,

A protegia a todo custo, se entregava de uma forma

Que, ela tinha certeza, ninguém mais faria,

 

Sentia seu corpo frágil, entregue a dor

Assim, apertou o abraço fazendo-o deitar no seu colo,

Entregue a esse gesto com todo o carinho do mundo,

O pediu que ficasse, falou sobre o quanto era importante,

O quanto o amava com toda a vida e mais a cada instante,

 

Beijou seu rosto, seu corpo triste,

Provou o gosto do sangue dos seus lábios,

Com o único pedido de afasta-lo do vínculo da morte,

Entregando a ele, seu amor, sua alma, o que fosse preciso,

 

Ela o abrigava perto do seu peito,

O embalando com um amor que ele sabia pertence-lo,

Jamais permitiria vê-lo jogado nas mãos do sofrimento,

Vez que, para o amor que sentiam um pelo outro,

Nunca houve momento ou lugar certo,

Todo o instante era hora de demonstrar o que sentiam,

 

Um cuidava do outro, não foi para isso que inventaram o amor?

Venha comigo, disse ela, eu imploro,

É apenas mais um dia de dezembro,

Não faça com que isso se torne um eterno tormento,

 

Não entregue-se a esta dor faminta e solitária,

Que ao invés de suprir suas lacunas,

O priva, o distancia de tudo que juramos acreditar,

Ele não falou nada, mas ela pode ver em seu olhar o quanto a amava,

 

Ele não desistiria de ambos, resistiria ao que fosse preciso,

Aos poucos ela sentiu seus olhos afastarem-se do escuro,

Mas permitiu que a dor ficasse mais um pouco,

Enquanto ele a ouvia ler uma história de amor,

Ela, então lhe sussurrou com um sorriso tremulo nos lábios,

Eu te amo, jamais esqueça disso.

Bom Sono

Ele sempre dizia que a amava da mesma forma,

Seguia seu ritual firmemente calculado,

Mandava-lhe flores na hora certa,

Não esquecia sequer um único aniversário,

 

Porém, ela sentia que faltava algo entre eles,

Ela seguia seu ritual de mulher madura,

Marcava hora no salão, cuidava da pele,

Arrumava os cabelos, fazia as unhas,

 

Mas havia algo que a afastava dele,

Algo que ela não conseguia evitar ou entender,

Cada vez que conversavam as palavras falhavam,

O diálogo era monótono, não acrescentava,

 

Ele parecia não a ver realmente,

Ela havia se cansado de todas as suas manias,

Das roupas espalhadas pelo chão,

Da toalha molhada sobre a cama,

 

Da sua mania de querer resfriar por onde andava,

Como se tivesse uma necessidade de mantê-la

Sempre protegida, pendurada em seus braços,

Dependente de cada um dos seus passos,

 

Desde a primeira noite em que passaram juntos,

Ele sempre a fazia dormir abraçada a ele,

Como uma dependência de tê-la por perto,

Ela entendia sua mania por proteção,

Mas as vezes, isso parecia atordoa-la,

Desviar o foco, tirar sua atenção,

 

Certa vez, tarde da noite, enquanto ele dormia,

Ela sentou-se silenciosa sobre a cama macia,

E pensou sobre o quanto ele a amava de forma até, desmedida,

Mas ela ainda não dominava o que sentia,

 

Somente em seus mais belos sonhos,

Ele parecia o homem ideal para se passar os anos,

Ela não sabia se estava preparada para viver tudo isso,

Sentia seus anseios, medos infantis sempre retornando,

 

Como se nunca tivessem partido,

Ela desejava conversar com ele sobre isso,

Mas não conseguia se expor, a insegurança calava a sua voz

Antes mesmo que ela encontrasse as palavras certas para falar algo,

 

O medo a dominava, a calava, e ela se permitia ser conduzida,

Aceitava sem pensar tudo que ele a propunha,

Tinha todos os seus desejos ao próprio alcance,

Mas não sentia dentro dela que isso era suficiente,

 

Havia algo nela que estava muito errado,

Um sentimento de vazio que a consumia por dentro,

Quanto mais ela tentava escapar deste sentimento,

Mais se via consumida por este estranho lamento,

 

As vezes, parecia que ele notava algo errado,

Mas ela sempre respondia de forma evasiva,

Sentia-se atordoada ao ver o velho medo retornando,

Mas quanto mais fugia mais se via perdida,

 

Parecia-lhe que realmente não havia saída alguma,

Como poderia contar a ele seus mais profundos segredos?

Será que ele a entenderia, será que a aceitaria assim mesmo?

Ela não era perfeita, fazia questão de repetir isso,

 

Mas sentia que ele a enaltecia, que a via de uma forma sobre-humana,

Que ela temia, na parte mais profunda de si mesma,

Não ser capaz de atingir suas expectativas,

Quando se indagava sobre ser feliz ou não,

Ela sabia que a resposta era positiva, assim lhe ditava o coração,

 

Lembrou-se ela que, certo dia, ele procurou um beijo em seus lábios,

E ela desviou com uma desatenção calculada,

Ele pareceu não perceber, então a acariciou no rosto,

E a fez olhar no fundo dos seus olhos,

 

Ela sorriu com lágrimas no olhar diante de tanto amor,

Mas ainda assim, quando ele a abraçou com esmero,

Ela, apesar do esforço, não achou que sentia o mesmo,

Seus segredos estavam colocando obstáculos em seus sonhos,

 

Ela sentia que o amava profundamente, porém,

Não se via segura para abrir-se com ele,

Ela dormia em seus braços com um sonho recorrente,

Amava-o o máximo que podia apenas porque parecia ser

O que ele desejava dela, não porque realmente o sentisse,

 

Havia algo gritante de errado, algo que não se encaixava,

Ainda na cama, ela virou-se para o lado e enterneceu-se ao contempla-lo ressonar,

Seu rosto era lindo, tranquilo, parecia sorrir para ela,

Fez um carinho nele, abaixou-se e tocou de forma suave sua boca.

sábado, 12 de dezembro de 2020

Um Cigarro, Por Favor?

 

Ele colocou um disco antigo na vitrola,

Serviu um drinque puro acompanhado de gelo,

Sentou-se em sua poltrona preferida,

Com uma perna estendida e a outra erguida sobre ela,

 

De uma forma absorta e livre,

Afinal, estava em sua casa,

Ali, podia agir como lhe conviesse,

Mas aquela música ousava falar de amor,

 

E um rosto pairava sobre ele como uma miragem,

Nunca acreditou que amaria algum dia,

Mas, admitia com um pingo de desconfiança,

Um dia encontraria alguém para amar por toda vida,

 

Mas sobre aquela moça, não sentia vontade de procura-la,

Apenas sua voz soava tremula aos ouvidos,

Feito um gemido de felicidade incontida,

Mas ele não chegava a acreditar que fosse isso,

 

Acendeu um cigarro, admirou-se ao notar os dedos trêmulos,

Tragou até sentir a fumaça dentro de si,

Até sentir-se absorvido por aquela sensação,

Até que seus nervos sentissem-se um pouco melhor,

 

Fazia desenhos com a fumaça enquanto ela subia até o teto,

Admirava a forma como parecia domina-la,

Pensava que, assim o faria sempre em sua vida,

Mas quando tratava-se daquela moça ele perdia sua força,

 

Perdia a pose de quem controlava tudo ao seu redor,

E as coisas recusavam-se a fazer sentido,

Eventualmente, uma lágrima trazia luz aos seus olhos,

Mas ele escondia-a dentro da penumbra do quarto,

 

Com o tempo, o escuro se tornou sua melhor companhia,

Seu drinque estava gelado, trazia um gosto bom,

Ele sentia-se tonto, entregava-se a sensação de contentamento,

Mesmo que fosse por pouco tempo, sentia-se tranquilo,

 

Repensava consigo todos os seus compromissos,

Que o esperavam logo que a noite terminasse,

E prendia-se ao trabalho como uma boa forma de se viver,

Algumas vezes, ele acreditava que pudesse reviver

Aquele sentimento que acreditou sentir nela,

Mas outrora, ele acreditava que aquilo fosse uma espécie de vício,

 

Uma necessidade por sentir-se comprometido com algo,

Algo muito distante do que denominaria desejo,

Absorvido por um caminho diferente de tudo que havia vivido,

Eu te amo, ele repetiu aos seus ouvidos,

Mas, acreditava em seu íntimo, que nunca chegara a sentir isso,

 

Ele queria alguém com quem compartilhar seus momentos,

Alguém com quem pudesse falar dos seus sonhos,

Mas quanto a amar realmente, ele se recusava,

Para que iria se entregar dessa forma?

 

Tudo que via nas outras pessoas não passava de felicidade passageira,

Nada comparado as suas músicas, seu drinque, seu cigarro,

Sentia-se mais absorvido, mais completo de alguma forma,

As pessoas tinham o costume de quererem manipula-lo,

 

Agora, estava protegido disso, seguro em seus aposentos,

Tudo estava meticulosamente organizado conforme sua vontade,

Mas os beijos daquela moça o pegavam pelo braço,

E desejavam conduzi-lo para algum lugar, ao longe,

 

Olhou sua forma diante do espelho,

Percebeu o quanto ele era atraente,

Não merecia portar-se feito um escravo,

A mercê dos desejos de uma mulher insolente,

 

Frágil demais aos seus compromissos,

Destituída de sentimentos profundos,

Ele não se entregaria a este amor egoísta,

Em que só dava ser receber nada em troca,

 

Ascendeu outro cigarro, as horas passavam o sono não vinha,

Sentia-se tolo por tentar enganar-se nessa medida,

Aquela moça se entregou a ele, era verdade, porém cobrou preço alto,

Prostituição era o nome próprio, ele pagou não apenas com o dinheiro,

 

Sujou o corpo quando a tocou, a alma por trair a si mesmo,

Como fora capaz de se permitir a algo assim tão profano?

Não era amor o que encontrou nela, aquilo tinha outro nome,

Carência, falta de amor próprio, falta de valorizar a si mesmo,

 

Perda completa e desmedida da sua dignidade,

Se ele tivesse se dado um mínimo de valor,

Jamais teria tentado conquistar com dinheiro,

O que só se alcança através de sentimento,

 

Sentia-se usado, como uma marionete nas mãos

De quem era acostumada a usurpar tudo que tocava,

Sorte sua ter protegido o seu coração,

Mas seus jogos ainda o prendiam, precisava se livrar,

 

Como foi ardilosa ao lhe prometer amor,

Sabendo o quanto ansiava por isso,

Chegou a chorar quando decidiu dar fim naquilo,

Um choro falso feito uma aranha a prendê-lo,

 

Chegou até mesmo a chantageá-lo,

Não havia limites para o seu comportamento,

Como foi falsa, traiçoeira, ao entregar-se a qualquer um por trocados,

Ele havia errado, agora tentava apagar seu passado.

Homens x Mulheres

 

Meninas vestem rosa, meninos usam azul,

Vermelho somente para mulheres decididas,

Preto, dedica-se aos que se encontram de luto,

Mas, por favor, somente por sete dias,

 

Não menos importante, o branco destina-se para o casamento,

Há quem contrarie essa tese e afirme que é somente para as virgens,

Então, por favor, outras mulheres não permitam-se ao amor,

Do contrário vocês serão apontadas pela sociedade,

Como aquela que, ousou um dia arriscar-se, chamada: divorciada;

 

E os homens adultos usam o que? E caso decidam casarem-se?

Aquele tradicional fraque preto e branco,

Que dizem, lembrar os pinguins do gelo?

Então o casamento é só isso? Algo decidido, imposto, comercializado?

 

Quem foi que se apossou das cores

E as distribuiu por entre a sociedade para fazer distinções?

Ah, um recado comercializado, imposto pela cultura:

Homens sejam sempre fortes, territorialistas, possessivos,

 

As mulheres precisam que vocês marchem cegos

Rumo ao caminho que vocês decidam ser o melhor,

Enquanto, a elas só lhes cabe cair aos chãos,

Calarem suas vozes que gritam em suas almas,

Através de gestos meticulosos e lágrimas por seus rostos,

 

Jamais ousariam decidir por si mesmas,

Este direito lhes foi negado ainda na nascença,

Há profissões para as quais elas jamais estariam habilitadas,

E quando enxergarem lágrimas nos olhos dos seus homens,

 

Por favor, mulheres, lhes virem as costas,

Aos homens não lhes foi concedida esta prerrogativa,

Chorar é pura demonstração de amor,

Ao homem é impedido amar, a sentir desde sempre,

 

Quem é que ousaria contrariar a mãe que o pede para engolir o choro?

Pois não é coisa de menino permitir-se sentir dor,

Cale sua voz, cale seu coração, cale sua emoção,

Você não pode sentir, arrume uma mulher que faça isso por você,

 

Somente a elas é dado este direito de sonhar em entregar o amor

Que a vocês foi negado desde o nascimento,

Até que, elas joguem-se aos seus pés, escoam por seus dedos,

Implorando o afeto que talvez, ninguém nunca tenha sentido,

 

Mas sendo lhes negado, como agora deveriam os homens reagirem?

Ouçam o eco dos saltos delas a bater no piso frio,

O barulho não os faz com que as ouçam?

Será que elas sempre deverão caminhar por espaços vazios

Até serem aceitas por seus abraços?

 

Ah, não esqueçam de serem sempre fortes para carrega-las

Elas precisam disso, é assim que foram educadas,

Não esqueçam do colo para acalmar seus olhos chorosos,

Estendam um tapete vermelho para vê-las passar,

 

Assim é possível disfarçar suas necessidades de serem vistas,

Mas sem holofotes, isso poderia confundi-las,

Não é permitido percepção sobre nenhum tipo de estratagema,

Sigam seus caminhos desatentos para tudo que sentem,

Homens: a vocês, resta somente responderem aos seus pedidos,

Não ousem pensar muito além disso,

 

Mas quanto ao choro, não preocupem-se tanto,

Logo virão os filhos e eles tomarão todo o espaço,

Todo o tempo de vocês, então, por favor,

Eduquem-nos para serem diferentes,

Apenas caso discordem deste tabu existente ao redor da palavra amor,

Este joguinho imposto para que os casais se identifiquem,

 

Fazendo da sociedade marionetes nas mãos

De poucos que decidem cores a vestir, modo de agir,

Jeito de falar, o que é amor o que deixa de ser,

Desliguem suas tvs, apaguem seus celulares,

 

Vocês não cansam de marchar por um caminho imposto?

Seguirem sempre os passos do mesmo destino,

Quando Deus definiu o amor talvez ele quisesse mais que isso,

Mas quem é a sociedade para ousar discuti-lo se nem ao menos se permite senti-lo?

 

Façam seus jogos, planejem suas tramas,

Não há nada a ser visto pelo caminho que a vocês ainda é desconhecido,

Não mudem suas rotas, tracem suas errôneas estratégias,

O mundo sempre foi o lugar do mais forte, o mais competitivo,

 

A estação do ano está mudando, eles vestem um terno fino,

Não esqueçam de esconder o frio e de tirar seus casacos

Para protegerem suas mulheres em seus vestidos leves e bonitos,

Elas precisam exibir seus corpos esculturais aos quais se dedicaram tanto,

 

Jamais demonstrem insatisfação em tudo que lhes foi imposto,

Nem pensem na morte como destino certo a lhes aguardar,

Vivam para o trabalho, para suprir o que vocês nunca tiveram,

Deem-se, porque às mulheres somente foi dado o direito de esperar,

 

Aceitem-os, pois aos homens foi imposto o direito de provedor,

Mas, por favor, jamais se permitam pensar sobre isso,

Imagine se, de repente, ambos ousassem desafiar ordens preconcebidas

E acreditarem que poderiam quebrar as algemas que lhes prendem e marca.

Casamento em Crise

 

Eles discutiam a toda hora, nada parecia se encaixar,

Mas ela acreditava que pudesse recuperar

Todo o sentimento, todo o amor que um dia

Acreditou sentir no fundo da sua alma,

 

Na convivência do dia-a-dia, eles brigavam,

Ela corria para o silêncio abrasador do seu quarto,

Jogava-se sobre a cama, abraçava o travesseiro

E chorava sem barulho ou soluços,

 

Aprendera ainda na infância a chorar em silêncio,

A engolir a dor, até senti-la acumular-se em seu peito,

Só não ensinaram que tanta dor dentro de si mesma,

Um dia poderia destruí-la de forma irrecuperável,

 

Apenas permitia que suas lágrimas tomassem o rumo

Que julgassem mais adequado, não queria admitir

Mas não conseguia controla-las, quando seus olhos

Se cobriam pelo manto da raiva, ela não resistia,

 

Chorar era sua única alternativa, as vezes, gritava,

Tentativa inútil de extravasar a dor,

Certa vez, foi tomada pelo ímpeto de agredi-lo,

Ela conheceu a agressão desde cedo no seio da família,

 

Mas por mais alto que tentasse falar,

Por mais que desejasse se impor,

Sua voz esganiçada pela dor, nunca fora ouvida,

Ele, simplesmente a tomou pelos braços,

 

Apertou-a com força, sobrepondo-se a ela,

Enquanto usava a força do olhar para redimi-la,

Reduzindo-a a nada, cuspia palavras em sua cara,

Ela se afastava, gaguejava, as palavras se formavam

Distantes demais para que pudesse pronunciá-las,

 

Fugir parecia ser a sua única alternativa,

Fugiu da loucura que havia em sua família,

Passando da manipulação familiar

Para ser marionete nas mãos de um coração vazio,

 

Sempre gostou do refúgio que havia em seu quarto,

Mas nunca pensou que pudesse ser tão difícil dividi-lo,

Nem mesmo aquele lugar, que pouco fora seu,

Lhe pertencia mais por direito,

 

Tudo que era, escapava-se nos vãos dos próprios dedos,

Via-se derreter entre lágrimas, dor e desespero,

Corria, trancava a porta e escorria até o assoalho,

No chão frio parecia um bom lugar para chorar sua dor,

 

Mas, nem mesmo o silêncio lhe fazia companhia,

Ele achava que podia invadir seu espaço,

Vinha com suas famosas juras de amor em falso,

Parecia acreditar que a conquistava com migalhas,

 

Ela esmorecia, frágil, sentia-se perder no vazio que crescia,

Antes afogada em lágrimas divididas entre solidão e descontento,

Agora jazia, pelas mãos que um dia lhe prometeram afeto,

Permitia-se cair, mas não tinha a privacidade de sofrer,

 

Roubavam-lhe pouco a pouco o direito de viver,

Ela aprendeu desde cedo a esconder sua dor,

Sentia-se, com isso, de alguma forma, melhor;

Nunca permitia que suas lágrimas traçassem caminho livre,

 

Sofria o quanto julgava ser o bastante

Para conseguir maquiar o rosto,

Sem que uma lágrima teimosa o deslizasse,

Impedindo-a de sair para fora e seguir seu caminho,

 

Havia risos, assombro silencioso por tamanho sofrimento,

Mas nenhum carinho lhe era dirigido,

Lá fora nada a esperava, nem mesmo um abraço,

Ela achou suficiente ir se distanciando, se afastando,

Até perder-se de si mesma e de todos,

 

Com o tempo encontrou refúgio nas palavras,

Passou a apegar-se a frases feitas, sentimento pronto,

Embalado a vácuo, imperfeito para suprir o vazio da alma,

As frases vinham afagavam o rosto e roubavam seus sonhos,

 

De um a um, como se colecionassem corações sangrentos,

Como se os abrissem apenas para contemplar seu lamento,

Alimentadas pelo sofrimento e dor alheia,

Frases que esvaziavam pessoas e personificavam atos,

 

Havia uma sociedade de mortos vivos vagando pela cidade,

Ela caminhava por entre eles, como poderia evita-los?

Um dia, ele decidiu devolvê-la a família,

Assim definiu o fim de tudo que um dia jurou sentir,

 

O fim do para sempre, do amor, dos beijos, das promessas,

Dirigiu sua moto, a abandonando no meio da estrada,

Nem coragem teve para devolvê-la ao mesmo lugar de onde a havia tirado,

O que não era de todo errado, pois seu lugar já havia sido tomado,

 

Ela marchou com todo o orgulho a guia-la,

Feito uma máquina programada,

Mas sentia-se, de alguma forma, presa a aquele tormento,

Então, deixou-se cair ali mesmo na estrada,

 

Consumida pela poeira que apesar de embaçar seus olhos,

Não a impediu de olhar para trás e perceber que ele não a olhava,

Nenhuma vez se importou em abandona-la, em deixa-la a esmo,

Abandonar todos os anos que passaram juntos,

 

O olhar que a conquistou se dirigia para outro lugar,

Outros sonhos, outra pessoa, a deixando ali, sozinha,

As palavras cuspidas em sua cara a afogavam, de novo,

Os carinhos outrora entregues, já não lhe pertenciam,

 

Talvez nunca tivessem sido seus, só restara ela

E aquele estranho amor, que ela sonhava algum dia poder entrega-lo,

E permitir-se sentir, ser tocada realmente por alguém,

Ser amada, reconhecida, valorizada por tudo que era.

A Descoberta do Amor

 

O amor foi descoberto,

Naquela madrugada de sexta-feira,

Ele ficou onde estava, deitado a contemplar o teto,

Assim que a chamada foi encerrada ele teve certeza,

 

A amaria por uma vida inteira,

Talvez nem esse tempo seria o suficiente,

Sua voz calma, sua pele macia, a forma como ela o abraçava,

Tudo o levava a crer que seu amor duraria para sempre,

 

Abraçou seu travesseiro, sorriu a contento do que sentia,

Era como se um anjo da guarda guiasse sua vida,

Todo o tempo que tinha percorrido, até então,

Era glorioso, poderia admitir, mas insuficiente,

 

Felicidade passageira que satisfaz por momentos,

Mas não chega a alcançar o coração,

Ele teve certeza ao cruzar com sua maneira simples de ser,

Que queria muito mais que isso em seu destino,

 

Queria entrar de corpo e alma no vigor desta paixão,

Merecia algo que o despertasse para uma vida com emoção,

Uma emoção duradoura, não queria perder tempo,

É certo que a música em que dançou com ela nos braços

 

Foi intensa, diga-se de passagem: absolutamente perfeita,

Mas a maneira como ela sentia-se frágil, solitária,

A forma como ele se viu refletido em seu olhar,

O fez desejar estar ao seu lado por uma vida inteira,

 

Ele olhou em seu dedo anelar, percebeu que um anel lhe cairia bem,

Ela era encantadora, ele queria retirar todas as marcas ruins do seu passado,

Deixaria seu toque registrado em sua pele,

Através da marca de um anel em seu dedo,

 

A partir do momento em que ele cruzou suas vidas,

Fez um juramento secreto, mais para si mesmo que para qualquer outro,

A cuidaria, com tudo que fosse preciso, a protegeria,

E nunca mais permitiria que alguém a ferisse da forma que fosse,

 

Sabia pela maneira como ela sentia, agia e amava,

Que ela merecia todo o sentimento que ele guardou com esmero,

Parecia ter certeza de que algum dia a encontraria,

Ele havia buscado dentro de si mesmo todo esse sentimento,

 

E agora, o via refletido no jeito encantador daquela moça,

Ela era linda, pura, profunda em tudo que sentia,

Era como se as músicas que compôs tivessem-na tocado de alguma forma,

Despertando-a em um convite despretensioso a provar do que acreditava,

 

E agora, doce encanto do destino, ela era sua,

A moça que o procurou em cada canto da cidade,

Repousava nos seus braços, entregue, plena,

O silêncio do lado de fora da janela o fez tocar um cd,

 

Trazendo uma música que lembrava tempos longínquos,

Que falava em uma espécie de códigos sobre sonhos proibidos,

Sobre sentimentos fadados ao silêncio,

Ao vazio obscuro de um coração vago, imperfeito,

 

Ele escreveu aquela música em um lugar tranquilo,

De onde acreditou: ela nunca ganharia espaço midiático,

Mas lá estava ela, anos depois rompendo obstáculos,

Quebrando regras, conquistando sonhos,

 

As coisas que pareciam estar seguindo uma ordem,

Indesejada, mas pré-estabelecida, agora estavam condenadas

A constituir letra morta em um cemitério de desordem,

Caos em que as pessoas se uniam, conjuntas,

 

Buscando um lugar em que pudessem sentir-se seguras,

Abandonando os becos sujos e escuros da cidade morta,

Para refugiarem-se sob os holofotes, mentes pensantes

Em busca de sonhos em que pudessem viver plenamente,

 

Vozes solitárias gritavam suas dores, espalhando sua alma

De cada canto da cidade, e finalmente, eram ouvidas,

Pessoas se levantavam, agiam, acreditavam em si mesmas,

Já não eram corpos vazios e obscuros a perambular,

 

Eram seres humanos buscando o direito à vida,

Buscando transformar o seu redor que dormia seu sono profundo,

Agora, ele vê, sente que todos pedem mudança na sociedade mundana,

Em que vidas são ceifadas na entrega de seus corpos,

 

Destituídas de suas almas, abandonadas ao fracasso,

Condenadas à morte solitária dentro de si mesmas,

Corpos semivivos em busca de algo a mais que isso,

Amor, gritou uma voz estranha do chão em que caia,

 

Amor, responderam os demais e de uma a uma

As pessoas uniram suas forças, lutando pela família humana,

Já não bastavam leis escritas, sem efetividade,

Encobertas por suas lacunas, as pessoas se levantavam por um clamor antigo,

 

Liberdade, igualdade, fraternidade, dignidade,

Com uma lágrima a molhar sua face,

Ele pegou as chaves do carro e rumou em sua direção,

Viveria seus sonhos, entregaria a ela seu coração,

 

Lutaria, faria o que fosse preciso, mas a protegeria

Estaria ao seu lado, a todos era merecido uma vida plena,

Se a arbitrariedade gritasse de um lado,

Ele ousaria falar mais alto, e unir esforços,

A ninguém era dado o domínio sobre o outro.

Busca aos Peixes

Masharey acordou, Subiu na alta cadeira Feita de pneu usados, E cantou alto: - estou no terreiroooo! Em forma de canto. Após iss...