Eu sustentei o olhar, porém o que vi não gostei,
Embora eu pudesse sentir um sorriso em meu rosto,
Por dentro, eu me esforçava para controlar o pranto,
Não era medo o que me afastava, eram os seus atos,
O amor se apagava aos poucos, junto com os sonhos,
Era quase como se minhas lágrimas falassem comigo,
Implorando para me afastar por mais que fosse difícil,
Mesmo que elas não estivessem visíveis, eu as sentia,
Minha alma estava ferida, minha vida em ruínas,
Mas ele não via, sozinha a implorar por socorro, não ouviria,
Distante demais para entender, descrente para sentir,
Em minha alma ecoava uma pergunta sem resposta,
Se aproximara para me conquistar apenas para me destruir?
Eu me encolhi incapaz de conter o pranto que escorria,
Apesar de ele estar próximo, eu o procurava sem encontrar
nada,
Hesitei ante a ideia de tê-lo de volta, ao menos uma vez,
Ele havia ido embora, ainda assim parecia que a decisão era
minha,
Fez as malas, batera a porta atrás de si e eu ficara com a
culpa,
Como se eu tivesse em mãos alguma alternativa em que me
apegar,
Se havia algo nelas, eram lágrimas que sofriam por eu me
sentir sozinha,
Ferida, fria e encurralada, me apaixonei apenas para perder
no final,
Antes nunca tivesse amado, antes tivesse nunca sentido nada,
Uma voz saia sôfrega por uma garganta entrecortada,
Voz monótona de um alguém que já não tinha vida alguma,
Balbuciara algumas sílabas, não precisei indagar quem era,
Não estivesse desolada, gelada em minha solidão vazia,
Teria tentado me esquivar, me proteger de alguma forma,
Havia mais sofrer em mim do que eu poderia acreditar,
Eu, definitivamente, havia me apaixonado e visto ele ir
embora,
As lembranças soavam como punição, viam como açoite as
lágrimas,
Se recusavam a me deixar esquecer, todavia impediam de
lutar,
Sem forças me via fraquejar, perdia sem ter culpa alguma,
A voz que ressoava ao meu ouvido não era amistosa,
As lembranças que vinham não tinham a intensão de agradar,
O contrário do que haviam feito quando ele iniciara em minha
vida,
A voz que eu ouvia agora era fria, desprovida de surpresa,
Pude ver meu rosto refletido nela pela primeira vez,
Rejeitei a visão, nela eu não estava nada bem,
Olhos escondidos, pulso fraco, afogueada por lágrimas,
A voz morta trazia o aborrecimento de me convencer a
levantar,
Queria me mover do lugar e me levar até uma faca,
Meu pulso parecera se acelerar, desejava a mesma coisa,
Ninguém para me ver, com certeza alguém me ouvia,
Mas ouvia ela também, diante dela eu não era nada,
Levantei a cabeça o suficiente para ver se os remédios fizeram
efeito,
A voz soara branda, queria se certificar quanto ao
resultado,
Embora as palavras fossem neutras, tive a impressão de serem
minhas,
A voz que eu ouvia, vinha da minha alma, acusava estar
vazia,
Acusava se sentir prisioneira de lembranças condenadas,
O coração pulsava, delatava estar embebido em lágrimas,
Um cálice de dor era servido em seco por minha garganta,
Eu sorvia cada gota, engolia cada dor em palavras agonizadas,
Promessas condenadas a sepultura pela mesma mão que me afagara,
Mas como ele mesmo dissera: querida, adeus e mais nada;
Recordo ter lhe lançado um olhar em dolorosa dúvida,
Ele sacudira a cabeça, se dirigira a porta sem olhar para
trás,
Nossas juras de amor mandam lembranças a cada hora,
Desde aquele momento não me permitiram a paz,
Eu agradeceria se ele pudesse recordar nossas juras,
Se ouvisse meu pranto, soubesse a dor em que me sinto,
Me vejo cair sem ter suas mãos para me afirmar,
Me noto abatida, como se meus objetivos estivessem ocultos,
Como se sombras enevoassem nossos sonhos, levando-os,
Meus lábios ainda esboçam um sorriso, não o sinto,
O fio da navalha poderia me percorrer agora, seria
bem-vindo,
Meus murmúrios eram audíveis, sentia medo, poderia tocá-los,
Sentia toda a dor ao meu redor, menos a mim mesma,
Não tinha um nome para chamar, rejeitava sua partida,
Nem mesmo a voz que sofria era bem-vinda ao meu lado,
Me sentia morta de qualquer forma, o que mais ela queria?
Eu tentava contrapor, me direcionar, mas só restavam
lágrimas,
O sorriso desfalecia em meu rosto, afogado em dor,
Insistira em levar os sonhos, mas recusara o amor,
Não era queixa o que me feria, eram as lembranças,
A dor de ter acreditado no amor de quem não merecia,
Minha vida caía ao meu redor, em ruínas quebradiças,
A dor ardia a pele onde um dia houveram carícias,
Devorava a minha alma, recusava-se a me deixar sozinha,
Com meus sonhos quebrados mal podia ouvir meus gritos,
Quem me dera poder entender o motivo de me ferir tanto,
Enquanto minha dor falava a visão se escurecia,
Sem tempo para pegar a faca, sem forças para fazer algo,
Tudo ao meu redor sumira como se fosse imaginação minha.