sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Primeiro Encontro

Ela o conhecera certo dia, pegou seu número de telefone,

Adicionou-o em sua rede social e conversavam constantemente,

Passaram-se os dias, depois semanas e então seguiram os meses,

As mensagens eram mais esperadas que o próprio alvorecer,

Instante em que ela saia para correr na praça, apenas para poder

Vê-lo passar em direção ao trabalho, em seu carro esporte,

 

Ele sempre acenava e ela o brindava com seu melhor sorriso,

Isso ocorria lá pelas 09:00 horas, em meia hora ela lhe mandava um café,

Aquele que imaginava que ele gostava, pois nunca havia recusado,

Mas neste dia, desejou ser diferente, enviou também um cravo,

Vermelho, cor dos seus lábios e macio, como deveriam ser seus beijos,

Teria enviado um pedido para saírem juntos, mas ele era tão reservado,

 

Ela não entendia ao certo o porquê, sua casa era pouco movimentada,

Parecia que ninguém mais o visitava além da família, ela percebia isso,

Não era imaginação sua, o fato de ele não lhe dar tanta atenção,

Não significava nada além de distração, mero deslize de homem,

Afinal ele tampouco a havia dispensado, sempre passavam horas conversando,

Uma amiga havia sugerido que ligasse para ele, para testá-lo,

 

Mas ela acreditava que isso não era conveniente, pois para que o persuadir,

Ou, tentar força-lo a ter algo com ela, o amor não se obriga, se conquista,

Também lhe sugeriram enviar uma moça bonita, bem vestida, sua amiga

De preferência, para fingir conquista-lo para ver até onde ele iria,

Mas isso não seria interferir em sua vida particular, aliás, se ela gostava dele

Deveria procurar entende-lo e estreitar a relação de forma que pudesse

 

Conhece-lo e com isso, verificar até onde poderiam ir com aquilo,

Era certo que ela o amava como nunca havia amado outra pessoa,

Tão certo como sabia, mesmo sem querer, que jamais iria esquece-lo,

Mas isso não significava que deveria força-lo a ama-la,

Enquanto pensava nisso, se convencia que, tão provável quanto o sol

Que a tocava iria em algumas horas adormecer aquele lugar

 

Para iluminar outro ponto do planeta, era o fato de que, talvez,

Nunca tivesse a oportunidade de ficar sozinha com ele,

Nem ao menos para uma conversa, pois as coisas realmente

Estavam lentas entre eles, era o que suas amigas a diziam,

Mas a realidade de suas conversas era outra, sempre haviam

Mil mensagens em seus celulares, encontro entre seus olhares,

 

Um áudio de bom dia no início do dia, outro de boa noite

Antes de dormir, era a maneira que tinham de ficarem perto

Conversavam o bastante para sentirem suas vozes adormecerem,

Então, pouco antes de fecharem os olhos, ressoavam um ao outro o boa noite,

Quando ela sentia medo de dormir sozinha por algum motivo bobo,

Ela segurava o celular em seu peito e sentia que ele estava junto,

 

Mas ela ansiava por seu toque, nunca confessara a ninguém, mas chorava,

Às vezes, recusava atende-lo, fingindo que estava no banheiro,

Mas logo depois se arrependia, por mais que houvesse essa espécie de distância

Ainda assim ela o amava, e ele também, não é? Caso contrário porque desperdiçaria

Tanto tempo com ela, sempre comentando sobre a rotina do dia-a-dia,

O sol acordava depois dormia dia após dia, até que certo dia,

 

Logo depois do cravo, o convidou para irem a um pub, curtir uma banda

Nova na cidade, que tocava um rock muito bom, eles tinham esse gosto em comum,

Ele aceitou no mesmo instante, ela nem acreditara, finalmente: proximidade,

Combinaram o horário, 11:00 horas da noite, queriam tomar uma bebida antes,

Ela contava os segundos, depois os minutos, mas abandonava as horas,

Pareciam engessadas, como se tivessem desistido dela, imagine então os dias,

 

Por Deus que havia algo errado com o tempo, sem falar na escolha da roupa,

Nada parecia se encaixar direito, nada parecia adequado, isso a deixava insegura,

É sabido que sua insegurança não tinha nem uma relação com o fato

De que as mensagens diminuíram o ritmo, até o boa noite da noite anterior ele esquecera,

Ela, por consequência, acordara mais tarde naquela manhã,

Ao tomar seu café, desacostumada com o horário tardio, um tanto desatenta,

 

Batera com o dedo na mesa e quebrara a unha, não soube o motivo,

Mas chorou, ela havia cuidado tão bem de suas mãos, e agora o que faria?

Marcaria hora no salão? Mas ela preferia algo mais singelo, não seria exagero?

Ela sempre se orgulhara de ser uma moça simples, agora tudo havia mudado,

De um instante para o outro o improvável estava tão palpável, menos as mensagens,

Ela pensou em tirar uma foto e enviar para ele, mas talvez ele risse dela,

 

Fosse como fosse, ela ainda o amava e sempre o amaria, ele não iria magoa-la,

Iria? Será que ele criaria uma situação que pudesse constrange-la?

Ser rejeitada em público não parecia uma ideia convidativa, mas tampouco

Ter o primeiro encontro de forma privada parecia mais atrativo,

Ela sabia sobre sua conduta, conhecia seu trabalho, acompanhava a sua vida,

Mas e se ela se recusasse a beijá-lo, se por qualquer motivo se desentendessem,

 

Claro que ele não ficaria agressivo, jamais viu o brilho do ódio no castanho dos seus olhos,

E tinha certeza, de forma muito convicta, jamais veria em momento algum,

E a banda de rock era uma atração interessante, o ambiente era convidativo,

Lá com certeza estariam alguns dos seus amigos, eles dois poderiam sentarem-se

Arredios em alguma mesa, e mesmo que seus amigos se juntassem,

Ela poderia analisar melhor a forma como ele fosse reagir,

 

Pois eles também eram importantes, roeu o restante da unha, o que ela importaria

Diante da luz da noite? Se ele, gostasse dela o mínimo que fosse, isso não significaria,

Caso não gostasse, melhor ainda, talvez, ele fizesse disso um motivo para despistá-la,

E ela o entenderia, finalmente chegara o grande dia, roupa escolhida, mini saia curta,

Blusa coladinha, cabelo arrumado, brincos e etc., tudo conforme mandava o itinerário,

Não queria ser a mais bonita, - seguiria as regras das amigas, não haveria erro, -

Não seria adequado para um primeiro encontro, ou será que seria? Bem, o certo é que

 

Também, não queria ser a mais feia, para que isso? Gostava de ser valorizada por seu caráter,

Pelo seu sorriso, pela sua inteligência, o corpo nunca foi o seu primeiro alvo,

Mas nem menos importante; oito horas da noite, e ela estava pronta, e ele nada, nem notícias,

Haviam se comunicado menos, e de forma quase evasiva, nove horas alguém bate à porta,

Ela dá um pulo, corre para atende-la, flores chegaram endereçadas a ela, sem remetente,

Ela sorriu, jogou-se no sofá, é claro que eram dele, isso era inesperado, mas demasiado gentil,

 

Nada mais educado que retribuir os gestos que ela tanto o fez durante o tempo em que...

Bem... estavam se conhecendo, achava que poderia definir desta forma o que houve até

Aquele instante, de repente a certeza de que agora tudo mudaria entre eles,

Fez com ela sem querer, quebrasse mais uma unha, será que sua noite estava fadada

Ao fracasso? Será que uma unha poderia conter tanto significado? Não, não era isso,

Lágrimas brotaram em seus olhos, mas não borraram a maquiagem,

 

Ainda bem, pensara ela. Daquele momento para a frente,

Ela checara a porta de instante a instante, será que ele havia esquecido do seu encontro?

Será que ela deveria mandar mensagem? Ao menos um boa noite ou coisa assim?

Não queria parecer insistente, nem fazer o tipo de mulher fácil que grudava no pé,

Fosse como fosse, ela preferira esperar, aguardar, mas sempre havia uma batida na porta,

Ela decidira deixa-la aberta, sentou-se, olhou-a, achou-a inadequada daquela forma,

 

Levantou-se e fechou-a, tomando o cuidado de tranca-la... 9:30, e ouviu um barulho,

Eram palmas, só poderiam ser masculinas, era ele, não havia esquecido,

Quem seria tão desalmado a ponto de deixar uma mulher como ela a esperar?

Esperou um instante, respirou várias vezes, não queria deixar transparecer o nervosismo

Que ela sentia consumi-la por dentro, mas jamais admitiria, não seria adequado,

Ao abrir a porta, ele estava a espera-la, com um sorriso de dar inveja a qualquer um,

 

Ele valia a pena cada segundo, valeria anos, se a consequência fosse uma vida juntos,

Ele estava parado na calçada, ela no último degrau dos três que haviam,

Desta forma estavam da mesma altura, ela estendeu a mão para um abraço,

Ele a envolveu e o beijo aconteceu ali mesmo, a causa provável de tudo isso,

Aos olhos dela: casamento, a prova circunstancial eram seus olhos,

Seus sorrisos, a forma como ambos pareciam orgulhosos um do outro...

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Ponteiros do Relógio

Quando o relógio se afastou das 03 da madrugada,

Ela já sentia falta, uma saudade que aperta, sufoca,

Até vê-la debulhada em lágrimas, lagrimas de um coração que ama,

E que teve que ver seu namorado viajar para um lugar

Desconhecido e distante dela, outro país ele dissera,

Abraçou-a, tão apertado que ela ainda o sentia,

 

Depois se afastou segurando-a pelos ombros,

Depositando um beijo em sua testa, encarou-a melancólico,

Deslizando as mãos sobre seus braços imóveis,

Até tocar seus dedos e vê-los mover-se em um ímpeto

Incontrolável de segurá-lo, mantê-lo ao seu lado,

Mil coisas absurdas passavam por sua mente,

 

E a pior de todas, medo de perde-lo, medo da distância,

Seria uma viagem a trabalho, vislumbrando um futuro bom

Para os dois, mas a ideia de não tê-lo a toda hora, lembrando-a

O quanto era amada, a aturdia, ele soltou seus dedos,

Ela não, continuou onde estava, vendo o partir para longe,

Se sentia boba, seriam poucos dias, mas um vento frio soprava,

 

Ela podia senti-lo penetrar seus ossos, e ela havia esquecido o casaco,

Antes que pudesse estremecer, antes mesmo de dar-se conta disso,

Ele desceu do avião privado e mexeu em algo dentro de uma mala,

Ela ficou embasbacada quando o viu retirar o casaco dela,

Com o perfume dele e tudo o mais, ele havia avaliado o clima,

E pensado nela, como sempre fizera desde que ela o conhecera,

 

Seriam apenas minutos de viagem até ele chegar ao outro país,

Ele lhe sorriu sem fazer barulho, abrindo a boca perfeita

Que ela amararia por toda a vida, repousou o casaco sobre seus ombros,

E lhe deu um novo beijo na testa, um meigo beijo de amor,

Ela sorriu, com o coração apertado mas sorriu, então pôs as mãos nos bolsos,

E encontrou as chaves do carro, nem disso ela havia lembrado, mas ele sim,

 

Pensou em tudo, como sempre fizera, o mesmo homem que a havia conquistado,

Ainda estava lá, e sempre estaria, ela caminhou em direção ao veículo,

Com os olhos semicerrados em oração, olhou para o céu e pediu a Deus: proteja-o,

Abriu a porta do motorista, que ela amava vê-lo abrir para ela,

E sentou-se na direção, imaginando que seria ele quem a conduziria,

Como ele sempre fazia, pois, ele nunca se desvencilharia do seu lado,

 

Chegou em casa, olhou em seu pulso, 03 e 15 da madrugada, ela precisaria dormir,

Sem ele, como faria? Quem acariciaria seus cabelos e sussurraria aos seus ouvidos,

Sem saber como, pegara no sono e dormira um pouco, apenas lembrava

Que após as 05 horas da manhã, ela havia desistido de contar as horas,

Acordara as 10 da manhã, estava a morder um pedaço de pão com nata e açúcar

Quando o correio chegou, correu para atender, havia um objeto para ela,

 

Ela mordeu o lábio, olhou para ele e sorriu um tanto tremula,

Será que seu amor havia chegado bem? E por que ele não havia mandado notícias?

Era uma caixinha, grandinha, mas bastante leve, o que será que poderia conter?

Ela preferiu abrir no sofá, pegou o café, terminou o pão, sorriu consigo mesma,

Era do seu namorado, ele havia lembrado dela, pulou de alegria,

Derramando todo o café no tapete persa, será que o havia manchado?

 

Isso não importaria, mesmo que tivesse sido comprado em sua viagem romântica,

Abriu a caixinha, tomando cuidado para não macular o papel bonito,

Guardá-lo-ia em sua caixinha de lembranças como fazia com tudo que ele lhe dava,

Havia uma foto dele na chegada, ele estava em pé, em frente ao avião,

Sem casaco, deveria estar com frio, pensou ela, mordeu o lábio,

Poxa, como ele era lindo, em pé em contraste com o céu azulado,

 

Ele parecia mais perfeito ainda, seu coração dera um salto,

Desejou abraça-lo, jogar-se nos seus braços, senti-lo beijar sua cabeça

De encontro ao peito dele, para só depois de horas em seu abraço,

Horas para eles, mas conforme o relógio apenas segundos,

Afastar-se um pouco, olhar em seus olhos e abrir a boca com um sorriso,

De um jeito automático, pronta para o beijo esperado e demorado

 

Que se seguiria, como sempre houve entre os dois, o relógio esperto,

Correu para as onze horas, e ela ainda estava ali parada a olha-lo,

Contemplando-o através daquela foto, imaginando-o com ela,

Seu cachorro correu para o seu colo, acomodando-se,

Ao vê-lo molhado, foi que percebeu que chorava silenciosa,

Beijou-o, abraçou-o fortemente, acreditou que ele a entendia,

 

Afinal papai havia viajado e agora estava longe, mas logo voltaria,

Havia um papel de embrulho sobre algo na caixa, ela a colocou

Sobre o cãozinho, e tremula, pela curiosidade incontida,

Abriu-o com cuidado, para sua surpresa, ele havia passado na floricultura,

E a presenteado com uma rosa vermelha, ele sempre a surpreendia,

Em cada passo que dava pensava nela, a imagem dela, que sentia-se deslocada,

 

Perdida sem ele ao seu lado, ela guardaria essa flor por toda a vida,

Tirou uma foto dela segurando-a de encontro ao rosto, e depois beijando-a,

Após, lembrou de colocar o cãozinho deles junto, nada mais perfeito,

Com exceção da distância que a feria por dentro, a saudade caia sobre ela

Como uma sombra e por mais que as luzes estivessem acesas,

Ela sentia-se perdida, deslocada, nem reconhecia mais sua própria casa,

 

De repente ela teve certeza que o amor os uniria por toda a vida,

Não fosse isso, sua ausência nem seria sentida, fora tão pouco tempo

Longe um do outro, 07 horas, segundo marcava o relógio frio sobre o seu braço,

Apesar de senti-lo quente em seu pulso, odiava aquele ponteiro inquieto,

Ela reconhecia a frieza dele, a cada segundo em que ousava seguir

Indiferente ao fato de seu namorado estar distante dela, retirou-o,

 

Em pouco tempo, ele ficou gélido, e as horas, seguiam-se,

Ele era mesmo um indiferente, de forma inegável,

Ela sempre soube, toda vez que suplicava para que as horas não passassem

Nos momentos em que estavam juntos, ele nunca se importara, nem mesmo na vez

Em que deliberadamente, ela o deixou cair no chão, ainda assim, ele ousara

Recordar que era hora do seu namorado sair para trabalhar, e ela também,


Ele ficava ensurdecido aos beijos dos dois, mesmo quando seus olhos

Imploravam para que o tempo parasse, mesmo quando se abraçavam 

Desatentos ao seu redor, mesmo que o mundo acabasse,

Ela tinha certeza, aquele maldito relógio ainda marcaria as horas,

De alguma forma, fosse qual fosse, ele encontraria um jeito...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Abraço de Amor

 

Ela era uma moça do interior, sempre acreditou no amor,

Rezava todas as noites, seguia sua vida da melhor forma,

Buscando ajudar, cuidar de quem fosse preciso,

Esforços era o que ela não poupava no que tange ao amor,

Há quem diga que palavras repetidas soam pela tangente,

Porém, no caso da palavra amor, ela sentia prazer e até

 

Necessidade de repeti-la, mil vezes mais se preciso fosse,

Até que todo o seu conteúdo pudesse ser absorvido

E queira Deus fosse espalhado pelo mundo, feito o polem,

De maneira que fizesse florescer coisas boas nos corações,

Por amar demais, ela chegava a confundir-se, ver amor onde não existia,

Mas ela nunca cansou de procurar, de insistir nas coisas em que acreditava,

 

Um belo dia, ela decidiu beijar um belo rapaz, triste conto de fadas de terror,

De príncipe ele virou sapo, cansou-se dela, preferiu outra,

Disse que ela não cumpria com suas expectativas, fez exigências

As quais, ela não estava preparada, como boa menina,

Ela recusou de uma a uma, seu coração amava de forma desmedida,

Porém havia nele uma espécie de vazio que o rapaz não correspondia,

 

Parecia não interpretar seus sentimentos, não respeitá-la, de certa forma,

Isso a deixava insegura, arredia, então ela fugia, escondia-se dele,

E com o tempo, a história repetia-se e repetia-se sem parar,

Então ela decidiu fugir de si mesma, não sabia mais o que fazer,

De repente aos olhos de todos ela soava tão diferente, a definiam: ausente,

Mas ela sabia que o amor ressoava alto em seu peito, gritava em sua alma,

 

Ensurdecido aos desacreditados, mas muito sensato aos seus ouvidos,

Ela então, adaptou-se a terapia do abraço, abraçando a todos que podia,

Se houvesse uma barreira entre um coração e o outro, ela poria a ruinas,

A dilaceraria em pedaços, porque apenas o amor é capaz de edificar,

Seus alicerces fazem histórias inesquecíveis, que ninguém pode apagar,

Muitos recusaram-se aos abraços, mas aos poucos foram conquistados,

 

Enquanto alguns vislumbravam-se pelo dinheiro, ela reerguia um coração,

Aquele em que muitos acreditaram e fizeram o que puderam para apregoar,

Indiferente das palavras, da religião ou do Deus em que se apegar,

Amor sempre fora amor e assim seria definido em qualquer lugar,

Mas as pessoas aproveitaram seus abraços para tentar segura-la,

Pareciam desvirtuar seus atos e palavras, ela então aprendeu a se esquivar,

 

Hora em lágrimas, hora em palavras cuspidas, precisava cuidar de si mesma,

As pessoas queriam tanto o amor que pareciam cegas a todo o seu redor?

Isso a feria de morte, tentar possuí-la sem conquista-la, que covardia,

Saiu de lá, precisava viver, diziam-na, e se quisesse reconstruir o amor,

Realmente, fugir não bastaria, passou a beijar, beijou um, dois, três ou mais,

Mas, percebeu que a saliva a feria, chegava a consumir seus lábios,

 

Como um ácido que corrói, queima ao redor, torna ruspico?

Era como se quisessem que ela fosse outra, tudo que era nunca bastava,

Com o tempo ela aprendeu a abraçar da mesma forma,

Passou a ferir, a devolver na mesma moeda, já aprendera a beijar,

Mas, o amor ainda pulsava firme e forte dentro dela,

Implorava, dilacerava suas entranhas até sair dela,

 

Amor, ela repetia, procurava e o via, ela feria e era ferida,

Assim é o desenlace da vida, diziam-na, ela pouco sabia,

Provou o amor em várias formas e em variadas medidas,

Era triste acreditar tanto em algo e não encontrar, mas o mais triste era descrer,

Passar a perambular de forma vazia pelas ruas da cidade,

Sim ela mudou, de lugar, de vida, mudou tudo nela,

 

Mas o amor permaneceu pulsante no mesmo lugar,

Havia feito ela, e dela não se retiraria, nela ele era sua maior medida,

Inclusive passou a defender-se do veneno que jogavam nela,

Seguindo, um pouco, o exemplo das outras pessoas,

Via os corpos bonitos se transformarem e ferirem,

Agora, o amor tinha outro nome, o denominavam sexo,

 

Havia entrega de corpos, sem haver amor nos gestos,

Futuro incerto para os tolos, e os vazios iam exteriorizando-se,

Os beijos jorravam ácidos uns nos outros, consumindo-os a si mesmos?

Tristes pagãos condenados ao veneno de si próprios,

Denominavam doenças, os médicos, ela, porém, perecia em seu tormento,

Pois para ela, aquilo tudo era mesmo ausência de amor,

 

De que outra forma poderia definir aquilo que faziam uns para os outros,

Agarrando-se a uma falsa sensação de superioridade, apenas para verem-se cair

Em seus próprios vazios, falsos amores abraçavam-se, cegados,

E o amor, de lado parecendo inerte, mas ela nunca acreditou nisso,

Corpos envelheciam a olhos vistos por beijos destituídos de carinho,

Se definhavam, como se gritassem ao mundo: amor, ao menos um pouquinho,

 

Nesta feita, ela passou a analisa-los, de longe outrora de perto,

E percebeu que estes ácidos diluíam cérebros, corpos insanos

Perambulavam por toda a parte, ela não se sentia segura,

Queria se refugiar, as coisas não eram fáceis para ela, nem para ninguém,

Os sorrisos bonitos se fecharam, os dentes foram abandonados ao acaso,

E na hora do beijo, até as presas desciam e faziam um estrago,

 

Uns ousavam morder-se, como se dissessem: sim, eu sei disso,

Da própria boca em que provavam beijos, tiravam um pedacinho,

Será que gostariam de guardar consigo? Era mesmo tão falso o amor?

Talvez, o amor também tivesse necessidade de criar roupagens,

Até ver-se despido, desnudo para que o mundo todo o visse?

 

Não faltava quem desejasse lucrar com isso, de várias formas,

Mas amar era preciso, ela acreditava nisso, então se camuflava

E seguia o aparente ritmo, buscava o amor, mas isso foi em 1999,

Data de hoje que se trata do dia 13 de janeiro de 2021, será que valera a pena?

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Uma Mensagem

 

Ela ouviu um bip no celular, deixou para lá,

Seja qual fosse o assunto pertencia ao seu marido,

Ela não iria se intrometer, poderiam ser assuntos do trabalho,

Com certeza era, qual outro motivo seria?

Claro que já era tarde, mas trabalho é trabalho...

Porém, de longe avistou um nome brilhar na tela,

 

Meio nome na verdade, era um apelido,

As letras pulsavam sobre os seus olhos, atraindo-os,

Que celular insistente pensou ela, não para de vibrar,

Mas seu esposo estava ausente, preso a televisão,

Nem parecia escutar aquele som ensurdecedor,

Que chamaria a atenção até mesmo dos vizinhos lá fora,

Instantes após, uma ligação não atendida, um toque apenas,

 

Seria um sobreaviso sobre horas-extras? Ela havia notado

Suas chegadas cada vez mais tardias, mas ele estava sempre tão exausto,

Por que ela iria importuná-lo com assuntos desnecessários,

Decidiu deixar de lado, foi até a cozinha lavar a louça do jantar,

Após lava-la se dirigiu ao fogão para limpar,

Eis que a torneira começa a pingar, de início jorrava água,

 

Depois disso, alguns pingos esparsos, como se calculados,

- Amor, você já arrumou a torneira, a tanto tempo venho lhe pedindo –

Na falta da resposta ela olhou para trás, procurando-o,

Ele quedou no sofá, inerte, descuidada ela queimou um dedo,

Sentindo sua pele fria frigir em ferro quente, levou-o aos lábios,

Como se sua boca macia pudesse sugar a dor, afastando-a,

 

Mas, dessa vez ela errou, os lábios quentes apenas amortizaram-na,

Passando uma sensação de dor maior ainda, como se espalhasse-a,

Em poucos passos ela pousou o dedo embaixo da torneira,

Sentindo sua dor passar com o cair dos pingos de água,

Não abriu-a, nem fechou, apenas deixou que escorresse sobre ela,

Da forma que lhe convinha, cada pingo parecia alivia-la,

 

Ou atormentá-la, ela já não sabia precisar, recostou-se na pia,

Como se lhe faltassem forças, seus esforços no decorrer dos anos de casada

Pareciam nulos agora, foi o que ela sentiu quando foi extraída dos seus pensamentos

De forma abrupta pelos roncos irônicos do marido, nem acreditou que ele havia dormido,

E o celular insistente a vibrar, parecia que ia cair no chão, quebrando-se em estilhaços,

Pegou-o, ele havia mudado a senha, por quê? Talvez em decorrência dos colegas,

 

Eles sempre souberam as senhas um do outro, ele havia esquecido de avisar,

Apenas isso, nada mais seria cabível de se pensar diante de tudo que viveram juntos,

Ela lembrou-se de vê-lo esfregar o dedo na tela, com uma tentativa encontrou a senha,

- Oi, gostei do café que tomamos hoje a tarde, me sinto bem depois disso – leu ela,

E ainda havia um emoji de sorriso, o nome estipulado não dizia muito,

Poderia ser masculino ou feminino, porém, o apelido era o mesmo de sua prima,

Aquela que havia lhe presenteado com a saia rosa, que a olhava encantada sempre que a via,

 

Presente o qual nem havia se destinado a ela, tinha sido para sua tia, que recusou-a,

Que esta mensagem não signifique nada, é claro que não significava, repetia para si mesma,

Trêmula, um casamento duradouro não se renderia por nada,

Ela soltou um argh de pura ironia, não conseguia evitar, odiava mentiras,

Sua prima era casada, talvez fosse o esposo dela, mas o que iria querer com seu marido,

É certo que a hora era inclusiva, embora nada sugestiva,

 

Nada mais natural que conversarem um com o outro, talvez até...

Trocarem confidencias íntimas? Conversas de família deveriam ser tratadas a luz do dia,

Preferencialmente, aos olhos de todos, do contrário seria ingênua lamúria?

Quem é que havia definido hora para tratar de assuntos familiares?

Ela notou que seu esposo andava esparso, distante, e até diferente,

Aquela mensagem soou como um tapa em sua cara, aquele que ela nunca ganhou,

 

Definindo-se no grunhido que saiu da sua boca, dissipando-se no ar,

Porém, pairando em seus ouvidos, a repetir-se sem parar, ou seria o ronco dele?

Ele dormia como se estivesse em outro lugar, ausente de suas vidas,

Ela precisava manter-se calma, havia uma explicação plausível que ela logo

Tomaria conhecimento, era melhor não tocar no assunto, permitir que as coisas

Se desenrolassem, agora que estava com o fio da meada em mãos,

 

Em algum ponto se desenrolaria e ela estaria lá para testemunhar tudo,

Era comum as mulheres reclamarem entre si sobre seus casamentos,

Mas ela nunca teve muito o que comentar sobre o assunto,

Só conhecia o seu próprio, como poderia opinar sobre outros?

Lembrava de que muitas sentiam-se traídas, mas ela sempre julgou-as exageradas,

Faltava confiança na relação, ela dizia para elas, e repetia para si mesma, repetia...

 

Mas neste instante, sentia o coração oscilar, parecia não lhe dar ouvidos,

Suas mãos tremiam, e aquele maldito grunhido que não parava de ecoar?

Ela desejou recostar-se em algo, mas as coisas estavam disformes,

Nada mais era visível aos seus olhos, passou a mão sobre eles e percebeu o motivo,

Estavam marejados em lágrimas, deixou o celular onde estava, não deu resposta,

Ela precisava pensar, é certo que estava segura sobre tudo que sentia,

O fato de sua prima manter conversas as escondidas, com seu marido não faria diferença,

 

Se o outro casal passava por dificuldades, seu casamento não passaria,

Ela o amava, o amor que nutriam um pelo outro carecia do benefício da dúvida,

Não havia escolha, o amor sempre vence no final das contas,

A torneira ainda pingava, mas a dor havia sumido, ela estaria amortizada?

Quando a dor da alma ultrapassa a dor física? Ela sempre enfrentou as crises sem questionar,

Havia feito o seu melhor, não havia? Pegou o celular de volta,

 

Como recusaria responder sua própria prima, - olá, que bom que gostou- respondeu

Colocando o celular ao lado dele, depois andando com passadas mecânicas

Até sentir-se colar na parede, apoiando-se com as duas mãos,

E de forma desolada, bateu de leve a cabeça na parede, sem ferir-se,

Ela queria apenas sentir-se, eu te amo, repetiam seus lábios e também

 

Seu coração, é claro, era isso que ele dizia, não era? Então, o amor é isso,

Repetia ela, um sorriso estreitava em seus lábios, seguro,

No entanto, sua cabeça parecia não funcionar, ela falhava, mas o amor não,

Ainda assim, ouviu um soluço sair dos seus lábios, 

Vertendo lágrimas sobre o seu sorriso desavisado.

Barquinho no Rio

 

Ela andava triste, contando os passos pelo caminho,

Sabia cada detalhe de cor e salteado,

Mas nada a comovia, sentia-se deprimida,

De alguma maneira entediada, as coisas eram monótonas,

Então, se retirou para um lugar no interior,

Desejava como nunca ficar sozinha, em paz consigo mesma,

 

Sentia, dentro dela, que uma voz amiga a acompanhava,

Pensava que se conseguisse se absorver por um momento,

Poderia encontrar essa fala, entende-la e com isso: encontrar a si mesma,

Por mais que parecesse egoísmo, ela sentia no fundo do peito,

De forma inexplicável, mas de alguma maneira compreensível,

Que se identificando com esta voz que a refletia, tornar-se-ia completa,

 

Nessa voz haviam muitas coisas de que ela precisava,

Carinho, compreensão com pitadas incalculáveis de loucura,

Distribuídas pelos lugares por onde andava,

Mas em algum lugar estas pitadas se uniam, se reconstruíam,

E lá, ela sabia: encontraria a felicidade plena,

Não esta, passageira, a qual já havia se acostumado,

 

Por mais que pareça estranho, as pessoas se acostumam com o que recebem,

E ficando estagnadas, sem fazer nada, não reconhecem o diferente,

Com isso, também, nunca sentem nada; pessoas vazias de si mesmas

Apenas ocupam espaços, preenchem lugares, mas não sabem acrescentar,

Ao permanecerem inertes, acomodadas, servem apenas como adornos,

Objetos desnecessários condenados a substituição premente,

Enfeites que podem ser trocados conforme dera-lhes vontade,

 

É certo que a ninguém é dado viver em torno de si mesma,

Mas encontrar-se é um bom caminho para ter em si um objetivo,

Contudo, seguir mero instinto qualquer estrada que seja,

Não leva a nada, não edifica nada além do próprio ego,

Não importa o quão bom você seja ou em que você acreditar,

Com estes pensamentos ela seguia a sua estrada,

Rumo ao interior de um município que conhecia,

 

Nem viu o caminho passar, correndo ao seu lado,

Como se ficasse para trás, ao chegar, ela armou sua barraca,

Decidiu dar uma volta de barquinho, tentou remar, sem êxito,

Um rapaz cortês, se aproximou dela e ofereceu ajuda,

Ela nem pediu o preço, pois queria muito sentir a brisa fresca

Que parecia mais encantadora no meio do rio,

E quem sabe, com um pouco de sorte, mesmo sem querer admitir,

Poderia dar um mergulho, olhou para o vestido solto que a adornava feito carícia,

 

Sorriu para si mesma, havia esquecido seus trajes de banho...

O rapaz parecia dominar bem o barco, com um sorriso honesto,

Ele subiu, sem esforço, ficando parado, diante dos seus olhos,

A centímetros um do outro ele indagou com voz rouca e forte,

- Olá, moça, como você está? – Apesar de sentir-se de certa forma atraída,

Ela respondeu em voz monótona, - olá, tudo bem;

 

O rapaz, sem camisa, levou-a para bem longe, lá tudo se acalmou,

O sol quente e brilhante, parecia nada diante de tanto esplendor

Que irradiava do corpo dele, ela chegava a sentir seu calor em si mesma,

Os olhos dele eram profundos como o infinito, porém,

Mesmo o azul profundo do céu parecia translúcido diante dele,

Ele era mais parecido com aquela água esverdeada ao entorno do barco,

 

Tinha a quentura necessária que ela precisava sentir naquela hora,

Porém, guardava uma obscuridade em que ela desejava mergulhar,

No entanto, mesmo sendo tão palpável guardava algo de misterioso,

Ela sentia que coisas se acumulavam nele, as quais ele se negava a aceitar,

Mas que por mais que se sentisse forte, não sabia ao certo se poderia ajudar,

Ao seu ver, tudo na vida aparenta conter uma linha tênue limitativa,

 

E ultrapassar esta linha é um caminho inseguro que poderia não ter volta,

Mas, ela sentia dentro dela que gostaria de vencer seus medos,

Quebrar esta distância que a limitava, fazendo-a sentir-se egoísta,

É certo que seus sentimentos se confundiam, às vezes, entregava-se a amargura,

Sentia coisas que não conseguia conter, e isso poderia ser danoso para ele,

Então, ela mergulhou a mão na água e ficou a senti-la,

 

Poderia parecer insegurança em relação a ele, mas não era bem isso,

Tão de repente quanto encontrou tudo que procurava,

Também, não sabia agir pois não sentia-se preparada,

Ele pareceu ler seus pensamentos, com aquele mesmo sorriso honesto,

Porém, agora um tanto indagador, lhe pediu: - quer dar um mergulho? –

Ela sentiu o vento percorrer sua espinha e um tom de frio passou por ela,

 

Mas ficou longe, muito longe deles, - você se sente bem moça? – disse-a,

Seu coração deu um salto, então ele se preocupava com ela?

Então, de repente ela era importante para alguém? Ousou fita-lo,

Não por que duvidasse dele, mas porque parecia surreal realmente,

- Sim, me sinto bem, gostaria sim de mergulhar- disse ela, embasbacada,

As palavras saiam de sua boca, com a mesma expressão que a brisa na água,

 

Incertas, desmedidas, mas superficiais, formando pequenas ondas convidativas,

Ela cedeu ao impulso de não pensar muito, foi logo tirando a roupa,

Estava com uma lingerie branca, que ganhou a cor transparente,

A mesma água que a fez temer, agora a deixava límpida, lúcida,

- Venha, vamos nadar juntos? – disse ela segura, como uma menina,

Mesmo ele sendo lindo, hum..., admiravelmente lindo, naquela hora,

Ela só queria compartilhar o que sentia, ele mergulhou perfeitamente,

 

As roupas coladas no corpo, eram realmente sugestivas,

Ele passou a alguns metros dela submerso, ela contemplava aos risos,

Em um instante, ele se colocou atrás dela, ela mergulhou, imitando-o,

No entanto, ao retornar se posicionou na sua frente, encarando-o,

- Então – ela falava em pausas-  já beijei algumas vezes,

Mas confesso que nunca senti muita coisa, - o rubor do sol tomou seu rosto -

 

Porém, com você, as coisas soam muito diferente, cara que voz que você tem! –

Ela mergulhou de novo, se colocou atrás dele, abraçou-o – ele era mu-i-to quente,

Ela o enlaçou com as pernas, prendendo-se a ele meia de lado,

Arriscou olhar em seus olhos, ele acariciou seu rosto, ela sorriu, mordeu o lábio,

Então, o beijo aconteceu, ela não se ateve para o detalhe se beijou ou foi beijada,

Apenas aproveitou o momento, quando cessaram os beijos, ele a segurou com força,

 

- Então, você se sente bem agora? – Ela o perguntou, sentia-se aberta para o novo,

Importava-se com ele, fez com que ele soubesse.

sábado, 9 de janeiro de 2021

Meia Hora

 

O fim de tarde se apresentou nublado,

A chuva estava prevista para daqui a pouco,

Não esperaria, deixei o trabalho um pouco mais cedo,

Peguei o carro e segui a direção do vento,

Àquela hora o sol estaria no horizonte,

Assim, dirigi um pouco mais rápido, como as nuvens estavam vagarosas,

Eu chegaria até ele com tempo suficiente para um banho de chuva

 

Enquanto colheríamos as frutas saborosas do final do verão,

Eu ansiava por vê-lo, tinham sido apenas horas de distância,

Mas sentia em meu coração como se o peso da morte me tocasse,

Engraçado como a distância mexe de forma estranha os corações apaixonados,

Mesmo a menor fagulha, quando chega explode em momentos que pedem,

Imploram para serem revistos, de segundo a segundo e revividos sempre,

 

Estes momentos em que a saudade nos pega desprevenidos,

Nos dão a falsa sensação de que poderíamos resistir ao sentimento,

Nos permitem abrir aquele sorriso largo, de um jeito desajeitado e bobo,

Nos afastando de tudo o que estamos fazendo e nos levando para perto,

Perto de alguém que mesmo não estando conosco, se faz presente,

A vontade de ligar é incontrolável, deseja-se ouvir a voz, mas no fundo sabemos:

 

Que o que nos prende mesmo, são aqueles momentos fortuitos de sorrisos despretensiosos,

Com aquele Q de “o desejo muito, quero abraça-lo, quero beijá-lo, mas não sei como agir”,

Há quem defina isso timidez, eu, porém, acho que é amor em demasia,

Aquele em que se teme errar por medo de perder, perder?

Seria possível perder o que se guarda dentro da gente,

Gestos de carinho e saudade se confundem, no que meu coração define: amor;

Me vejo tocar meus lábios e imaginar um beijo, o calor, o cheiro...

 

Já nos conhecíamos a tanto tempo, havíamos vivido tantas coisas juntos,

Eu ousei imaginar nosso beijo por milhares de vezes, mas me sinto vacilar,

Como se dá o primeiro passo em direção a algo que se deseja tanto,

Quando se ama em sobremaneira, qual seria o meio exato para se demonstrar?

O amor deveria vir com manual de instruções,

Do tipo que não se admite erros, que não se prende a vacilos,

 

De preferência daqueles que se ensina até mesmo a forma de beijar,

Beijo de língua, sem língua, onde pôr a mão, quando tirar,

Aqueles que ensina a conquistar a alma,

A alcançar tudo que vejo e sinto com ele, mas que não sei demonstrar,

Como agir nos instantes em que as palavras se confundem na cabeça,

Nos momentos em que tudo falha e apenas busca-se o reencontro, o estar perto,

 

Por Deus que moveria mundos apenas para contemplar o brilho dos seus olhos,

Parei o carro, pedi ao vento que também esperasse,

Queria pegar o início da chuva junto com ele,

O noticiário já estava prevendo a chuva a algum tempo,

Mas, de última hora denunciou a possibilidade de vento forte,

Eu sabia que ele sentia medo, embora não quisesse admitir,

 

Então, seria minha deixa para me aproximar, quem sabe,

Pegar sua mão, entregar-lhe um abraço, em tom confidencial

Eu posso admitir que sempre me admiro com as belezas da natureza,

Mas confesso que a magia que vem com a chuva me deixa extasiada,

E a melhor parte é o começo, o jeito como as nuvens vem e tomam conta de tudo,

A forma como o vento brinca com os pingos, como tudo ao redor reage,

 

Então, com um sorriso de cumplicidade, do tipo que diz mais do que quer dizer,

Comprei duas árvores frutíferas de espécie desconhecida,

Na agropecuária em que estacionei,

Apenas para plantarmos juntos e aproveitarmos o mistério de colher os frutos,

Sem saber quais seriam, nossa paixão são as frutas, então não haveria erro,

Pensei que poderia numerar este como o primeiro acerto entre nós,

Mas não, no decorrer dos anos em que nos conhecemos já vivemos tanta coisa...

 

Olhei ao redor, peguei também umas mudas de flores e veneno contra formigas,

Fui até o caixa, cumprimentei a menina que me sorriu enquanto passava as coisas,

Ajudei-a a coloca-las no pacote, paguei e rumei com destino: o amor,

Eu sabia que ele estaria me esperando, eu havia feito suspense,

Pela primeira vez, em anos, eu não liguei e quando ele mandou uma mensagem,

Eu nem conferi, fui forte e consegui resistir, ele deveria estar ansioso,

 

Seria maravilhoso contemplá-lo, quem não gostava tanto de surpresas era eu,

Sorri diante disso, achei engraçado que meus medos fechavam com os dele,

Conforme eu temia, ele sorria gentil, conforme ele temia, eu resistia,

A vida monopolizada era boa, mas quando se abre uma brecha para o improviso,

Tudo se transforma e o resultado muda no mesmo instante,

As nuvens já se aproximavam de forma mais densa, nebulosa,

 

Teria que seguir, meu destino estava em meia hora...

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Um Gole

 

Ela bebeu um copo de uísque de uma vez,

Deliciando-se com o gosto metálico na boca,

Sentiu-se desinibida, feliz, como nunca antes,

Engraçado como a bebida de forma moderada,

Faz um bem danado para as pessoas sagazes,

Ela pensou isso, tocando de leve a beirada do seu copo

 

Na do seu pai, estavam sentados em um bar da cidade,

Logo, em frente a praça, aos olhos do sol a iluminá-los

Com seu brilho espelhado, contraste genuíno, ao azul do céu poente,

Entre graças e trapaças, gargalhadas vinham a boca,

De uma forma quase inusitada, em instantes

Tudo ao redor se transformava e o povo a comentar:

 

Engraçado, o quanto a menina de seus 20 anos ainda

Bebia na companhia do pai, e andava pelas calçadas

De braços dados com ele, despedindo-se sempre

Com um abraço apertado e aquele eu te amo refletido nos olhos,

Sem temor ao público ou ao que os outros pudessem falar,

Pois o amor havia a muito tempo se tornado algo escasso,

 

Ela sentia que as pessoas tinham medo de abraços,

De simples demonstrações de carinho, tudo era calculado em números,

Números de flores a se receber ou dar, preço a se presentar ou ganhar,

Até mesmo o tradicional amigo-secreto de Natal, vinha

Estabelecido de um valor no presente a se dar,

Já não era mais a amizade que importava, o carinho que sentiam,

 

Coitado do bom-velhinho que a cada ano mais empobrecia o seu saquinho,

Sorte das renas que possuíam sua charretinha cada vez mais leve,

Não bastou definirem datas para se lembrar de quem se ama,

Agora botavam preços aos sentimentos,

O dezembro estava perdendo seu encanto,

Mesmo os fogos se tornaram escassos,

Os abraços muito mais distantes e o amor a família algo pitoresco,

 

Mesmo os sorrisos largos e encorajadores agora estavam meados,

Meio de canto da boca, estilo falseado, os cumprimentos dos amigos,

Também, do mesmo modo, mas isso não intimidava a menina dos 20 anos,

Ela abraçava seus pais, amigos, parentes e até pedia a benção,

Sabia dar valor a tradição milenar que recebera ainda no berço,

E levaria isso consigo por toda a vida, eu te amo repetia a eles em público,

 

E, também, em espaço privado, porque o amor só é amor quando é demonstrado,

Mesmo que, perante a olhos assustados e céticos, talvez desconhecidos,

Desconhecidos de carinho, de amor, de cumplicidade familiar;

Havia muito respeito entre eles, mesmo nas discussões ou em tudo o mais,

Ela sempre gostou de se despedir com um abraço, um beijo e um eu te amo

Isso era a sua marca registrada, tentaram lhe tirar isso, mas não conseguiram,

 

Só Deus sabe o quanto o diabo tem suas trapaças, porém, não era questão

De religiosidade, mas simples respeito, ato de boa vontade, vontade de demonstrar

Sentimentos, mesmo que aos gritos ou aos prantos, pois o amor também

Comete erros, desde que se saiba manter a linha tênue entre o respeito

E a liberdade exagerada, está tudo certo.


No amor há brigas, encontros e desencontros,

Mas onde há exagero no uso da força, necessidade de se impor,

Desconfio que haja falta de amor.

Caso: Assassinato da Balconista

Aos vinte e cinco anos Não se espera a chuva fria De julho Quando se sai para o trabalho, Na calada da noite, Até altas mad...