quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Velas

Torrentes de chuva,
Ventos tempestuosos,
Enxurradas fortes,
De levar tudo pela frente,
Passou pelo cemitério da cidade,
Arrancou jazigos,
Abriu caixões,
Desmoronou a frente do lugar
E levou caixões e ossos com ela.

A estrada da rua principal
Ficou interditada de terra e cheiro podre,
A cidade ficou embaixo da água,
Eu mesmo passei por lá
E vi coisa nunca vista.

Ao pisar naquelas ruas
Querendo deixar o lugar
Cruzei por uma cabeça
De cabelos encaracolados
E olhos fechados,
Com pouco ou nada de lábios,
Ela estava aberta,
De repente achegou-se aos meus pés
E fechou-se,
Tinha dentes e ficou presa
No meu chinelo.

Eu dei duas batidas contra a água suja,
Não ousei tirar o pé fora da água,
Depois a escoiceei para longe.

Agora estou aqui,
Cabisbaixo sentado nesta pedra
Que separa a rua principal
Do cemitério
A espera de algum corpo sem cabeça,
Queria saber a quem acendo velas
E a quem digo:
“me esqueça”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Hora

Anunciaram os djins, - aproxima-se a Hora. O povo daquelas areias Sobre o mar azul e limpo Estremeceu. Aguardaram uns de Al...