quarta-feira, 2 de julho de 2025

Sim

Celio estava dirigindo
Compassivo o seu Vectra branco,
Escolheu aquele carro
Para levá-lo
Ao seu próprio casamento,
No instante em que pôs
Os olhos nele
Pareceu o mais apropriado,
Contudo, vendo seu reflexo
No espelho,
Vestido num terno branco
E sapatos na mesma cor,
Duvidou um pouco.
Todavia, feito o sol que descia
No horizonte,
Lucrécia lhe deu liberdade
Para escolher a própria roupa,
Ela preferiu a moda antiga
Casa qual escolhe sua roupa
E só permitido ver um ao outro
Vestidos nela
No próprio instante,
Caso contrário,
Dava azar.
Seria uma linda surpresa,
Ele pensou e sorriu feliz.
Neste instante,
Um carro escuro
Que seguia a sua frente,
Fez uma manobra arriscada
E o obrigou a frear com força
Sobre a pista.
Seu pneu estourou
E ele fixou-se em único
Pensamento
Ao ver o carro suspender,
Pender para o lado
E virar para cima
Rolando sobre a pista
Até cair no barranco.
Seu pensamento era Lucrécia,
Seu rosto lindo,
Seu sorriso
E seus olhos escuros
O esperando para seu beijo,
Vestida de branco
Ou talvez em outro tom
O esperando para o sonhado “sim”.
Dentro do carro capotado,
Com dois pneus virados
Para cima,
Os outros enterrados no solo
E seu corpo contraído
Sob a pressão do banco,
E do volante contra ele,
Ele lembrou de dizer em voz alta
“sim”.
Depois fechou os olhos
E desmaiou.
A dor foi intensa demais
Para que ele conseguisse suportar.
Ninguém o ajudou,
Passados algum tempo,
Ele acordou,
Abriu os olhos e sentiu
A nuvem de lágrimas
Descer sobre seu rosto.
Arfou de dor,
Tentou remover o cinto
De segurança
Que o mantinha preso
Contra o banco do carro.
Com esforço,
Conseguiu.
Saiu do carro.
Colocando uma mão
Na lateral da porta
E se puxando para fora.
Lembrou de pegar o celular
De sobre o painel do carro,
Ao conseguir sair,
Se puxou para fora,
Caiu sobre um gramado
E sujeira intensa.
Sua primeira reação
Foi ligar para a noiva.
A informou com voz
Murmuriosa e amedrontada
O que ocorreu no trajeto
Que o levava ao local
Do casamento.
Ela arfou de medo,
Dobrou o corpo até o chão,
Segurando o celular.
- sinto dor.
Preciso de você agora.
Ele disse.
- meu amor,
Jamais desistiria de você.
Eu o amo!
Respondeu Lucrécia.
- estou sujo.
Ele respondeu,
Com o rosto colado no chão,
Imaginando o estado
Em que estariam as suas roupas,
De sujeira e, talvez, sangue.
- me diga aonde você está.
Irei te buscar.
Ela gritou a chorar
Desesperada.
Célio passou a localização,
Através do aplicativo.
Depois se puxou para fora
Do carro totalmente.
Colocando-se em pé,
Viu o terno branco sujo,
Sua perna estava manca,
A barriga estava cortada
E sangrava.
Atordoado,
Ele soltou o peso do corpo
Para trás,
Se recostando no carro
Em prantos.
Olhou para a estrada geral
E não viu ninguém,
O homem que causou o acidente
Fugiu sem ajudar.
Não havia ninguém na estrada,
Estava tudo deserto.
Contudo, Lucrécia
Estava decidida de seu amor,
Buscou um helicóptero,
Carregou de rosas,
E foi ao encontro de Célio.
Ao avista-lo,
Saiu na porta,
De lá de cima
Gritou o quanto o amava,
Jogou flores sobre ele,
Jogou todas as que trouxe,
Pois de tão nervosa,
Pegou até mesmo o buquê
E despetalou.
Então, sobrou as hastes apenas.
Segura de si,
Jogou uma escada de corda
Para ele,
Ele subiu alguns degraus,
Depois fez sinal para seguir.
O helicóptero seguiu,
Célio continuou dolorido
No início da escada,
Lucrécia desceu até ele,
Ao encontrarem-se se beijaram
E se abraçaram forte,
Sem se soltar,
Até chegarem na praia
Onde se casariam.
Em pé na areia da praia,
Seguiram de mãos dadas
Até o altar,
Não se importaram com a roupa
Ou a ausência do buquê,
Chegaram e todos os convidados
Já haviam chegado,
Então, todos se levantaram
Para recebê-los,
Eles olharam um para o outro
E disseram “sim” juntos.
Haviam carreiras de cadeiras
Do lado direito
E do lado esquerdo,
Pessoas sentadas,
Logo, em frente
Estava o altar sobre o final da areia
Próximo ao mar,
A água chegava,
Tocava em seus pés
E retornava.
Lá estava o juiz
Com o documento que
Formalizava a união,
Os pais dos noivos
E os padrinhos em pé.
Todos ficaram assustados
Ao vê-los esbaforidos,
E Célio parecia sujo,
No entanto, ele disfarçou a dor,
E ninguém notou que ele
Estava com o terno sujo.
Tudo foi tão perfeito
No instante em que ambos
Se beijaram
Que nada pareceu
Estar discordando da cerimônia.

Alvo Localizado

Quem encontrar o Corsa
Rosa bordô no final
Do morro em que ele caiu,
Vendo o estado em que ficou,
Jamais imaginara o que houve.
O fato de ele,
Ter escolhido cair,
Exatamente,
Dentro daquele cemitério,
Diante das ruínas
Que causou auxilia
No finalismo da história,
“Ninguem saber a razão
De ele se encontrar
Onde se encontra.”
O rosto deformado
Do condutor
Nada acrescentará
Para que busquem a razão
Do que será considerado
Puro acidente.
O fato de ter cavado
A própria cova
Ao cair justamente
Dentro do cemitério
Destruindo jazidas, túmulos
E espalhado ossos
Para todo o lado,
Auxilia em muito
No rumor que irá circundar
O fim daquele condutor:
“desvairado, destruidor
De memórias familiares”.
Patrick, olhou da beira
Do asfalto,
Logo antes da vala
Cujo gramado foi arrancado
Quando o carro caiu,
Deixando um rastro
De terra e barro a mostra,
E bateu palmas.
No fim de onde sua vista
Conseguia perfeitamente ver
Estava o Corsa,
Mergulhado dentro de um túmulo.
Ele riu consigo mesmo,
Nunca foi tão perfeito.
Pegou no volante de sua moto,
Subiu nela,
Colocou o capacete
E saiu feroz,
Fazendo curvas sobre o asfalto,
Suado de geada do inverno,
Que ainda derretia.
Deu uma última olhada
Pelo retrovisor,
Não havia nada,
Testemunha nenhuma
Que retrataria o que houve.
Ele fez a curva
Que o desviava de poder ver
O local onde planejou tudo
E executou,
Uma última vista
Lhe permitiu ver
O morro de árvores e pedras
Onde se escondeu
Para esperar e encerrar este caso.
Logo as seis da manhã,
Chegou ao local escolhido
Para executar sua intenção:
A curva logo acima do cemitério
Da cidadezinha simples
Do Sul do Brasil.
Próximo ao final do asfalto,
Desceu da motocicleta,
Olhou para o ponto previsto,
Encontrando pedras para
Proteger seu corpo
E árvores para camufla-lo,
Subiu.
Segurou firme
No volante da moto,
E a empurrou usando
A força dos seus braços.
Chegado na metade do caminho,
Retirou um facão
De dentro de uma caixa preta,
Cortou alguns ramos,
A escorou numa árvore,
E pôs os ramos sobre ela.
Vendo-a totalmente escondida,
Retirou a caixa preta
Que estava amarrada nela,
Subiu mais para cima,
Encontrou a pedra,
O chão úmido de inverno,
As árvores postas
Conforme sempre foram,
Se ajoelhou no chão,
Retirou a arma de dentro da caixa,
E se colocou de bruços.
Ali a visão era perfeita
Para o asfalto,
Límpido e a derreter a geada,
Logo o Corsa bordô
Que desejava passaria
Calmamente por ela,
E Elton nunca estaria mais
Pronto que estava agora.
Arma em punho,
Olho no alvo,
Elton observava o tráfego,
O sol da manhã batia
Contra o para-brisa
Dando um instante de cegueira
Ao condutor do veículo,
Seria o instante mais preciso.
Elton beijou delicadamente
A coronha do rifle
Que segurava com as mãos firmes,
Sentiu o cheiro do metal
Subir de suas mãos até a narina,
Tão frios a congelar os dedos,
E o calor da coronha
Que o roçava a face,
Como se fosse uma carícia
De tão quente
E convidativa.
Há muitos anos
Que a arma foi escolhida
Como a melhor amiga,
Embora ele não falasse
Sobre o assunto,
Sabia que não a substituiria.
Silenciosa, precisa e finalista,
A tudo ela resolve,
“Da seu jeito”.
Companheira inseparável.
Sorrindo,
Mordendo a coronha
Do rifle,
Ele avistou Leocir
Iniciando a curva
Onde ele se encontrava,
Tão próximo
A poucos metros sobre o asfalto.
Ele desviou milímetros
O rifle para frente,
Afastando-o de sua boca,
Provando o gosto
Que o desfecho lhe provocava,
Sentimento de liberdade,
E finitude.
Então, pôs o dedo
Sobre o gatilho,
Puxou o gatilho com um click
E o soltou no mesmo instante:
“ tra”.
Fez a bala quando
Estourou o para-brisa de Leocir,
E encontrou seu crânio.
Sangue voou para o vidro,
Um leve espasmo
De dor e medo
Ganhou o rosto dele,
E retirou suas mãos
Do volante.
O carro desviou no mesmo
Instante de sua rota,
E alcançou o fim da rodovia,
Passou pelo gramado
Como se derrapasse,
Entrou para o relevo de terra
Que havia,
Correu um pouco mais
E alcançou o cemitério.
Derrubando casas de mortos,
Carregando consigo jazigos
E encontrando um para si próprio,
Onde afundou e ficou preso.
Com uma roda totalmente dentro,
E outras duas balançando
Ao vento,
Enquanto a quarta tocava
O chão e uma sepultura.
Ossos se espalharam
Por toda parte,
Elton sorriu,
Guardou o rifle na caixa preta,
Se levantou,
Limpou a roupa que usava,
Pegou a motocicleta
Logo a frente,
E pôs-se sobre o asfalto.
Não havia barulho
Exceto o do carro que
Mantinha os faróis acesos,
E despertava o alarme.
Não havia testemunha,
Apenas ele, a moto, o rifle
E Leocir dentro da cova.

Sim

Celio estava dirigindo Compassivo o seu Vectra branco, Escolheu aquele carro Para levá-lo Ao seu próprio casamento, No in...