terça-feira, 18 de março de 2025

Casamento

Ela puxou as janelas de vidro,
Com toda a força,
Já chovia lá fora,
Estrondos e trovoes,
Vento e muita chuva.

De repente,
Ainda segurando os troncos
Da janela
Encostados um no outro,
O vento fez um giro
Com toda força,
E a chuva voou em seu rosto.

Feito um pingo de misericórdia,
Gelado, líquido e intenso
Em seu rosto,
Os lábios estremeceram de frio,
Os estilhaços da janelas
Foram limpos de sua cara.

Seu marido entrou no quarto,
Segurou no batente,
Tocou a porta fazendo barulho,
Ela não virou-se mas o reconheceu,
Pelo cheiro, e jeito.
Ele estava a olha-la.

A chuva colou o vestido fino
Bege contra seu corpo,
Com efeito plástico
A molda-la de parte a parte,
Molhou o chão,
Chegou até a cama.
Ela virou-se de ímpeto
Para ele.
- fechei a janela e o vidro partiu-se.
Ele soube que não.

Soube que ela quis o resultado.
Ela andou por ele.
Ele a viu de perto,
Gelada e molhada,
Passar por ele
E recostar-se.
Ele apenas soltou sua mão,
Tocou sua perna.
Olhou-a.
Ela seguiu séria,
Foi até o corredor
Feito de pedras
Que parecia comprimi-la.
Sentia-se apertada,
Angustiada,
Presa aquelas paredes,
Era como se elas a estivessem
Sufocando.

Ela levou as mãos até a garganta,
Quis arrancar fora,
Quis retirar alguma fala,
Saber o que dizer.
Agrediu-se.
Desferiu um tapa no próprio rosto,
Deixou-se cair até o chão de pedra
Escurecido no tom marrom,
A água ainda resfriada seu corpo,
E ela achava que já não tinha alma
Soltou o braço com força no chão,
Ele passou por ela,
A passos seguros,
Ergueu uma perna sobre ela
Depois outra e depois foi.

Não.
Não havia amor.
E isto lhes doeu.
Ela abriu a boca para chama-lo,
Mas sua boca só crescia
E não sabia falar,
Então, ela agachou-se
E quis comer o chão.

Jogou-se para frente do vestido,
Lambeu aquelas pedras,
Tentou morder,
Feriu os lábios,
Agora estava destruída,
Arruinada e inchada.
E não disse nada.
Chorou.

Só sentiu que chorava
Quando as lágrimas ficaram quentes,
E empossavam-se ao seu redor,
Se elevou dali,
Quis fugir,
Gritar, fazer algo.
A custo ficou em pé,
O vestido colava-se a sua frente,
Então, ela retirou a calcinha,
E passou na parede,
Depois deixou-a cair.

Em suas costas o vestido
Estava quase todo seco.
Ela sentiu dor intensa
Lhe cortar o peito,
Juntou os braços sobre o peito,
Depois os abriu contra o corredor,
Batendo-os em cheio contra a parede.
Doeu.
Doeu demais.

Mas ela não gritou.
Ajoelhou-se no chão.
Rastejou de volta ao quarto,
Todo molhado,
A chuva jorrava lá fora
Feito uma fonte do céu,
Caia escorrendo.
Ele chegou,
Trouxe outra janela,
A trocou.

A viu recostada na parede
Ao lado da janela,
Tomando a chuva no peito,
Não disse nada,
Parecia não encontrar palavras,
Não se importar,
Ou terrivelmente, não vê-la.
Vendo ele imóvel,
Ela o achou bonito,
Tirou o vestido,
Deixou-o caído
E foi até a cozinha fazer o jantar,
Decidiu recuperar o casamento,
E desistir de dores
Que não conseguia compreender.

Serviu a mesa,
O esperou comer,
Sentiu em seu colo,
E ficou fazendo carinho
Em suas orelhas,
Bem encostada nele,
Se sentiu segura.
Dormiu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sim

Celio estava dirigindo Compassivo o seu Vectra branco, Escolheu aquele carro Para levá-lo Ao seu próprio casamento, No in...