Ela já sentia falta, uma saudade que aperta, sufoca,
Até vê-la debulhada em lágrimas, lagrimas de um coração que
ama,
E que teve que ver seu namorado viajar para um lugar
Desconhecido e distante dela, outro país ele dissera,
Abraçou-a, tão apertado que ela ainda o sentia,
Depois se afastou segurando-a pelos ombros,
Depositando um beijo em sua testa, encarou-a melancólico,
Deslizando as mãos sobre seus braços imóveis,
Até tocar seus dedos e vê-los mover-se em um ímpeto
Incontrolável de segurá-lo, mantê-lo ao seu lado,
Mil coisas absurdas passavam por sua mente,
E a pior de todas, medo de perde-lo, medo da distância,
Seria uma viagem a trabalho, vislumbrando um futuro bom
Para os dois, mas a ideia de não tê-lo a toda hora,
lembrando-a
O quanto era amada, a aturdia, ele soltou seus dedos,
Ela não, continuou onde estava, vendo o partir para longe,
Se sentia boba, seriam poucos dias, mas um vento frio
soprava,
Ela podia senti-lo penetrar seus ossos, e ela havia
esquecido o casaco,
Antes que pudesse estremecer, antes mesmo de dar-se conta
disso,
Ele desceu do avião privado e mexeu em algo dentro de uma
mala,
Ela ficou embasbacada quando o viu retirar o casaco dela,
Com o perfume dele e tudo o mais, ele havia avaliado o
clima,
E pensado nela, como sempre fizera desde que ela o
conhecera,
Seriam apenas minutos de viagem até ele chegar ao outro
país,
Ele lhe sorriu sem fazer barulho, abrindo a boca perfeita
Que ela amararia por toda a vida, repousou o casaco sobre
seus ombros,
E lhe deu um novo beijo na testa, um meigo beijo de amor,
Ela sorriu, com o coração apertado mas sorriu, então pôs as
mãos nos bolsos,
E encontrou as chaves do carro, nem disso ela havia
lembrado, mas ele sim,
Pensou em tudo, como sempre fizera, o mesmo homem que a
havia conquistado,
Ainda estava lá, e sempre estaria, ela caminhou em direção
ao veículo,
Com os olhos semicerrados em oração, olhou para o céu e
pediu a Deus: proteja-o,
Abriu a porta do motorista, que ela amava vê-lo abrir para
ela,
E sentou-se na direção, imaginando que seria ele quem a
conduziria,
Como ele sempre fazia, pois, ele nunca se desvencilharia do
seu lado,
Chegou em casa, olhou em seu pulso, 03 e 15 da madrugada,
ela precisaria dormir,
Sem ele, como faria? Quem acariciaria seus cabelos e
sussurraria aos seus ouvidos,
Sem saber como, pegara no sono e dormira um pouco, apenas
lembrava
Que após as 05 horas da manhã, ela havia desistido de contar
as horas,
Acordara as 10 da manhã, estava a morder um pedaço de pão
com nata e açúcar
Quando o correio chegou, correu para atender, havia um
objeto para ela,
Ela mordeu o lábio, olhou para ele e sorriu um tanto
tremula,
Será que seu amor havia chegado bem? E por que ele não havia
mandado notícias?
Era uma caixinha, grandinha, mas bastante leve, o que será
que poderia conter?
Ela preferiu abrir no sofá, pegou o café, terminou o pão,
sorriu consigo mesma,
Era do seu namorado, ele havia lembrado dela, pulou de
alegria,
Derramando todo o café no tapete persa, será que o havia
manchado?
Isso não importaria, mesmo que tivesse sido comprado em sua
viagem romântica,
Abriu a caixinha, tomando cuidado para não macular o papel
bonito,
Guardá-lo-ia em sua caixinha de lembranças como fazia com
tudo que ele lhe dava,
Havia uma foto dele na chegada, ele estava em pé, em frente
ao avião,
Sem casaco, deveria estar com frio, pensou ela, mordeu o
lábio,
Poxa, como ele era lindo, em pé em contraste com o céu
azulado,
Ele parecia mais perfeito ainda, seu coração dera um salto,
Desejou abraça-lo, jogar-se nos seus braços, senti-lo beijar
sua cabeça
De encontro ao peito dele, para só depois de horas em seu
abraço,
Horas para eles, mas conforme o relógio apenas segundos,
Afastar-se um pouco, olhar em seus olhos e abrir a boca com
um sorriso,
De um jeito automático, pronta para o beijo esperado e
demorado
Que se seguiria, como sempre houve entre os dois, o relógio
esperto,
Correu para as onze horas, e ela ainda estava ali parada a
olha-lo,
Contemplando-o através daquela foto, imaginando-o com
ela,
Seu cachorro correu para o seu colo, acomodando-se,
Ao vê-lo molhado, foi que percebeu que chorava silenciosa,
Beijou-o, abraçou-o fortemente, acreditou que ele a
entendia,
Afinal papai havia viajado e agora estava longe, mas logo
voltaria,
Havia um papel de embrulho sobre algo na caixa, ela a
colocou
Sobre o cãozinho, e tremula, pela curiosidade incontida,
Abriu-o com cuidado, para sua surpresa, ele havia passado na
floricultura,
E a presenteado com uma rosa vermelha, ele sempre a
surpreendia,
Em cada passo que dava pensava nela, a imagem dela, que
sentia-se deslocada,
Perdida sem ele ao seu lado, ela guardaria essa flor por
toda a vida,
Tirou uma foto dela segurando-a de encontro ao rosto, e
depois beijando-a,
Após, lembrou de colocar o cãozinho deles junto, nada mais
perfeito,
Com exceção da distância que a feria por dentro, a saudade
caia sobre ela
Como uma sombra e por mais que as luzes estivessem acesas,
Ela sentia-se perdida, deslocada, nem reconhecia mais sua própria
casa,
De repente ela teve certeza que o amor os uniria por toda a
vida,
Não fosse isso, sua ausência nem seria sentida, fora tão
pouco tempo
Longe um do outro, 07 horas, segundo marcava o relógio frio
sobre o seu braço,
Apesar de senti-lo quente em seu pulso, odiava aquele
ponteiro inquieto,
Ela reconhecia a frieza dele, a cada segundo em que ousava seguir
Indiferente ao fato de seu namorado estar distante dela, retirou-o,
Em pouco tempo, ele ficou gélido, e as horas, seguiam-se,
Ele era mesmo um indiferente, de forma inegável,
Ela sempre soube, toda vez que suplicava para que as horas
não passassem
Nos momentos em que estavam juntos, ele nunca se importara, nem mesmo
na vez
Em que deliberadamente, ela o deixou cair no chão, ainda
assim, ele ousara
Recordar que era hora do seu namorado sair para trabalhar, e
ela também,
Ele ficava ensurdecido aos beijos dos dois, mesmo quando
seus olhos
Imploravam para que o tempo parasse, mesmo quando se abraçavam
Desatentos ao seu redor, mesmo que o mundo acabasse,
Ela tinha certeza, aquele maldito relógio ainda marcaria as
horas,
De alguma forma, fosse qual fosse, ele encontraria um
jeito...
Nenhum comentário:
Postar um comentário