Aos dezessete anos
Você busca emprego
Mas não encontra,
As pessoas olham para seu rosto
E não encontram maturidade
E não se importam com o fato
De você precisar viver.
Mas eu,
Eu encontrei.
Ficava distante da minha casa,
Mas tudo bem,
Eu iria receber meu próprio salário,
Poder viver,
Ajudar minha família.
Tudo ficaria muito mais fácil.
A questão é que o trabalho
Se localizava a dez quilômetros
De onde eu morava,
E eu precisaria ir até lá.
Ok.
Tênis nos pés,
Roupas confortáveis,
E vamos lá.
Saia cedinho de casa,
Me alimentava mal,
Eu não vou mentir,
Eu tinha pouca comida,
Quase nada,
E os quilos extras a fome levou.
Restou uma garota esquálida,
Pernas grossas e ligeiras,
Mas bem,
Um dia peguei carona,
Parecia mais simples,
E foi,
Mas no caminho havia um motel
Ou dois,
Eu nunca soube,
Porquê nunca fui garota
Dada as felicidades da vida sexual.
Eu era o tipo inibida mesmo,
E fria,
Gélida no que se refere
A troca desregrada de parceiros
E por regrada
Eu não sabia escolher um número.
Certo,
Paramos no motel,
Garotas nuas esperavam
Na entrada e ao redor,
Eu diria amedrontador,
Mas eu precisava cruzar por lá.
Entramos,
Chegamos no quarto,
E bom,
Ele retirou aquela porcaria
Dele para fora,
Não foi nada sexy,
Eu chorei,
Foi a primeira vez
Que chorei pra não foder.
Mentira,
Não foi mesmo.
Antes disso,
Foi quando meu ex
Que alegava me amar muito,
Não parou mais de meter
Seu pênis para dentro de mim
Com investidas rasgantes
Da minha carne,
E seu sobre peso a me esmagar.
Bem,
O cara retirou o pênis
E disse:
- põe a boca.
Eu me assustei,
Meus olhos encheram
De medo, lágrimas e pavor.
Eu temia que aquelas mulheres
Nuas entrassem lá
E batessem muito em mim.
Minhas pernas correram para
Uma cadeira,
Subiram nela
E minha boca falou:
- eu posso dançar
E você nem iria querer me parar.
Mas, ele riu alto
E ele quis.
- tá bom,
Desta vez eu toco punheta,
Não quero ver garotinha chorar.
Eu me senti inútil,
Pequena diante de um inevitável,
Frágil demais pra me defender.
Ele gozou,
Extravasou seu orgasmo,
E eu pensei
O que há dentro disto?
Retornamos para o carro,
Ele pagou a maldita conta
Que eu só pensei que
Ficava em dívida,
Envergonhada e destruída,
Em direção ao trabalho.
Ok.
O portão levantou,
A gente saiu de casa para a rua,
Ali havia um amontoado
De casas desajeitadas,
Mal feitas,
Quase caindo
E caindo,
E muita,
Muita gente amontoada,
Crianças pedindo esmola
E mostrando o pênis,
Crianças de vestidos
E crianças nuas,
E venda e drogas.
Eu só senti medo,
Mas logo chegaria ao trabalho.
E tudo iria passar algum dia,
No dia em que aquela gente toda
Tivesse onde viver,
Tivesse o que comer
E um trabalho por salário justo.
Um dia,
Neste dia,
Tudo mudaria.
Poxa,
Eu pagava aluguel,
Não estava tão distante
Daquela realidade,
Ou eu me moveria
Ou o destino me poria
Numa caçamba
E me jogaria ali no porta entulhos.
Despejada,
Jogada na sarjeta,
A prostituir meu corpo
Por uma miséria
E sonhar que este valor
Seria suficiente para viver,
Até que meus ossos se quebrassem
Por meter tanto pênis,
E eu não aguentasse mais
Nem com o próprio peso
De um corpo magro
E esfomeado,
E destruído por pênis duros
E febris por prazer
Que eu nunca sentiria...
Bem,
Minha amiga entrou nisto,
Achou rentável,
Os garotos ligam,
Ela fala o preço,
E eles saem.
Eu não tenho coragem
Pra isto,
Sou fria demais.
Me enoja estes rostos,
Sonho com um homem
Que não apoie a miséria,
E até sinta pena
De garotas necessitarem
Se sujeitar a este rebaixamento
De ser humano.
Mulher não merece ser objeto
De homem,
Nem homem,
Nem idosos ou crianças.
O uso de drogas ali nesta rua
Parecia livre,
Eu não soube dizer,
Mas pensei,
Eu, na verdade,
Não conheço droga.
Bem,
Cheguei ao trabalho,
Vamos lá,
Ali é uma fábrica de tênis,
Eu e uma colega trabalhamos
Numa máquina de fazer o desenho
Por meio de prensa e calor.
Vem um desenho
Pintado a tinta,
E a gente põe na forma
Para desenhar a fogo,
Um calor estranho,
A mão da gente
Perde os movimentos,
De levar e puxar a mesa
Com a forma e o desenho
Sobre ela,
O desenho é pintado
Num plástico
De onde sai o calçado,
Depois disso falta
Apenas por a costura,
E a sola.
Minha colega jura
Que é virgem,
Ser virgem é o que é
De maior importância.
Eu não,
Eu sou aquela que procura
Um garoto legal.
- por quê?
Ela indaga.
- porquê eu gostaria de ser protegida,
Me sentir segura.
- ah.
Ela responde
E olha para fora,
Em meio aquela poeira toda,
Cheiro de tinta
E plástico queimados
Insuportável.
Há uma pequena janela,
Onde a gente olha
E imagina se é dia ou noite.
É tudo fechado,
Tem luz fraca.
Logo sentimos fome.
As horas passam,
Os dias se vão,
Os meses cruzam,
E o salário é baixo,
O trabalho é árduo.
Um dia o salário tardou,
Depois teve descontos estranhos,
Até que não veio.
Nisto eu achei um garoto
Numa moto e me apaixonei,
Ele também.
Certa vez,
Ele me confundiu com
Minha colega,
- Olá.
Ele falou ao tirar o capacete
E a beijou em frente
Ao nosso trabalho,
E eu fiquei olhando.
- conheço ele a tempos.
Ela falou.
- eu também.
Ele é meu namorado.
Eu respondi.
Ele me olhou assustado,
Pôs o capacete e saiu.
Eu tive medo de quê morresse,
Senti um aperto no coração,
E lágrimas no olhar.
O chefe chegou,
Não parecia não ter dinheiro
Para estar tardando o salário,
Mas ele não ofereceu desculpa.
A tarde,
Colocaram nós em fila,
E uns homens estranhos
Bateram na gente
Usando uma madeira,
Uma paulada
Na cabeça de cada.
Lá havia uns cinco homens
Que trabalhavam,
Eu achei-os todos gays,
Mas, isto não tem importância.
Todas caímos
Na primeira paulada.
De repente,
Está tudo escuro,
Escuro demais,
Eu me sinto apertada,
Sinto dores horríveis,
Há algo muito grande sobre eu.
Eu junto toda a força,
E empurrou,
Uso minhas mãos e empurrou mais,
Estou enterrada,
Eu percebo isto
Logo que consigo sair de lá,
Junto comigo já muita gente,
Eu chamo minha colega.
- Jacira, Jacira.
Acorda.
Dou uns tapas em seu rosto.
Ela parece realmente morta.
Estou num local com mato
E gramado alto,
Saio dali
E logo encontro a rua.
Do lado da rua,
Nas proximidades
Está o chefe,
Eu o reconheço,
Acompanho escondida
Até onde ele vai,
O vejo entrando num barracão,
E dali eu vejo a empresa
Onde eu trabalhava,
Porquê imagino
Que tenha sido demitida.
O encontro se alimentando
Das garotas,
Sim,
Cortando pessoas aos meio,
Dividindo suas partes
E se alimentando delas.
Ele não paga o salário,
Sobrevive dos que encontra,
Olho para aqueles moradores
Ali de perto
E me apiedo.
São seus escravos,
Não possuem vida,
Pertencem a este homem,
E agora eu estou morta.
Vejo ele discutir com a
Mulher que trabalha na limpeza,
Irritar-se com ela,
E a amarrar em uma cadeira,
Depois com ajuda
De três homens
Ele derrama uma cera sobre ela,
E depois algo mais espesso
E faz uns desenhos
Numa espécie de estátua feminina.
A estátua chora sangue,
Eu vi
Quando numa data
Bebi um pouco
E encontrei coragem para ir lá,
Eu a vi na porta de entrada
Da empresa,
Ela sangrava pelo
Aspecto de onde eram seus olhos.
Por sorte,
Meu namoradinho
Passou de moto lá
E me pegou,
Nós fomos embora,
Eu me escondi um pouco,
Decidimos nos casar.
Quando fomos ao mercado
Ver a carne pra festa,
Ele reconheceu o seio
De Lindara a venda
Com a descrição de se tratar
De carne bovina.
Eu senti nojo,
Vomitei e desisti da festa.
Grávida,
Eu temo por nossa família.
Eu troquei meu nome,
Eu uso o sobrenome do meu esposo.
A empresa cresce a cada dia,
Lá sempre há filas
De pessoas levando currículos,
Eu quase não durmo,
Sempre sonho com terra.
Certa noite,
Sonhei que uma caçamba
Derrubava terra em nossa janela,
E que sujava a parede,
Mas meu marido
Limpou usando uma pá,
E eu subi na escada
Com a mangueira de jardim
Para lavar,
E de repente,
Lá no final do bairro
Estava o carro dele.
Eu gritei alto e acordei,
Me abracei nele,
Me agarrei a ele.
Agora não consigo abrir a porta
Ou as janelas...
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