sábado, 22 de março de 2025

Advogada

A garota correu,
Em seu escarpin
Vermelho salto baixo,
Cruzou as ruas da cidade
Numa velocidade inacreditável .

Chegou ao terminal
De recarregar o cartão de lotação,
Apresentou o atestado de
Regularidade acadêmica,
Sim.
Uma grande vitória,
Iniciava o curso de direito,
Tinha descontos na
Passagem de lotação.

É fato.
Ninguém deseja estar
Um segundo sequer
Naquele local
De cheiro asqueroso.
Mas, naquele instante
Ser ninguém era perfeito.

Sentiu no último banco,
Colocou a mochila no colo,
Estudante,
Outra vez,
Rumo alto a faculdade.

Um homem bêbado entrou,
Sentou ao seu lado,
Depois de poucos solavancos,
Vomitou longe.
Uma senhora levantou-se
De seu banco e o esbofeteou.

Ele caiu deitado,
Aparentemente desmaiado
Em seu braço.
Ele se espantou,
Levantou-se,
O organizou em seu banco,
E ficou.

Estava feliz,
Conquistou uma vaga
Na universidade de direito,
E ainda uma bolsa
Integral da mensalidade.
Não iria pagar.

Então,
O valor auferido no trabalho
Diurno naquela empresa
De comunicação,
Sobraria todo para ela
Gastar com aluguel, comida,
Água e luz.

Trabalhar era difícil,
Acordava cedo,
Morava longe do trabalho,
Lá o aluguel era barato,
Não podia morar
Mais próximo,
O salário era baixo
E não conseguia emprego melhor.

Tinha que pegar o ônibus,
Correr até o trabalho,
Lá vendia telefones
E planos para os aparelhos.
O dia todo pendurada no telefone,
Falar, ouvir, vender,
Resolver problemas de linhas
Telefônicas.

Saía do trabalho
Rouca e ensurdecida.
Sobrava pouquíssimo tempo
Para os estudos,
Mas sempre tinha
Um livro em mãos.

Sentada no ônibus,
Num pequeno intervalo
Sequer que estivesse estava lendo,
Anotando e estudando.

Outro dia,
Uma mulher não chegou
A tempo no hospital,
Teve o filho dentro do ônibus,
Que continuou em movimento,
E a moça chegou a tempo
Para a prova.

Suas notas continuavam boas.
Alguns alunos gostavam
De levar alimentos nas salas,
Ela sentia fome,
Vê-los comendo dava mais fome,
Mas ela foi forte e manteve-se.

A barriga roncando
Ensurdecidamente em sala,
Ela avermelhava,
Baixava a cabeça,
E seguia:
Anotava no caderno,
Anotava no computador,
Anotava no celular.

Lia o livro,
Ouvia o professor,
Questionava,
Respondia.
Não comparecia as festas,
Preferia tirar todo o tempo
Para os estudos.

Passou a ser seguida
De forma estranha pelos alunos.
A seguiam no banheiro,
Atentos para os barulhos
Lá de dentro,
Agiam como se ela tivesse
Invadido o banheiro masculino.

Verificavam o papel higiênico,
O tamanho de suas curvas,
De sua vagina e ânus.
Bem.

Não tardou,
Ela acreditou
Que foi vendida.
Sem saber por quem
Ou para quem.
O foi.

Fechou-se em si mesma,
Buscou outras mulheres,
E passou a se vestir feito elas,
Discreta e retraída,
Como se fosse uma sombra
Por entre aquelas paredes
Geladas pelo ar condicionado.

Ela tinha pouca roupa,
Tremia ante o frio,
Saía fora da sala e havia geada,
Até neve,
Seus pés e dedos congelaram,
Em certa época,
Ela não os sentia,
Então, apoiava-se em seus cotovelos
E digitava com o que podia.

Demorava até duas horas no ônibus
Para deslocar-se até o trabalho,
E até a universidade
Depois até em casa.
Certa vez,
Falava ao celular com seu pai,
Esperando o ônibus para ir pra casa,
Um rapaz chegou por trás
E levou o telefone,
Respondeu ao pai
Antes de desligar:
“Ela não está”.

Desligou e foi.
O dinheiro gasto com o aparelho
Foi imprevisto,
Causou desconforto
E diminuição da comida.

Ela sonhava em comprar livros,
Os que usavam eram todos
Da biblioteca da universidade,
E não podiam ser riscados,
Ou ter anotações,
Tinham que ser devolvidos
A cada prazo
Ou o tinham multas significativas.

Ninguém parecia
Lhe nutrir afeto,
Nos corredores
Batiam em seus braços
E não se desculpavam.

Certa vez,
Um homem bonito
Vinha em sua direção,
Bateu em seu braço,
A deixando em dor terrível,
Depois virou-se e disse:
“ Desculpa”.

Nisto cuspiu em seus lábios.
Ela chorou de dor,
E saiu.
Seguiu,
Lavou o rosto.
Entrou na sala.
Estudou.

Os professores e alunos
Trocavam de sala sem aviso prévio,
Ela chegava na sala
Não havia ninguém mais lá.
Demorava até encontrar
Em qual estavam
Batendo de porta a porta.

O nível do conhecimento
Aumentava e exigia estudos,
Logo não poderia conciliar
O trabalho com a faculdade,
Teria que escolher,
Optaria pela faculdade
Que lhe daria bom futuro.

Emprego, trabalho
Dinheiro e sustento próprio.
Os grupos de pessoas
Pareciam rir dela,
O que ela estudava
E colocava em sala
Era sempre questionado,
Não tardou,
Ela designou-se feia.

Deslocada de todo o resto,
Como se houvesse
Algum inconveniente nela.
Ela foi apagando-se.
Formou-se sem única amizade.
Foi aprovada na Ordem dos Advogados
De Santa Catarina.

Agora era advogada,
Finalmente,
Ouviu falar que as provas
De aprovação eram todas vendidas,
Mas que ainda assim,
Antigos colegas não
Estavam sendo aprovados.

Contudo,
Não conseguiu trabalho.
Teve que abrir escritório próprio.
Destino? Área criminal.
Meio de conseguir clientes?
Aguardar em frente ao presídio.

Pois bem,
Selecionadas por eles.
Alguns estavam lá por erro
De identificação,
Outros haviam pago o tempo
De condenação
E continuavam lá
Por descaso,
Não havia local suficiente
Para todos,
Não havia comida ou água
Ou limpeza.

Um rapaz com pescoço alto,
Passou por ela lá fora,
De dentro da viatura lhe fez sinal,
Levou a mão em sua direção,
E apertou-a,
Como se esmagasse seu rosto.
Ela estremeceu.

Um policial entrou lá dentro,
A viu na entrada
Abriu bem os olhos
E levou um dedo até seu olho,
E o empurrou para frente,
Depois retornou o dedo,
E empurrou do ponto do sinal
Em que havia parado
Ainda mais pra frente,
Como se tivesse arrancado o olho
E o colocado na ponta do dedo,
Assim, era, agora, o dedo que via.

Outro, levantou-se da viatura
Bateu com as mãos em ambas
As pernas,
Como se dissesse “sente”.
Ela tremeu de medo.

Os olhos dele eram tão negros
Quanto a morte,
Parecia ser um escuro vazio
Sem vida alguma.

O presídio fedia merda e mijado.
Ela conseguiu entrar lá,
E ver alguns para analisar
As necessidades e possíveis ações,
“mandado de segurança,
Pedido de hábeas corpus,
Revisão de pena”,
E outros.

Para isto,
Ela foi obrigada
A ter relações íntimas
Com eles,
E cada vez menos
Lhe entrava em opção alguém compatível.
Conseguiu alguns clientes,
Conseguiu os ajudar perfeitamente,
Na sala íntima,
Ela tirou a roupa,
Ele o esperava nu,
Ele tinha feridas e pus,
Ela chupou-o.

Lambeu suas pernas
Purulentas,
Ele os trouxe clientes
Sem precisar que fizesse sexo.
Ela foi dele, inteiramente.
Fez audiência,
Da sala do advogado,
Ele não sala do presídio,
Então, em meio a audiência,
Ele a expôs,
Pediu para falar em particular,
Ela teve de chupa-lo lá.

Para que todos ouvissem.
O lucro era mínimo.
Ela não tinha outro emprego,
Ou meio de ganhar a vida.
Chorou e lambeu suas feridas.

Já não sala do juiz,
Foi obrigada a deitar-se
Em sua mesa,
Ele meteu-lhe o pênis
Por trás,
Então, decidiu que ela
Podia fazer a audiência
Usando terno barato.

Visitando o presídio,
Chegou a tempo de ver
Uma colega ter o pescoço
Cortado por uma unha
De um presidiário.

Caiu no chão apenas o corpo.
Ele não nutria amor
Apenas ódio.
Outro recebeu-a em visita íntima,
Foi lamber sua vagina,
Mas preferiu morder,
Mordeu ela por inteiro,
Mordeu seu ânus até arrancar
Merda,
Merda e sangue.

Ela continuou a chupar
O presidiário das feridas,
Comeu pus como se fosse
Manteiga.
Esperou no sol
E na chuva eles adentrar
No presídio,
Até que alguém a chamasse.

No presídio feminino,
Soube que uma das detentas
Não gostava de seios,
Uma colega advogada entrou lá
A trabalho,
Perdeu uma das mamas.

Contudo,
O presídio dos jovens
Menores de idade
Parecia ser interessante,
Lá eles não sofriam pena,
Sofriam reeducação social.
Nada mais simples.

Na sala,
Dividida por uma grade,
O adolescente tirou o pênis,
O colocou entre a grade
E meteu em sua boca
Enquanto ela conversava
Com ele assuntos jurídicos.

Pronto.
Ele gritou.
Apenas pronto.
Ela foi algemada imediatamente.
Presa por estuprar
Menor de idade.

Chorou.
Pagou fiança,
Pode responder em liberdade.
Correu, na primeira oportunidade
Para o presidiário das feridas,
O chupou,
Transou de toda forma,
Implorou amor.
Lhe era terrível verbos presos,
Em fila de dois a dois,
Acorrentados em si mesmo,
E uns nos outros.

Ofereceu tudo que tinha,
Para o presidiário das feridas,
Se apegou.
Era dele que lhe vinha o sustento.
Se cobria numa túnica
E o visitava,
Vivia a perambular
Pelo presídio,
Em nenhum outro lugar
Lhe surgia clientes.

Ela chupava o pênis dele,
E o rosto fervia em fogo,
Algo dentro dela
A estava consumindo.
Estava morrendo.
Um dia desfaleceu,
Lá dentro da sala íntima.

Caiu nos braços dele,
O pus dele a matou,
Fogo lhe cobriu o rosto
De maneira que se tornou
Irreconhecível.

Quase sem vida,
Lutando por seus últimos
Suspiros,
Ela caiu no chão sujo,
Infestado de merda e mijo.

Lá do alto,
De um alto falante surgiu
Uma voz,
Uma voz que ela reconheceu
Sem saber por quê,
Lá do alto uma mulher disse:
- te matei!
Ela não pode mais respirar.
Foi dada pela polícia
De comida aos presos.

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