terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Mulher Partindo...

 

Sentia-se ferida por dentro, lágrimas vazavam incontidas,

Um aperto no fundo do peito, algo queimava sua alma,

Seus olhos sobressaltados não aceitavam as investidas,

Com frequência rítmica sentia um vazio toma-la de si mesma,

O homem que um dia jurou amar ela por toda a vida,

Estava duro, ereto, impassível, prendia-se sobre ela,

 

Mesmo ante suas reclamações recusava-se a soltá-la,

Esmagava seus pensamentos, tomava-a de tudo que foi outrora,

Tão duro e triste é ser submetida ao vigor da força bruta,

De quem um dia, apenas jurou ama-la com toda a alma,

 

Traída pelas costas, condenada a esvaziar-se de si mesma,

Presa, dilacerada pelo peso de quem tanto a quis um dia,

No seio do seu peito tinha tudo menos carícias,

No ventre do seu coração não haveria amanhecer para aquele dia,

 

Ele invadia a sua frente, prendendo-a, sugando sua boca,

Derretendo sobre ela um amor que não detinha,

Jamais cumpriu com nenhuma das promessas feitas,

Esqueceu que precisava conquistar para se conservar,

Lágrimas escorriam do seu olhar, sentia suas pernas trêmulas,

Queria resistir, mas como falar para quem não ouvia?

 

Nos sonhos de uma noite as sombras vieram se assenhorar,

Não sobrou nada, nem um momento que quisesse guardar,

Ele chegou em sua vida tão depressa, mas era vagaroso na partida,

As horas escorriam vagarosas, os ponteiros se recusavam a passar,

Ela fechava os olhos e calada se entregava as carícias,

Entre beijos e promessas indesejadas, se perdia, incrédula,

 

Havia algo dentro dela que se recusava a abrir sua alma,

Chegada a hora de falar tudo que sentia dentro de si mesma,

Ela se fechava, calava-se, ele passava um dedo para acariciar suas formas,

Investia sobre ela até abri-la, contornava seus desejos até encontrá-la,

Não importava em que lugar ela pudesse estar,

Ele sempre a buscava, com um dedo sobre a sua boca,

Extraía seus segredos, mesmo que em palavras cuspidas,

 

Ele a dizia que ela estava presa em histórias românticas,

Deveria soltar-se daquilo, se esquivar e viver a vida,

Mas, dentro dela, algo a impedia e este algo não tinha fala,

Pois, por mais que se esforçasse ninguém parecia acreditar,

Sua parte na história de si mesma, ninguém queria aceitar,

Eram indiferentes sobre o que se passava dentro dela,

 

E muito mais com relação ao pranto sofrido por sua alma,

Seus protestos não tinham vida para nenhuma das pessoas,

Só o que as importava eram suas vontades falseadas,

Em desejos que ela nunca sequer sonhou em apoiar,

Muito menos participar, recusava-se a ser protagonista,

Em uma história que não tinha por objetivo amar,

 

As palavras cuspidas sobre ela, eram rejeitadas com veemência,

Mãos limpas ou água fria eram incapazes de limpa-la,

Tratava-se de uma pressão investida contra si mesma,

Da qual ela urgia por ser libertada,

Mãos que prendem não sabem abraçar,

Amor que pune não merece ser considerado em sua vida,

A porta que gostava tanto de deixar trancada e silenciada,

 

Agora rangia para fora, estava escancarada para a rua,

Todos pareciam ouvi-la, mas ninguém que passava dava a mínima,

Suas feições tão bem maquiadas agora corroíam-se feito madeira,

Uma mínima faísca e ela sentia-se queimar por inteira,

Consumida em um misto de dor e raiva que ninguém mais via,

Suas pernas recusavam a obedecê-la, desabituada e suando em abundancia,

Sentia-se seca por dentro, caindo em queda livre no vazio de si mesma,

 

Via escorrer pelos dedos suas chances de amar algum dia,

Puxou um cigarro, inerte e prendeu-o em sua mão em concha,

Queria esconder-se até esvair-se por trás de sua fumaça,

Queria ter força para poder quebra-lo até não restar nada,

Mas tanto ela quanto sua força, tudo parecia falhar agora,

E escapar ileso depois de saciar-se na maciez contida em sua boca,

 

Quisesse ela ou não, estava presa a aquilo que sentia,

Como uma pedra imóvel naquele lugar, sem se mexer nem nada,

Fosse ele homem o suficiente para ouvi-la, não a deixaria dessa forma,

Não abusaria dos seus sentimentos nem ignoraria sua fala,

Mas ela havia cansado de bater os punhos cerrados contra a porta,

De escorrer por ela até se ver em nada, nem a sombra do que foi um dia,

 

Será que a compreensão do que dizia nunca chegaria a ser ouvida,

Será que ele nunca daria ouvidos ao que ela sussurrava,

Tateava sobre ele em tentativa inútil de apenas ser entendida,

Era tão difícil assim cumprir com as promessas e juras apaixonadas,

 

Apenas dar atenção ao que ela buscava para si mesma, ao que acreditava

Pernas afastadas, posição ereta, olhos para longe, em algum lugar,

Deixou de importar o destino da mulher que foi violada,

Agora, ela seguiria seus propósitos com os próprios passos, se distanciaria.

As Lágrimas de Uma Mulher

 

Acordou se sentindo vazia, algo escorria entre os seus dedos,

Sentia estremecer suas pernas, um sonho quebrado agora a feria,

O beijo do amor tão sonhado ressoou aos seus ouvidos, do avesso,

Quem diria que um dia a menina iria acordar e não seria mais a mesma,

Olhou seu reflexo no espelho, olhos escuros, o medo estava escancarado,

Gritava algo forte dentro dela, uma frase inaudível aos ouvidos das outras pessoas,

 

Ela rompeu o lacre do batom vermelho, deixou sua ponta exposta,

Mas dessa vez o destino não eram os seus lábios, era outro,

Ergueu-se com um pouco de custo, colocou-se ereta, diante de si mesma,

Em letras garrafais deixou seu recado naquele espelho intacto,

Sorriu diante disso, mas não gostou do que viu, era inercia demais ao que sentia,

Fechou a mão em punho, mas não foi boba, tirou a roupa, com cuidado,

 

Olhou para ela, havia um vestígio de sangue nela, mas permanecia intacta,

Isso mexeu com sua raiva, pôs uma gota de orvalho nas sombras dos seus olhos,

Decidiu se atentar, enrolou a roupa em sua mão, como uma toca,

Com um único movimento deu um muro no espelho, agora ferido,

Ele rompia-se, mas não se espalhava, parecia dar credito a sua escrita,

Pegou o que sobrou do batom e avermelhou seus lábios macios,

 

Com força, dureza, e uma certa brutalidade, uma gota de sangue emergia,

Uma lágrima insegura moveu-se pelos contornos do seu rosto,

Quente e desejosa, será que queria fragiliza-la naquela hora?

Limpou-a com um dos dedos, o do meio, ergueu-se em seu salto,

Deixou um beijo no espelho, logo abaixo da sua frese, a sua marca,

Havia passado ali, sofrido um bocado, mas havia resistido,

 

Jogou o que sobrou do batom vermelho no chão ao lado de um pedaço da unha,

Havia quebrado ela, lembra que disse que ela amordaçou a mão, naquele minuto,

Logo que a desenrolou da sua roupa ou antes um pouco, quebrou-a,

Quem se importaria agora? Nada dentro dela mais estava inteiro,

Mas um rumor de sonhos tomou sua lembrança, abraçando-a,

Respirou forte, se encheu de coragem e caminhou a passos largos,

 

Sem razão para permanecer ali, se pôs para fora daquele lugar,

Atrás de si um telefone tocava impiedoso, dentro dela gritava alto: medo,

Havia denunciado, acreditava nisso, alguém levaria a sério as suas pistas?

Sem poder contar com testemunha alguma, em quem dariam crédito?

É mesmo justa a balança e cegos os olhos da justiça?

Ou procurariam meios para acobertarem bandidos engravatados?

 

Ela, olhou para trás, sombras terríveis pareciam acompanha-la,

Suspirou, lembrou de ter tirado a gravada, prendendo-a em seu pescoço,

Estava morto o homem que a feriu com ferro quente, violando-a,

Encontrou o destino certo, enterrado nas unhas ao forçar o abraço,

Tirou o batom da sua boca, manchou sua roupa, não sobreviveu para contar,

Tão inerte ficou o homem que a tocou sem uma gota de amor,

 

Não teve direito a lágrimas, não teve direito a piedade, seria enterrado,

Com o coração tão rígido quanto ficou seu corpo ao tocá-la,

Será que ele teria família, o que pensariam ao encontra-lo desvalido?

Se o concedessem um minuto de silêncio, um lugar no fundo da terra,

Talvez pudessem ver no semblante do seu rosto, morto por ter ferido,

Prazer misturado com desgosto, o gosto do arrependimento em sua boca,

 

O gigante que se levantou para ferir, estava atravessado entre os travesseiros,

Ela seguia, com os olhos apertados pelo medo do que se estenderia,

Ele era um homem bonito, bem-apessoado, deveria ter seus parceiros,

Poderia ser repreendida, quem acreditaria na versão da moça desconhecida?

Talvez, ele tivesse traçado um caminho em que acobertou seus passos,

Ela precisava ficar esperta, tinha sonhos em que acreditar,

 

Precisava proteger a si mesma, mais até do que aos outros,

Matou por ela, porque ela merecia ser protegida, ser amada,

Que direito tinha ele de colocar-se sobre ela e ainda ferir seu rosto?

Nunca esqueceria a sensação de sentir sua alma vazar, esvaziando-a,

Seus dedos terem que acariciar quem a prendia com um abraço,

 

Sentir sua maquiagem borrar escorrendo por sua boca,

Ferindo-a pelo desgosto do eu te amo proferido em falso,

Que outra forma usaria para manter-se viva, reagir de forma segura?

Teve que proferir seu nome, beijar lábios quentes e vítreos,

De que outra forma resumiria o beijo debruçado sobre si mesma?

O peso dos seus sentimentos agora esmagava seu peito,

 

Sacudidelas a tomavam de si mesma, e a tiravam de lá,

Imaginou se poderia dormir direito, ainda no vazio do seu quarto,

Mas agora, já não sabia mais o que pensar ou em que se agarrar,

A solidão foi desejada como alguém que deseja o infinito,

Tirou o salto, de pés descalços, seguiu até o final da rua,

Desejou não ser reconhecida, mas alguém precisava denunciar o fato,

 

Não disse muito, apenas o suficiente para motivar sua conduta,

Não seria encontrada, não merecia este resultado tão odioso,

Este homem que voou alto demais agora caia por terra,

Não merecia menos que isso, alguém tinha que identificar seu rosto,

Sem chances de escapar, preso dentro do vazio que fez nela,

Sobre aquele sangue que escorreu dela, aquele ele não teve direito...

Vai Por Meio da Fé?


A sua frente corações vagos, perdidos em seus mundos,

Dentro de si mesmo, um mundo de sonhos,

Pronto para ser percorrido, reconhecido de canto a canto,

A espera de um sinal, um olhar que o faça despertar,

Uma palavra ao menos, para que possa acreditar,

Um sonho ao seu dispor para que possa buscar,

E em nome do amor, se entregar de corpo e alma,

 

Apesar da distorção ente o que dizia e o que fazia,

Ele ainda acreditava que amaria um dia,

Que seria digno de conhecer alguém que o despertasse,

Que quebrasse o encanto em que se colocou sozinho,

Pobre rapaz, acreditava que para conhecer o amor,

Precisava ser salvo de algum lugar onde se colocou,

 

Perdido em suas ideias surreais, preso a promessas vazias,

Aquelas que ele repetia noite a dentro, à espera do beijo,

Aquele beijo sonhado descrito em histórias infantis,

Cujo final é sempre o mesmo: feliz, mas ele sentia isso?

 

Não, acabava de provar do próprio veneno, fez do mundo,

Um local perigoso e incerto, de sonhos ao avesso,

Quando acreditou fazer dos outros seus bonecos,

Querido menino, apenas crianças brincam com brinquedos,

Você não se acha um pouco crecidinho para este jogo?

 

Acorde e desperte desta redoma em que você se colocou,

Acredita por acaso que alguma princesa irá te salvar,

Arriscar tudo, lutar contra todos? Em qual histórias você está?

Nas que eu conheço são as menininhas que são salvas,

Mas querido, sinto informar, todas as menininhas estão crescidas,

E agora, estão a salvar a si próprias, vai continuar aí a esperar?

 

Desliga este seu piloto automático, e começa a dar as cartas,

Isso mesmo, remova a máscara, deixe a cara a mostra,

Acaso acredita que conseguira se esconder por toda a vida?

Se esquivar destas suas crenças bobas em que só você acredita,

Fecha esta sua boca sempre à espera do beijo do amor,

E abre-a para soltar a voz em busca de algo valioso,

 

Sei lá, que tal lutar pela própria vida, que tal passar a valorizar,

Se julga o mestre de tudo, acha que domina a magia do amar,

Mas preso, aí onde você se encontra, não consegue mais que fugir,

Esquivar-se dos resultados de suas próprias ações, desacovarde-se,

 

Você não está aí preso por acreditar no amor, em qual amor?

Este o qual você vulgariza, ridiculariza, calma rapaz,

Será que este seu caminho está correto?

O que você deseja conquistar?

 

Você realmente acredita que poderá fugir dos resultados do que você faz?

A soma das suas contas sempre resulta em você e este seu umbigo,

Sente-se preso em quê, alguém te impede de mudar de ideia,

Estás a ferir e acredita que sairá ileso, amando cada minuto,

Ferindo a todos, condenando a si mesmo, espalhando o pânico,

 

Deseja colher o quê? Lágrimas em troca de carinho?

Beijo frio para corresponder aos seus vazios? Parabéns você é capa dos jornais,

E agora, destruiu a todos, isso te faz bem, te faz melhor que antes,

Se coloca acima de todos, mas realmente você tem valor para alguém?

 

Que bom, diminua a princesa, tome o lugar dela, roube a corroa,

Quem sabe você conquiste o amor que tanto espera,

Sente-se tão bem por oferecer as costas a quem te aprecia,

Dentro de ti não te aperta algo como, por exemplo, uma alma?

Não saí nada de dentro de você, como se fossem lágrimas?

 

Cuidado esta sua segurança pode se romper algum dia,

Espero que, aí então, algo possa resistir dentro do seu peito,

Em ti pulsa algo que possa ser definido como sentimento,

Ou estas a preencher seus vazios com o dedo indicador,

Ao seu redor caem todos, menos você, que bom,

 

Que há aí em seu corpo que o faça sobre-humano,

Há algo em você que mereça mais credito que os outros?

Espero que sua resposta tenha sido o seu cérebro,

Acha-se grande demais, pequeno de menos,

 

O que pesa entre os vãos dos seus dedos, algum machucado?

Caminha ereto pelo caminho tortuoso, cuidado,

De repente possa ser um pouco perigoso,

Muitas princesas falharam nestes mesmos passos,

 

Espero que você esteja medindo sua cautela, rompendo-se,

Quebrando seus tabus, rompendo seus medos, você pensou em quê?

Estas suas mãos abertas estão em busca de abraços?

De serem acolhidas por todos, até mesmo por os estranhos, cuidado,

 

Caminho tortuoso a frente, esteja preparado,

Não busque pisar nos outros para não ser pisoteado,

Mas ainda assim, o será, esteja preparado, queira se encontrar,

Não busque ser salvo pela princesa pois ela pode estar ocupada.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Mulher Sozinha

 


Ela o amava com toda a alma, despia-se de tudo por ele,

Seus medos, seus segredos, em seu amor não pairava limite,

Apaixonou-se feito uma boba e entregou-se por completo,

Ao aproximar-se a triste surpresa, o sujeito era casado,

Tinha outra família, porém jurava que a amava com atenção,

Prometeu cuidar dela, entregar-lhe da alma ao coração,

 

Ela sentia-se incerta, nem sempre se sabe o caminho a seguir,

Sentia-se frágil, era como se houvesse um complô contra ela,

Queria viver, ela dizia, queria entregar-se, permitir-se sentir,

Mas sentia-se perseguida por ele, por todo canto e em todo lugar,

Lá ele estava, ou alguém que o recordava, ela caía com medo,

Como esconder-se entre os becos quando se é perseguida com esmero?

 

Ele forçava o sentimento, ela não tinha destino certo,

Então, ele pareceu a saída ideal, um soldado armado no seu encalço,

Havia amor em tudo isso, em algum lugar haveria, ela estava certa disso,

Porém, o relógio nunca permitiu parar seus ponteiros,

Ela via-se velha, insegura, seu rosto e seu corpo seguiam as horas,

Não havia tempo para pensar ou meios para escapar, estava presa,

 

Algemas invisíveis fechavam-se sobre seus pulsos, segurando-a,

Apesar de não haverem tantos Eus Te Amos, os atos diziam o contrário,

Ele escolhia alguns dias especiais na semana em que por poucas horas seria dela,

O restante do tempo, pertencia a sua família, com direito a bloqueio de chamada,

Troca de número, enfim, distância de tudo que havia prometido um dia,

Ela, tinha o coração frágil, sentia-se sedenta por amar e ser amada,

Se apegava a qualquer promessa, se entregava a qualquer coisa,

 

Em suas noites mal dormidas, vencia o desespero e o procurava no trabalho,

Às vezes, ele atendia suas chamadas, depois de muitas tentativas,

Com seus sorrisos travessos, e ainda alegava não estar,

Sempre com seu bom-humor reconhecido, você rezou para dormir noite passada?

- “Sim, - respondia ela, insegura, amedrontada, - inclusive rezei pela manhã,

Posso perder tudo, menos a fé que um dia possa me ouvir e fazer algo por mim”

 

Lágrimas molhavam seus olhos, via esvair suas forças e depois, tudo partir,

Pois é moça, rezou pouco seu namorado acabou de sair, foi para casa...

As lembranças das perseguições que sofria, das vezes em que era violada,

Vinham em sua cabeça e a prendiam, em algemas frias e doloridas,

 

“Seu namorado está com a mulher dele e você aí sozinha,”

Ela entendeu o recado, estava na rua, desamparada,

Ainda não havia chegado sua hora... mais tarde talvez, se ele disponibilizasse a agenda,

Nem uma palavra de confiança, nada em que pudesse se apegar,

Por Deus, não deveria ser sonho mas sim pesadelo amar assim, mas como poderia escapar?

 

Um dia, ela ousou falar de filhos, num momento em que estavam fazendo amor,

Ele sorriu, de forma companheira, foi sincero como deveria ter sido,

“Eu estarei ao seu lado em tudo que for preciso, mas nunca serei o pai do seu filho,

Porém, no instante em que você estiver na sala de parto eu estarei lá, segurando sua mão,”

Ela estremeceu, não sabia mais o que fazer, sentia descompassar o coração,

 

Não era uma promessa de ficarem juntos, mas como ela se envolveria com outro?

Estava presa pela alma, amordaçada, como poderia falar sobre seus sonhos,

Em quem confiar se ele pertencia a outra, era casado, que mundo louco,

 

Amar tanto alguém que por você não se importa nem um pouco,

Ela lembrava-se perfeitamente da época em que a deram uma surra,

De tantas brigas que teve com sua família, tendo ele como motivo,

E onde ele estava naquela hora, com outra, possivelmente em sua cama,

Se estava distante demais dela, por que mantê-la como uma espécie de refém?

O que havia na cabeça dele, acaso se julgava no direito de possuir um harém?

 

Sem posicionamento quanto aos costumes,

Até porque na época em que estavam juntos,

O próprio direito abria respaldo para este tipo de relação,

Permitindo que eles andassem juntos por onde quisessem,

De mãos dadas se fosse sua vontade, mas nunca houve essa questão,

 

Estava amando sozinha, via-o olhar para todas as mulheres, em cada esquina,

A própria esposa chegara a confidenciar, que uma só nunca lhe bastou,

Por Deus, ela não compreendia o que para ele abrangia a definição do amor?

 

Um dia o pai dele lhe falou que ele havia mudado por ela,

Pediu para conversarem, ela levou como uma ameaça,

O que mais poderia ser, ela era sozinha, como iria se defender?

Essas histórias sobre amantes é bastante complexa,

Sempre se quer defender apenas o direito da esposa,

Ninguém ousa reconhecer quem é o sujeito que procura a outra,

 

A menina que havia sido no passado agora estava muito distante,

Via-se presa ao que sentia, escorregadia por medo de pisar em falso,

Lá na favela onde habitava ela precisava de socorro, quem poderia ampara-la?

 

É certo que ele escolheu a pessoa certa quando foi busca-la,

Que chances ela teria de defesa? Ele tinha propriedades, era bem sucedido,

Poderia trancar qualquer oportunidade de êxito na vida dela,

Poderia, inclusive, ceifar sua vida sem satisfação alguma,

Tinha a arma, a munição, até mesmo álibi, que chances ela teria?

 

As ameaças ao seu redor eram uma constante, como ela poderia escapar?

Lembrava de ter falado com ele sobre ameaças de estupros,

E de que sua resposta foi que ela deveria cooperar, sem tentar escapar,

Do contrário poderia perder não apenas os sentidos, mas a própria vida,

 

Vida? Sobre qual vida ele se referia? Aquele caminho de mão dupla que ela seguia,

Que não importava por onde andasse nunca levaria a lugar algum,

Condenada as grades do próprio coração, por amar de forma desmedida,

Agora a fecharia em si mesma, para ver tudo cair em ruínas, até mesmo ela,

 

Ela clamou por justiça, mas no caminho da escola, o avistou com outra,

Ela procurou ganhar a própria vida, mas no caminho do trabalho,

Ele estava com outra, ainda mais bonita, dentro do carro em que se amaram,

 

Ele abria portas para ela, ela queria acreditar nisso, mas de outra forma,

A batia na cara com toda a força, uma promessa e um tapa com toda raiva,

Burra, ele a identificava; seca, ele a definia; ela não era nada,

Nem mesmo a sombra do que foi um dia, como poderia lutar por si mesma,

Se estava amarrada, tendo que jurar amor em troca da sua vida,

Que covardia, tentar conquistar sem intenção nenhuma de amar,

 

No instante em que o sentimento vazava, ele lhe dava remédio,

Após algum tempo, a abraçava por trás, sem chance alguma de fuga,

Ela seria somente sua a partir de agora, ele fez quentão de mantê-la,

Frouxa o bastante para não configurar cadeia,

Apertada o suficiente para não empreender em fuga,

 

Como pertence-lo em maior medida, propriedade com direito a identificação,

A outra: a reconheciam, ninguém: a definiam; fechada no próprio coração,

O piloto automático estava ligado, devia-se agradecer por isso,

Faça-o se puder, em que lugar estamos, qual será nosso destino?

Um Homem Sozinho

 


Sim, compreendo, disse ele ao vê-la dar de ombros,

Com os olhos seguros como quem dizia, não sinto nada,

Ele sentia seu coração partir-se em mil pedaços,

Condenação prematura ao fracasso, sem lágrimas,

Quem iria permitir-se chorar a uma hora daquelas,

Ela tocou aquele trinco gelado, como deveriam estar seus lábios,

 

De que outra forma estaria a boca que quebrou suas promessas,

Que juntou todos os seus sonhos, pôs na mala e disse: vou embora,

A mesma boca quente que dissera eu te amo, agora estava fria,

E ainda assim, ele desejava toca-la, apenas mais uma vez dizia,

Ela parou um pouco, olhou adiante, talvez fosse se virar,

Ainda brilhava uma esperança em sua alma, ela não o deixaria...

 

Então, ela ficou um pouco mais de lado, ele pode contempla-la,

Lembrar de cada abraço, da forma como dormiam juntos,

Juntou todas as suas forças e olhou no fundo dos olhos dela,

Não encontrou nada, confidenciou-se com seus olhos assustados,

Não encontrou seus momentos felizes, as juras apaixonadas,

O esforço que ele fez para que ficassem juntos, inseguro,

 

Foi como ele se sentiu, com um frio a percorrer a espinha,

Afundou-se na poltrona, não ousaria levantar-se, como poderia,

Suas forças esvaíram-se de suas veias e estavam todas nela,

Por mais que se esforçasse não conseguia acreditar na frieza que via,

Ir embora, negar-se a tudo, com um dar de ombros sair de suas vidas,

Nem mesmo um pedido de desculpas, mas também naquela altura,

 

Quem acreditaria em qualquer palavra que ela fosse falar,

Se colocava em um pedestal, quem iria alcança-la?

Lembrou dos últimos dias, de quantas vezes ela ficava vazia,

Como se fugisse dali e fosse parar em algum outro lugar,

Mas agora estava abastecida, roubara suas forças,

Deveria ser o bastante para sair para sempre, até nunca,

 

Ele quis dizer a ela, mas não teve a chance, ela já não os pertencia,

Será que algum dia havia se entregado mesmo a este amor?

Ela fazia tantas cobranças, nada nunca fora o suficiente, nada a preenchia,

Então de uma hora para outra, de forma desmedida, ela ficou cheia,

Será que pretendia escrever uma historinha, fazê-lo de idiota,

Cansar da vida lá fora, como sempre se cansava de tudo e ainda querer ser recebida de volta?

 

Ela olhou para o chão, para as flores desenhadas em suas unhas,

Ele se sobressaltou de emoção, será que agora ela o veria?

Estagnado, imóvel, cansado de lutar sozinho, agora ele sofria,

Não desejava que ela o visse daquela forma, uma lágrima teimosa,

Brilhou em seu olhar, e ousou ficar ali parada, será que queria gesticular?

Desejava chamar a atenção dela, e agora, se ela o olhasse, como esconderia?

 

Mas ela não olhou, continuou da forma que estava, segura em si mesma,

Naquele instante ele soube que nada abalaria a sua confiança,

Ela havia sido esculpida em pedra e assim ela permaneceria,

Abriu a porta, inquieta, gemeu como se estivesse a avisar sobre sua saída,

Os lábios dele estremeceram, ela o olharia, ao fecha-la,

Falaria alguma coisa qualquer que pudesse guardar,

Já que levava no fundo falso da sua mala, os sonhos de uma vida,

 

Mas não, ela não emitiu nenhum som, nenhum aviso, nada mesmo,

Seu rosto agora era uma máscara de maquiagem, o dele, uma ausência,

Ausência de um lugar para abrigar os sonhos perdidos, talvez, concertá-los?

Será que se ela fosse tão longe, ele de alguma forma poderia recriar,

Feito uma mágica, tudo aquilo que sonhou um dia, e que ela carregou para fora?

 

Tocou em seu braço pedindo abrigo, quando queria extraí-lo,

E conseguiu o segredo dos seus sonhos, traçou um caminho,

Tirou-os de dentro dele dando vida de um a um, ao seu jeito,

Depois, cansou-se, pegou sua mala e seguiu outro caminho,

Ele levou a mão em concha e secou o suor do rosto molhado,

Embebido em um pranto inseguro, de quem estava sozinho,

 

Preso naquela poltrona, inseguro quanto a tudo, inclusive a si mesmo,

Desejou acender um cigarro, tragá-lo, até algo preenchê-lo,

Até que a fumaça subisse aos céus e escondesse seus olhos,

A partir daquele instante, ele se negaria aos sentimentos,

Errou uma vez, depois duas, não queria errar de novo,

Era grotesco demais ser abandonado por quem mais amou,

 

Ver todas as juras ditas, silenciarem dentro de si mesmo,

Ecoarem dentro do vazio crescente do seu peito, morte premeditada,

Como ele fora um tolo ao ousar falar de sonhos em alta voz,

Agora a cada vez que saísse daquela poltrona os veria retornar na sua cara,

E quando ousasse sorrir, feliz por recordar os bons momentos,

Se veria sozinho, não haveria nada em que pudesse se confortar,

 

Até mesmo os segredos silenciados seriam jogados contra o seu rosto,

Sentia seu sorriso desfazendo-se, não haveria nada em que se agarrar?

Agora que todos conheciam sobre o amor em que ousou acreditar,

Receberia apenas o eco no instante em que todos estivessem a recordar,

Talvez, com alguma intervenção divina alguém tivesse acreditado nele,

E quem sabe, passasse por sua porta a devolver-lhe o que foi tirado,

 

Sobraria algo de bom de tudo aquilo, não sobraria?

Talvez, dela, nunca mais tivesse notícias, ela era decidida,

Por que voltaria, depois de abandoná-lo, usurpando suas forças?

Mas, ele queria, ao menos por um pouco, se agarrar as memórias,

Desejou, naquela hora, que ao menos isso não fosse tirado,

Seria difícil receber dos seus sonhos, apenas o eco jogado em seu rosto.

domingo, 24 de janeiro de 2021

Homem Ferido

A saudade como um calmante, afagando sua ausência,

Um pouco mais claro que antes, soavam minhas ideias,

Enquanto suas promessas me tomavam pela mão,

E traziam-na de volta, em meu abraço, no meu coração,

Era uma espécie de ir e vir bastante nostálgica,

Os momentos vividos se misturavam com os de agora,

 

Eu já não sabia em que acreditar ou no que me apegar,

Fosse amor ela ainda estaria comigo, eu preferia acreditar,

Me vejo inerte nesta cadeira, de trago em trago afogando o ego,

Situação difícil jurar amor e receber em troca um dar de ombros,

Eu carecia de razão, precisava me amparar, ser mais altivo,

Na falta de emoção, atitude ressoavam aos meus ouvidos,

 

Não que eu tivesse desistido de amar, não era isso,

Apenas estava entregue a um sentimento cabisbaixo,

Quando você aposta alto e se vê perder, em farrapos,

Alguma coisa se rasga dentro de você e não volta a ser o mesmo,

Nesta aposta eu perdi muito, minha alma eu acredito,

Com os olhos intactos nem uma lágrima rolou por meu rosto,

 

Mas seria pedir demais que ela tivesse um pouco mais de respeito,

Ter mexido comigo não era o bastante para me dar um abraço?

As promessas que eu fiz ainda como amigo, foram poucas para oferecer abrigo?

Sim, por que eu caí, me vi desamparado, em frente aos seus olhos,

E ela não conseguiu fazer nada, nem uma atitude passou por sua cabeça?

Quando eu estava ereto e intacto, por que ela me forçou a desabar?

 

Até agora uma parte de mim se recusava a aceitar esta desfeita,

Eu que tanto soube escolher as palavras não encontrei a mulher certa?

Não bastava ser eu mesmo para satisfazê-la, o que fez falta?

Me desculpe por perguntar, mas esta pergunta ainda me cala a garganta,

Estou a me afogar nela, preciso falar para que me ouça, me desafoguear,

De outra forma, como eu poderia entende-la, então, está o mundo a errar,

Não ela, não é, nunca; Por quê erraria a mulher que eu fiz minha?

 

A escolhi para ser única em minha vida, não a outra como ela queria,

Por Deus, em minha alma ainda ressoam seus atos, suas palavras,

Sua ausência ainda grita tão forte que sinto que não a posso controlar,

Me abandonou ao acaso apenas por que eu a tirei de lá?

A pedi para que me fizesse uma lista de como conquista-la,

Queria apenas algumas dicas, querida, você não poderia se esforçar?

 

O sonho de amor em que sempre acreditei, o mesmo que vi brilhar no seu olhar,

A fechou em si mesma, me excluindo de lá, desviando-a para outro lugar,

Apenas dissesse aonde ir, e eu iria, sempre estive disposto a te encontrar,

Não deixei transparecer isso em cada detalhe, cada ideia?

Meu bem, apenas diga, não fui suficiente para convencê-la?

Como pode me deixar enrijecido nesta dor que me fere impiedosa,

Eu chorei ainda na sua frente, você não pode me enxergar?

 

Estivesse eu, estagnado na sua frente, você não poderia derreter-me?

Querida, eu não soube reagir, você queria que eu representasse?

Nem mesmo um toque seu houve ou um sorriso em sua fonte,

Nada, nada em que eu pudesse me apegar, nem mesmo uma promessa forte,

Senti cansar meus dedos, não tinha mais em que me segurar,

Estava de olhos fechados quando minhas forças esvaíram na sua frente,

Mas eu não, então me vi descer, escorregar, até, não sei bem aonde...

 

Ainda guardo cada detalhe em minhas memórias, isso me faz bem,

Eu a amarei por uma vida, nunca amei assim outro alguém,

Mas não imagina o quanto doeu te ver ausente de mim, inerte,

Quanto ao que eu sentia, inconsistente, quanto ao nosso amor, indiferente,

 

Você não foi capaz de perceber em nenhum momento que me destruiu?

Minhas defesas ruíram, permaneci preso as promessas que você proferiu,

Fiz delas meu amuleto, se você não notou, será que pode recordar agora?

Não dói o tanto que padeço, cada pedaço que se desfragmenta em minha alma?

 

Querida, me refiro a aquela alma que um dia jurou concertar,

Que um dia você prometeu amar, cuidar, aquela que fiz sua,

No mesmo instante, em que te coloquei num pedestal: minha,

Eu acreditei no reflexo que havia em seu olhar, querida,

De todo o nosso amor, não sobrou nada, nada em que me agarrar?

Aqui onde estou, não tenho forças suficientes sem você me ajudar,

 

Você pode, por favor, ao menos uma vez me apontar uma saída,

Querida, se dependesse apenas de mim, não haveria problema,

Mas aqui estamos nós perdendo-nos entre os espaços,

Me sinto carente dos seus beijos, padeço por seus abraços,

 

Em nenhum momento você desejou se aproximar de nós,

Então, poderia responder-me porque lá fora você foi diferente?

Da sua boca, não houve uma única palavra para consolo,

Nada a me dizer, ao menos em um pequeno instante?

 

Era tudo uma questão de fingir um amor correspondido,

Usar minhas próprias juras contra mim mesmo?

Ferir-me assim, que castigo, justo aquela para quem jurei dar abrigo...

Aquele sonho de amor que sonhei me foi afastado,

Por você, e este seu doce rostinho adorado, me sinto fraco,

Como posso escapar deste martírio ao qual me coloco,

Doce Amor, como pode jurar abrigo e agora, não estar mais comigo.

Moças e Seus Saltos

 

Examinava de uma a uma, cada palavra,

Gostava de contemplar o efeito delas,

As pessoas gostavam de procurar conforto nelas,

Mas, para mim, elas pareciam vazias de tudo e de si mesmas,

Não importava que frase fosse pronunciada por suas bocas,

Nada além de saliva tocavam-nas, estavam áridas, secas,

 

Se houvesse alguma doçura em algum momento em suas almas,

Elas, deveriam tê-las tragado para si mesmas, consumindo-as,

Perdendo-se, no labirinto em que caíam, traídas - as traidoras -,

Sobre o amor em suas almas, infelizmente estas eram as notícias,

O fato de eu poder me abrir um pouco, expressar minhas ideias,

Me conforta sobremaneira, mesmo que minha ideia pareça vaga,

 

Deixo a liberdade para discordar de mim o quanto precisar,

Não entendo essa mania corriqueira de querer forçar as coisas,

É como se em seus olhares chorosos houvessem algemas,

Usam suas vozes melodiosas para apaziguar as coisas,

Colocar véu sobre os vazios em que foram consumidas,

Escondendo-se dentro de si mesmas, para emergirem barulhentas,

 

Suas vozes fazem eco aos meus ouvidos, mas não dizem nada,

Seus saltos altos, suas roupas esvoaçantes, nada me toca,

Será que é impossível pensarem um pouco por si mesmas?

Ai de mim se me identificasse, de antiquado a machista

Seria definido, com toda a certeza, mas e se eu me definir como pessoa?

Haveria alguém convicta o suficiente para dizer quem eu sou agora?

 

Peço que não me queiram mal, não é minha intenção discordar,

Nenhuma das minhas frases são embebidas em raiva,

Podem até conter uma lágrima ou outra, mas com certeza,

Estão carentes de qualquer vestígio de lamúria ou incerteza,

Bom, aqui não poderiam definir minhas palavras como secas?

Uma lágrima e uma palavra, de repente uma frase pronta,

 

Por quê, todas tão desapegadas em cuidar umas das outras,

Pode haver pouco sentido no que eu digo, alguém concorda?

Alguém gostaria de conforto no que tange aos problemas,

Sempre tão absortas em si mesmas, para que esta tal concorrência?

Qual a graça de conquistar o primeiro lugar sem ter com quem contar?

Qual o sabor da vitória se chegar ao final sem ninguém para abraçar?

 

Sempre a espera de suas habilidades e experiências camufladas em conquistas,

Qual o sabor da vitória se para conquista-la teve que burlar lê-a?

Vejo-as condenadas ao abandono de si mesmas,

Então, já encontraram a resposta, quem eu sou agora?

Melhor um dar de ombros que encarar a verdade em minha fala,

Abrir-se ao inseguro do que encarar seus medos sem pestanejar,

 

Há algum problema na sinceridade umas para com as outras?

Sempre com suas manias de se colocarem poderosas,

O que há de errado em descer das nuvens e andar com os pés na terra,

Essa água que afoga suas gargantas não poderia, ao invés disso, lavá-las?

Isso para o caso de que algo aqui embaixo pudesse sujá-las,

Afinal, definem-se as indefinidas – imaculadas? - ,

 

Embora, apenas e até enquanto as convém, e ainda se julgam, as sábias,

Inteligentes em quê? Na arte de enganar, em despencar de suas almas,

Em destituírem-se de tudo, sempre vazias a vagarem por si mesmas,

Não podem sair para fora e contemplar um pouco além das suas janelas,

Para que servem seus olhos senão para avistar um pouco na dianteira,

Que importa o tamanho das suas calças se nem possuem ideias próprias?

Se colocam na defensiva para manipular, peritas na arte das falácias,

 

É certo que o dia da verdade chegaria, por que não poderia ser agora,

O que estou a dizer não é mera queixa, as palavras em suas bocas,

Ceifam-nas, a todas; como uma faca afiada poderiam cortar as rédeas,

Contudo, lá estão elas, petrificadas em suas posições de vítimas,

Achando que enganam, estagnadas em ideias feitas por outras,

Vocês não são donas de nada, nem do que pensam acreditar,

 

Emudecidas com suas vozes presas na garganta, enganadas,

Traídas - as inertes -, as submissas presas na ideia de liberdade falsa,

Há algo em vocês que ainda possa se definir em sua forma verdadeira?

As defensoras do nada, credoras na arte de serem enganadas,

Gemendo em suas camas desarrumadas, as peritas falseadas,

Apegam-se ao gozar como se ganhassem nisso uma medalha,

 

Já pensaram em dar prazer a quem entrega-se a essas camas?

Chegou o instante de se falar de sexo, o que teriam a falar?

Há algo verdadeiro que valha ser ouvido e que se possa acreditar?

Suas falas descabidas são como zumbidos que não querem cessar,

Me recuso a ouvi-las, como eu poderia abraçar suas ideias,

Vocês se apegam a que quando tentam convencerem a si mesmas?

 

Mesmo estes seus movimentos, agilidade e força estranha,

Usam seus saltos para mexerem suas bundas,

Mas não conseguem usa-los para se colocarem em suas vidas?

Precisam sempre esvaziarem-se e prostrarem-se, ajoelhadas?

Qual é a posição mais perfeita na qual se veem favorecidas?


Não consigo passar por vocês sem registrarem-nas,

Sempre tão carecedoras de ideias, as libertadoras,

Se afastem daí, me coloco a postos para dialogar,

Querem coesão para as suas ideias, então, aí está.

A colina

Sentadas. Lado a lado. Mãe e filha. O sol partia na coluna Em frente aonde Estavam sentadas, Ambas abraçadas. Pensativas....