terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Barquinho no Rio

 

Ela andava triste, contando os passos pelo caminho,

Sabia cada detalhe de cor e salteado,

Mas nada a comovia, sentia-se deprimida,

De alguma maneira entediada, as coisas eram monótonas,

Então, se retirou para um lugar no interior,

Desejava como nunca ficar sozinha, em paz consigo mesma,

 

Sentia, dentro dela, que uma voz amiga a acompanhava,

Pensava que se conseguisse se absorver por um momento,

Poderia encontrar essa fala, entende-la e com isso: encontrar a si mesma,

Por mais que parecesse egoísmo, ela sentia no fundo do peito,

De forma inexplicável, mas de alguma maneira compreensível,

Que se identificando com esta voz que a refletia, tornar-se-ia completa,

 

Nessa voz haviam muitas coisas de que ela precisava,

Carinho, compreensão com pitadas incalculáveis de loucura,

Distribuídas pelos lugares por onde andava,

Mas em algum lugar estas pitadas se uniam, se reconstruíam,

E lá, ela sabia: encontraria a felicidade plena,

Não esta, passageira, a qual já havia se acostumado,

 

Por mais que pareça estranho, as pessoas se acostumam com o que recebem,

E ficando estagnadas, sem fazer nada, não reconhecem o diferente,

Com isso, também, nunca sentem nada; pessoas vazias de si mesmas

Apenas ocupam espaços, preenchem lugares, mas não sabem acrescentar,

Ao permanecerem inertes, acomodadas, servem apenas como adornos,

Objetos desnecessários condenados a substituição premente,

Enfeites que podem ser trocados conforme dera-lhes vontade,

 

É certo que a ninguém é dado viver em torno de si mesma,

Mas encontrar-se é um bom caminho para ter em si um objetivo,

Contudo, seguir mero instinto qualquer estrada que seja,

Não leva a nada, não edifica nada além do próprio ego,

Não importa o quão bom você seja ou em que você acreditar,

Com estes pensamentos ela seguia a sua estrada,

Rumo ao interior de um município que conhecia,

 

Nem viu o caminho passar, correndo ao seu lado,

Como se ficasse para trás, ao chegar, ela armou sua barraca,

Decidiu dar uma volta de barquinho, tentou remar, sem êxito,

Um rapaz cortês, se aproximou dela e ofereceu ajuda,

Ela nem pediu o preço, pois queria muito sentir a brisa fresca

Que parecia mais encantadora no meio do rio,

E quem sabe, com um pouco de sorte, mesmo sem querer admitir,

Poderia dar um mergulho, olhou para o vestido solto que a adornava feito carícia,

 

Sorriu para si mesma, havia esquecido seus trajes de banho...

O rapaz parecia dominar bem o barco, com um sorriso honesto,

Ele subiu, sem esforço, ficando parado, diante dos seus olhos,

A centímetros um do outro ele indagou com voz rouca e forte,

- Olá, moça, como você está? – Apesar de sentir-se de certa forma atraída,

Ela respondeu em voz monótona, - olá, tudo bem;

 

O rapaz, sem camisa, levou-a para bem longe, lá tudo se acalmou,

O sol quente e brilhante, parecia nada diante de tanto esplendor

Que irradiava do corpo dele, ela chegava a sentir seu calor em si mesma,

Os olhos dele eram profundos como o infinito, porém,

Mesmo o azul profundo do céu parecia translúcido diante dele,

Ele era mais parecido com aquela água esverdeada ao entorno do barco,

 

Tinha a quentura necessária que ela precisava sentir naquela hora,

Porém, guardava uma obscuridade em que ela desejava mergulhar,

No entanto, mesmo sendo tão palpável guardava algo de misterioso,

Ela sentia que coisas se acumulavam nele, as quais ele se negava a aceitar,

Mas que por mais que se sentisse forte, não sabia ao certo se poderia ajudar,

Ao seu ver, tudo na vida aparenta conter uma linha tênue limitativa,

 

E ultrapassar esta linha é um caminho inseguro que poderia não ter volta,

Mas, ela sentia dentro dela que gostaria de vencer seus medos,

Quebrar esta distância que a limitava, fazendo-a sentir-se egoísta,

É certo que seus sentimentos se confundiam, às vezes, entregava-se a amargura,

Sentia coisas que não conseguia conter, e isso poderia ser danoso para ele,

Então, ela mergulhou a mão na água e ficou a senti-la,

 

Poderia parecer insegurança em relação a ele, mas não era bem isso,

Tão de repente quanto encontrou tudo que procurava,

Também, não sabia agir pois não sentia-se preparada,

Ele pareceu ler seus pensamentos, com aquele mesmo sorriso honesto,

Porém, agora um tanto indagador, lhe pediu: - quer dar um mergulho? –

Ela sentiu o vento percorrer sua espinha e um tom de frio passou por ela,

 

Mas ficou longe, muito longe deles, - você se sente bem moça? – disse-a,

Seu coração deu um salto, então ele se preocupava com ela?

Então, de repente ela era importante para alguém? Ousou fita-lo,

Não por que duvidasse dele, mas porque parecia surreal realmente,

- Sim, me sinto bem, gostaria sim de mergulhar- disse ela, embasbacada,

As palavras saiam de sua boca, com a mesma expressão que a brisa na água,

 

Incertas, desmedidas, mas superficiais, formando pequenas ondas convidativas,

Ela cedeu ao impulso de não pensar muito, foi logo tirando a roupa,

Estava com uma lingerie branca, que ganhou a cor transparente,

A mesma água que a fez temer, agora a deixava límpida, lúcida,

- Venha, vamos nadar juntos? – disse ela segura, como uma menina,

Mesmo ele sendo lindo, hum..., admiravelmente lindo, naquela hora,

Ela só queria compartilhar o que sentia, ele mergulhou perfeitamente,

 

As roupas coladas no corpo, eram realmente sugestivas,

Ele passou a alguns metros dela submerso, ela contemplava aos risos,

Em um instante, ele se colocou atrás dela, ela mergulhou, imitando-o,

No entanto, ao retornar se posicionou na sua frente, encarando-o,

- Então – ela falava em pausas-  já beijei algumas vezes,

Mas confesso que nunca senti muita coisa, - o rubor do sol tomou seu rosto -

 

Porém, com você, as coisas soam muito diferente, cara que voz que você tem! –

Ela mergulhou de novo, se colocou atrás dele, abraçou-o – ele era mu-i-to quente,

Ela o enlaçou com as pernas, prendendo-se a ele meia de lado,

Arriscou olhar em seus olhos, ele acariciou seu rosto, ela sorriu, mordeu o lábio,

Então, o beijo aconteceu, ela não se ateve para o detalhe se beijou ou foi beijada,

Apenas aproveitou o momento, quando cessaram os beijos, ele a segurou com força,

 

- Então, você se sente bem agora? – Ela o perguntou, sentia-se aberta para o novo,

Importava-se com ele, fez com que ele soubesse.

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