quarta-feira, 17 de março de 2021

Fecharam os Olhos

Ele estava deitado de bruços na cama, absorto nela,

Ela colocou-se sobre ele e beijou-o por inteiro,

Com estalinhos e mordidinhas percorreu sua pele negra,

Ele estava de olhos fechados, os dela estavam abertos,

Se aproximou do seu ouvido e com sussurros tocou sua alma,

Tracejou com a língua cada parte das suas costas, absorvendo-o,

 

Colocar-se sobre ele lhe dava uma grande vantagem,

Poderia beijá-lo à vontade sem que perdesse as forças,

Em nada adiantaria tentar negar o fato de que a cada toque dele,

Ela fraquejava, pertencia a ele de corpo e alma,

Cada parte sua guardava dentro dela tudo sobre esse dia,

Em sua alma desenhava cada beijo, cada carícia, sem perder nada,

 

Ele deveria saber o quanto ela o amava, percebia-se em cada beijo

A intensão de que cada momento durasse uma vida inteira,

Embora nunca tivessem tentado negar-se ao fato, era feito exato,

A boca dela continuava movendo-se sobre a pele quente dele,

Ele permitia-se suspirar sem dizer nada, leva-se algum tempo

Para cair em si sobre o quanto se é capaz de amar, Deus sabe o quanto,

 

Naquele instante ela não queria parar de massagear e beijá-lo,

Usava todas as suas forças para manter-se neutra em cuida-lo,

Cada afago em que se entregava era como se deixasse de ser sua,

Sentia os olhos dele abrirem-se, era como se pudesse vê-la,

Ela não conseguia parar de olhá-lo e lhe percorrer em cada centímetro,

Sabe aquele instante em que se deseja guardar alguém para sempre?

 

Embora tivessem se entregado com urgência, agora a calma os regia,

Não desejavam fugir um do outro, mas logo o sol acordaria a manhã,

Ela deitou-se sobre ele e sussurrou mais uma vez ao pé do ouvido,

Então, amar é isso tudo? É sempre com o gosto da primeira vez?

Antes parecia que eu não me preocupava em amar, mas agora,

As coisas se juntam e parecem se completar, você é sempre tão perfeito?

 

Não confia em nós dois?! Ele respondeu, com um forçoso levantar de cabeça,

Sim, ela respondeu com um mover de lábios sobre o seu pescoço,

Ambos relaxados, mas a necessidade de estar próximo não passava,

Abraçaram-se, foi como se prometessem um ao outro amor eterno,

Pensaram em dormir abraçados, para que o sol pudesse acordá-los,

Em uma espécie de ritual em que os amantes se veem realizados,

 

Não foi dessa forma, por muito pouco, beijaram-se e mudaram de ideia,

O que eles estariam vendo quando olhavam um nos olhos do outro,

É questão que ninguém poderia definir, amor eterno ou alguma coisa assim?

O que se sabe precisar é que uma noite acordados foi pouco para o que sentiam,

Eles estariam contemplando um a alma do outro? Então, isso era o amor?

A urgência em suas carícias parecia estabelecer um prazo entre os dois,

 

Eles acreditavam nisso, e agiam ao rigor da necessidade em cada carinho,

- Vamos lá, o sol acordou, agora, estou saindo – ela parecia ouvir em seu rosto

Assim que o tocou e viu seu semblante olhar tristonho para a janela,

Se semblantes falam e o que dizem, eles saberiam evidenciar em suas caras,

Talvez fosse por isso que se completassem de forma tão perfeita,

A luz invadiu o quarto assim que suas bocas se encontraram sedentas,

 

No mesmo instante em que a carícia se intensificava e pedia mais um pouco,

Na mesma hora em que uma lágrima caiu do olhar dele no peito dela,

No mesmo segundo em que ele caiu submerso sobre ela, sôfrego e apegado,

Era como se ele aceitasse ficar em sua vida, mesmo que fosse com hora certa,

Intensificada como só ela sabia e fazia apenas com ele, beijou seus lábios,

Abraçou seu corpo, até senti-lo colado ao seu, fecharam os olhos...

 

O efeito do amor é algo duradouro e irresistível, via-se isso em seus carinhos,

Seus reflexos dançavam na parede, seus corpos absorviam-se um ao outro,

Se alguém pudesse vê-los, juraria que não daria para distinguir um do outro,

Encaixe perfeito, entrega exata, sussurros sibilavam juras no silêncio do afago,

Ela o buscava e ele retribuía, em movimentos lentos e sincronizados,

Ela o amava no fundo de sua alma e ele tocava-a em cada carícia de seus dedos,

 

O fato de alcançar a alma de alguém com um afago é caso para outra história,

Se eles compreendiam o que acontecia entre eles, nem eles sabiam,

Mas amavam-se e isso era o suficiente para manterem-se ali, colados,

Ele unia-se a ela, como uma só alma, ela agora abria os olhos castanhos,

Olhando para a luz que invadia o quarto e queimava em seus corpos,

Já não havia calor o bastante? Por que o sol ousava tentar acordá-los?

 

O suor dele respingava em sua boca, seu cheiro a percorria por inteira,

Desatento, o sol insensato, desejava despertá-los do seu sonho de amor,

As horas vinham, ela acenou discretamente pedindo ao relógio trégua,

Ele a olhou e estranhou a sua calma, era hora de acordar ele sabia disso,

Depois, devagar, apoiou os braços sobre a cama com esforço quis levantar,

Parou na distância dos seus olhos, ela sorriu tentando desencorajá-lo,

 

Tenho uma boa ideia pela qual valeria a pena perder a ideia sobre as horas,

Mas, agora me sinto desperto estou prestes a vestir as roupas,

Ela buscou seu rosto, aproximou-se e envolveu seus lábios em sua boca,

Agarrando-se a ele com força, puxou-o para si, com o ânimo de dona,

Fraquejaram suas forças, derreteu-se sobre ela, beijaram-se de novo,

Abraçaram-se um ao outro, colados feito um só, fecharam os olhos...

terça-feira, 16 de março de 2021

Seu Olhar no Meu Olhar

 

Haveria juízo que pulsasse no coração de uma pessoa

Que vê outro alguém pela primeira vez na vida,

E decide que irá ama-lo por uma vida inteira?

Mesmo sem se aproximar, sem que haja beijo,

Apenas aquela química durante a troca de olhares,

E o amor se faz presente por um destino inteiro,

 

Quisera Deus que eu tivesse tido forças para chegar perto,

Que minhas pernas não tivessem bambeado tanto,

Que minha fala soubesse precisar o que eu sentia em palavras,

Apesar do esforço em abrir meus lábios, não fiz nada além de calar,

Bem, é certo que balbuciei algumas frases incompreensivas,

Quando o coração fala talvez ele consiga se expressar por si mesmo,

 

Espero que sim, estou apegada a isto até este instante único,

Meço cada passo que caminho, olho para todos os lados,

Sempre a procura-lo, sempre a espera de que o destino

Saiba fazer o que eu não soube em nome de tudo o que sinto,

Com grande frequência olho a vista da janela,

Busco encontra-lo e acredito não estar errada,

 

Apesar de não haver tanta concordância entre o que penso

E o que faço, acreditar em amor eterno me parece inconstante,

Colocar outra pessoa em primazia sem que ela saiba sobre você,

Se pegar a pensar sempre em alguém antes de qualquer atitude,

Mas meu coração acha inescapável fugir de tudo que sinto,

Ele se recusa, bate o pé, faz pirraça, diz que ama e pronto,

 

Eu até busco formas de mudar sua opinião, é claro tento resistir,

Mas ele sempre vence no final, põe um sorriso em meu rosto

E sai por aí, nem tenta disfarçar o quanto busca por este amor,

Alguns amores são mais difíceis de esquecer do que outros,

Alguns são destinados a durarem para sempre, outros escapam,

Eu nunca soube que tipo de amor me conquistaria, até aquele dia,

 

Minhas tentativas de submeter o que sinto em medidas,

Estão tentando disfarçar a intensidade do quanto o amo,

Ao tentar me ocultar parece que mais tenho para revelar,

Quando mais tento insistir que não o amo, menos me convenço,

Mas é importante ressaltar que, um dia o encontrarei,

Não importa aonde, simplesmente estarei lá para ele,

 

Se o destino á capaz de encaminhar meus passos,

Por que não faria o mesmo com relação a ele?

Por que se encarregaria de distanciar um grande amor?

Não faltaram oportunidades para nós dois, eu acredito nisso,

E ele também, eu percebi isso na forma como ele me olhou,

Algo faiscou entre nós e este algo o trará para mim, sei disso,

 

Esta chama será intensa o bastante para iluminar seu caminho,

Direcionar seus passos, ou estou errada em amar dessa forma?

Sonhar acordada, como se estivesse em uma espécie de transe?

Exceto meu coração, este sim encontra-se muito consciente,

Quando decidiu que o amava, decidiu também que lutaria por ele,

Alega que efetuou uma abordagem indireta, eu não duvido,

 

Sussurra aos meus ouvidos que foi de maneira suplementar,

Que é interessante eu me colocar altiva como sempre fiz,

Porém, não posso abandonar ao acaso o espaço em mim

Que destinei a ele, aquele que se abriu ao vê-lo sorrir,

Aquele que jura que só será preenchido por ele e ninguém mais,

Abraço envolto ao corpo, espaço ajustado é isso e ponto,

 

Falo a ele sobre o uso da vírgula e aquelas regras todas,

Ele me pede se há equivalência entre o que digo e acredito,

Me calo, como poderia ficar contra tudo o que sinto?

Quando me permito uma mensuração mais rigorosa,

Me indago se não poderia ter reagido de outra forma,

O coração pulsa baixo, em sussurros parece que chora,

 

A questão da medida não é de todo insignificante,

A questão do espaço aberto não é uma desvantagem,

Talvez amar alguém assim seja bom o bastante

Para me fazer reajustar aos sentimentos a forma como reajo,

Tantas vezes vi passar as horas sem intensidade alguma,

Agora, vejo os dias de forma diferente, rezo para que ele me ouça,

 

Bem, as meias palavras não são tão singelas quanto a abordagem direta,

É importante distinguir o amor como uma unidade na qual

Se decide guardar na bagagem todo o sentimento que nos toma,

Apenas para depois espalha-lo aos quatro cantos como poesias,

Como se cada ato fosse agora descrito em frases soltas

Em busca de não apenas escrever um destino, mas declarar-se,

 

Conquistar alguém, reconhecer a importância desta pessoa,

Sem sentimento de posse, transferir o amor por nosso caminho

É uma boa opção quando se deseja conquistar alguém para sempre,

Em cada passo que ele der, poderá se deparar com algo bonito,

Algo que o desvie da rotina e possa fazê-lo me notar pelo caminho,

Busco a clareza dos meus sentimentos para saber como expô-los,

 

Quando um coração se engana em que ele se posiciona?

Noto uma alteração drástica em tudo que vejo ao meu redor,

As coisas passam a ter significado diferente, tudo me faz recordar,

Uma pequena mudança de rotina e ele estava a postos à minha espera,

Todo o restante decaiu em importância, ficou seu olhar em meu olhar,

A natureza do que sinto insiste para que eu busque por ele, o farei.

segunda-feira, 15 de março de 2021

Seus Argumentos Saíram Com o Batom

Os olhos dele se desviaram dos dela, por um breve instante,

Tempo insuficiente para esquecê-la, o bastante para perde-la,

No breve instante em que ele se deteve em outro ponto, a frente,

Ela cortara caminho, e se colocara distante demais para ser encontrada,

Algo perturbava suas ideias e enuviava o que ela sentia,

Não que seu amor fosse pouco, mas fora insuficiente para vencer o ciúme,

 

Ela sentia que o que ele dizia não se ajuizava ao que fazia,

Era como se ele prestasse atenção a todo o seu redor, menos nela,

Isso a deixava insegura, em sua teimosia, era como se não fosse o bastante,

É certo que o amava, suplicava ela em lágrimas, enquanto lavava a face

Olhando a maquiagem borrando seu rosto em frente ao espelho do banheiro,

Todo o seu semblante se embaçava, até os beijos esvaiam no lavabo,

 

Escorriam dela para longe, como se não a pertencessem mais,

Água e lágrimas se misturavam a maquiagem desfeita,

Seus sonhos escorriam pelo ralo como se caíssem do seu peito

E quebrassem-se longe do seu contato, pondo-se distantes demais,

Esmigalhados, confundiam-se ao seu sofrimento, escorreitos entre os dedos,

Tentara junta-los, mas inconsistentes como estavam não poderiam mais ser salvos,

 

Sonhos de um amor desfeito quem haveria de protege-los?

Fixara-se em sua imagem refletida diante de si mesma, já não se reconhecia,

Lembrara de como sentia-se segura ao andar de encontro a ele,

Recordara o exato instante em que ele, ao invés de vir busca-la,

Parecera desviar-se para outro lugar, era como se a rejeitasse na frente de todos?

Ela forçara um sorriso, tentara um aceno, mas nada o chamava de volta,

 

Pôs-se distante demais dela, apesar de estar ao alcance de sua visão,

Escondera-se de todos os sonhos que prometera ao seu coração,

Com um suspiro desses que absorve todo o ar do seu redor e preenche seus vazios,

Ela tentara rejeitar as ideias falsárias e buscar um meio de escapar daquilo,

Talvez voltar ao salão, talvez se retirar para onde fosse bem-vinda,

Havia entregado a ele todo o seu amor, não mereceria ser mal retribuída,

 

Quando uma pessoa se esforça por outra, não merece atenção em metades,

Tivesse algo importante, não poderia ter aguardado ao menos um instante?

Apenas até que ela chegasse perto e o cumprimentasse, o bastante para um abraço,

O que poderia ser tão urgente que lhe roubasse o pequeno instante de sua chegada?

Aquele momento único em que os olhares se encontram e brilham risonhos,

O segundo em que os lábios se abrem em sorrisos recíprocos de amor incontido,

 

Ela recordara que sentira seu sorriso se desfazer em seu rosto,

Até ver os olhos ficarem chorosos, como poderia continuar no mesmo rumo?

É certo que em algum momento ele lhe daria atenção,

Mas, fora triste demais aguentar a emoção de vê-lo alheio a ela,

Olhara mais uma vez para a sua roupa, parecia a ideal para o momento,

Então, por que ele a havia rejeitado de forma tão incompreensiva?

 

A perspectiva sobre as suas capacidades esgota qualquer chance de perdão,

Ela sentia e via-se como uma pessoa com muitas características relevantes,

Não aceitaria ser menosprezada por um sujeito que nem ao menos decidia-se

Sobre o que queria e a quem amava, estivesse indeciso que avisasse,

Ninguém consegue prever as ideias que caem nos silêncios de mentes fechadas,

Se havia algo que pudesse incomodá-lo, deveria tê-la alertado sobre a causídica,

 

Comparada a qualquer outra mulher, ela tinha valor e beleza o bastante

Para ser respeitada como pessoa e ser humano que era, não merecia isso,

Haja vista poder, fechar os olhos para a questão expressa a sua frente,

A maquiagem que borrara a sua face não a havia cegado aos seus valores,

O valor de uma pessoa não se mede pela vantagem de estar com ela,

Mas pelo que se sente com relação a si mesmo enquanto companhia dela,

 

Procurar preencher vazios as custas de sentimentos alheios,

Não os resolve, apenas os adia, ao se fechar os olhos diante do beijo,

Esquece-se de com quem está e do que pretendia sentir,

Não se inventa o amor, ele começa, invade a alma e fim,

É crucial indagar, em qualquer instante em que se deseja alguém,

Se o amor está presente ou não na atitude e até onde poderá se desenvolver,

 

Sentimentos selecionados, atos reajustados, atribuir pesos a julgamentos

Embora arriscado, não a desestimulava de descrer da atitude dele,

Não importava tanto os semblantes assustados direcionados ao gesto,

Mas o sentimento que a dominava falava alto demais para ser rejeitado,

A medida do valor era reavaliada em cada atitude relacionada a ela,

Como seria de outra forma, considerando que pouco se conheciam?

 

Ela o escolhera para amar por toda vida, mas ele continuava em dúvida,

Ela apostara o seu melhor salto, vestira o melhor vestido, mas ele evadira,

Os olhares admirados do seu redor surtiram efeito o bastante para que

Ela pudesse se restabelecer e decidir colocar-se fora do seu alcance,

Embora ferida, estava com a consciência tranquila quanto ao que sentia,

Ficara exposta em nome do amor, e por este mesmo amor se ladearia,

 

Ao sair do banheiro, o vira olhar em sua direção com um sorriso,

Era sonso o bastante para fingir que nada havia acontecido?

Seus sentidos intensificavam-se sempre que via-se em dúvida,

Resistir a tudo que sentira por ele, demandava atitude reservada,

Não poderia fugir do que sentia, da preferência com que o apregoava,

O que sentira fora forte o bastante para ter razão em valorizar,

 

Mas, insuficientemente fraco, para permitir-se ser ignorada e desprezada,

Não pelo fato de estar em público, mas porque toda pessoa merece ser valorizada,

Ele tinha qualidades evidentes, mas as colocara em cheque com suas atitudes,

Não adianta amar entre quatro paredes para depois descrer-se,

Os argumentos dele utilizados para provar dos seus beijos eram espúrios,

Embora tivessem sido convincentes não duraram o bastante, saíram junto com o batom.


 

Um Rosto Estranho e Significativo

 

Nenhum movimento, nenhum som, nem um suspiro aos seus ouvidos,

Sabe aquele instante em que o olhar fala muito mais que a voz?

Sabe, aquele segundo único em que o coração pulsa forte o bastante,

Para ser ouvido por quem quer que fosse, latejante sobre a pele?

Este momento chegara, justamente quando ela desejara evita-lo,

Logo que ensaiara seus passos mil vezes em frente ao espelho,

 

Um segundo após, dar o primeiro passo sobre a calçada íngreme,

No mesmo instante em que se pusera sobre o salto vermelho,

Logo que erguera o rosto e esfriara o olhar em pose indiferente,

Justamente, naquele segundo ele passara por ela e ousara fita-la,

Parecia brincar com os sentimentos dela, era isso ou a amava,

Se a amava como poderia cruzar daquela forma segura e atenta,

 

Quando tudo no entorno dela ruía, quando tudo dentro dela se dilacerava?

Não fazia sentido, por que falar que amava daquela forma limitada,

Apenas um olhar na direção um do outro, um andar trôpego a passos descalços,

Por que, inevitavelmente, tudo nos seus entornos os feria,

Queda brusca de tudo que haviam imaginado para si mesmos

Na vã tentativa de manterem-se em distância segura do que sentiam,

 

Bem, se ele acreditava haver distância segura entre eles,

Ele disfarçava bem, ela nem ao menos tentava cogitar a ideia,

Estremecia, pisava em falso, mexia as mãos, olhava por todo o lado,

Aspirava o máximo que podia do seu cheiro, o mantinha guardado,

Nos poucos segundos em que se permitia encará-lo,

Registrava cada um dos seus traços, cada olhar cabisbaixo,

 

Cada segundo escondido na boca que implorava o beijo,

Mas mãos que ansiavam por contato, no corpo que pedia o abraço,

Aquele que embora jurassem pertencer ao passado,

Estava vivo em suas memórias e em cada um dos seus desejos,

Podia apostar que este fato tinha relação com o brilho dos seus olhos,

É certo que iria de encontro a tudo que havia ensaiado...

 

Mas, algo muito mais forte que ela o puxava para ele, as lembranças,

Sim, nada além das lembranças ainda os mantinham unidos,

Não havia nenhum desejo por reaproximação por novo contato,

Quanto mais ele seguia para o lado oposto ao que ele seguia,

Muito mais ela tinha certeza disso, o problema circundou a questão,

No instante em que ele parara atrás dela e a puxara pelo braço,

 

Ele provavelmente desejava adiantar a hora do juízo final,

Aquele instante em que tudo que esta engasgado na garganta

É cuspido em frases soltas sobre a cara do outro sem perdão,

Ela se manteve altiva, virara-se segura do tudo que pretendia falar,

Sobre cada lágrima, tudo que sofrera com sua ausência,

No entanto, ao encará-lo, percebera o triste erro cometido,

 

Ao verificar se tratar de outra pessoa, um homem bonito por sinal,

Mas não era ele, embora bastante similar, de perto não tinha traço algum

Que poderia convencê-la de que se tratava da mesma pessoa,

Agora, já ficava incerta quanto ao fato de ele ter ou não passado por ela,

Se antes a certeza sobre tê-la esquecido era cogitada, agora era afastada,

Se desvencilhou do contato, se manteve distante daquele homem,

 

Não entendera sua atitude, mas não pararia o que fazia para entender,

Imaginara que ele desapareceria da mesma forma que se aproximara,

Mas, quanto virara as costas e olhara para trás ele ainda estava lá,

Parado no mesmo lugar e olhando-a com um olhar de interesse,

Parecia que ele a conhecia de forma muito peculiar, ela balançara a cabeça,

Negava-se a ideia, tudo não passara de imaginação sua,

 

Apenas quisera com muita emoção encontra-lo e o imaginara na rua,

Coincidentemente provocara o contato com um estranho, nada íntimo para ser registrado,

Nada intenso o bastante para fazê-la lembrar nos segundos seguintes,

No entanto, não fora dessa forma que ocorrera, parecia vê-lo por todos os cantos,

Onde quer que andasse cruzava com ele, sua imagem estava presa em suas ideias,

Como se significasse muito mais do que ela gostaria de tolerar,

 

Com certeza não se tratava do homem que amava e que há muito não via,

A semelhança embora fosse incomum era vaga e imprecisa,

Anos a haviam separado de tudo que havia vivido com ele, isso era fato,

Mas, será que ele havia mudado dessa forma e agora vinha procura-la?

Ela levou as mãos a boca, soltara o copo de água que tinha em mãos sem notar,

Vira-o cair ao chão, molhando suas roupas, embora não absorvesse aquilo,

 

Pode sentir o sabor do beijo entre seus lábios carnudos e desejosos,

Com certeza não se tratava da mesma boca que havia visto,

O cheiro era peculiar, mas os lábios com certeza eram outros,

A altura, seria fácil confundir, o jeito como andava, os gestos precisos,

Mas, não, definitivamente, aqueles lábios não eram os mesmos,

Então, por que ele havia ficado preso em seu pensamento?

 

Por que, onde quer que ela fosse, agora parecia vê-lo?

Mera semelhança entre ele e o passado?

Um elo a leva-la a quem nunca havia esquecido?

Um desejo secreto por um beijo proibido?

Fosse como fosse, se entregar a ele não era seu objetivo,

E poderia apostar que ele desistiria dela no primeiro segundo,

 

Mas, dentro dela, seu coração pulsava desnorteado,

Desejava ardentemente retornar ao passado onde o havia deixado,

Onde, no mesmo instante em que seguira para longe dele,

Também, jurara nunca mais amar como fez com ele,

Ela precisava evitar aquele homem depressa e segura de si mesma,

Entregar-se a alguém para enganar o que sentia seria fatal para ela,

 

Sempre soubera que seguira na direção oposta ao que sentia,

Ele também tinha consciência quanto a isso e resistia,

Por que é que ela teria que ceder e se entregar a algo sem amar?

Apenas para recordar? Viver uma mentira seria o bastante para ela?

Beijar outra boca para se aproximar das memorias esquecidas?

Se entregar a um outro abraço em busca de um sonho que se perdera?

 

Queria que ele nunca tivesse cruzado por seu caminho,

Não o homem que havia deixado no passado: o outro,

Aquele que a olhara de forma significativa e ousara tocá-la,

Como se a reconhecesse, com um interesse abstrato na pele macia,

Não queria apostar na confiança dele, ao contrário, queria fugir dela,

Deixaria o medo alimentar as lembranças, não outra boca,

 

É certo que não sairia dali, de onde estava, correndo porta a fora,

Também, não ficaria parada olhando a água escorrer pelo chão frio,

Vendo o suor do nervosismo se entregar a aquela água límpida,

Olhara para os lados, não para busca-lo, não havia esse interesse nela,

Quando a isto estava segura, quanto a todo o resto não saberia,

Mas, não o encontrando, uma lágrima percorrera seu rosto,

 

Ela o buscara por sua volta, não havia ninguém ao seu redor,

Se abaixara para buscar o copo e uma mão se estendera para ela,

Aceitara sem prestar atenção ao fato, quando levantara os olhos,

Não esperara que ninguém a direcionasse porta a fora: correra como nunca.

O Amor Em Seu Caminho

 

É possível atribuir importância a momentos insignificantes,

Mas é impossível esquecer um amor destinado ao para sempre,

Embora estivesse com a testa franzida em expressão pensativa,

Ela estendeu a mão como se o sentisse seguro entre seus dedos,

Então, apesar de reconhecer que pudesse ter errado com ele,

Se permitiu admitir que o amaria em cada pulsar do seu peito,

 

É certo que esquecera sua altura, até mesmo a data do seu aniversário,

Mas, quanto ao sabor do beijo, nunca fora capaz de deixar para trás,

Ao contrário, era devido a ele que sentia forças para seguir seu caminho,

Mesmo que, por vezes, acreditasse que nunca mais ficariam juntos,

Mesmo que, chegasse a cogitar a possibilidade de ele tê-la trocado por outra,

Mesmo quando ela tentara suprir sua ausência em outras ideias errôneas,

 

Inconcretas com relação a tudo que sentia, mas plausível para o momento,

Em que, realmente, não se sabe qual a decisão mais correta a se tomar,

Mesmo que, sempre que tocasse outra boca ela fechasse os olhos,

Tentando enganar o que sentia, em seu íntimo ele vinha e tocava-a,

Ela sabia, dentro dela, que não sentia nada por nenhuma outra pessoa,

Mas, mesmo assim, se permitia seguir adiante, a espera de encontra-lo,

 

Movida por uma dor excruciante na garganta, que mesmo chamando por ele,

Se via sempre enganada por outro sabor, ácido descia dentro dela e feria-a, por dentro,

Admitia o quanto seria fabuloso tê-lo presente em sua vida, poder sentir sua pele,

Mas fingia não sofrer por ele, não naquele momento, e algo dentro dela cria nisso,

Tentava imaginar quanto tempo demoraria até que ele voltasse para a sua vida,

Mas deixava este pensamento para outra hora, tentava a todo custo ignorá-lo,

 

Quando se ama alguém, muito mais que a si mesma, é difícil precisar os próprios passos,

Acredita-se não estar errando, sabendo que cada passo andado está em falso,

Como poderia estar correto quando se anda a contramão do que se sente na alma?

Fosse como fosse, talvez, ele algum dia admitisse, também, sentir sua falta,

Quando dera por conta, soubera por outras fontes que seu aniversário havia passado,

Com três dias de atraso, ela cruzara seu caminho, lhe dissera olá, e seguira,

Não soubera, ao certo, o que ele absorvia de tudo aquilo, mas ela havia ficado com seu aroma,

 

Isso bastava, normalmente, depois de cruzar por ele, sentia-se reanimada,

Mas, aquele dia, ela desejara toca-lo, por um minuto ao menos, abraça-lo,

Mas ela não cedera – nem ele, e a dor dentro dela só piorava até que um dia,

Bem, chegaria o dia em que não aguentaria mais a distância entre os dois,

E algo bom se desenrolaria, era impossível ignorá-lo pelo segundo que fosse,

Mesmo a distância o sentia perto, era como se nunca se desvencilhassem,

 

O cheiro que absorvera dele, acalmaria seu pulsar acelerado e carente de sentido?

Logo ela saberia, não queria admitir amar tanto e de forma tão intensa,

Mas depois de se provar o beijo do amor da sua vida, há como resisti-lo?

Ela, com certeza nunca teria essa resposta, pois nunca tentaria evitar ama-lo,

Voltara o olhar para ele, tentando ignorar a vontade de abraça-lo,

Tentando manter-se distante do seu calor, tentando evitar as lembranças,

 

Parara a poucos metros de distância, embora não estivesse segura quanto ao que sentia,

Estava segura quanto aos seus atos, não se jogaria aos seus pés, implorando um beijo,

Não o olharia com os olhos lagrimejantes e o peito pulsante em amor incontrolável,

A distância em que se encontravam, mesmo se tudo isso acontecesse, ele não veria,

Havia um sol ofuscante àquela hora, isso dificultava a visão exata, ela, então o olhara,

Da forma mais significativa que podia, consciente de não ser percebida por ele,

 

Se os demais percebiam a química que pairava no ar ao redor deles,

Ninguém havia comentado nada, na próxima vez em que se cruzassem,

Ele comentaria qualquer atitude suspeita, agora o instante era empenhado a outra coisa,

Rememorar cada segundo, imaginando-se em seus braços, como em outrora,

Suspiros de apreciação, suspiros inquisitivos, suspiros competitivos,

Eram trocados entre eles sem que chegassem perto um do outro,

 

A distância segura, tudo lhes era permitido, inclusive jurar amor em silêncio,

Era tudo simples demais, mas... insuficiente, ela o desejava com sofreguidão,

A intensão nunca fora se distanciar da pessoa que mais havia amado,

Então, por que tudo aquilo havia se desenvolvido em suas emoções?

O foco deveria ser estarem juntos, estarem felizes como nos primórdios,

Mas, estavam separados e tristes, então por que motivo isso acontecia?

 

Com que base davam força a esta distância que feria a cada um deles?

Se olhavam com um furor que queimava as barreiras da distância,

Mas era insuficiente para vencer o orgulho e uni-los um ao outro?

Bem, talvez, ele não a amasse tanto quanto ela, embora ela se recusasse a crer nisso,

A testa dele estava franzida, ele esforçava-se para vê-la e parecia admira-la,

Mesmo ante o sol ofuscante, eles buscavam-se no silêncio de seus olhares,

 

A última coisa que queria, era dar mais um único passo adiante,

Não enquanto estivesse distante de tudo que mais se empenhava em esquecer,

E muito mais se convencesse do quanto o amaria por todo o sempre,

Podia ouvi-lo falar, não havia relutância alguma na fala dele,

Não naquela que ela imaginava, não naquela que a fazia se agarrar a sua mão,

E percorrer por ruas cheias de pessoas e vazias de tudo que mais queria...

 

O único motivo que fazia seu coração bater mais forte,

Seus pensamentos latejarem incoerentes, suas certezas se bambearem,

Ele, seu abraço, seus gestos, o amor é mesmo um indiferente?

Lhe toca a pele e faz com que se ame para sempre só para te obrigar a esquecer?

Lembre-se disso, parecia lhe ouvir dizer: a amarei por cada instante,

A beijarei em cada vez que eu a ver, com aquele sentimento da primeira vez,

 

Embora seus lábios estremecessem, pairando entreabertos para ela,

Sua voz não saia, mas seus olhos falavam ela os ouvira dizer: não ouvira?

Ela refletira por um segundo, baixara a cabeça para os pés, insegura,

Alguns poucos dias por ano o sol brilhava naquele ângulo direto,

E ele escolhera justo o dia em que cruzariam um pelo outro,

Naquele instante magico poderiam falar tudo que sentiam, sem serem... ouvidos?

quinta-feira, 11 de março de 2021

Movimentos Certeiros

Devagar, com passos decididos ela deixava a incerteza para trás,

Subindo cada degrau da escada, até parar na abertura da porta,

Olhara para trás, e o avistara, lançando um olhar terno a ele,

Ele ultrapassara ela, tentara evitar o contato que queimava a pele,

Com um sobressalto, ela o deixara passar, com um suspiro de alívio,

Conseguira resistir a jogar-se em seus braços, apesar do esforço,

 

Se houvesse algo que impedisse sua entrada, ele o havia rompido,

Qualquer coisa que a deixasse queixosa, não teria mais respaldo,

Sentira uma força única e encantadora em seu jeito másculo,

Seus olhos escuros apesar de tentarem omitir os fatos, amavam muito,

Ela entrara tremula, sua presença mexera demais com ela,

Era algo intenso o suficiente para que não conseguisse controlar,

 

Um homem íntegro e seguro de si, parecia conhecer cada passo,

Certeiro em cada um dos seus atos, a tomara forte em seus braços,

Quebrando qualquer forma de resistência que pudesse existir entre os dois,

De uma a uma as roupas foram deixadas de lado, almas e corpos desnudos,

Ela tentara evitar o momento em que ele abrira o colete, despedindo-se dele,

Já não haviam barreiras que os mantivessem separados, gestos fogueados,

 

Movimentos rápidos e certeiros, o vira sacar a arma, movendo-a entre os dedos,

Seus dedos perfeitos colavam-se a ela, como se fossem uma única forma,

Estava municiado, prestes a atirar, e ela amava mais que nunca ser seu alvo,

Ele andava de forma metálica, como se estivesse sendo difícil controlar o que sentia,

Posição ereta, porte seguro, estava a postos para agrada-la e ser servido,

Ela removia a correntes que a prendiam em ideias errôneas e vazias,

 

De frente para ele, não sabia precisar o que sentia, tremula e ansiosa,

Queria o seu toque, queria cada afago dele percorrendo seu corpo inteiro,

Era como se o cheiro dele a envolvesse e a impedisse de pensar direito,

Ela apenas desejava ser sua, com uma urgência que queima a garganta,

Estava a postos para o que ele quisesse dela, ser sua presa, sua caça,

Segura em seus dedos, feita de objeto aos seus caprichos,

 

Aproximara-se, com os lábios trêmulos de desejos e passos seguros,

Corpos nus, nada os impediriam de pertencerem um ao outro,

A centímetros do seu corpo, ela estendeu a mão em um gesto de carinho,

Antes mesmo de toca-lo, teve seu movimento contido por um punho de aço,

Vira-se presa, e virada de costas, com um único movimento brusco estratégico,

Sentiu o braço ser conduzido até a altura da cintura, sentindo a própria pele nua,

 

Na outra mão ele portava a arma, municiada, engatilhada entre seus dedos,

Suas pernas bambearam, teria caído no chão frio, se não estivesse segura,

Com um único movimento ele aproximara-se do seu corpo, quase colando-se,

Ela podia sentir o calor dele a percorrendo, seu cheiro embriagando-a,

O coração saltava até a garganta e implorava pelo nome dele, mas ela o deteve,

Sentia que a qualquer instante a arma gélida tocaria sua pele, mas estaria quente,

 

Era como se o calor que os unia derretesse o aço da insegurança ao seu redor,

Quase implorando por contato, o sentira soltar seu braço, mas permanecera inerte,

Sentira que o calor dele subia para o seu cabelo, em gesto instintivo e ansioso,

Seus braços o acompanharam, fazendo com que ficassem levantados e separados,

Assim que o sentiu prende-la pelos cabelos, soltara um grito de susto,

Enquanto abria as pernas para sentir o contato em seu íntimo, estava presa,

 

Sentia sua mão forte tocando sua nuca, e puxando-a ao seu encontro,

Buscando-o e evitando, deixando-a tremula e segura ante o seu corpo vigoroso,

Sua boca abrira extintiva, queria o beijo, desejava o contato, mas ele resistira,

Ela não desejava se soltar nunca, a arma, de repente parara de fazer diferença,

Queria que seu outro braço pudesse sentir seu coração agitado,

Tocasse-a, invadisse-a com aquele quê meticuloso de vigor masculino,

 

As veias dela pulsavam seu nome, em uma vibração que entregava seus movimentos,

Quando decidira tocá-lo, em uma tentativa frustrada de levar a mão para trás,

Vira-se jogada sobre a cama, de costas e estagnada em razão de paixão desenfreada,

Desejava seu toque, gemera seu nome de maneira sôfrega e tremula,

Um movimento brusco e certeiro, a tirara de sua posição de forçada resistência,

O jogo em que ela era campeã, se invertera, mas naquela hora, ninguém perdia,

 

Tudo acontecera rápido demais para conseguir pronunciar algo,

Só o que fazia sentido, era ser tomada por ele, até ver-se completa,

Embora, não soubesse mais precisar o significado de completa, ele era único,

Tudo se inovava aos seus carinhos, se expandiam dentro dela,

Virara o rosto para o lado, com a boca aberta à espera do beijo,

Sentira a arma ser deixada no chão com um estalo,

Era como se ele quisesse ganhar tempo,

 

Pensara que ele queria que implorasse, então, implorara por seu afago,

Sentira seu corpo queimar em movimentos involuntários,

Conforme ele se posicionava tomando seu corpo entre as mãos gélidas,

Acreditara que ele soltara a arma apenas para sentir o frio entre os dedos,

E isso em contato ao seu corpo quente, era bom, de um jeito desmedido,

Seu corpo fora coberto pelo dele, sem escapar um único vestígio,

Paulo, pronunciaram os seus lábios, A..., gemera a sua alma,

Embora soubesse bem o que sentia, não conseguia falar tudo,

 

Carinhos derramavam-se sobre ela, o calor derretia seus suspiros no ar,

Investidas potentes, seguras e que ela nunca sentira a dominavam,

Ela fechara os olhos e apenas desejara que nunca tivessem final,

Pareciam sido feitos um para o outro, gemidos rompiam o ar trêmulos,

Nada resistia aos seus carinhos, ele a dominava, com carinhos que penetravam,

Em cada parte do seu corpo, podia senti-lo, invadindo-a, tomando-a,

 

Ele, decididamente, era o tipo de homem que fica para sempre,

Aquele em que, você o sente e não permite-se mais soltar,

Aquele que toca a pele e ganha a alma por garantia,

Aquele que penetra onde nunca outro alguém fora capaz de chegar,

Aquele que faz você transpirar o cheiro dele, para guardar,

Para lembrar de cada momento, negando-se a acabar,

 

Seu jeito másculo, meticuloso e forte sobre ela, a deixava incontida,

Tomada por um sentimento que duraria a vida inteira,

As horas transcorriam lá fora, e os carinhos percorriam ali dentro,

Seus beijos sôfregos silenciavam os ponteiros do relógio,

Os afagos que percorriam seus corpos queimavam a ideia do tempo,

Reconheciam-se um no outro, encontravam-se em um desejo perfeito,

Em um sinal emudecido de que todo o tempo seria pouco para os dois.

quarta-feira, 10 de março de 2021

Um Outro Rosto, Mas Não Era Seu Reflexo.

Teste positivo entre seus dedos, longe do seu campo de visão,

Havia se entregado a um rapaz, acreditava ter sido levada pela emoção,

Seus olhos mais fracos que o de costume, opacos e sem destino,

Uma vantagem a seu favor, ele a amava, havia sussurrado isso aos seus ouvidos,

É certo que pediu que mantivessem seu relacionamento em segredo,

Mas, isso não passava de temor dos comentários maliciosos,

 

Ele, havia aberto um sorriso lindo quando lhe dissera

Que queria apenas o seu melhor e fazia isso para protege-la,

Ela assentiu, como se lhe dissesse um a zero,

Este seu aspecto desanuviou suas dúvidas, limpou seu pensamento,

Ele era demasiado lindo, parecia um rapaz desenhado pelos anjos,

E ainda lhe nutria sentimentos, isso era o mais prazeroso de tudo,

 

Estava forçada por seu coração a entregar-se em um ato de amor,

Seus braços fortes tinham uma capacidade de fazê-la sentir-se bem,

Ele a amava e não cansava de repetir isso em cada segundo,

Provava isso em cada abraço, ela sentia que podia acreditar nele,

Ela sorriu e lhe fez uma pausa breve, como se causasse expectativa,

Depois, jogou-se em seus braços como se não houvesse um outro dia,

 

Agora, com um teste de gravidez em mãos, estava sendo difícil processar tudo,

Ela tentara ligar para ele, pela milésima vez, mas o telefone parecia desligado,

Seus dedos estavam doloridos e marcados pelo cansaço,

Já haviam adivinhado o teclado, sabiam cada espaço, cada símbolo,

Os olhos dele, antes mansos ficaram tão arredios no último encontro,

Como se ele não a amasse tanto, não a desejasse como nos primórdios,

 

Já fazia alguns meses que estavam se relacionando, ninguém sabia de nada,

Não da parte dela, apesar de ter percebido alguns boatos na vizinhança,

Como se lhe apontassem o dedo sempre que passava na rua da cidadela,

Um aperto no coração, provocou um profundo silêncio,

Depois, um romper de lágrimas que parecia não ter mais controle,

Percebera que ele estava evasivo a algum tempo, mas ficara quieta,

 

Seus pais a olhavam de soslaio, sussurravam pelos cantos,

Eventualmente, lhe indagavam sobre perguntas tolas,

As quais ela respondia com a mesma evasiva outrora reconhecida,

Trancava-se em seu quarto, música audível, não queria pensar em nada,

Mas, não conseguia controlar, os pensamentos a dominavam por completa,

Tivesse se apegado a eles noutro momento, talvez agora, seu destino fosse outro,

 

A incredulidade do que via estava intragável, havia parado na garganta,

E estava a sufoca-la, nunca um objeto lhe fora tão pesado,

Quanto aquele teste positivo, desenhado em vermelho pulsante,

Justo a cor que ela mais gostava, se prostrava contra ela,

Sem erros, sem alternativa de voltar atrás, resultado positivo nada a mais,

Não sabia como outras pessoas suportavam a situação sozinhas,

 

Não entendia o porquê, mas acreditava que seus pais não aceitariam,

Ela os ouvira cochichar com vizinhos que a poriam para fora de casa

Caso os boatos que lhes haviam insinuado se concretizassem,

A haviam definido, para eles, pior que uma garota de rua,

Isso iria de encontro com tudo que aprendera em casa,

Agora, as evasivas estavam concretas e formavam um rosto,

 

Algo se formava dentro dela e estava prestes a sair para fora,

O amor que haviam lhe prometido voara pela janela,

A passos de vento, como um raio de sol que aquece e vai embora,

A deixando fria, amedrontada com tantos dedos apontados contra ela,

Talvez, as pessoas gostem de serem diferentes, apenas isso,

Nunca entendera, como poderiam julgar tanto e tão friamente,

 

Pareciam querer testar seu autocontrole, qual era o problema em amar alguém?

Se este alguém não cumpre com suas expectativas, de quem é a culpa?

O ato de julgar os erros dos outros parece ocultar os deles,

Será que a falsa supremacia, os torna mais fortes? Não havia sentido para ela,

Nunca tentara ser superior as pessoas, sempre fora reservada,

Mas, nunca hesitara em ajudar a todos que precisassem, agora estava reclusa,

 

Mas ela os vira falarem dela, os viras apontarem contra seu rosto,

Insatisfeitos criaram boatos falsos, denegriram sua imagem,

Agora, o jogo estava perdido, caíra em escanteio o ângulo foi certeiro,

Fosse planejado, tudo não estaria tão bem colocado,

Até mesmo a janela do seu quarto que aparecera quebrada,

Agora parecia ter tido uma razão para estar daquela forma,

 

Não fora uma pedra proveniente de um carro que passara rápido,

Não fora algum menino que passava brincando na calçada,

Ela tinha somente treze anos, como poderia reagir a tudo isso?

Não era mais que uma menina com problemas adultos,

Adultizaram ela, sua infância se perdia em outros tempos,

Agora, ela teria uma nova face, ela não seria capaz de lhe negar isso,

 

Seria forte o suficiente para arcar com seus atos,

O fizera por amor e pelo mesmo amor o manteria, mesmo que sozinha,

Lembrara o telefone de um amigo que tinha acessos restritos,

Olhara em sua carteira laranja, havia algum dinheiro sobrando,

Ligara para ele, agora era apenas sair de soslaio com a mala feita,

Tirar a foto e escolher nome novo, identidade e tudo o mais,

 

Seria uma nova pessoa, teria uma nova vida, sem contar com apoio algum,

Se a sociedade escolhera julgá-la, iria embora, não pertencia a aquele lugar,

Onde pessoas vazias desejavam esvaziar as demais para se sustentarem,

Feito vermes sobreviventes de erros humanos,

Mais tarde, regressaria com o filho nos braços, mas então, seria outra pessoa,

Que não quisessem seu perdão, que não lhe pedissem desculpas, seria outra,


Ela, agora se via de frente através de um novo rosto,

Uma nova chance, uma nova oportunidade de ser diferente,

Um caminho em que pudesse se posicionar melhor,

Porém, não era o seu reflexo que ela identificava ou contemplava, agora,

Admirava-se, através de uma outra pessoa, que embora não a pertencesse,

Lhe daria vida nova, sonhos novos em que acreditar, um novo coração para amar.

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