quinta-feira, 31 de julho de 2025

Marcia: A de Palavras Cruéis

Eu estava disposto
A perdoar o que primos fazem,
As crueldades
Que são capazes de causar,
Em garotas tão lindas e frágeis.
Contudo, conhecer Márcia
Me prestou grande auxílio
No que se refere a este aspecto:
No que pessoas normais
Tem de atrativas,
Ela possuía pingos de tudo
Em excesso.
Aliás, estes pingos de excesso
Em beleza, carisma e educação,
Ela, ao ver, os malditos primos
E recordar tudo que passou
Os transformava em chuvas
De lágrimas,
E não foi pouco
Que sua dor me compadeceu.
Porém, ela se colocava
As evasivas,
Se distanciava de todo homem,
Acreditava em bons valores,
E preferia conversar
Ao invés de entregar seus beijos
E ceder as paixões,
Daria para se dizer
Que os malditos primos
Fizeram um bom trabalho
Em seus desvalores.
Soube e não foi por acaso,
Que Márcia tem um excelente
Gancho de direita cruel,
E um dom para chutar os pontos
Mais sensíveis de um homem,
Tudo isto,
Envolto naquele rosto perfeito,
Corado pelo ódio,
E punhos fechados para o amor,
E lábios embebidos
Pela maldade incrustada
No olhar inocente.
Enquanto mulheres normais
Diluem suas palavras
No néctar do mel,
Márcia parece preferir
Adoração a maldade,
Não poupa xingamentos,
Ou cobranças pelo que chama
De caráter,
Odeia promessas,
E omite toda jura de eu te amo,
Não se convence por elogios,
E não polpa socos.

Em Fuga

Mentiroso, trapaceiro e covarde,
Eu jamais abandonaria
Um parceiro de arruaça,
Bem, nem me espinho a ruas,
Então, campeão no que digo,
Melhor no que faço,
Eu luto sozinho,
Mas, para os outros: acompanhado.
Se a questão for sinceridade,
Ou jogar limpo,
Ou mesmo coragem,
Já sabe:
Não condiz comigo.
Sempre achei que a questão
Maior é a vitória,
Daí proveio meu lema:
Bater pelas costas
E me aproveitar do que puder.
Neste intuito me vem
Em mente uma artimanha simples:
Chego por trás,
Aponto o dedo para a frente
E indago:
“O que é aquilo?”
Enquanto ele se distrai
Eu ataco,
Com único golpe
O jogo ao chão.
Com a experiência dos dias,
Abandonei o gesto,
Após isto,
Encontrei idiotas para fazer a voz,
Agora só ataco
E me satisfaço.
Quanto menos souberem
De você, melhor.
Contudo, outro dia, errei:
“Aí, Jesus! Que dor é esta?”
Indagou ele,
Logo após meu golpe
Sobre sua cabeça,
Mesmo com o sangue
A escorrer por sua face,
E pescoço.
Quando a pessoa
Em que você desfere seu golpe,
Esquece a elegância do cair,
Você engole o ódio que sente
Por ele e usa seu plano alternativo:
Corre antes de ser visto,
A questão maior agora
É não ser descoberto
Para tentar depois,
E tirar o máximo de proveito.
Larguei o que restou do vaso
Contra ele de volta,
Ante a sua resistência
Eu corri,
Ele se curvou com um simples
“uff”, isto me permitiu fugir
Antes de ser descoberto.
Caso estivesse desmaiado,
Meu caminho estava aberto,
Sabido que meu lema
É não deixar provas,
Então, analiso a existência
De vestígios e os elimino,
Este por incumbência:
Eu o queria morto,
Ao invés disso,
Estou a correr dele
Dentro desta casa
Feito um louco
Por entre os cômodos.
Este corpo ensanguentado,
Com certeza em instantes
Se recuperação bastante
Para correr atrás de mim
Em busca de vingança
E sangue,
Porquê não há como evita-lo,
Não nestas circunstâncias.
Eu atravessei a porta
De sua própria casa,
E a bati com força
Contra o próprio nariz dele,
Eu estava, realmente, preparado,
O deixei tonto,
E incapacitado de completo
Raciocínio.
Alam se chocou contra a porta,
Perdendo o ar de seus pulmões,
Eu o imaginei caído,
Enquanto prendia o trinco,
Eu o quis detido no chão,
Porém, não me voltei,
Precisava, agora, escapar,
Houve um erro
E isto desacelerava o plano.
Dali do jardim,
Eu pude ver Elisa na janela,
Ela vestia apenas as sombras
Da penumbra de seu quarto
Meio iluminado,
Através do reflexo do vidro
Eu podia ver seus contornos
E me imaginar bem próximo.
Mesmo naquele momento
Eu a desejei,
Mesmo com ela contando
Com todas aquelas paredes
Para me deter,
Algumas portas
E nenhuma peça de roupa.
Por causa de uma pilha
De tijolos erguidos
Nesta parede verde,
Eu estava impedido,
Por ora, de tê-la.
A porta começou a estremecer
Enquanto Alam batia atrás dela,
Eu me detive,
Não é como você começa
Que importa,
Mas, como você termina.
O importante não é ser rápido,
Mas, ganhar do outro,
Soltei o trinco depois de algumas batidas,
E eu tê-lo quebrado,
Dificultei o máximo que pude
A saída de Alam,
Eu nunca quis ser pego,
Menos ainda iria querer
A partir deste instante
Em que pude ver Elisa,
Nua em seus contornos,
A mercê da proteção
De dois centímetros de vidro obscuro.
Eu a desejei como nunca,
Mesmo com os gritos estridentes
E desesperados de um irmão
Encarcerado e ensanguentado
Dentro de sua própria casa
Em razão do meu golpe
Mal sucedido,
Dois centímetros de carvalho
O impediam de voar
Em meu pescoço,
Minhas chances de fuga
Se evaporavam enquanto
Ela acariciava suas curvas
Com aquele hidratante idiota,
Engoli meu desejo
E me joguei por sobre
Aquele jardim no quintal,
Eu precisava me pôr a salvo,
Depois, recusaria o plano.

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Na Chácara Ahmed

No amanhecer da chácara Ahmed,
O sol tardou
Pois fazia frio.
A mamãe de Pitelmario
Acendia o fogo no fogão
A lenha para fazer calor,
Mas Pitel não sentia frio,
Ainda cedo
Foi tomar banho no rio.
Pescou dois peixes
No fundo da água
E voltou para casa,
Chegou até a janela,
E preferiu voar para ali mesmo.
Voou até a pia,
E ficou sentado na beira
Da janela.
Chegando ali
Com suas penas molhadas,
E o rosto vermelho
De passar frio
Ela indagou:
- como você está Senhor Pitel?
Ele ergueu o bico
Para o alto,
Abriu e fechou duas
E depois três vezes,
Piscou os olhos
Algumas vezes
Fazendo um olhar entendedor
Do que dizia:
- estou bem, mamãe.
E sentindo o calor
Do fogão acolher seu corpo,
Ele se agachou bem
Como se estivesse
Em um ninho,
Então, emendou:
- senti saudades de você,
Como senti falta deste
E mais este.
Falou apontando
Do jaro de leite
Até o pão sobre a pia.
A mamãe de Pitel sorriu feliz,
Se jogou para cima
Do patinho
O abraçando com todo o amor.
- também te amo Pitel.
Ela falou beijando-o
No lado do seu biquinho.
- também te amo, mamãe.
Ele respondeu.
Então, a mamãe dele,
Pegou o leite
E pôs na leiteira,
E a levou sobre o fogo
Para ferver,
Depois pegou o pão
E cortou em fatias.
Após isto,
Pegou Pitel no colo,
E o levou até o peito,
Abraçando ele
Com força.
Pitel bateu diversas vezes
O seu biquinho,
Feliz aconchegado
No pescoço da mamãe.
Abraçando a mamãe dele
Bem apertado,
No final do abraço,
Ele foi solto sobre o beiral
Da janela,
E o leite fervido foi colocado
Dentro de um prato,
Onde foi picoteado o pão
E solto junto.
Após isto, Pitel chegou perto
E comeu cada pedacinho
De pouco a pouco
Enchendo o bico
E engolindo com um sorriso.
O fogo do fogão a lenha
Fez bem a Pitel,
O pão com leite
Encheu sua barriguinha,
E o nado da manhã
Deixou suas penas branquinhas,
Com traços de terra
Devido a ele ter voltado
Caminhando do rio.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Na Madrugada

Passava da madrugada,
Renata decidiu ir até a cozinha
Para tomar uma xícara
De leite quente,
Perdeu o sono,
E não queria
Passar outra noite em claro.
A amiga Sandra
Estava no quarto ao lado,
Dormindo com o namorado,
Isto geralmente deixava Renata
Insegura,
Cada novo namorado
Era algo incomodativo
Para ela,
Pois nunca sabia
Quem era,
Como realmente era,
E o mundo é imenso demais
Para acreditar-se na honestidade
De todo estranho que surge.
No entanto,
Sandra jurava amor
A todo que surgia,
Afirmava reconhecer
Um bom sujeito a distância,
E que o novo rapaz
Era sempre um conhecido
De longa data.
Mas, a amizade entre Sandra
E Renata já ultrapassava
Uma década,
Há cinco anos dividiam
Um apartamento no centro
Da cidade,
Isto era tempo o suficiente
Para saber
Que a amiga
Costumava encontrar um sujeito
Na balada,
Beija-lo sem saber quem é,
E na mesma noite
Levá-lo para dormir com ela.
Tomou, então, cuidado
Para calçar suas pantufas
E não fazer barulho
Ao passar por lá,
Era mais um “novo garoto”
Da amiga,
E as promessas de amor
Eterno já não a convenciam.
Colocou o roupão de banho,
Pegou o leite na geladeira,
Serviu um pouco na leiteira,
E a pôs para aquecer.
Neste instante,
Rogerson se aproximou
Sorrateiro por trás de Renata,
A envolveu com um abraço
E no mesmo instante
Removeu o roupão
A deixando nua.
Enquanto a roupa
Descia para o soalho
Permitindo a visão de seu corpo,
A amiga entrou na cozinha,
E assistiu a cena,
Boquiaberta e irritadiça.
Renata não teve tempo
De ver quem tomava
A atitude tão íntima de lhe despir,
Pois Sandra pegou uma cadeira
Do chão,
Que estava ao lado
Da geladeira
E jogou contra Rogerson,
Aceitando-a de raspão.
Renata deu um salto,
Desligou o fogo
E virou-se para ver
O que havia:
- Sandra?
Disse amedrontada.
- sua diaba.
Respondeu Sandra
Aos gritos.
-eu não pedi para ele
Me tocar,
Eu nem imaginei que ele
Faria isso, eu juro.
Respondeu rápida.
-mentira, você está aí
Nua na frente dele,
Atrevida, jamais poderei
Ter um homem para mim.
Gritou Sandra em retorno.
Ao mesmo tempo
Ela pegou Rogerson
Pelo braço e o conduziu
Para o quarto,
Da cozinha, Renata,
Ouviu sons de tapas
Provenientes do quarto,
Gritos ininteligíveis
E chorou convulsivo.
Renata encheu uma xícara
Com o leite já quente,
Sorveu um longo gole,
Depois disso,
Juntou o roupão de banho
Do chão e se vestiu.
Na metade da xícara
De leite quente,
Ela ouviu os reconhecidos
Sons da amiga fazendo sexo,
Sorriu aliviada,
Já estava tudo certo
Entre eles,
O estranho havia sido perdoado,
Ela, porém, ficou desgostosa
Com o que ele fez,
Mas preferiu ficar calada.

Namorados de Mamãe

“mora comigo, filha”.
Pediu a avó,
Impaciente e carinhosa,
Enquanto abaixava-se
Para dar um abraço
De despedida na neta.
Karla chorou,
Abraçada no pescoço da avó,
Levou o braço até os olhos
E limpou o choro,
Embora amasse a avó,
Não desejava deixar a mãe sozinha,
Ela era apreensiva,
A amava muito,
E nos primeiros dias
Depois dos finais de semana
Costumava esquecer
De fazer o almoço,
Até mesmo de alimentar-se
Por completo.
Aos oito anos
Karla já entendia
Que a mãe precisava dela,
E que ela amparava
A própria mãe.
Nunca conheceu seu pai,
Ou soube quem era,
Se tratava de algum estranho
Do passado da mãe,
Que a fez em certa vez
E nunca quis saber notícias suas.
Mas a mãe a desejou,
Intensa e radiante,
Levou adiante a gravidez,
E nunca arrependeu-se.
Todavia, era difícil
Para Karla encarar
Os dias que passava sozinha
Trancada em casa
Porquê a mãe conheceu
Alguém e decidiu
Passar alguns dias com ele.
Quando a avó ligava,
Ela não confidenciava
Que estava sozinha
Em conformidade
Com as ordens da própria mãe.
Nestes dias,
Passava restrição alimentar,
Ficava o dia todo
Em frente a televisão,
Não frequentava a escola,
E toda a casa costumava
Sujar muito.
Logo a mãe retornava,
O romance acabou,
A casa demorava horas
Para ser toda limpa
E Karla, finalmente,
Podia escolher as roupas
Que mais gostava
Pois estavam limpas.
Tanto mais difícil
Era receber os namorados
De sua mãe em casa,
Eles costumavam deitar-se
Sobre o sofá
E não fazer mais nada
Além de beber
E buscar diversão.
Ainda assim,
Karla soltou o pescoço
Da avó,
Beijou seu rosto e disse:
- vou com a mamãe, vovó.
E saiu.
Correndo em direção
A moto da mãe,
Que a esperava
Com seu pequeno
Capacete rosa em mãos.
A viagem era longa,
Mas, ela abraçava
A cintura da mãe
E confiava nela,
Feliz e segura.

Desejo Secreto

Cristian cansou
De tentar guardar
A carteira no bolso
Da calça
E a própria deslizar
Para o chão.
- peguei para você.
Disse sua cunhada, Raissa.
Com um sorriso estonteante
Naquele rosto bonito
E delicado,
Ela andou cinco passos
Até encontrá-lo
E entregar em suas mãos.
Cristian sorriu satisfeito.
- sorte você tê-la encontrado,
Eu não percebi que a perdi.
Ela lhe alcançou a carteira
E tocou seus dedos nos dele,
Desejosa de seu sorriso.
- eu percebi isto.
Raissa respondeu.
No entanto, Cristian
Levou a carteira até o bolso
E outra vez ela caiu.
Raissa agachou-se junto
Com ele,
Parando de cócoras
E de rosto em encostado
No dele,
Tocando os dedos
Outra vez sobre a mão dele
Que já estava juntando a carteira
Do chão.
- parece que não vai parar.
Ela disse sexy,
Olhando em seus olhos
De maneira atraente
E sedutora
Com seus lábios de batom
Alaranjado e brilho labial
Com cheiro refrescante de laranja.
- é, o bolso é pequeno,
Eu caminho e ela cai.
Ele conclui,
Sorrindo mostrando seus dentes
Brancos e perfeitos.
- eu guardo pra você.
Ela respondeu rápida.
- obrigado.
Ele continuou.
Pegou a carteira,
Levantou-se até ficar ereto
E a entregou.
Raissa estendeu ambas
As mãos,
Suas mãos quentes
Sofreram um arrepio,
Realmente, Cristian era de tirar
O fôlego,
Tão perfeito que era irresistível.
Ambos estavam no supermercado,
Cristian se dirigiu ao café,
E Raissa aproveitou que
O esposo escolhia alguns
Itens para pôr no carinho
De compras
E foi até o banheiro.
No entanto,
Já que estava com a carteira
Do cunhado informou a ele
Se agachando em seu ouvido,
Para dizer:
- estarei no banheiro.
Ele riu irritadiço,
Não fazia parte da ideia
De Cristian ter um encontro
Com Raissa sua cunhada,
Ele a achava atrevida
E não gostava de trair
A confiança que havia
Entre ele e o irmão,
Mesmo que já tivessem dividido
Mulheres anteriormente,
Com Raissa não foi desta forma,
E ele a via de maneira diferente
Das garotas anteriores,
Tanto que ela casou-se
Com Cristiano,
Seu irmão.
Tendo escolhido o café,
Manteve-se olhando
Para frente,
Com a xícara entre os dedos,
Deu uma olhada de esguelha
Para buscar o irmão,
O viu e sorriu para ele.
Porém, precisou pagar
O café,
Já estava tarde,
Ele queria retornar
Para o trabalho
E o irmão não cooperou
Em vir até ele
Para pagar a conta.
Passou uma hora
Contada no relógio
Que Raissa entrou
No banheiro
E não saiu de lá.
Realmente, ele começava
A pensar que ela forjou
Um encontro justo no banheiro.
Sorriu diante da ideia,
Nunca a imaginou nua,
Nem mesmo pensou em toca-la,
Agora, se imaginar
Com ela dentro de um banheiro
De supermercado
Parecia ainda mais inusitado.
Levantou da mesa
Em que estava,
Pediu licença as moças
Que serviram o café
E foi até lá.
Entrou sem bater,
Não havia outro alguém
Além dela,
Ao chegar ela imediatamente
Ergueu o vestido
E passou a carteira
Pelo próprio corpo:
- queria te beijar.
Ela disse.
- nunca me imaginei
Te beijando.
Ele respondeu,
Tomou a carteira,
E a olhou seriamente,
A milímetros de distância
De seu corpo.
Raissa levou a mão
Até sua calça,
Acariciou o corpo dele
Aproximou-se e o beijou:
- não tente imaginar.
Ela falou
Enquanto se aproximava.
- eu o quis de maneira
Muito intensa.
Continuou dizendo
Enquanto o beijava.
Cristian exitoso,
Respondeu com forçado
Descaso,
Abraçou o corpo de Raissa
E apertou suas nádegas
Como se quisesse marca-la
E contar para o irmão
Que a teve.
Está ideia o deixou fascinado,
Então, ele retirou seu vestido
E acariciou ainda mais seu corpo,
Beijou seu rosto,
Desceu até o pescoço.
- te quero Cristian,
Tanto quanto desejo seu
Irmão Cristiano.
Cristian sorriu tentador.
Nunca ouviu isto
De outra garota.
- você não irá me ter.
Ele respondeu.
Deixando-a nua,
Soltou seu vestido
Sobre a pia de lavar as mãos,
E a empurrou para trás
Com um gesto seguro,
Pegando seu queixo
E a conduzindo,
Sem permitir que se desiquilibrasse
Ou caísse.
Levou ela
Na distância de um braço,
Desceu sua mão até seu seio,
O apertou com força,
E a manteve longe dele.
- vou lutar por você.
Ela disse.
Trêmula.
Olhando-o com seus
Grandes olhos castanhos abertos.
- você é minha cunhada.
Ele respondeu,
Se encaminhando
Para sair,
Ela rapidamente se aproximou,
Segurou-o pelo braço e disse:
- mas, o amo como amo ele.
Cristian olhou para trás
E respondeu:
- você não pode.
- posso.
Ela insistiu.
Ele a segurou longe dele
Outra vez,
Controlou o fôlego,
Se restabeleceu
Do desejo que o descontrolou
E saiu para fora,
Tomando o cuidado
De trancar a porta atrás de si.

domingo, 27 de julho de 2025

Herdeiro Perdido

Liandro acenou para o táxi,
Chegou perto e soube
Que havia uma moça
No carro,
Contudo, ela faria o mesmo
Trajeto e seria uma viagem rápida.
Ele não tinha tempo disponível,
Chovia muito,
E iria se molhar:
- dividiremos o táxi.
Informou a garota
Que já estava no banco de trás,
E informou ao motorista
Que estava em pé
O ouvindo e explicando
Sobre levar a garota.
A moça olhou Leandro entrar
E sentar -se no banco
Com rosto espantado,
Porém, ele era encantadoramente lindo,
E isso a deixou emudecida,
Apenas balbuciou então:
- es... tá cer...to.
Ele sorriu,
Seus dentes eram brancos
E perfeitos,
Seu rosto marrom
Ganhou um brilho de encanto.
Genir estava com uma pasta
Em suas mãos,
Leandro não resistiu e indagou:
- onde você irá?
Ela lhe sorriu calorosamente:
- estou procurando trabalho.
Respondeu afetuosa.
- não sei o que é isto.
Ele respondeu,
Leandro era bilionário,
Dono de próprio negócio,
Com ramo reconhecido mundialmente,
Sempre trabalhou no negócio
Da família e não se via distante:
- deve ser difícil.
Continuou olhando
Para a frente,
Depois olhou para ela.
- sim, é realmente difícil.
Genir respondeu.
Liandro olhou para os seus olhos
E gostou de ver a inocência
E simplicidade neles,
Decidiu usar de seu tempo
Para fazer algumas horas
De sexo,
Precisava disso para relaxar
E Genir lhe pareceu
A mais perfeita garota.
- gostaria de me acompanhar
Para tomar um café?
Ele indagou.
- eu preciso procurar trabalho,
Meu pai está doente,
Precisa de dinheiro
Para realizar exames.
Ela intercedeu.
- eu lhe ajudo,
Tenho prazer em ajudar
No que se refere a saúde.
Ele respondeu categórico.
Bateu no banco do passageiro
E falou ao motorista:
- entre neste hotel.
O homem o olhou seguro.
- sim. Senhor.
Mudou a marcha do carro
E se encaminhou até o estacionamento.
Genir levou um tapa
Contra o ombro de Liandro,
E abriu a boca incrédula
Com relação ao que ele fez.
Liandro a olhou,
Puxou seu rosto
Para ele e a beijou.
Genir demorou alguns segundos
Para responder sôfrega e trêmula,
Mas, logo se viu abraçada
A ele,
Buscando sua boca
E seu carinho.
No estacionamento
Liandro pagou o taxista
E conduziu Genir até
O quarto de hotel,
Pediu café e suco fresco,
Passou ao lado dela
Uma tarde tórrida de amor.
Neste transbordar
Soube de suas necessidades
Por dinheiro para pagar a faculdade
E ajudar os pais nas despesas
Com aluguel e com exames,
Eles se aproximavam de idade
Avançada e as doenças
Começavam a se manifestar,
Ambos, urgiam por exames e
Tratamentos.
Ele considerou que seria
Ajudar Genir
Lhe dar o valor de R$ 500.000,00
Ao invés de oferecer trabalho
No seu empreendimento,
Vez que a localização
Era prejudicial para ela
Em razão do local onde
Ela residia.
Totalmente distante,
E ela não tinha meio de transporte algum
Que a auxiliasse para chegar
No local.
Satisfeita, ela deixou
O número do telefone
De sua casa para ele,
Anotado em sua agenda
Ao lado do seu nome
E uma foto pequena
Que tirou da carteira
E fez uma colagem
Para que ele a reconhecesse.
Deste único dia,
Resultou um filho,
Um lindo menino,
Mediante a ausência de Liandro,
Genir doou a criança,
Sem preocupar-se
Em descobrir pra qual família,
Ou se o bebê ficaria bem.
Ela chorou por algum tempo,
Não poderia negar que sofreu,
Mas o dinheiro foi suficiente
Para ajudar os pais,
A mãe agora fazia fisioterapia
Devido a dores na coluna,
E o pai praticava natação
Em razão de um tratamento
Contra dores nas articulações.
Um ano depois do encontro
Liandro tornou a ligar para ela.
Ela suspirou de seu quarto
Com o telefone puxado
Sobre a cama.
- alô.
- oi, é o Liandro,
Vamos tomar um café?
Ele indagou de ímpeto,
Como se nunca tivesse
Existido o tempo,
E nisto,
Ele a tenha enviado flores,
Notícias suas
E consideração por sua pessoa.
- eu engravidei...
Ela respondeu.
- ah, me desculpe,
Eu não quis incomodar...
- não, Liandro,
Quis dizer que o filho
É seu.
Ela respondeu segura.
- o quê? Eu sou o dono
Das empresas Alexius Construções,
Não posso ter tido um filho
E tê-lo abandonado por tanto tempo...
Ele insistiu trêmulo.
- ah, você pode sim,
E eu pude doa-lo.
Ela respondeu irritado.
Então, ele era o dono
De uma empresa milionária?
E agora, ela entregou o filho
A alguém que passou na rua,
Sem fazer ideia
De que o filho era um herdeiro,
E menos ainda de quem
O levou ou para onde...
Neste momento,
Genir odiou Liandro
Por sua crueldade
Em dispor de tanto dinheiro,
Tê-la usado para instantes
De prazer,
Lhe feito um filho
Sem o mínimo de cuidados,
E depois abandona-la.
- você me deixou grávida,
Eu odiei sua atitude,
Enfrentei toda a gravidez sozinha,
Eu o odeio Liandro.
Genir respondeu
E bateu o telefone
Desligando sem delongas.
Logo em seguida
O telefone voltou a tocar,
Ela atendeu,
Consciente de que
Um milionário não insiste
Em uma relação com uma
Garota pobre,
E ela era pobre e ainda desempregada.
A gravidez a impediu
De trabalhar,
O filho lhe tomou tempo,
Ela sentiu ódio
E o doou, simplesmente.
- alô.
Genir atendeu.
- preciso saber onde você mora,
Quero conversar com você,
Ir te visitar.
Ela reconheceu a voz
De Liandro
Porém, não reconheceu sua
Urgência em querer... vê-la?
Se preocupar com ela?
- tarde demais para isso,
Você, em um ano,
Não tentou saber de mim,
Não quis ouvir minha voz,
Ou saber se eu estava viva...
Olha, eu não sei onde
Seu filho está ou com quem!
Disse com ódio,
Levando o telefone
Para desligar.
Outra vez Liandro ligou:
- alô, preciso te ver,
O assunto é sério,
Pare de desligar.
Ela desligou outra vez,
Chutou o telefone com o pé
Até o chão,
Se jogou sobre o travesseiro
E chorou,
Lhe pareceu que seu coração
Sentiu medo de Liandro.
Ela teve mais segurança
Pelo que fez.
E arrependimento por tê-lo conhecido.
Ele era, definitivamente,
Um arrogante.
Deveria ser casado,
Com certeza tinha família,
Apenas a usou.
No chão,
Em frente a cama,
O telefone tocou outra vez,
Insistente,
Ela continuou a chorar desistente.
O telefone silenciou
Por pouco tempo
Para tocar de novo.

Os Esquecidos

Houve há dez mil anos
Intensa gripe naquela aldeia,
Ao final de um curto mês,
Setecentas pessoas
Não sobreviveram.
Foi aberta uma cova
De dois metros de profundidade,
E os enfermeiros e médicos
Do hospital se uniram
Para enterrar tais corpos
Que ficaram na ala
Dos mortos,
Esquecidos.
Nenhum ente veio visitá-los,
Mesmo na dor dos seus últimos
Suspiros,
Muito menos após isso.
Preferiram considera-los
Mortos assim que deram
Entrada ao local de medicação.
Alguns poucos foram trazidos
Até a porta e abandonados
No chão do lado de fora.
Os entes queridos
Deram três batidas na porta,
Não esperaram ser aberta
E correram para longe.
Poucos mostraram seus rostos
Aos enfermeiros
No instante de trazer o doente,
Mesmo assim,
Foram tão sorrateiros
Que foram esquecidos
E assim, nunca encontrados
Para entrega do cadáver
Ao fim que se destina.
Aberta a cova,
Cansados e com calos
Em suas mãos,
Eles decidiram coloca-los
Sobre uma maca
De madeira cada corpo,
E ao lado da cova
Foram removendo sua pele
E tecidos.
De um a um,
Todos os setecentos mortos
Passaram por este processo,
Depois disso,
Foram jogados lá dentro
E cobertos com substância corrosiva
E então, ateado fogo.
Lá dentro da cova rasa
Foram todos queimados
Neste ritual de sacrifício
E carinho,
Prestados por aqueles
Que lhes dedicaram trabalho,
Confiança em suas melhoras
E tempo com remédios
Para cortar efeitos negativos.
O aviso sobre o crematório
Foi informado a aldeia,
Quem quisesse participar
Seria bem-vindo,
Porém, somente os funcionários
Foram e abriram a cova,
E também, limparam os ossos.
Alguns rezaram pelos esquecidos,
O enterro coletivo
Contou com a presença de
Trinta pessoas,
E a ausência de todas as demais
Quatro mil habitantes
Do local,
Destes, também os parentes,
Que ficaram alheios
Aquelas almas vagantes,
Errantes por entre os leitos
Dos doentes.
Foi de concordância geral
Que ter mortos perambulando
Por entre as alas
Fazia mal aos que ainda
Tinham esperança de vida,
Nisto, a afamada sala
De mortos esquecidos
Teria que ser aberta,
Retirados os corpos
E lhes dado o fim merecido,
O enterro.
Não importou
Que nenhum dos presentes
Conhecessem tais rostos,
Ao final descartados
Eram todos iguais:
Ossos unidos em uma vala.
Alguns corpos haviam se decomposto,
Só havia neles pele seca
E fina feito papel que se desfia,
Mas, agarrado ao esqueleto,
Outros, estavam mais preservados,
O que exigia que a carne
Presente neles
Fosse arrancada em tiras
E jogada ao lado para queimar,
Os corpos mais recentes
Exigiram mais trabalho.,
Estavam cheios de larva,
Sendo devorados pouco a pouco,
Escorriam deles líquidos.
Os ossos foram todos limpos,
E então, jogados dentro da vala,
Após todos estarem lá dentro,
Os presentes se reuniram
Ao redor da cova,
Deram as mãos um ao outro,
E rezaram alto,
O médico geral riscou o palito
De fósforo e soltou sobre eles.
Pegou fogo instantaneamente,
Também suas peles
E restos foram queimados,
Um cheiro podre
Ganhou o ar
E foi em direção a aldeia.
Contudo, a partir daquela noite,
Ninguém mais pode dormir
Em paz,
As pessoas da aldeia
Fugiram apavoradas,
Os mortos levantaram da cova,
Recém fechada com terra
E foram em busca
De seus familiares.
Dos setecentos mortos,
Não restou família que não
Fosse parente de algum esquecido,
Invadiram portas e até janelas,
Chegavam até eles
E tentavam tocar neles,
Para então, estrangula-los,
Fingindo um abraço.
Seus ossos caiam
Pelo caminho,
Carne podre era arrancada
De seus corpos e jogado
Contra as pessoas,
Joana dormia
Quando seu marido Jefferson
Chegou, arrancou pedaços
De suas pernas
E enfiou em sua boca.
Ela não chegou a gritar,
Morreu engasgada
Em carne podre.
Maria, estava se servindo
De macarronada,
Quando retirou no prato
Carne de seu filho Gilson.
Ela sofreu um infarto,
Havia em seu prato massa
E pedaços de Gilson.
Seu esposo Paulo correu.
O filho correu atrás dele,
De braços abertos
Para tê-lo.
Alguns mortos esquecidos,
Arrancavam suas partes
E jogavam contra suas próprias casas,
Muitos habitantes fugiram
Apavorados,
Eles não corriam atrás destes,
Apenas caminhavam
Seguros de si mesmos,
Sorrindo,
Expondo seus dentes
E por vezes, ausência de lábios.
Logo o hospital
Foi invadido,
A refeição dos médicos
Foi regada a líquido
De apodrecimento e larvas,
A carne era de mortos.
Cada parte comida,
Sem ser mordida
Ou engolida causava
Morte instantânea,
Talvez, pela visão da pessoa
A sua frente
Rindo de sua cara,
Ou talvez, por estar podre.
Os enfermeiros correram
Até a cova maldita,
Levantaram rodos com pano
Encharcado e fogo na ponta,
E vassouras pegando fogo
E foram até lá.
Chegando, viram o buraco
Que permitiu a passagem
Dos tais,
Os restos mortais
Não totalmente queimados,
Queimaram aquela carne imediatamente.
Neste mesmo instante,
Os mortos da aldeia
Viraram ossos,
Contudo, ossos vivos.
O terror se espalhou
Com ossos sendo arremessados
Contra os vivos.
Abrindo mais o buraco
Que deu passagem
Por via da cova aos mortos,
Viram ossos não queimados
Lá dentro,
E tudo ficou simples,
Jogaram as vassouras
E os rodos em chamas lá.
Pegaram a caixa de fósforo
E deram fim também naquilo.
Tudo que pertenceu
A qualquer morto
Foi queimado,
Inclusive suas roupas.
Instantaneamente,
Os mortos esquecidos
Viraram pó,
Restaram o povo fugindo,
Se acalmando aos poucos,
E os mortos pelos esquecidos
Continuaram mortos.
Até que sabendo do ocorrido,
Os médicos sobreviventes,
Junto com os enfermeiros
Alcançaram também estes,
E lhes deram o mesmo fim,
Em cova próxima.
Ninguém se preocupou
Com nomes ou familiares vivos,
Apenas retiraram carne dos ossos e queimaram tudo:
Carne e ossos.

O Invisível entre Nós

Eu vejo ele partir,
Com os olhos ardentes,
Não é ódio,
São lágrimas
Que deturpam minha visão.
É como se dedos
Invisíveis me tocassem,
Me mantivessem no lugar,
E eu simplesmente,
O deixasse ir.
É como se eles fossem
Tão fortes
Que me impedissem
De qualquer coisa
Que não fosse vê-lo partir.
Estagnada no mesmo lugar,
A esperar,
A deixar ir.
Estes mesmos dedos
Marcam minha pele,
Com dor e medo,
Mas, não faço nada
Apenas permito.
Ele aceita o adeus
E vai para distante,
Diz-se que procura a felicidade,
Eu torço que a encontre,
E eu fico.
Então, estes dedos
Simulam carinhos
Para que eu aceite
Seus toques,
Depois disso,
Sobem para minha garganta,
E me sufocam.
Evitam as palavras,
Cortam o ar
Que eu respiro,
Me enfraquecem
A olhos vistos,
E ele já foi?
Já não sei busca-lo,
Quase esqueço o nome,
Prestes a não lembrar
O rosto,
De repente, retenho o gosto.
Sufoco até congelar,
Até que não possa me movimentar,
Até que não sinta dor,
Nem outra coisa,
Então, abro os olhos
E digo: amor.
Por um momento
Sou mais forte
Que estes dedos invisíveis,
Neste instante,
Eu luto contra eles,
E sou capaz de pensar,
Então, consigo falar,
Me uno de todas as minhas
Próprias forças
E corro,
Corro devagar,
Custo a me movimentar,
Fujo de tudo que vejo,
Corro tão rápido
A ponto de que toda visão
Fique borrada,
Corro mais rápido até
Sentir dor,
Corro mais rápido
Até estar longe,
Longe deste que não quis ficar,
Se muniu de suas desculpas
Para preferir outro lugar,
Já não tenho dedos
Agindo sobre meu corpo,
Já não sinto as dores
De ser privado de falar,
Já não me rendo
A este que nunca quis estar.

sábado, 26 de julho de 2025

Copo Vazio

É plena segunda-feira,
Já não importam os dias,
Eu bebi mais este copo,
Talvez, apenas mais outra garrafa.
É cerveja,
Bebe-se até que caiba,
Depois, enquanto for capaz.
Iniciei com um trago,
Implacável trago,
Fui no bar do Zé,
Pedi um trago de pinga,
Depois disso,
Ele organizou um lugar
Para eu ficar,
E uma ficha
Para eu marcar
Para pagar depois
Minha bebida.
A verdade é que
Eu nunca parei,
Eu preciso de álcool,
Gosto de sentir o gosto
Em meus lábios,
A sensação de euforia,
A forma como tudo simplifica.
As vezes, eu caio sobre a mesa,
Estendi meus braços
E me debruço sobre o copo,
Acordou e retorno a beber,
Contudo, ultimamente
Ando sentindo uma sensação
De estar caindo,
Afundando para um ponto,
E este ponto traga tudo
Com ele,
E não se alcança o fim,
Não importa o quanto
Ele leve com ele.
Eu já encontrei o escuro,
Acordei assustado
E disse: “dormi”,
Olhei pro Zé
E pedi mais cerveja,
Faltava cerveja,
Era isto, apenas.
Este abismo,
Para o qual o trago leva,
Não é profundo,
Na verdade,
Não tem fundo,
Se cai nele e pronto.
Ele é algo
Dentro de um espaço ilimitado,
Que me aprisiona,
Me faz latejar a cabeça,
É sério,
Por vezes, me preocupo.
Um único trago,
Com gosto de outros,
Depois o torpor,
Uma sensação de vertigem
Que retira o chão,
Um rodar de tudo
Que está seguro:
Casamento, filhos, trabalho...
Momentaneamente,
Me sinto sem fôlego,
Porém, é meio da tarde,
Acordo e o trago
Está no copo preso
Em minha mão
Quente e intocável,
Eu digo: é sonho.
Bebo de novo.
O Zé já sabe
Qual a marca que prefiro,
A temperatura do suor
Que percorre o copo,
E até mesmo o copo favorito,
Eu sou um enjoado
No que se refere a bebida
Que bebo,
Quem me vê no bar
Não nota,
Eu me esforço para ser discreto,
Mas, a verdade
É que tenho minhas preferências,
Ah, se tenho!
Mas, quanto a dormir
Sobre a mesa?
Será mesmo?
Imagino que a pilha
Do relógio é que está fraca,
Vazio que traga...
Só se for o vazio do copo,
Trago que engole
E sufoca...
Só se for bebida fraca.

O Que Houve Com o Amor?

São oito horas da noite,
São dez horas,
Então, meia noite,
E agora... Madrugada.
Calculo, no escuro
Que se aproximem das três horas,
“Ela não está aqui”
Digo para mim mesmo
No escuro do quarto.
Jogo meu braço
Para o lado,
Encosto em seu corpo,
Mas, não a sinto,
É como se não estivesse comigo,
Em algum momento
Do percurso do nosso casamento
Nos perdemos.
Tenho planejado
O amanhã,
Como desenvolverei meu trabalho,
Quais resultados desejo,
Com quais me satisfaço,
E diante de quais me replanejo...
“Em quê ela pensa?”
Não tenho vício
Por trabalho,
Ou outro qualquer,
Gostaria de recuperar
O que houve de bom
Entre nós,
Queria buscar um assunto
Com o mesmo empenho
Que me dedico aos afazeres
E os mesmos êxitos.
Sou professor há cinco anos,
Tenho dez anos de casado,
Deveria estar mais apto
Ao assunto sucesso conjugal,
Contudo, não está explícito.
Imagino que não se trate
De traição,
Eu não gostaria
De sair feito um pouco
Atrás dela
Por onde quer que vá
Em busca de pistas,
Ou de um novo rosto.
Lágrimas inundam
Meus olhos,
Pensar que tenha um
Novo homem
Não me satisfaz
Como ser humano,
Ao contrário,
Me amedronta,
“tenho medo de perde-la”.
Gostaria de dizer.
A matéria de aula
É bem desenvolvida,
Eu uso livros, slides,
Filmes e o assunto
Acontece de maneira simples,
Todos entendem,
Mas, falar de amor
Parece diferente,
“ Por qual assunto início?”
Parte de mim
Também não está
Mais aqui,
Nem com outra mulher,
Gostaria de saber,
Se confiasse em orações,
Só pediria esclarecimentos
Sobre o que houve
Com nós?
O que desgastou
Nossos anos juntos
Que nos tornou
Dois estranhos
Um para o outro,
De maneira sórdida
Que não percebemos,
Estamos entardecidos?
O dia se aproxima,
Eu vejo pelo clarão
Da janela
Que reflete sobre
Nossa cama.
Queria saber
Como iniciar está conversa,
Como organizar
Tudo entre nós,
Mas devo discutir
Sobre qual assunto,
Se de fato,
Não brigamos.

Diálogo

O dia acorda nublado,
Eu preciso escolher
Entre dormir até tarde
Ou me forçar a levantar.
Eu já não sei
Se gosto de levantar tão cedo,
Tomar o café
Nas horas certas,
Almoçar pontualmente.
Penso em meu corpo,
Imagino que roupa gostaria
De usar,
Me imagino levantando
Até o roupeiro,
Pegar a roupa e vestir,
E depois disso?
Já não sei o que fazer.
Parece estar tudo determinado,
Metodicamente descrito,
Dia a dia e hora a hora,
Feito um filme prescrito.
Me cansei disso.
Lembro de conversas
Com amigos,
Recordo eles me falarem
Sobre sessão psiquiatra,
Remédios e descansar...
Pois bem,
O descansar me leva
Ao quarto,
Nele já estou,
Já posso economizar
Determinismo com médicos.
Me sento,
Coloco as duas mãos
Em minha cabeça,
Aperto um pouco,
Sinto a vida me ganhar,
Vou até o telefone,
Digito seu nome:
-“ pra quê, se eu tenho você?”
Eu indago,
Imediatamente assim
Que me atendem.
- “sim, vamos conversar.”
Ouço em resposta.

Pensando o Inferno

A mente é território amplo,
Nela podemos cultivar
O que for,
Cabe tudo lá dentro,
Desde os mais lindos anjos,
Até o mais consagrado demônio.
Escolhemos alimentar
O que quisermos,
No território fértil
Do pensamento,
Contudo, alimentado
O demônio ganha asas
E voa,
Percorre o sono,
Percorre territórios desconhecidos,
E a depender de como
Alimentar seu próprio anjo,
Ele pode não ser tão forte
O bastante
Para recuperar
O que o demônio
Tenha espalhado.
A mente é aberta,
Nela tudo entra,
Se não houver um crivo,
Haverá também o pensamento
Destrutivo,
Que se enraíza lá dentro,
E destrói por fora.
Há pensamentos
Dos quais não se possa fugir,
Eles estão instalados,
Contudo, há atitudes
Que se possa evitar,
Elas dependem
De serem postas em concretude.

Demonizando

A solidão me abraça,
Eu estremeço em dor,
Há um inferno
Que queima,
Ele soluça para fora
As minhas lágrimas,
E elas escorrem
Por meu rosto,
E está dor me fere.
Sinto que se eu permitir
Pensamentos ruim
Irão se apossar de mim,
E estas lágrimas
Precisam escorrer,
Me percorrer
E chegar a algum lugar.
Um fosso,
Não quero ser um abismo
Para a dor,
Onde tudo de ruim
Ganha espaço,
E toda ira ganha forma.
Este fosso
De ideias erradas
Escaldante por dentro
E saltam pra fora,
Me vejo a gritar,
Formar frases terríveis,
Estou insensível
E desejo ferir.
Minhas palavras
Saem deste fosso
De dor e desespero
Feito lava,
Cada palavra queima,
Cada frase chega
E corrói,
Cada ato destrói.
Não quero me banir,
Viver num casulo
Onde só eu própria exista
E me veja como a mais importante,
Há um céu fora da dor,
Preciso me puxar deste desespero,
Abandonar o fosso,
Abrir a dor,
Expor estes medos,
Deixar o que for
Que me faça mal.
Vagar sozinho
Por uma estrada deserta,
Nem sempre é possível,
Há um mundo
No meu redor,
Preciso estar atenta a isso,
Receber o que vier de bom,
Guardar em mim
Só o que seja positivo,
Me vejo a ruir,
Fazer de mim um inferno,
Preciso sair disto.
Em troca,
Entender a minha individualidade,
Me permitir vagar,
Encontrar um lugar,
Ser auto suficiente,
Todo o mundo lhe pertence,
Contanto que o que você queira
Não tenha dono anterior,
Neste caso,
Pode estar a venda ou não,
Há um limite
Em mim mesma
Que esbarra no limite
Do outro,
O cair em abismo
Só serve,
Quando se trata
Para dentro de si próprio,
Os outros abismos
Também já pertencem
A alguém.
E não se faz morada
No que não lhe pertence.

Mortos Vivos

Olho o horizonte
E vejo o pássaro a voar,
A borboleta a brincar
Na flor que oscila
Ao vento,
A árvore que perde o fruto,
O sol que deixa tudo visível.
Há nisto,
Neste momento pessoas
Que estão partindo,
Para estas o pássaro
Irá cessar o vôo,
A borboleta se cansará,
E o fruto irá perecer
Sobre a grama fresca,
Também o sol,
Este nunca mais mostrará nada,
Nem nascerá.
Para estas pessoas
Que partem,
Nada mais existirá,
Apenas o escuro
Do fechar os olhos
Numa noite fria,
E não abrir mais.
Chega o fim,
A morte,
Resultado inesperado,
Mas, que sabe-se
Um dia chegará,
E cada passo para o futuro,
É um mais próximo.
Nisto, tudo parece
Tão breve,
Tão leve e frágil,
Tão... Quase inútil.
E assim que acaba:
Viver e depois disso,
Morrer.
Nesta perspectiva
Tudo parece resultar em nada,
Neste aspecto,
Como seria dormir
Um sono eterno?
Crescer e chegar
Em certa idade
Então, deitar na cama
E apenas dormir,
Sereno e tranquilo,
Dormir.
Ter comida pronta
Sempre que quiser,
Banheiro no quarto
Para satisfazer as necessidades,
E neste lapso de tempo
Dormir e mais nada.
Há nisto algo de invejar
Os mortos,
Eles estão além da vida,
São só a morte.
Não buscar,
Não conquistar,
Não se preocupar
Nem sonhar,
Apenas permitir
O tempo passar
E dormir.
Os mortos fizeram
As pazes com a morte,
Eles não se preocupam
Com este destino,
Não pensam neste fim,
Não caracterizam como seria,
Não premeditam nada.
Eles não possuem medo
De sentir dor,
Não tem medo dos erros,
Só que onde estão
Estas coisas não possuem
Importância
Porquê lá eles não fazem
Mais nada.
Só há o escuro,
E por mais que se queira,
Não há como abrir os olhos,
Abandonar o quarto escuro,
Ver o sol nascer,
E buscar as conquistas
Sem temer o erro,
Ou sentir dor.
Porquê mortos estão mortos.

Meu Amor Me Amou Por Um Ano

Meu amor
Me amou por um ano,
Um ano inteiro
Do mais puro amor,
Depois disso,
Meu amor
Me amou mais que isso.
Ele fez coisas
Que foram necessárias
Por nós dois,
Então, nós nos multiplicamos
E tivemos nossos filhos,
Ele protegeu nossos sentimentos,
Por isso,
Nos dividimos
E cuidamos de nossas famílias.
Meu amor
Me amou por um ano,
E depois me amou
Por outros tantos
Que não posso contar quantos,
Contudo, sempre foi muito amor,
E eu retribuo,
Porquê o amor por tudo isso,
E amo por mais um pouco.
Os anos somam-se,
Se repetem e sempre
Meu amor me ama
Muito mais que antes,
E se olhamos o passado,
Falamos dos anos
E percebemos juntos
Que um ano sempre
Superou o outro,
Nosso amor
Sempre tão intenso,
Sempre tão forte,
Nos mantém unidos
Em progresso.

sexta-feira, 25 de julho de 2025

Areias do Tempo

Ninguém é dono
Das areias do tempo,
Sabe-se que são finas
E correm sem parar,
Mas, ficaria mais simples
Se pudéssemos saber
Quando seria o último:
Último pegar de mãos,
Último abraço,
Último pulsar do coração,
Último beijo,
Último olhar,
Último adeus.
Seria mais simples
Saber quando seria
A última vez
Em que abraçaríamos
Nosso melhor amigo,
E que a partir daquele instante
Ele se tornaria um inimigo,
Ou um estranho,
Ou fosse ali mesmo
O seu último dia.
De repente,
Teríamos mais carinho,
Ou mais cuidado
Ao confidenciarmos algo,
Ou profunda entrega
Daquele que nunca mais
Tornará a ser visto.
Talvez, simplificasse
Saber se o beijo que damos
É de amizade,
Ou é de amor,
E quando este se tornar
O último a ser entregue,
Não nos paire a dúvida,
Muito menos arrependimento.
Seria simples
Se pudéssemos descobrir
Quando seria a última vez
Que nos despediríamos
De alguém,
Depois disso,
Viveríamos pra sempre juntos,
Ou nunca mais tornaríamos
A vê-lo,
O adeus seria diferente,
Porquê o gosto da unicidade
Dá mais intensidade,
E a certeza nos faz bem.

Saudades

Espero.
Espero até nossa mãe
Fazer o jantar,
Espero,
Espero até poder
Me alimentar,
Espero,
Espero até ver
Nossos pais se alimentarem,
Espero.
Decido mudar
O rumo das coisas,
Talvez, fosse pra esses lados
Que meus bois
Estivessem levando a carroça,
E eu simplesmente,
Deixei seguir o rumo,
Talvez, fosse pelo lado oposto,
E eu tenha puxado a corda
Na hora certa,
E eles tenham se encaminhado
Comigo a guia-los.
Mas, deixo ela lavar a louça,
Falo pra ele levar a louça
Até a pia,
Ambos retiram a toalha,
Limpam a mesa,
E eu espero.
Espero até passar
Outro capítulo da novela,
Outra notícia
No telejornal,
Outra conversa paralela,
Outro assunto sobre a família,
Espero.
Então, me dirijo ao seu quarto,
Abro a cortina
Com um susto:
Você não está lá.
Sinto seu cheiro
Invadir minhas narinas,
Está tudo tão vivo,
E tão no lugar,
Parece inalterado.
Espero até sua imagem
Se personificar,
Busco seu sorriso,
Seu jeito,
Sua voz,
Quase não respiro,
Quase não resisto ao choro,
Quase não resisto ao torpor
Que talvez me faça
Não sentir as lágrimas.
Depois disso, dou outro passo,
Estou dentro,
Próximo ao seu cantinho,
O lugar onde você dormia,
Dou dois passos
E estou na sua cama,
Com seus cobertores estendidos,
Seu travesseiro organizado
E limpo.
Espero até me ver respirar,
Busco suas histórias,
Sua rotina,
Busco onde você está?
Sinto saudades suas,
Deito em seu lugar,
Sinto vontade de morrer
Um pouco,
Não muito,
Só o bastante para ir
Até onde você esteja,
Não me contento
Com a lápide com seu nome
Sobre um chão de cemitério,
Não,
Você não está lá,
E eu desejo vê-lo,
Desejo buscá-lo,
Gostaria de abraça -lo,
Na casa,
Nossos pais sentem dor,
Eu noto na voz arrastada
E dolorida de cada palavra,
Nas ausências,
Nas conversas que o buscam,
Eu sinto vontade de morrer,
Apenas até te achar,
Nossos pais sofrem,
Onde você poderá estar?

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Amar é Compreender

O amor é carinho
E felicidades,
Amar alguém é cuidar
E dar liberdade,
Permitir que o outro
Possa ter sonhos,
E se nestes sonhos
Você estiver incluído,
Aí sim,
É amor.
Amor é ser forte,
Mas isto não requer
Ser sozinho,
Amar é confiar,
Entregar seus medos,
Compartilhar os sonhos
E ter no outro
Um abraço para os dias bons,
Um ombro para qualquer dia
Onde você tenha consolo,
Tenha repouso,
Tenha um amigo.
O amor é bondoso,
As vezes, ele se exalta
Diz coisas sem pensar,
Pois amar também é isto,
Pedir compreensão
Pelas raivas que se passa,
Não ser julgado
E não ser obrigado a chorar
Sozinho.
Amar é ceder,
Dar afeto e estima,
Compartilhar as coisas boas,
Abandonar o espírito competitivo,
Amar é estar completo
Ao lado do outro,
Não precisar buscar refúgio
Em outros abrigos,
Nem ser falso ou raivoso,
Ferir não é cuidar,
Contudo, gritar, as vezes,
É preciso, seja calmo com isso,
Porque amar é compreender.

No Pré Escolar

Lá na escola
Havia um amiguinho,
Ele era mais velho,
Não sei bem certo matematicamente,
Ele tinha quinze anos,
Eu tenho 1, 2, 3, 4.
4 anos completos
Mês passado.
Foi meu pai quem me ensinou
A contar usando os dedinhos,
Já estou no número quatro,
Mais um e são cinco,
Então, eu passo para a outra mão.
Minha mãe diz
Que eu já posso contar
De cabeça
Sem precisar falar o número
Alto, nem usar os dedos,
Mas, eu acho assim
Mais fácil.
A professora não reclama,
Ela possui 22 anos,
São mais anos que eu
Possa contar,
Eu estou no pré-escolar.
O amiguinho de chama Fernando,
Ele limpa o pátio,
Usa uma foice
E corta os galhos altos,
Com uma inchada
Arranca o mato pequeno.
Eu tinha medo de ir
Até lá,
Então, ele limpou
E me levou sozinha.
Ele subiu no pé
De goiaba e me tirou
Várias goiabas enormes,
Eu não conhecia a fruta,
Aí ele mordeu com sua boca
E pôs dentro da minha.
Depois me levou
Para fazer xixi
Atrás do pé de banana,
Havia bananas maduras
No cacho,
Ele tirou minha roupa,
Eu senti medo,
Disse que não tinha vontade,
Mas, ele disse que me ajudava,
Mexeu na minha vagina.
Depois tirou bananas
Para eu,
Eu senti dor depois
De ele ter mexido em mim,
Aí ele passou a mão
No meu corpo,
Depois me fez voltar nua
Para a aula com a roupa
Na mão
E me mandou contar
Que fiz cocô.
Mas, eu não havia feito.
Eu falei o que ele mandou,
Ela veio até eu e
Me vestiu,
Olhou para ele de maneira
Estranha,
Ele estava colhendo salada
Na horta para o lanche
Da aula.
Depois, ele limpou a salada,
Então, voltou a tirar frutas,
Dois dias depois disso,
Ele quebrou o abacate ao meio
E colocou ele dentro
Da minha vagina,
Nisto, ele disse que
Eu precisava de carinhos,
Tirou a roupa dele
E me pôs sentada em seu colo
Esfregou o pênis dele
No meu corpo nu,
E depois me fez sentar
Com o bumbum nele.
Doeu e ele disfarçou
Meus gritos sorrindo alto,
Depois me falou que
Uma cobra me pegou
No bumbum
E agora ele iria doer muito,
Por muitos dias,
Mas ele tinha remédio.
Todos os dias
Eu fui buscar o remédio,
Senti frio quando
Precisei tirar a roupa,
Dor quando o remédio
Era difícil de entrar em mim,
As vezes, o remédio
Estava na boca dele,
As vezes nos dedos,
E as vezes no pênis,
Ele escolhia onde pôr
O remédio em mim,
E só ele sabia onde estava,
Por isso eu não poderia
Contar para ninguém
Sobre as minhas dores,
Caso eu contasse
Eu poderia morrer,
Só ele tinha o remédio.
Mas, a professora
Estranhou minhas mudanças
De humor e meus choros,
Me seguiu um dia,
E me encontrou sentada
No pênis dele.
Ele tirou uma guanxuma
Do lado de onde estávamos
E bateu nele com ela,
Me tomou dos braços dele,
E correu comigo no colo
Chorando.
Ela sentiu minha dor
E disse que iria encontrar
Remédio para a mordida
Da cobra,
Jurou que eu iria sarar,
E me ensinou a escrever direitinho
Para que eu pudesse contar
A mamãe e papai
Amanhã no dia dos pais na escola
Através desta carta
Que eles irão ler juntos
E decidir um remédio
Para o garoto que fez isto
Em meu corpo,
Porquê a professora jura
Que eu sou sã,
Ele é que é doente.
Ele é sempre cheio
De amiguinhos no seu redor,
Agora cada colega
Está escrevendo sua carta,
Marcelo ficou cego,
Não pode escrever,
Mas ele fala as palavras
E a professora coloca
Na carta,
Os outros todos se esforçam
E sanam poucas dúvidas
Que a professora sempre responde
E ajuda.
Amanhã será um dia diferente
Para nós
E para aquele garoto,
Eu já acredito
Que nunca fui tocada
Por uma cobra
Porquê não vi nenhuma,
Era ele mentindo,
Com isso ele tocou
No meu corpo todo
De todas as formas que pode.
Ele mentiu.
Agora eu odeio mentiras.
Marcos, tem cinco anos,
Ele me disse que não é
Picada de cobra
Lá no banheiro 
Quando nós fizemos sexo,
É assim que se chama 
E ele sabe.
Agora ele quer
Que eu faça sexo
Só com ele,
Ele disse que é ele
Que me ama
E não o garoto 
Que limpa a escola.
Nós fizemos sexo 
Para se divertir no recreio,
É uma brincadeira 
Muito boa,
É igual pique e esconde,
Só que muito melhor.
Eu não sei,
Eu senti dor,
Não sei se gosto,
Mas, ele me espera
Dentro do banheiro,
E aí me abraça.
Ele agora quer me levar
Pra casa,
E brincar comigo
Também lá.
Preciso pedir pra mamãe 
E papai para levá-lo.
Ele quer dormir comigo
E ficar mais tempo brincando,
Eu digo a ele: " dói".
Ele diz " já sara".

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Coisas que Fiz na Sua Ausência

Eu jurei contar tudo
Para meu irmão,
Nunca ter segredos
Ou não confiar nele,
Porém, quando ele morreu
Haviam coisas que eu não disse.
Eu me coloquei sobre
Seu corpo dentro do caixão,
O abracei forte,
Beijei seu rosto,
Beijei suas mãos
E quis falar,
No entanto, quando o décimo
Parente me pediu para
Ter forças o bastante
Para me desvencilhar
Do abraço e permitir
Que os outros o vissem
E se despedissem eu tive
Que me afastar.
Senti um momento
Profundo de choque
Ante a ideia de despedida,
Olhei para fora da igreja
E vi que não havia a sua moto
Estacionada a espera-lo.
O busquei e ele estava
Neste caixão,
E agora se dirigia para o cemitério:
“ não, não quero me despedir.”
Eu falei alto.
“mas os outros querem “.
Alguem respondeu.
Eu nunca esqueceria está resposta,
Havia alguém
Com coragem o bastante
Para despedir-se dele,
Dizer adeus,
Distanciar-se,
Muitos se aproximaram
E lhe disseram coisas
E estes muitos estavam
Lhe dizendo adeus
Para sempre,
Com que coragem?
Com a coragem
Que eu jamais tive.
Em casa, o busquei
Nos corredores,
Seu cheiro estava pelas paredes,
Suas fotos na moldura
Pareciam falar alto,
Me levar para aquele dia
Em que estávamos juntos,
Todos nós:
Eu, ele, mamãe e papai.
Me escorrei naquela
Parede marrom
E comecei a dizer:
“Antes de você ir embora...
Eu beijei,
Sem te contar,
Ele era casado,
Exigiu sigilo,
Me pagou por isso,
Cinquenta reais,
Eu gastei em picolé
Na cantina do ginásio escolar.”
Bem, não ouve rumores,
Nenhuma fala,
Nenhuma censura,
Insisti: “ o homem disse
Que era pai de família,
Mas, sonhava em tirar
Uma virgindade
Ver qual era o sabor
Do primeiro orgasmo,
Eu vendi a ele um único...”
Olhei para o retrato
E ainda estava emudecido:
“depois vendi outro,
Então, outros”.
Basicamente, foi isto
O que escondi de meu irmão
Até aquela data,
Como sua fotografia
Estava muito alta,
Me desviei um pouco,
Peguei uma cadeira
E vi que estava vazia.
Alguém esvaziou a moldura.
Sorri.
Contar contei,
Agora, realmente,
Não restou segredos.
Guardei a cadeira no lugar,
E lá no final do corredor
Me representou de maneira
Muito forte que eu o via,
Sorri feliz,
Agora não tínhamos segredos
Algum.

Depois da Sua Perda

Perder meu irmão
Deixou tudo mais estranho,
Fui morar em outra cidade,
E quando retornei a casa
Dos nossos pais,
Não reconheci mais ninguém
E se eu me olhar no espelho,
Também rejeito este rosto
Inchado de tanto chorar,
Estes olhos vermelhos
De tanto buscar
E meu coração que pulsa
Cada vez que passa em frente
Ao cemitério onde agora ele vive.
Chegando a cidade,
Deixamos o carro
Em frente a praça pública,
Meu pai foi até o supermercado
Fazer compras
E eu fiquei próximo a ali,
Sentada num banco
Vendo o chafariz jorrar água
E as flores abrirem
Seus botões.
Nosso pai saiu
E esqueceu de travar o carro,
Nisto um homem correu até
A porta para abrir,
Vendo através do vidro
Que não havia ninguém
Ele foi depressa até o outro
Lado para levar o carro.
Eu achei ridículo,
Fiquei boquiaberta,
Estarrecida com a falta
De vergonha,
Na pequena cidade de cinco
Mil habitantes onde todos
Conhecem todos,
Onde meu pai nasceu,
E vive a sessenta anos,
Um sujeito achar que poderia
Roubar seu único carro
E deixar, ele, um idoso a pé?!
Soou tão ridículo,
Que não respondi por mim,
Simplesmente, cedi a estímulos,
Corri até o carro,
Abri a porta do carona
Onde eu estava,
Tirei de baixo do banco
Um taco de madeira grossa
E bati na cabeça do homem.
Ele cambaleou para trás
Já com a porta do carro aberta,
Buscando algo
Com o que ligar o carro
E fugir,
Ou talvez, apenas estragar
E causar prejuízo.
Me joguei sobre o capô,
Desferindo golpes naquele
Homem,
Ele sangrou,
E gritou por socorro.
“ Vagabundo, ladrão,
Acha que vai se safar?”
Gritei e bati nele.
O homem pôs o braço
Em frente ao rosto
E avançou contra mim,
Eu não senti medo
De golpeá-lo com mais força,
Ele ria,
“olha como ela se defende?”
Ele gritou rindo da minha cara.
Eu só olhei para cima,
Depois da rua,
No moro onde estava
O cemitério e imaginei
Meu irmão lá,
Na lápide dele,
Vendo eu sofrer tamanha repressão
E investida,
Então vi que o homem tinha uma arma,
Foi como se meu irmão
Me avisasse sobre isso.
Eu não medi esforços,
Não deixei nem um minuto
Meu irmão se preocupar
Com meu bem-estar,
Bati contra ele,
Até a mão dele ficar mole
E ele não poder
Retirar a arma da cintura
Que ele apenas mostrou
Que tinha.
Continuei a bater nele,
Senti medo de que matasse
Nosso pai,
Assim tão próximo
Do meu irmão
O fazendo parecer desajeitado,
Desvirtuado da família.
“jamais meu irmão
Irá se sentir mal
Por sua causa, jamais.”
Eu gritei.
E tornei a bater.
Ele correu.
De arma na cintura,
Correu até perder o sorriso.
Eu corri atrás
Com aquele taco de madeira
Em mãos,
Bati nas suas costas,
 Contra o seu rosto,
A sua cabeça,
Eu senti ódio daquele homem
Que fez meu irmão parecer
Ter nos abandonado.
Não importe quantos anos
Passem de sua morte,
Eu sei que ele nunca nos deixou
E isto nos mantém seguros.
Depois disso,
Me agachei com a madeira
Em mãos logo atrás do carro,
Que estava com a porta aberta
Eu sorri em meio ao suor
Que escorria por meu rosto
E chorei de pena do meu irmão,
Ele não merecia ser acusado
Desta maneira tão traiçoeira
De ter nos abandonado.
Nisto, duas garotas
Se aproximaram e me convidaram
Para uma noite de garotas solteiras,
Eu levantei o rosto
Com o sorriso aberto
E o choro cruzando os dentes,
A pele inteira,
E escorrendo sobre o queixo
E recusei.
Não sei,
Tão perto do cemitério desta
Maneira,
Eu receber um convite
Tão inesperado
Me pareceu um erro,
Um erro gigante,
Um erro grotesco o meu aceite.
Recusei,
Esperei dentro do carro
E fui embora com meu pai.

Flor de Papel

Quatro anos
Depois da perda
De um irmão
Não é suficiente
Para fazer esquecer,
Quanto mais o tempo passa,
Menos esquecer parece provável.
O busco,
Nas janelas de vidros,
Nos rostos rápidos,
Nos rostos que vejo,
Nas vozes que ouço,
Só o que faz meu coração acelerar
São estes vestígios dele
Que mantenho comigo.
E o mais é terror,
Terror por perde-lo tão cedo,
Pânico por ter sido fraca,
Insuficiente para protegê-lo,
Mesmo sabendo onde ele está,
No cemitério da cidade,
Eu o busco em outras lápides,
Outros cemitérios
E outras cidades.
Nem eu ou nossos pais
Aceitam a perda,
Vivemos de buscá-lo.
Encontrei uma carta
Junto as coisas dele,
Juntei coragem
Para me separar de algo dele,
Sabendo que a pessoa
Para a qual estas palavras
Estão endereçadas
Jamais as mereceram tanto
Quanto eu , ou nossos pais.
Mas, é de sua vontade,
E apenas hoje junto coragem,
Suas namoradinhas,
Todas elas estão vivendo,
Vão a festas, sorriem,
Beijam e tem filhos,
Não sei como puderam
Superar tão facilmente a perda,
Suprir a ausência dele
Com estes,
Que jamais deram como ele,
Meu irmão é insubstituível.
Bem, chego a faculdade
E me deparo com flores
Na cor branca e vermelha
Espalhadas por toda parte,
Não parece ser organização
Da universidade,
Penso que algum espertinho
Está se declarando a alguma
Desatenta.
Paro, junto uma de sobre o banco,
Me recosto no tronco
De um ipê cheio de flores,
Sinto o cheiro bom
Que vem dela,
Tem o caule verde,
E o colorido da flor
Mas é feita de papel,
Feito um livro de segredos,
De uma história desconhecida.
Olho a pizzaria a frente
Da universidade,
Quase vejo meu irmão
Escolhendo mil pizzas no rodízio,
E rindo para eu.
Depois dele ter partido,
Nunca mais pude
Comer pizza da mesma forma,
O vejo,
E ele não está,
O busco,
E sinto muita falta.
Não gosto de provar
Coisas novas
Então nem me atrevo,
É como se eu fosse falsa com ele,
Estivesse emprestando em algo
As escondidas,
Sem o conhecimento dele
Ou a presença,
Não consigo,
Há sempre uma ausência.
Bem, lembro de um garoto
Que um dia me deu um buquê
De rosas vermelhas,
Eu lhes disse:
“ Agora irão morrer,
Você as retirou da terra”.
Eu aceitei as flores,
Mas, não quis planta-las,
Não sei porquê
Não vi futuro naquele afeto.
Ele me disse:
“Faz parte da beleza
A instantaneidade da vida”.
Eu simplesmente respondi:
“Prefiro de plástico,
Que são as que permanecem comigo”.
Claro que eu as preferia,
Meu passatempo preferido
Se tornou limpar a lápide
Do meu irmão
E florir tudo ao redor dele,
Assim, flores de plástico nunca
Foram mais encantadoras,
Há um mundo de flores
Lá com ele,
Elas saltam para fora do jazigo.
Tem inúmeras cores
E variadas formas,
Encantam o lugar,
Certa vez, meu irmão
Colheu uma rosa
E a pôs no meu cabelo.
“ Ficou lindo.”
Eu disse a ele.
Então, juntei aquela flor
E amarrei uma trança rápida
Depois a pus ali no cabelo,
Olhei para o céu,
E chorei feliz,
Algo do meu irmão estava comigo
E o trazia para perto,
Muito perto,
E isto me abria para a vida
Feito uma flor que se abre
Na terra.
Em cada parte do chão
E escada tinha uma flor,
Haviam muitas flores,
Haviam versos a lápis
Escrito em suas pétalas,
Não resisti e olhei
De uma a uma,
Depois as soltei,
Algumas pendurei
Ao redor do cabelo,
Devo ter retido umas
Seis delas.
Não havia assinatura,
Nem remetente.
Quem seria o último romântico
Da faculdade de adultos?
Afinal, já estávamos todos
Nos nossos vinte e cinco anos
Quem teria estas ideias,
E quem as apoiaria?
Meu irmão, talvez,
Ele sempre gostou de flor.
Ao menos todas que via
Sempre colhia e me dava,
Adorava ver meus cabelos
Adornados em cores.
Lá no final da escadaria
Encontrei a dona da carta,
Beijando um rapaz,
Usando minissaia,
Não sei,
Mas, me pareceu mais
Que um beijo
Em pleno corredor,
Fiquei constrangida
E retive a carta.
Ela não merecia recebe-la,
Passaram quatro anos
E ela abandonou neste tempo
Toda a vergonha
E compromisso com a alma humana,
Seminua aos beijos no corredor
Era desmedido exagero
Para que eu a pudesse perdoar.
Meu irmão
Não conheceu este lado
Promíscuo dela,
Eu sim,
E a tempo de evitar maiores
Constrangimentos e dores.
Bem, nisto Nicholas me alcança
Com um pequeno buquê
De flores de plástico
E papel em mãos.
De primeira vista
Já vejo meu nome
Mil frases e ele:
“ Eu te amo”.
Me disse, de ímpeto.

Desenlace de Sentimentos

“Ora, de que é feita a vida Que não seja envolto em dinheiro, Precisa-se de dinheiro para nascer, Mais ainda para morrer, Po...