Enfim passava dos trinta, sem nada para acreditar,
Achava que algum dia encontraria alguma coisa,
Mas não havia nada ao seu alcance agora,
Na sua cabeça vozes insolentes, no passado fúria e magoa,
Elas imploravam seu perdão agora, achavam que mereciam,
Mas ela achava que não, por que teria que perdoar?
Deixaram-na perdida, as margens dos braços de quem jurou
amar,
Mãos que ferem agora queriam acaricia-la, chances nulas,
Nunca iria perdoar, pudesse ter feito sua última manobra,
Não estaria aqui agora, mas negaram suas cobiças,
Negaram cada sonho dela, queriam impor palavras em sua fala,
Como se ela fosse incapaz de escrever por si própria,
Inventavam histórias sobre ela, inventavam imagens,
Depois a jogavam fora, mera coadjuvante,
O tempo passava e eles voltavam, o que mudava em suas
mentes?
Qual foi o erro em seus planos, qual foi o incidente?
Voltam com seus choros e apelos, por que ela acreditaria,
Não a magoaram o suficiente, ela não era a indiferente,
Não se julgavam melhores, os senhores detentores da
sabedoria,
Não lhe deram outra identidade quando a definiram ninguém?
Só que agora ela era uma outra pessoa, mais madura,
De tanto sofrer aprendeu a nunca perdoar,
Condenados a indiferença, achavam que podiam propor aliança?
Queriam apagar os erros do passado e pedirem perdão,
Haveria chances de apagar toda a dor colocada em seu
coração?
Queriam jogar pensamentos dentro da sua boca,
Afogando-a com suas palavras e crenças nulas,
Acreditavam estar acima dela, e eram o que agora? Nada,
Ar descondensado, sonhos inacabados, beijos roubados,
Nada além de falsidade empregada em cada ato,
Rejeitos expostos a esconderem-se por trás dela,
Nem seus próprios caminhos eram capazes de seguir sozinhos,
Estavam aos seus pés, esmagados, achavam que podiam
explicar,
Que poderia fazer o que bem entendessem e serem, o que,
perdoados?
Sinto muito, mas ela recusava-se a este seu beijo falsário,
Uma promessa de amor embutida em condena ao calvário?
Achavam que iriam iludi-la, feri-la depois de tudo que
fizeram?
Em que ideias vocês se abrigaram quando tiraram o teto dela,
Quais eram seus pensamentos quando a condenaram ao abandono,
Em que amor vocês se acolheram quando a imaginaram um nada,
Que a recriariam do zero como se ela fosse uma máquina de
olhos cegos?
Acharam mesmo que ela perderia o cérebro e se resumiria a
uma bunda,
A exemplo do que vocês fizeram de si mesmos,
Senhores sabichões, os espertos, dominadores de cada ideia,
e agora?
Acham ainda que qualquer palavra colocada será aceita?
Sem cabimento, então, estar sem margem apara o erro?
Desejam cair no vão da morte? Acham que ela seria tão
indiferente?
Sim, ela não esqueceu nenhum incidente,
Sim, de tudo que disse e fez não escapou nenhum detalhe,
Engraçado como o sim agora passou a ter importância,
E o não dela, vocês são capazes de ouvir e interpretar?
Por que acreditariam que algum dia ela os perdoaria?
Por que não se atentavam ao que ela dizia e demonstrava?
Bu-rra, ela lembrava de ter saído dos seus lábios,
Os mesmos que estavam podres agora, prostrados ao solo,
Ofensas proferidas de todas as formas, com todos os atos,
Agora desejavam ganharem a projeção do esquecimento,
Nunca, isso nunca, não importava o quanto rastejassem,
Cada ofensa que chegaram aos ouvidos dela nunca seriam esquecidas,
Mesmo que disso dependesse a própria vida, nunca esqueceria,
Achavam que poderiam bater na cara dela e depois acaricia-la?
Ela desejava mais é que suas mãos fossem decepadas,
Até ver todo o sangue escorrer e não restar absolutamente
nada,
Seu choro ou suas lágrimas, não importava como fossem
definidos,
Não seriam ouvidos, não seriam aceitos, descartados agora,
Me digam, como vocês se sentem? Há um vazio em seu peito?
Mergulhem neste vazio até não restar mais nada,
Isso foi tudo que vocês conseguiram fazer de suas vidas,
Sintam o vazio de si mesmos consumindo-os de dentro para
fora,
Ainda desejam o perdão dela? Quanta ironia em suas almas,
Podem dizer agora, como é sair pela porta, sair para fora,
E ver suas caras expostas para que todos a vejam,
Haveria o que mostrar em suas almas? Há em que se agarrar,
Um motivo ao menos em que possam se apegar,
Para que, em uma fração de instantes, possam se orgulhar?
Podem responder como poderão estacar o vazio
Que vocês mesmos construíram em si mesmos?
Pobres errantes, de olhos cegos, tivessem se abrigado a
algo,
Algo que preenchesse seus tormentos, poderiam sorrir um
pouco,
E agora que seus medos estão saindo para fora,
Em que vocês irão se apegar, suas mãos estão cansadas?
Parece que as lágrimas outrora rejeitadas passaram a ter
valia,
Quem diria, será que agora seriam ouvidas?
Não reconhecem suas imagens refletidas no espelho,
Apeguem-se as suas ações expostas aos olhos de todos,
Um mísero discurso de ódio ele a definiu,
Ele queria ou teria seu perdão, não!
Que bom que ele entendeu o recado,
Morte lenta e pesarosa até cada gota sua cair no chão,
Quanto a ela, o recado foi dado, nunca queiram o seu perdão,
Momento de agora, se apegar ao erro dos outros
E sair porta afora apontando,
Salve-se quem puder, ninguém é dono de ninguém,
Entre quatro paredes, favor fazerem silêncio,
Eu não conheço você, nem você me reconhece.
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