Eu tinha onze anos
Quando meu pai
Chegou para mim
E falou:
- filha, você consegue
Ajudar o pai o máximo
Que você puder
E quanto mais você puder?
Nós estávamos
Em uma estrada improvisada
No meio da nossa roça,
Eu olhei para o final da roça,
Retornei o olhar para o início
E o olhei com seriedade.
Então, meus olhos
Se apiedaram,
E eu quase chorei:
- ajudo sim pai.
Vou fazer o máximo
Que eu puder.
Naquele ano eu trabalhei,
Fiz o máximo que pude,
Me entreguei com amplitude.
O trabalho se desenvolveu
Com maior facilidade,
O rendimento foi maior,
Nós adquirimos uma
Junta de bois mansos,
E consertamos nossa canga.
Foi mais simples,
Plantamos milho,
Feijão, abóbora e melancia.
Os bois eram fortes,
A canga nova rangia
Em seus pescoços
E o trabalho seguia até o tardar.
Eu trabalhava na frente
Desbrotando os tocos,
E depois atrás retirando
As pedras grandes da verga.
No segundo ano,
Em junho,
Eu olhei para o meu pai,
Na mesma roça,
E sentei sobre uma pedra,
Chorei de dor e cansaço.
Então, indaguei:
- pai, como o senhor
Com tantos anos
De trabalho pesado
Não perdeu o movimento
Dos braços e até da coluna?
Ele me olhou sério,
Seus olhos se nublaram.
-filha, um homem
Quando se torna pai
Ele não perde movimento,
Ele ganha força!
Ele respondeu,
Guardando a suiteira
Entre os braços do arado,
Mandando os bois
Pararem para descansar
Um pouco.
- pai, com dois anos
De trabalho árduo
Ajudando o senhor,
Eu perdi o movimento
Da minha mão direita.
Eu disse,
Não conseguindo me conter
De tanta dor.
Ele ficou triste,
Olhou para o céu e disse:
- descansa filha,
O pai segue a partir daqui.
E ele seguiu,
Ele afundou aquele arado
Na terra com toda força,
Arrancou tocos na força,
Arrancou pedras lá do fundo
Da terra.
E acima da minha dor
Eu senti vergonha
Por estar parada,
Por ver meu pai
Se dedicar tanto
Para trazer comida
Para nós,
E eu me entregar
Para a dor.
A dor tornou-se simples.
Eu juntei o facão afiado,
Coloquei no canavial,
E cortei cana sem parar,
Amontoei na beira da estrada,
Separei as folhas do talo,
As folhas eu daria de pasto
Para o gado,
E com o talo
Faríamos açúcar.
E trabalhei com ímpeto
E vontade.
Chegou a noite,
E meu pai não baixou a corda
Dos bois,
Eu juntei a cana
E joguei na carroça,
Enchi ela por completo.
Com o pasto verde e forte,
A vaca daria leite,
E logo traria cria
Para aumentar a quantidade
De gado no potreiro.
Eu coloquei meu braço
Esquerdo na terra,
Eu senti dor
De não conseguir mexer,
Nem direito nem esquerdo,
Então, afundei naquela terra,
Tentando afundar a dor,
E plantamos tabaco.
Passou inverno,
E eu dei uma palmada
No boi vermelho
Da direita da carroça carregada,
Me voltei para meu pai,
Enquanto sobia
Na carroça,
Pisando na roda dianteira:
- pai, hoje eu perdi o outro
Braço.
Ele subiu,
Pegou as cordas,
E bateu de leve
Sobre os bois,
Encostado na tampa
Da frente da carroça:
- filha, na família
O pai é o último a
Perder movimentos,
E o último a conhecer está dor.
E ele seguiu.
Porquê um pai
Segue pela gente,
E ele não diminuiu
As horas de trabalho,
Porquê um pai ama a gente.
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