quarta-feira, 16 de abril de 2025

Beijo

- o senhor não me mete medo.
Ela disse desafiadora,
Com seu tom de coragem
Ensaiado mil vezes,
E por isso, perfeito.

Metade dela na penumbra,
Outra metade a mostra,
Com sua minissaia rodada,
Pés descalços,
Meia lilás transparente.

Ele baixou os papéis
Sobre a mesa de madeira branca,
Levantou o dedo indicador
Para o alto e disse:
- e é medo que eu quero lhe meter?

Seu tom alto e eloquente
Ecoou por todo o lugar,
Depois pareceu ecoar
Dentro dela,
Ela estremeceu
Desaforada e atrevida.

Foi com toda a culpa
Buscar briga
Por alguma razão absurda
Que decidiu elucidar.

Como sempre,
Aqueles lindos olhos escuros
Sempre que podiam
Buscavam escândalos,
Atrevidos,
Não suportavam vê-lo
Compassivo.

Ela abriu as pernas,
Jogou uma perna para a frente,
Brincando com as luzes.
- este dedo seu,
Só me faz cócegas.
Respondeu
Com o queixo levantado
Naquele seu ar inocente.

Fora as acusações
Mais absurdas,
Ela gritava de maneira
Alucinada,
Não poucas vezes,
Fez seu pai surgir
Aturdido aonde estavam
Em razão de brigas mais corriqueiras.

Ele levantou-se da cadeira,
Encostou-se na mesa,
Mexeu um ombro
E sua camisa com os botões
Abertos escorregou
Por seu peito,
Deixando seus pelos a mostra.
- você confia em sua beleza inatacável?
Indagou ele.

Com um dedo levantado,
Depois, juntando outro dedo
Ao lado daquele,
Após isso,
Ele baixou a mão
Com os dedos para o alto,
Como se acariciasse o ar.

Ela deu um passo a frente
Em desdém.
- faria melhor se saísse
Detrás desta mesa.
Respondeu com os lábios
Trêmulos e vermelhos
No batom aveludado.

Ele simplesmente
Baixou um dedo
Sobre a mesa
E o balançou de um lado
Ao outro.
- mentira.
Ela gritou.
Atirando o dedo desafiadora
Para o seu rosto.
- você mente.

Ela falou,
Indo até ele
E encostando o dedo
Em seus lábios.
O peito de ambos arfava.
Ela deu de ombros
Enquanto dizia:
- você não me dá medo.

Ele saiu detrás da mesa
Rápido,
Juntou seus ombros eretos,
Manteve-os comprimidos
E a retirou da sala,
Fechando a porta atrás dela.

Depois de fechar,
Abriu-a apenas para rir dela.
Encontrou ela ainda lá,
Estagnada e implacável
De costas.

Então, a juntou pelos ombros
E a virou
Trazendo-a para um beijo
Sôfrega e fogoso.
Depois a empurrou.
- me deixe trabalhar.
Fechou a porta.

Deixando ela plantada lá,
A esperar suas mudanças
De humor repentinas.
Contudo,
Esperado algum tempo,
Virou-se beijou a porta,
Mil vezes,
Quando não teve mais
Cor nos lábios saiu de lá.

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