A garota se achava linda,
Uma das mais perfeitas do colégio,
Imaginei que ela numeração
Por ordem das garotas
Das mais bonitas para as mãos feias.
E os garotos também.
Contudo, rolou de boca a boca,
Beijo a beijo,
Gosto a gosto.
Ficou com o feio.
O garoto mandava bem,
Tinha pegada gostosa,
Tinha boa conversa,
Bom de sexo pra caramba.
Foi acontecendo
De ela continuar com ele,
Ficou uma vez
Ficou duas,
Ficou mais de três.
Fez aniversário,
Ele lhe pediu qual era seu desejo,
Ela disse uma moto.
Ele sorriu satisfeito,
Fazia tudo por ela.
E fez.
Ela ganhou a moto que queria.
Zero bala.
Foguetinho na rua.
Neon no pneu.
Fazia fogo no asfalto.
Ninguém pegava,
Chegava o final da aula,
E garoto nenhum pilotava
Mais rápido que ela.
E os garotos corriam,
Jogavam cerveja de garrafa,
Ela pegava no alto,
Erguia viseira do capacete,
Bebia pilotando.
O feinho estava sempre feliz,
Estava com ela,
A amava.
Contudo,
Decidiu encontrá-la no final
Da escada do colégio.
Ali na luz da lâmpada,
Na frente de todos.
Ela nem olhou,
Chorou de humilhação,
Se viu destruída
Por um monstro.
Ela nunca esteve no rol das mais feias,
Nunca estaria entre aquelas
Que se sujeitavam a qualquer um,
Se rebaixaram a aquele que a queria,
Claro que não,
Ela era linda e poderosa,
Escolhia.
Amaldiçoou o maldito dia
Em que o seu chance,
Amaldiçoou ele
Mais que seu nome.
Subiu na moto,
Ligou a chave,
Empinou,
Riscou o chão com a rabeta empinada,
Saiu fazendo zigue e zague
Da frente do ginásio escolar,
Correu muito,
Quando foi fazer a curva
Que a conduzia para
A rua de sua casa,
Ela caiu,
Deslizou no chão
Com a moto sobre ela.
Queimou a roupa no asfalto,
Perdeu salto alto,
Perdeu dedo,
Quebrou a nariz e a boca,
Queimou a pele,
Sangrou.
Sangrou feito uma vadia
Que ninguém vê
Não importa aonde esteja,
Uma vadia que ninguém procura
Porquê ninguém se importa.
Um cachorro latiu,
Ela abriu os olhos
Cuspindo sangue,
Um olho pareceu cheio de sangue,
Ela não podia ver com os dois.
Mas sentiu-se segura,
O feio chegou de carro,
Estacionou aí lado
E a tinha entre os braços.
Lá do alto do rua
Um caminhão vinha a toda prova,
A rua onde estavam estava
Com pouca iluminação,
A moto dela não funcionava,
Não podiam ligar alerta,
Ou buzinar,
Tudo parou,
Quebrou o pneu ao meio,
Quebrou o velocímetro.
Ela só pedia a moto,
O caminhão estava próximo,
Próximo demais dos dois,
Não haveria tempo,
Mesmo assim,
Ele não a deixou,
Conseguiu remover a moto
De cima dela,
A jogou para o lado,
E a puxou.
Ficou com medo
Que vendo a moto
O caminhoneiro fosse
Tentar desviar dela,
E então viesse neles em cheio.
E ele fez isto.
Começou a buzinar como se tivesse alguém lá.
Ligou o alerta,
Fez sinal de luz alta.
O rapaz gritava,
As luzes estavam muito fracas,
A moça começou a vomitar sangue,
Não tinha forças de erguer-se.
Ele não podia correr.
Entrar no carro escuro
Parecia pior.
O motorista parecia embriagado,
Buzinava,
Olhava pela janela
Mas não diminuía a velocidade,
Gesticulava,
Cuspia para fora,
Foi horrível.
O garoto implorou a Allah
Por ajuda,
Se escondeu atrás de uma árvore
Colado a moça,
E ficou.
Foi muito rápido,
As luzes do carro dele
Já estavam ligadas,
O alerta também.
Não tinha mais nada a fazer.
O caminhoneiro se jogou
Na contramão,
Pegando o carro dele
E mesmo assim não parou.
Seguiu bateu
Em um portão,
Entrou dentro de uma casa,
Matou o casal de noninhos dormido
Pelados na cama.
Esmagou a cama do casal,
Ficou preso entre as ferragens,
Foi retirado apenas quando
Cortaram a porta
E uma outra parte do caminhão,
Apresentou fratura exposta,
Estava inconsciente.
A árvore pendeu para o lado,
Ergueu três raízes grossas
E profundas,
Não caiu.
Eles se jogaram para a frente dela.
Ficaram presos
Entre o carro batido na árvore,
A árvore e a traseira do caminhão.
Não conseguiram falar
Devido a dor,
Ao meio dia do outro dia,
Quando cortaram a árvore
E guincharam o caminhão
Encontraram os dois.
Ambos sujos de sangue.
Ele muito bem.
O sangue era dela.
Ela inconsciente mas respirando.
O jardim da Dona Bianca
Foi soterrado.
A roda passou por cima,
Arrancou tudo.
Seu Miraci só retorna
Morar na sua casa
Se o filho pôr lâmpada
Na sacada
E ele poder dormir
Com a luz a noite toda ligada.
A escola fechou por três dias,
Organizou a turma
E todos foram desfilar
De camiseta branca
Para alerta da população,
Levaram cartazes
E fotos de todos.
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